BEM REALIZADO, DIVERTIDO E INTELIGENTE.
Axel Foley (Eddie Murphy) é um detetive de Detroit que tem
um modo todo especial de conduzir suas investigações. Certo dia encontra, no
corredor de seu apartamento, seu amigo Mikey Tandino (James Russo) que saíra da
cadeia e agora trabalha em uma galeria de artes em Berverly Hills com outra
amiga de Axel: Jenny Summers (Lisa Eilbacher). Durante a conversa, Axel acaba
sendo atingido pelas costas e, quando acorda, percebe que Mikey fora
assassinado. Impedido de investigar o caso por seu chefe, o inspector Todd
(Gilbert R. Hill), solicita férias e é advertido: se resolver investigar por
conta própria será sumariamente despedido, pois Todd já não aguenta mais os
modos pouco ortodoxos de seu subordinado. Axel parte secretamente para Berverly
Hills e inicia uma investigação que o leva até Victor Maitland (Steven Berkoff),
um rico negociante de artes e dono da galeria onde Jenny trabalha. Ao
confrontar Victor, Axel termina por ser preso e conhece o Tenene Bogomil (Ronny
Cox) da força policial local que lhe adverte que ele se encontra fora de sua
jurisdição, colocando o detetive Billy Rosewood (Judge Reinhold) e o sargento
Taggart (John Ashton) para acompanharem os seus passos. Só que Foley não
descansará enquanto não desmascarar as ações de Victor e capturá-lo.
Em “48 Horas” (sua estreia no cinema) e “Trocando as
Bolas”, Eddie Murphy ainda atuava como coadjuvante, mas já mostrava que se
tornaria astro em pouco tempo: as cenas em que participava sempre traziam boas
gargalhadas, assim como seus trejeitos e modo acelerado e desbocado de se
expressar. Mesmo o fracasso do filme “A Melhor Defesa é o Ataque” (ao lado de Chevy
Chase), no mesmo ano, não impediria que o ator se colocasse no topo das
bilheterias. Um Tira da Pesada era um projeto escrito há anos e que tinha
Stallone, inicialmente, à frente do elenco. Mas o ator não conseguiu se
entender como os envolvidos e desistiu, abrindo caminho para Murphy finalmente brilhar. Sua aparência
de maltrapilho e um estilo de “malandro carioca”, contrastando com a sofisticada
força policial de Berverly Hills, em uma cidade tão diferente de onde o
detetive vem, se torna um obstáculo natural para que Foley as contorne com
ideias suis generis, de modo insolente e engraçado.
Os produtores Don Simpson / Jerry Bruckheimer se tornariam
famosos por várias produções: “Flashdance: Em Ritmo de Embalo” (1983), “Top
Gun: Ases Indomáveis” (1986); “Um Tira da Pesada II” (1987), “Dias de Trovão”
(1990), “Maré Vermelha” (1995), “A Rocha” (1996) ... e Eddie Murphy, aqui, apostou suas fichas se aliando a dupla com sua
“Eddie Murphy Productions”. O resultado foi um sucesso estrondoso. A partir de um
orçamento de 14 milhões de dólares, o filme alcançou uma renda de 234 milhões
só nos Estados Unidos e uma bilheteria global de pouco mais de 316 milhões. Um Tira
da Pesada se tornaria a comédia de maior sucesso comercial da história do
cinema na época e Murphy, aos 23 anos, assinaria um contrato em que receberia
25 milhões para fazer seis filmes. Nada mal para uma pessoa que até os 19 anos ganhava
seu sustento em programas de calouros, posteriormente conseguindo trabalhar no
famoso programa americano, da rede NBC, “Saturday Night Live”, onde, em 1980, ganhava
750 dólares por programa. No segundo ano passou para 30 mil por aparição ao
lado de comediantes como Chevy Chase, Dan Akroyde e Jim Belushi.
Mas ainda que Murphy seja a estrela absoluta da produção
e o maior motivo do sucesso do filme, não podemos deixar de assinalar outros
aspectos que contribuíram para o seu sucesso. A direção de Martin Brest, em seu
terceiro filme (fora despedido no meio das filmagens do sucesso “Jogos de
Guerra”) teve grande mérito no alcance desse objetivo, pois Brest imprimiu um
ritmo ágil ao filme que impediu o espectador de se cansar. O roteiro escrito por Daniel
Petrie Jr. (Atirando para Matar, Acerto de Contas, Um Tira da pesada II e III
...) e Danilo Bach (A Noite das Brincadeiras Mortais e produtor do ótimo, porém
curto seriado, “Contrato de Risco”) concorreu
ao Oscar perdendo para “Um Lugar no Coração”. A forma como os personagens nos são
apresentados e as peripécias de Foley, enquanto tenta capturar o vilão e seu
bando, permitiu ao filme fluir numa forma leve e divertida. E há ótimos momentos
como a banana no cano escape; Foley sendo arremessado por uma vidraça; quando entra no restaurante da elite local, ou se passa por fiscal de alfândega ... e até quando consegue uma vaga
no hotel de Bervely Hills passando-se por repórter. Tudo isso entremeado de
ação, principalmente na parte final, pois, no fim das contas, não esqueçamos
que também é um filme policial.
Mas para Murphy brilhar, um elenco de apoio de qualidade
era necessário e as escolhas foram muito bem feitas. Ronny Cox, como o tenente “boa
praça” Bogomil, já tinha uma extensa carreira, mas essa produção o colocou em
evidência. E quem viu “Robocop” e “O Vingador do Futuro” se lembrará do ator
rapidamente. Judge Reinhold também vinha de participações em filmes como “Guardiões
da Honra” e “Gremlins” tendo sua carreira também alçada com o sucesso do filme.
Seu personagem ingênuo, trapalhão e pronto para ação ficou muito divertido. Outro
que se destaca é John Ashton como Taggart: durão, cara de poucos amigos, mas
quase tão atrapalhado quanto Rosewodd. A dupla funcionou muito bem e interagiu com Murphy proporcionado ótimos momentos. Outro filme muito legal de Ashton é “Fuga
à Meia-Noite”, ao lado de Robert DeNiro, em que faz um trapalhão caçador de
recompensas. Por sinal a direção é do próprio Martin Brest. Lisa Eilbacher, que
chegou a fazer teste para o papel de princesa Lea no filme “Guerra nas Estrelas”,
vinha de várias participações em seriados como “Homem Aranha” (1977); “Fuga das
Estrelas” (“Logan's Run” de 1977); “O Homem do Fundo do Mar” (1977) e tinha
participado de “A Força do Destino” (1982) e “Dez Minutos para Morrer”(1983),
este último, ao lado de Charles Bronson. Sua participação no filme é pouca, mas
fundamental. Steven Berkoff, apesar da extensa filmografia, será sempre
lembrado como o vilão de “Rambo II”. Berkof faz um Victor sarcástico, contido e
intimidador. Jonathan Banks tinha feito vários filmes, entre eles, “48 Horas”,
a estreia de Murphy. Depois voltaria aos holofotes com o ótimo seriado “Breaking
Bad” (2009 a 2012) como Mike Ehmantraut. Gilbert R. Hill, como o
inspetor Todd, só atuou nos três filmes da franquia. Faleceu em 2016, aos 84 anos, de Pneumonia, além de Paul Reiser (do seriado “Louco Por Você”) como Jeffrey, o
parceiro de Foley em Detroit. Ambos também foram muito bem. Bronson Pinchot (do
seriado “Meu Primo Cruzado”), como Serge, consegue uma das proezas mais difíceis
do filme: roubar as cenas de Murphy. Apesar da rápida participação em cena o
ator fez um personagem muito engraçado. Damon Wayans do seriado "Eu, a Patroa e as Crianças" (2001 a 2005) teve uma participação relâmpago como o garçon que dá as bananas a Foley. Foi sua estreia no cinema e também participou do programa "Saturady Night Live" (entre 1985 e 1986). O diretor Martin Brest faz uma ponta como o gerente do hotel na cena em que Foley solicita uma reserva.
Não há como não deixar de citar a ótima trilha sonora com
o sucesso “The Heat is on” de Glenn Frey e “Axel F Theme” tocado a partir de três
sintetizadores diferentes numa melodia que permeia o filme. Temos artistas como Patti
LaBelle, Vanity, Danny Elfman, Shalamar entre outros. Um daqueles casos em que
a trilha sonora ajuda a vender o filme e o filme ajuda a vender a trilha sonora.
Um Tira da Pesada foi um grande sucesso devido a vários
fatores já citados, mas Eddie Murphy (que improvisou grande parte de suas
falas) foi o maior motivo do filme ter sucesso. Seu personagem “um peixe fora
d'água no refinado bairro de Bervely Hills”, de fala ligeira, que não respeita
etiquetas ou normas, tornando-se “persona non grata” a resolver seus problemas
no grito, caiu no gosto do público e crítica. A direção eficiente de Martin Brest aliado a ótimo
elenco de apoio e uma trilha sonora que funciona foram os veículos perfeitos
para os dotes histriônicos de Murphy, numa comedia policial com muita ação. Teve
mais duas continuações: “Um Tira da pesada II” e “Um tira da Pesada III” e um
filme para Tv que ninguém viu (“Beverly Hills Cop” - 2013), além do anúncio de uma sequência para
o ano que vem. Resta esperarmos e vermos se o ator conseguirá restaurar o
carisma de um de seus personagens mais queridos. Eddie Murphy, na versão dublada, na voz de Mario Jorge, dá ao filme ainda mais comicidade.
Trailer:
Trilha Sonora:
The Heat Is On - Glenn Frey
Neutron Dance - The Pointer Sisters
Stir It Up - Patti LaBelle
Do You Really (Want My Love?) - Junior
New Attitude - Patti LaBelle
Nasty Girl - Vanity 6
Don't Get Stopped In Beverly Hills - Shalamar
Emergency - Rockie Robbins
Gratitude - by Danny Elfman
Rock 'N' Roll Me Again - The System
Axel F - Harold Faltermeyer
The Heat is On - Glen Frey
Axel F Theme
Curiosidades:
Eddie Murphy, John Ashton e Judge Reinhold improvisaram a maioria de suas falas. Literalmente, centenas de tomadas foram arruinadas por membros do elenco, atores ou o diretor rindo durante as filmagens. Durante o monólogo dos "super-policiais", Ashton está apertando seu rosto com força e olhando para baixo em aparente frustração. Ele está realmente rindo. Reinhold colocou a mão no bolso e apertou a coxa com muita força, tentando impedir-se de rir.
Para escalar os papéis de Rosewood e Taggart, o diretor juntou vários finalistas e pediu que eles fizessem alguma improvisação para ter uma idéia de sua química. Ele juntou os juízes Reinhold e John Ashton e deu-lhes a seguinte direção: "Você é um casal de meia-idade, casado há anos. Você está conversando em uma noite normal". Reinhold imediatamente pegou uma revista próxima e os dois improvisaram os "cinco quilos de carne vermelha nas entranhas", quase exatamente como ela apareceu no filme.
O chefe de polícia Hubbard entra em sua primeira cena carregando algumas folhas de papel enroladas. Na verdade, é um dos muitos roteiros reformulados, que ele recebeu para memorizar e ensaiar apenas alguns minutos antes do início das filmagens.
Gilbert R. Hill, um detetive de homicídios do Departamento de Polícia de Detroit da vida real, interpretou o inspetor Todd. Mais tarde, Hill serviu como Presidente do Conselho da Cidade de Detroit.
Durante seu discurso no Beverly Palms Hotel, Axel finge escrever um artigo chamado "Michael Jackson: Sentado no Topo do Mundo" para a revista "Rolling Stone". Na vida real, "Playboy" publicou um artigo chamado "Eddie Murphy: Sentado no topo do mundo".
Originalmente, dois homens deveriam trabalhar nas cenas da galeria de arte. Quando o diretor ouviu a representação de Bronson Pinchot em Serge, ele achou tão histérico que recuou a outra parte para dar a Pinchot mais tempo na tela. O segundo ator aparece brevemente, com a gola da camisa aberta demais e Serge comenta sobre isso.
O filme foi escrito para Sylvester Stallone, com o personagem de Michael Tandino como seu irmão, e Jenny Summers como seu interesse amoroso.
Este foi o filme de maior bilheteria nos EUA até Matrix Reloaded (2003) eclipsá-lo 19 anos depois.
A polícia de Beverly Hills não forneceu acesso a sua sede, então Martin Brest e sua equipe construíram um cenário que seria exatamente o oposto do departamento de polícia de Detroit, "como segurança privada para todas as pessoas ricas".
Depois que Martin Brest foi demitido de Jogos de Guerra (1983), seu segundo cargo de diretor, a indústria pensou que ele estava com problemas. Don Simpson e Jerry Bruckheimer discordaram, e os dois executivos da Paramount ligaram para Brest continuamente e pediram para ele dirigir o filme. Ele continuou recusando e, finalmente, tirou o telefone do gancho. Simpson entendeu a dica, mas Bruckheimer continuou tentando. Finalmente, Brest decidiu jogar uma moeda para tomar sua decisão.
Muitas das cenas de abertura foram filmadas em Detroit. Martin Brest foi escoltado pela polícia, que se recusaria a segui-lo quando vissem que era perigoso demais. Brest e seu grupo de trabalho continuaram, sem escolta.
O tema Axel Foley foi realizado com três sintetizadores: um Roland Jupiter 8, um Roland JX-3P e um Yamaha DX-7.
Axel Foley originalmente seria interpretado por Sylvester Stallone ou Mickey Rourke. Stallone deixou o projeto e usou algumas de suas idéias de roteiro para fazer Stallone: Cobra (1986). Jeff Bridges, James Caan, Billy Crystal, Robert De Niro, Harrison Ford, Richard Gere, Mel Gibson, Gregory Hines, Michael Keaton, Nick Nolte, Al Pacino, Richard Pryor, Dennis Quaid, Kurt Russell, Arnold Schwarzenegger, John Travolta e Robin Williams e Bruce Willis também foram considerados para o papel.
Incluído em 2000 na lista dos 100 filmes americanos mais engraçados do American Film Institute.
Martin Scorsese teve a chance de dirigir, mas ele recusou, dizendo que a premissa o lembrava demais de Meu Nome é Coogan (1968).
David Cronenberg foi convidado a dirigir, mas recusou.
O chefe erroneamente chama o detetive Rosewood de "Rosemont". Em Um Tira da Pesada II (1987), o chefe Lutz chama Rosewood de "Roseweed" (mas não por acidente).
Este foi o segundo filme de maior bilheteria de 1984 no mundo, depois de Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984).
Um membro da equipe de elenco decidiu escalar Steven Berkoff como o vilão depois de vê-lo em vôo em Octopussy.
Em um dos rascunhos escritos para Sylvester Stallone, Billy Rosewood foi chamado de "Siddons" e foi morto no meio do roteiro durante uma das cenas de ação consideradas "caras demais" para a Paramount produzir. Depois que Martin Brest escalou Reinhold e John Ashton, decidiu-se manter Rosewood vivo.
Bronson Pinchot
Negócio Arriscado (1983); Um Tira da Pesada (1984); Depois de Horas (1985); Entre Duas Mulheres (1986); Ela Vai Ter um Bebê (1988); Escândalos no Hotel (1992); Amor à Queima Roupa (1993); Um Tira da Pesada III (1994); Fenda No Tempo (Minissérie 1995); Coragem sob Fogo (1996); O Clube das Desquitadas (1996); Primo Cruzado (seriado 1986- 2006); A Escolha (2007); Pure Country 2: O Dom da Música (2010); Beverly Hills Cop (2013); Double Play (2017); O Mundo Sombrio de Sabrina (seriado 2018-2020)
