segunda-feira, 26 de setembro de 2022

HUNDRA - A MULHER GUERREIRA / HUNDRA (1983) - ESPANHA / ESTADOS UNIDOS / ITÁLIA

VERSÃO FEMININA DE CONAN

Um grupo de mulheres guerreiras vive em uma aldeia nômade de forma autossuficiente, exceto pelas visitas ocasionais às aldeias vizinhas para acasalar. A tradição da comunidade é doar os filhos do sexo masculino, permanecendo apenas com as meninas que se tornarão "Amazonas". Certo dia, a aldeia é atacada por um grupo de selvagens guerreiros e salteadores que promove um verdadeiro massacre. E ainda que a luta seja feroz, Hundra, que estava fora caçando, chega apenas no final para tentar equilibrar a luta, mas a guerra já estava perdida. Como última remanescente do grupo, procura uma sábia anciã Chrysula (Tamara), que lhe instrui a buscar um consorte que lhe dê uma filha e assim impeça que a linhagem da tribo desapareça. Hundra vai em busca desse homem e de sua vingança.

Não há como negar que a produção Hundra foi modelada em Conan, com um início semelhante ao arco da história do bárbaro, mostrando o massacre da aldeia (acompanhado por uma partitura orquestrada de Ennio Morricone) e a busca da protagonista com o seu cão Fera (na verdade um cão covarde!) para se vingar do grupo responsável, em plena Idade do Ferro.  Era uma época de filmes bárbaros, todos oriundos do sucesso de Schwarzenegger e do diretor John Milus: "Ator, O Guerreiro Invencível" (que virou franquia),  "Ironmaster", "A Espada e os Bárbaros", a Franquia "Deathstalker",  "Sorceress", "Guerreiro deAço – A Lenda", "Os Bárbaros"... e outra dezena de filmes que nunca estrearam por aqui, nem em VHS. Só que Hundra apresentaria algo a mais: uma atriz que funcionou no papel, uma veia cômica na estória e um feminismo explícito que domina grande parte do filme, deixando de ser apenas um conto de vingança. Muitos lembram que Hundra veio antes de Red Sonja (Guerreiros de Fogo), mas não se enganem: Hundra sofre de vários defeitos e o principal é a falta de dinheiro (a maior parte dos figurinos e alguns cenários na produção foram comprados  de Conan), que inclusive foi obrigada a dar um final diferente do planejado conforme revelaram os envolvidos. Talvez com um bom orçamento e umas mudanças aqui e ali (como, por exemplo, o Vilão) essa produção seria melhor lembrada, mas lá fora gerou um grande número de admiradores na época. Hoje o filme praticamente não é mais lembrado.

Hundra começa bem, até surpreende nas cenas de combate na "aldeia amazona", mas quando começa a peregrinação de Hundra as coisas começam a dar errado e a estória não se sustenta, apesar da atriz Laurene Landon carregar o filme nas costas com suas acrobacias e destreza em combate. E se o filme não afunda completamente deve-se ao fato da atriz ter feito praticamente 99% das cenas, não aceitando dublês, o que lhe custou diversos traumas durante a produção: segundo a atriz as espadas eram reais e, em uma cena, quase perdeu olho, lhe gerando uma cicatriz.  A atriz aprendeu a montar em uma escola de equitação na Espanha, três meses antes de iniciar as filmagens, ainda assim, durante as filmagens, foi jogada por um dos cavalos no chão fraturando as  costas e o cóccix tendo que atuar, em alguns momentos,  a base de remédios. Ainda assim, vemos que, na maioria das cenas, a atriz luta com um sorriso nos lábios, pois se divertia em cena. Só lhe foi negado que fizesse a cena da queda para trás do telhado, considerada de alto risco.


Se Conan é magia e efeitos especiais, Hundra mostra a sociedade como era naquela época: dominação masculina e opressão feminina. A chegada de Hundra muda o panorama local onde mulheres eram levadas aos palácios para a satisfação de seus mestres. A jovem guerreira enfrenta a guarda real, encontra o seu grande amor e ainda incita uma libertação feminina.  Percebe-se que muitas das cenas  foram escritas como uma metáfora para a relação entre homens e mulheres ao longo dos séculos, algo muito incomum nesse gênero. O roteiro de John Goff (que também atuou em vários filmes como, por exemplo, “Eles Vivem”) & José Truchado lembra muito uma estória em quadrinhos, com espadas, mas sem feitiçaria (algo até obrigatório no gênero). E nessa substituição do testosterona pelo estrogênio há muita ação, bons combates, cenas divertidas pelas mãos do diretor Matt Cimber (que fora casado com Jayne Mansfield), que teve um filme lançado nos cinemas de nosso país: “A Guerreira de Indiana Jones” (1984), também com Laurere.  Cimber fez um filme escapista, é verdade, mas que prende do início ao fim se você não for muito exigente e desejar apenas um passatempo rápido.

Quanto ao elenco, Laurene Landon, aos 25 anos, tinha feito “Eu Sou a Lei”, com Armand Assante e “Apertem os Cintos o Piloto Sumiu 2”. Após Hundra, faria filmes como "América 3000", "Maniac Cop" e "A Ambulância". A atriz esteve ótima: ágil, engraçada e impressionou em algumas cenas que normalmente são feitas por dublês. Uma pena que tenha recusado o papel em "Red Sonja" (Guerreiros de Fogo) quando procurada pelo produtor Dino de Laurentis. O ator espanhol Ramiro Oliveros (que também estaria em “A Guerreira de Indiana Jones”) fez Pateray, um médico local pela qual Hundra se apaixona. O casal funcionou em cena. O ator azerbaijanês Cihangir Gaffari (assinando John Ghaffari), fez o rei Nepatkin (“não me toques!”) que pareceu ter problemas com qualquer pessoa que nele encostasse. O ator esteve em "O Grande Dragão Branco". A atriz espanhola María Casal (que teve participação não creditada no filme "Munique" de 2005) interpretou Tracima que vive na corte, esconde um filho e nutre sentimentos por Pateray. A atriz que fez a anciã Chrysula, usou o nome de Tamara e só teve esse filme em sua filmografia. 

Hundra é um filme curioso, com uma proposta interessante, mas uma execução que ficou aquém do esperado. Como quase todos os filmes desse gênero, atualmente pode ser visto como um filme “Trash”, mas em comparações com os congêneres de Conan é um dos mais simpáticos. A falta de recursos mostra-se evidente e quem for assistir não deve esperar grandes figurinos ou locações. Indicado aqueles que gostam do gênero ou buscam filmes quase que desconhecidos  por aqui.


Trailer:


Curiosidades:

Todo o diálogo para este filme foi em encaixado na pós-produção.

Houve um dublê para a cena de nudez, que Laurene Landon originalmente não queria fazer, mas ela era bem diferente: mais baixa e mais forte. "Eles a colocaram na água porque eu não ia mostrar meus seios. Ela tinha talvez um metro e meio. Acho que Matt Cimber fez isso de propósito para me obrigar a fazer aquela cena de nudez. filmagens disso e disse: "Essa não sou eu. Eu mesma vou fazer", disse Landon.

O filme pode ser encontrado na internet em espanhol


Cartazes:



Laurene Landon Atualmente:












Filmografia Parcial:

Laurene Landon

Garotas Duras na Queda (1981); O Jovem Lobisomem (1981);  Eu Sou a Lei (1982); Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu 2 (1982); Hundra - A Mulher Guerreira (1983); A Guerreira de Indiana Jones (1984); A Coisa (1985); America 3000 (1986); Resposta Armada (1986); Maniac Cop: O Exterminador (1988); A Madrasta (1989); Maniac Cop 2: O Vingador (1990); A Ambulância (1990); Drive (2011); Samurai Cop 2: Deadly Vengeance (2015); A Husband for Christmas  (2016); Death Game (2017); Amityville Cop (2021); Together (2021); Clown Motel 2 (2022)


Fontes:

Starburst Magazine

The Dark Side Digital 

IMDB

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

A MALDIÇÃO DO SANGUE DE PANTERA / A MALDIÇÃO DO SANGUE DA PANTERA / THE CURSE OF THE CAT PEOPLE (1944)


UM ESTUDO SOBRE O FUNCIONAMENTO DA MENTE DE UMA CRIANÇA

Sete anos após os eventos de Sangue de Pantera, vemos Oliver Reed (Kent Smith) e Alice Reed (Jane Randolph) casados e com uma filha pequena, Amy (Ann Carter), prestes a completar seis anos. O casal deixou o emprego na Companhia Naval, na cidade de Nova York, mudando-se para a lendária cidade Sleepy Hollow, no condado de Westchester.

Amy é uma menina solitária e imaginativa, criando todos os tipos de fantasias. Os animais são seus amigos, já que as alunas da escola local não gostam de brincar com ela. Por um engano, Amy acaba não enviando os convites de seu aniversário, ninguém comparece e a menina termina passando-o apenas com os pais.  Certo dia, Amy se aproxima da entrada de uma casa considerada pelas outras crianças como “mal-assombrada”. Do alto de uma janela uma figura misteriosa lhe atira um belo anel que Amy considera ter o poder mágico de conceder um desejo. Ela solicita um amigo e eis que surge Irena (Simone Simon), a ex-esposa de Oliver, vestida como uma fada e criando um inesperado elo com a menina. Alice percebe o anel com a filha e pede que esta retorne a mansão acompanhada de Edward (Sir Lancelot), o empregado da casa, para devolvê-lo. Só que a Amy termina por ir sozinha, na qual conhece a dona da casa, uma idosa que fora uma famosa atriz, Julia Farren (Julia Dean), e sua estranha filha Barbara Farren (Elizabeth Russell). Julia insiste que sua filha falecera há anos e que Barbara é uma impostora para desalento desta. Uma amizade entre Amy e Julia se estabelece com a desprezada Barbara odiando a pequena Amy.

Em se tratando de continuação e sem a direção do original, já nessa época, impunha certa reserva por parte dos críticos (o público não tinha o acesso a informação que se possui hoje). O que aconteceu foi que os produtores de RKO injetaram alguns elementos de terror, trouxeram parte do elenco do original e tentaram fingir que era uma sequência de horror do grande sucesso "Sangue de Pantera" lançado um ano antes. O porquê de manter o nome (“Cat People – e dizer que era uma maldição, criando uma conotação para o horror) atrelado ao sucesso anterior só pode ter sido feito com o intuito de lucro.

A RKO queria uma sequência lúgubre, um conto de terror, uma fábula sombria. Lewton começou a trabalhar com o roteirista DeWitt Bodeen (“A Sétima Vítima”), que havia escrito o filme original. O cineasta Gunther von Fritsch foi contratado para dirigir, mas foi substituído pelo até então editor dos dois primeiros filmes de Orson Welles, Robert Wise (“O Dia em que a Terra Parou” / “A Noviça Rebelde” / “Jornada nas Estrelas – O Filme”), antes da produção terminar. Ou seja: houve dois diretores na consecução do filme. A mudança de leme também afetou a condução da estória: tentou-se manter um clima completamente diferente, estranho e até mesmo irreal tal qual no primeiro filme, mas não da forma que os estúdios queriam, virou um conto que ignora completamente o tom e o estilo de seu antecessor, trazendo porém um novo elemento por demais interessante: um estudo sério e bem elaborado sobre o funcionamento da mente de uma criança sensível e como o pais possuem a dificuldade de interagir com uma criança que prefere um amigo invisível do que a companhia de seus pares. Há paralelos interessantes: Oliver viu a imaginação excessiva (assim considerava) de sua ex-esposa Irena levá-la a arruinar o casamento e cometer suicídio. Agora vê a filha presa em elementos imaginários e amigos invisíveis. E o pior: essa amiga invisível se assemelha muito a alguém que Amy não conhecera: Irena. Sem saber como lidar com a criança (como não soubera lidar com a ex-esposa) Oliver se sente impotente e reage de forma áspera com Amy para que se torne uma criança “normal”. Ainda que a professora de Amy, Miss Callahan (Eve March), tente esclarecer Oliver por meio de uma psicologia infantil, este parece não aceitar. Se Irena é um fantasma ou imaginação (teria ela já visto uma foto de Irena?) de Amy fica a cargo do espectador, mas o cunho fantástico do primeiro filme (uma mulher oriunda de um “povo-gato”) permite que Irena realmente exista nesta sequência.

E há outras cenas (com poucos acenos de terror) a serem destacadas na obra: quando Ann recebe o anel; a ida à casa “mal-assombrada”; as interações de Amy com Irena; o conto do cavaleiro sem cabeça (Sleepy Hollow); a saída de casa de Amy e o medo tomando conta de sua mente, junto com o da plateia; as luzes que oscilam com o vento quando Amy chega à mansão de Julia e Bárbara. E o ótimo o clímax com Barbara (Elisabeth Russel) em uma cena assustadora e corajosa de ser levada às telas nos anos 40.

O elenco é ótimo: Ann Carte faz uma Amy com um desembaraço pouco comum para a idade e ofusca os mais velhos em cena. O filme é mostrado ao espectador de seu ponto de vista o que funciona plenamente. Simone Simon, estrela e força motriz do original, surge em um papel completamente diferente. O espectador no início pode até ficar confuso com sua presença por ainda não saber a proposta do filme, mas talvez Irena tenha voltado para consertar as coisas e trazer felicidade para Oliver em seu relacionamento com a filha. Jane Randolph tem um bom tempo em cena e entrega um personagem interessante. Julia Dean cresce em cena a cada aparição com um personagem muito bem-vindo. Elizabeth Russell, que fizera a misteriosa mulher-gato nos restaurante do primeiro filme, agora assume o papel de Bárbara (sem relação com o outro filme) e proporciona um dos momentos de maior tensão no filme. O ator / cantor Sir Lancelot (nascido Lancelot Victor Edward Pinard) faz um personagem simpático. 


A Maldição do Sangue de Pantera (assim lançado nos cinemas brasileiros, e não "da Pantera" visto atualmente) não apresenta nenhuma maldição e, ao contrário de seu enigmático título para o espectador, revela-se um conto com boas pitadas de suspense e um senso familiar em toda a estória. Parece um filme sem relação com “Sangue de Pantera”, mas o retorno do trio central nos revela essa conexão. É um filme bem interessante, que prende atenção e se revela muito eficiente em sua parte técnica. Decepciona por não ser uma continuação nos mesmos moldes que o primeiro, mas surpreende por trazer algo completamente diferente e agradável. Um filme que conquistou a crítica da época, mas que hoje o grande público pouco o conhece.

Trailer:


Curiosidades:

O tema do filme, uma criança que se acredita estar à beira da insanidade porque vive em um mundo de fantasia, era pessoal do produtor Val Lewton, que se comportava de maneira semelhante quando criança. Sua esposa disse que sentiu que ele nunca voltou ao mundo real como um adulto.

A fantasia / mentira da "árvore da caixa de correio mágica" contada a Amy por seu pai reflete uma história que o pai de Val Lewton lhe contou quando ele era criança, apenas Lewton colocou os convites da festa de aniversário de sua irmã na árvore que não era sua, como Amy faz no filme .

De acordo com o roteirista DeWitt Bodeen, Val Lewton queria chamar este filme de "Amy and Her Friend". No entanto, os executivos da RKO insistiram em usar o nome "Cat People" para atrair fãs de Sangue de Pantera (1942), que havia sido um enorme sucesso de bilheteria feito com um orçamento muito baixo.

O poema citado pela senhorita Callahan é The Unseen Playmate de Robert Louis Stevenson de 'A Child's Garden of Verses' (1913).

Por causa do orçamento incrivelmente apertado, os conjuntos de Soberba de Orson Welles (1942) foram reutilizados.

A tensão entre Amy e seu pai Oliver no filme, segundo o comentário de Gregory Mank, reflete a verdadeira relação de amor/ódio compartilhada por Val Lewton e sua filha Nina.

Irena é de origem sérvia, como mostrado no precursor Sangue de Pantera (1942), mas canta uma tradicional canção de Natal francesa 'Il Est Ne, Le Divin Enfant' para Amy. Isso porque a atriz Simone Simon era francesa.

A pintura, com gatos e uma criança, mostrada na casa de Reed e descrita como a obra de arte favorita de Irena, é a obra de Francisco Goya, "Don Manuel Osorio".

Embora Val Lewton fosse conhecido por sua economia como produtor de filmes, A maldição do Sangue da Pantera ficou 40% acima do orçamento no final.

O livro intitulado "The Inner World of Childhood" mencionado por Miss Callahan, professora de Amy, é uma verdadeira obra escrita pela psicóloga americana Frances Wickes por volta de 1930. Foi muito admirado por Carl Gustav Jung, que escreveu uma introdução para ele em 1931.

A história que Julia Farren apresenta para Amy é 'The Legend of Sleepy Hollow' de Washington Irving. Sleepy Hollow fica ao norte de Tarry Town, onde mora a família Reed.

A música cantada pela turma de Amy no início do filme é baseada no poema "Setembro" de Helen Hunt Jackson (1830-1885), uma escritora da Nova Inglaterra e ativista pelos direitos dos nativos americanos.

Ann Carter  faleceu aos 77 anos de câncer de ovário

Julia Dean faleceu aos 74 de causas não reveladas

Elizabeth Russell faleceu aos 85 anos de causas não reveladas

Sir Lancelot faleceu aos 98 manos de causas naturais

Cartazes:














Filmografia Parcial:

Ann Carter (1936–2014)







Casei-me com uma Feiticeira (1942);  Os Comandos Atacam de Madrugada (1942); Estrela do Norte (1943); A Maldição do Sangue da Pantera (1944); Nunca é Tarde (1944); A Esperança não Morre (1946); Filhos do Divórcio (1946); Inspiração Trágica (1947); Sonata de Amor (1947); Sonata de Amor (1948); Na Corte do Rei Artr (1949); Cruel Desengano (1952).


Simone Simon (1911–2005)







Mulher de Soldado (1933);  Olhos Negros (1935); Dormitório de Moças (1936); O Sétimo Céu (1937); Josette (1938); A Besta Humana (1938); Cavalgada de Amor (1939); O Homem que Vendeu a Alma (1941); Sangue de Pantera (1942); A Maldição do Sangue da Pantera (1944); O Porto da Tentação (1947); A Ronda (1950); Olivia (1951); La Femme en Bleu (1973).


Kent Smith (1907–1985)







A Vida é Assim (1939); Sangue de Pantera (1942); Os Filhos de Hitler (1943); Esta Terra é Minha (1943); Três Heroínas Russas (1943);A Maldição do Sangue da Pantera (1944); Silêncio nas Trevas (1946); Vontade Indômita (1949); Comanche (1956); Sayonara (1957); General de Imitação (1958); O Vale das Paixões (1959); O Nono Mandamento (1960); O Incrível Homem do Espaço (1962); O Balcão (1963); O Preço da Ambição (1964); Anjos Rebeldes (1966); O Terceiro Tiro (1967); Os Invasores  (seriado 1967-1968); Pânico e Morte na Cidade (1972); Degraus para o Poder  (1972); Horizonte Perdido (1973); Ensina-me a Esquecer (1973); O Amuleto Egípcio (1973); Billy Jack Vai a Washington (1977).


Jane Randolph (1914-2009







Demônios do Céu (1941); O Irmão do Falcão (1942); Sangue de Pantera (1942); O Falcão Contra-Ataca (1943); A Maldição do Sangue de Pantera (1944); Rastilho de Pólvora (1946); A Face do Perigo (1947); Moeda Falsa (1947); Às Voltas com Fantasmas (1948).

 

Julia Dean (1878–1952)







Rasputin, the Black Monk (1917); A Maldição do Sangue da Pantera (1944); Idílio Perigoso (1944); Sob o Manto Tenebroso (1946); Cidade Encantada (1947); O Beco das Almas Perdidas (1947); A Valsa do Imperador (1948); Tormento de uma Glória (1949); Dizem que é Pecado (1951); Os Filhos dos Mosqueteiros (1952); Você Para Mim (1952)


Elizabeth Russell (1916–2002)







Armadilha Perfumada (1936); A Aldeia Esquecida (1936); Um Encontro com o Falcão (1942); Sangue de Pantera (1942); Às Portas do Inferno (1942); A Sétima Vítima (1943); Um Grito no Escuro (1943); O Solar das Almas Perdidas (1944); A Maldição do Sangue da Pantera (1944); Juventude sem Freios (1944); Asilo Sinistro (1946); Meu Filho, Minha Vida (1953); Paixões Desenfreadas (1960);


Sir Lancelot (1902–2001)







Caçadora de Marido (1943); A Morta-Viva (1943); O Fantasma dos Mares (1943); A Maldição do Sangue da Pantera (1944); Uma Aventura na Martinica (1944); Zombies na Broadway (1945); Brutalidade (1947); Romance em Alto-Mar (1948); Caverna do Terror (1957); Lafite, o Corsário (1958).

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

SANGUE DE PANTERA / CAT PEOPLE (1942) - ESTADOS UNIDOS

 


MESTRES DA LUZ E DA SOMBRA

A imigrante sérvia Irena Dubrovna (Simone Simon), está desenhando em um Zoológico, em Nova York, em frente à jaula de uma pantera, quando conhece Oliver Reed (Kent Smith) na qual convida para ir até o seu apartamento. Irena confidencia a Oliver que ele é o seu primeiro amigo na cidade.  Ao Oliver perceber uma pequena estatueta de um homem ao cavalo atravessando um felino, Irena lhe diz que se refere ao Rei João da Sérvia, libertador do povo e que expulsou a maldade, mas alguns feiticeiros(as) fugiram e passaram a assombrar o vilarejo aonde Irena vivera quando criança. Há uma identificação imediata e a dupla marca um jantar para o dia seguinte. 

Oliver resolve dar um gato de presente para Irena, mas o animal a rejeita de imediato. Eles trocam por um pássaro, cujo destino não lhe favorecerá. Em um restaurante sérvio, Oliver apresenta Irena aos amigos do trabalho, mas uma cliente, dentro do restaurante, revela-se o momento mais enigmático da noite quando lhe saúda em sua língua, assustando-a. Irena acreditou que sempre carregou algo de ruim, mas ainda assim o casamento acontece. Oliver e Irena vivem como casados, mas não há consumação, com a jovem voltando a visitar a pantera (ou leopardo) no zoo e evitando qualquer contato íntimo com o marido, pois acredita que isso a transformará em um felino assassino. A dupla resolve buscar ajuda psiquiátrica para exorcizar sua crença supersticiosa enquanto a colega de trabalho de Oliver, Alice (Jane Randolph), revela o seu amor há tempos guardado pelo amigo passando a representar uma ameaça a jovem sérvia, pois Oliver mostra-se simpático à investida. Ao mesmo tempo em que o psiquiatra parece ter desenvolvido um estranho afeto por Irena.

Muitos filmes revelam certa intimidade com as transformações sociais e/ou políticas vingentes. O expressionismo alemão foi de 1916 a 1926, reflexo de uma crise nacional, e do exorcismo dos demônios interiores. “O Gabinete do Dr. Caligari” e “Nosferatu” são bons exemplos. Já a depressão americana, para muitos, estaria atrelada ao surgimento de filmes de monstros: Frankenstein, Lobisomem, King Kong, Dr. Kekyll and Mr. Hide ..., assim como clássicos da literatura fantástica em que situações básicas foram impregnadas de simbolismos. Depois da guerra, a concepção de Horror mudou, ganhando conotações científicas. Ainda nos anos 40, o produtor Val Lewton levou para as telas uma série de produções na qual o horror era apenas sugerido e diluído em uma atmosfera geralmente alucinatória surgindo filmes como “A Sétima Vitima”; “Asilo Sinistro”; “Tumulo Vazio” ... e “Sangue de Pantera”. Sem a crise econômica surgiu um público captado pelos filmes de temática ocultista e sobrenatural. O imaginário e o sonho tomavam novamente o seu lugar. O diretor Jacques Tourneur deu sombras ao público e eles viram monstros. Um exemplo perfeito da teoria de que o que você imagina é mil vezes mais horripilante do que qualquer coisa que um cineasta possa lhe mostrar. Uma fórmula aprendida por Hollywood que a utilizou em diversos filmes posteriormente, tanto que muitos já não se lembram dessas produções que deram origem ao que se vê hoje.

Originalmente, o roteiro de Bodeen foi inicialmente ambientado no século XVIII, mas  Lewton rejeitou a ideia, fazendo uma grande reescrita do roteiro, atualizando-o até a época do filme. Lembrando que, ao falarmos de um filme de 1942, levar às telas temas como repressão sexual, psicologia freudiana e até lesbianismo ainda que insinuado de uma forma não exploratória e séria era algo pouco comum. Sua habilidade em fazer da mais simples cena ou área de sombra algo profundamente perturbador sempre foi digno de nota. Tourneur procurou fazer um filme em que o terror estivesse camuflado e invisível, criando sequências de sugestões soberbamente organizadas, um terror quase subliminar, deixando o público crer que vira mais do que realmente estava na tela, só percebendo o que havia sido mostrado depois de efetivamente vê-lo. O resultado foi que o filme, feito como uma produção B por apenas US$ 135.000, se tornou o maior bilheteria da RKO em 1942, arrecadando US$ 4 milhões, em comparação com "Cidadão Kane" do estúdio, com US$ 500.000 em 1941. Um filme barato, mas difícil de copiar sua arte.

Há duas cenas consideradas clássicas que até foram utilizadas, com menos impacto, na nova versão dos anos 80, “A Marca da Pantera”: Enquanto Alice corre, vemos apenas a sombra de um felino. A cena ganha tensão e impulso até ouvirmos o súbito chiado de uma porta de ônibus se abrindo. O próximo “ataque” a Alice ocorre em uma piscina vazia de um clube. Ao procurar o psiquiatra Dr. Louis Judd (Tom Conway) e lhe confidenciar que há algo de sobrenatural em Irena, Alice recebe uma análise interessante: Irena tem medo do passado e ela medo do presente. O fator medo interfere nos julgamentos de ambas, mas até onde essa análise está correta?

Quanto ao elenco, Simone Simon evoca a aura felina que deve ter assustado ao espectador da época. Sua personagem que começa tímida e insegura, aos poucos, se revela intimidadora e perigosa. Kent Smith interpreta um homem que se casa por amor, mas em suas palavras “nunca fora infeliz” antes, a aura de infelicidade tomou a sua vida e não sabe exatamente o que fazer. Seu casamento fracassou e a investida da colega de trabalho se mostra uma nova chance de ser realmente feliz. Jane Randolph faz Alice, uma mulher que perdeu a chance de se revelar ao homem que amava e diante da infelicidade deste resolve demonstrar o seu amor. O que ela não esperava é que sua rival se mostrasse altamente perigosa de uma forma da qual ninguém poderia supor. Jane Randolph faz uma Alice que se aproxima cada vez mais de Oliver e que passa a lutar por um futuro feliz ao lado de sua paixão, sendo alvo da fúria de Irena. Tom Conway faz o psiquiatra que se mostra curioso com a superstição de sua paciente, acreditando que tudo venha a ser decorrente de uma infância traumática que afetou profundamente Irena e a prendeu em uma jaula mental. Só que suas investidas não serão bem recebidas por Irena que se mostra capaz de "virar o bicho".  Alan Napier, como Doc Carver, faz algumas rápidas aparições, mas será sempre lembrado como o mordomo Alfred da série “Batman” anos 60. 


"Sangue de Pantera" foi um filme habilmente construído quase inteiramente por medo, pelo poder da sugestão, introduzindo os elementos dos quais o horror pode emergir e que assustou a plateia dos anos 40. O filme evoca a solidão da pessoa afastada da humanidade; fala de obsessão; da pessoa prisioneira de suas crenças; misticismo; superstição; infelicidade; infidelidade... Sua versão anos 80 veio carregada de violência e erotismo, o que desagradou a muitos, mas que agradou a outros que preferiram uma abordagem mais contemporânea. Ambas as produções tem suas qualidades, mas claro que o que assustava o público dos anos 40 não mais assusta os espectadores do século XXI. Um clássico que merece ser visto por quem gosta de filmes dessa época ou tem a curiosidade em saber como se fazia filmes sem efeitos, bastando um roteiro consistente e um diretor com talento. Teria uma continuação bem atípica: "A Maldição do Sangue de Pantera".


Trailer:





Curiosidades (contém spoilers):

A técnica do filme de terror de construir lentamente a tensão para um choque chocante que acaba sendo algo completamente inofensivo e benigno ficou conhecido como "ônibus Lewton" ("Bus Lewton") após uma cena famosa neste filme criada pelo produtor Val Lewton. A técnica também é chamada de "susto de gato" (Cat Scare), pois os ruídos fora da tela geralmente são revelados como um gato inofensivo assustado.

O filme esteve nos cinemas por tanto tempo que os críticos que originalmente criticaram o filme puderam vê-lo novamente e muitos reescreveram suas críticas com um toque mais positivo.

Por causa do orçamento incrivelmente apertado, os conjuntos de Soberba de Orson Welles (1942) foram reutilizados.

Quando "The Cat Woman" (interpretada, sem créditos, por Elizabeth Russell) fala com Irina em sérvio e a chama de "minha irmã", o diálogo de Russell é dublado por Simone Simon.

Filmado em 18 dias.

Os créditos de abertura terminam com uma citação atribuída a "Dr. Louis Judd", que é o nome do personagem psiquiatra do filme.

O supervisor Lou L. Ostrow estava tão insatisfeito com o estilo do filme que queria substituir o diretor Jacques Tourneur após quatro dias de filmagem. O produtor Val Lewton conseguiu que o chefe do estúdio Charles Koerner restabelecesse Tourneur, e quando Ostrow insistiu que a pantera aparecesse na sequência da sala de desenho, Lewton fez Tourneur usar pouca iluminação, colocando a pantera nas sombras.

Val Lewton chegou muito perto de ser demitido depois de apenas três dias de filmagem. Lou L. Ostrow, o chefe da unidade B da RKO, havia observado os três primeiros dias de juncos e não estava feliz com o que viu. Ostrow queria Lewton fora, mas acabou sendo anulado pelo chefe da RKO, Charles Koerner, que estava feliz com o trabalho de Lewton e queria que ele continuasse.

O leopardo negro Dynamite apareceu em outro filme dos mesmos produtores/diretores: O Homem-Leopardo (1943).

Cat People é o primeiro filme que o ator Alfred Molina narra para o personagem Valentin no filme "O Beijo da Mulher-Aranha" (1985).

Incluído na lista de 1998 do American Film Institute dos 400 filmes indicados ao Top 100 Greatest American Movies.

Incluído na lista de 2001 do American Film Institute de 400 filmes indicados para os 100 filmes americanos mais emocionantes.

Tom Conway mais tarde reprisaria seu papel como Dr. Louis Judd em A Sétima Vítima (1943).

Os historiadores de cinema Edmund Bansak, Chris Fujiwara e Joel Siegel estimam que o filme arrecadou mais de US$ 4 milhões em bilheteria doméstica. Isso seria um lucro extraordinário de quase 30 vezes o orçamento de US$ 135.000. O historiador Gregory Mank dá um lucro bruto mais modesto de US $ 1 milhão (quase 10 vezes o orçamento) dos mercados interno e externo. Dito isto, Mank observa que este ainda era um excelente negócio e muito mais do que qualquer outra coisa que a RKO lançou na época.

Incluído entre os "1001 filmes que você deve ver antes de morrer",

Em sua cena, Elizabeth Russell lembra muito Julie Newmar em seu papel como a mulher-gato original na série de TV Batman e Robin (1966). Curiosamente, a parte de Russell é creditada como "The Cat Woman". Deixa-nos perguntar se os produtores de Batman foram realmente inspirados por essa senhora ao lançar seu próprio papel semelhante.

Jennifer Jones foi considerada para o papel de Alice.

A primeira exibição para os chefes do estúdio foi um desastre. Para um homem, eles odiavam. Por um tempo, houve rumores de que seria arquivado e baixado como uma perda fiscal. O filme acabou sendo exibido em um cinema de Nova York por uma semana inicial. Foi um tremendo sucesso, eventualmente funcionando por mais de três meses. 

Para o clímax do filme, Lewton foi forçado por seus produtores executivos a inserir uma cena de uma pantera real, um movimento ao qual ele se opôs amargamente. 

Simone Simon faleceu aos 93 anos de causas naturais

Kent Smith faleceu aos 78 anos de ataque cardíaco

Jane Randolph faleceu aos 94 anos em decorrência de complicações de uma fratura de quadril

Tom Conway faleceu de cirrose hepática aos 62 anos

Alan Napier faleceu aos 85 anos de pneumonia


Cartazes:


Filmografia Parcial:

Simone Simon (1911–2005)







Mulher de Soldado (1933);  Olhos Negros (1935); Dormitório de Moças (1936); O Sétimo Céu (1937); Josette (1938); A Besta Humana (1938); Cavalgada de Amor (1939); O Homem que Vendeu a Alma (1941); Sangue de Pantera (1942); A Maldição do Sangue da Pantera (1944); O Porto da Tentação (1947); A Ronda (1950); Olivia (1951); La Femme en Bleu (1973).


Kent Smith (1907–1985)







A Vida é Assim (1939); Sangue de Pantera (1942); Os Filhos de Hitler (1943); Esta Terra é Minha (1943); Três Heroínas Russas (1943); A Maldição do Sangue da Pantera (1944); Silêncio nas Trevas (1946); Vontade Indômita (1949); Comanche (1956); Sayonara (1957); General de Imitação (1958); O Vale das Paixões (1959); O Nono Mandamento (1960); O Incrível Homem do Espaço (1962); O Balcão (1963); O Preço da Ambição (1964); Anjos Rebeldes (1966); O Terceiro Tiro (1967); Os Invasores  (seriado 1967-1968); Pânico e Morte na Cidade (1972); Degraus para o Poder  (1972); Horizonte Perdido (1973); Ensina-me a Esquecer (1973); O Amuleto Egípcio (1973); Billy Jack Vai a Washington (1977).

Jane Randolph (1914–2009)







Demônios do Céu (1941); O Irmão do Falcão (1942); Sangue de Pantera (1942); O Falcão Contra-Ataca (1943); A Maldição do Sangue de Pantera (1944); Rastilho de Pólvora (1946); A Face do Perigo (1947); Moeda Falsa (1947); Às Voltas com Fantasmas (1948).


Tom Conway (1904–1967)







O Tesouro de Tarzan (1941); O Trem do Diabo (1942); Sangue de Pantera (1942); O Falcão Contra-Ataca (1943); A Morta-Viva (1943); O Falcão em Perigo (1943); A Sétima Vítima (1943); O Anel da Morte ( 1944); O Falcão em Hollywood (1944); O Falcão em San Francisco (1945); Por Causa de uma Mulher (1946); Os 13 Soldados de Chumbo (1948); Vênus, Deusa do Amor (1948); Tarzan e a Mulher Diabo (1953); O Príncipe Valente (1954); O Submarino Atômico (1959); A Senhora e Seus Maridos (1954).


Alan Napier (1903–1988)







A Volta do Homem Invisível (1940); A Casa das Sete Torres (1940); A Força do Coração (1943); A Canção de Bernadette (1943); O Solar das Almas Perdidas (1944); Concerto Macabro (1945); A Ilha dos Mortos (1945); A Casa dos Horrores (1946); Simbad, o Marujo (1947); A Ilha da Maldição (1947); Entre o Amor e o Pecado (1947); Macbeth - Reinado de Sangue (1948); Joana D'Arc (1948); O Mundo de Lassie (1948); Na Corte do Rei Artur (1948); Tarzan e a Montanha Secreta (1949); Numa Noite Sombria (1949); Danúbio Vermelho (1949); Desafio de Lassie (1949); Tarzan na Terra Selvagem (1951); O Grande Caruso (1951); Assim são os Fortes (1951); Júlio César (1953); A Rainha Virgem (1953); Désirée, o Amor de Napoleão (1954); O Tesouro de Barba Azul  (1955); O Destino de um Gângster (1956); Viagem ao Centro da Terra (1959); Suave é a Noite (1962); Obsessão Macabra (1962); Marnie, Confissões de uma Ladra (1964); Marcado para o Crime (1964); Batman, o Homem Morcego (1966); Batman e Robin (1966 a 1968).