quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A CHEGADA / THE ARRIVAL (2016) - ESTADOS UNIDOS

 


A HUMANIDADE ESTÁ PRONTA ?
(o texto contém spoilers)

A câmera foca nos alunos numa sala de aula e sua professora, colocando o noticiário em segundo plano. A impressão que fica é que iremos ver algo no estilo do antigo seriado “V- A Batalha Final”: naves flutuando em diversas partes do mundo e a humanidade aguardando por respostas. A naves aqui são enorme casulos que os cientistas tentam contatar vestidos de roupa laranja (alguém se lembrou dos monólitos de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” e as roupas laranjas dos astronautas?)



Para muitos seres humanos a ideia de um ser além-terra é algo impensável e um ser diferente desse aspecto então nem se fala. Há um porquê: o ser humano é o único ser pensante que conseguiu desenvolver uma comunicação efetiva a utilizar o seu cérebro para realizações e desenvolvimentos. Ver um "animal" (aqui chamado de “heptapod”) comunicando-se, parecendo ser mais inteligente, causa espanto. Nós somos uma raça que tememos o que não conhecemos, que acreditamos que tudo de fora é ameaça.



“A Chegada” expõe múltiplas mensagens, tão pequenas que às vezes é difícil uma assimilação completa em sua primeira exibição. Esse é um ponto alto desta produção. O diretor Denis Villeneuve conseguiu transpor um roteiro dificílimo (adaptado do conto “Story of your life”, de Ted Chiang, publicado em 1998) em um filme para as grandes massas. É ao mesmo tempo simples de se compreender e complexo de ser avaliado. Com isso quero dizer que pode ser visto como um filme muito legal de ficção científica, com um final diferente, ou uma obra complexa que, de acordo com o conhecimento da pessoa, vários aspectos podem ser notados. A trama parece simples, mas inclui dezenas de camadas. Há uma cena que sintetiza bem isso. Quando Amy pergunta o que aconteceu com seu antecessor a resposta que surge é “Nem todos conseguem processar essa experiência”. Uma indireta, na verdade, para o espectador. Vou citar apenas algumas dessas camadas: a simbologia da comunicação, a questão religiosa, física quântica, medo do ser humano frente ao desconhecido, paranoia coletiva, sentido da vida, o medo da dominação, lapso temporal ...



Doze naves chegam a Terra e se postam em locais diferentes do planeta. As perguntas são: O que / quem são? O que querem? Por que as escolhas desses locais? Claro que o ponto de partida é os Estados Unidos (e claro que será deles a solução do problema). O exército convoca e recruta sua especialista, Louise (Amy Adams), assim como outras nações fazem o mesmo. Há uma pergunta: Por que não escolheram um único país? Para qualquer bom entendedor do mundo em que vivemos a resposta é simples: não temos um único líder. Terão que dialogar com todos que se considerem líderes (e nessa hora todos se considerarão) e isso levará anos. Cada nação faz o que quer e age da maneira que lhe convém. Não temos um único líder e possivelmente nos destruiremos antes que isso ocorra. E o roteiro joga na nossa cara essa obviedade. A outra sacada desse filme é mostrar que a nossa percepção e crenças das coisas podem não ser exatamente como queremos ou gostaríamos e temos que possuir maturidade para confrontar e aceitar o inesperado e o novo (a revelação dos aliens sobre seu tempo na terra é uma dica a ser muito bem guardada no quebra cabeças do espectador). O ser humano tem problemas com mudanças. Tem problemas com outros seres humanos e tem problemas em como manter sua casa em ordem (nosso planeta). Tem medo de ser o povo Asteca, frente à chegada dos  descobridores do novo mundo, sendo dizimados por uma cultura superior em tecnologia. E o cinema, desde o filme "Vampiro de Almas", tem feito analogias. Na década de 50 era o medo avanço do comunismo na pele de um filme de ficção científica, agora, novamente o medo do que vem de fora: imigrantes e refugiados.



Nesse contexto nossa heroína tenta bravamente decifrar os símbolos desenhados pelos polvos gigantes... (por algum motivo suas aparições e sons me lembraram do final do filme “O Nevoeiro” com Thomas Jane). Ela é auxiliada por um físico, Ian Donnelly (Jeremy Renner,  o Arqueiro de “Os Vingadores”). Se não codificarem a tempo, as nações atacarão os seres de aparências assustadoras (se fossem parecidos com humanos sorridentes, tudo estaria bem), que utilizam, para se comunicarem,  desenhos em anéis de tinta lançadas de suas membranas. Como não entendemos o que desejam, melhor atacá-los. A lógica humana é sempre muito óbvia. E dá-lhe profecias religiosas e o surgimento da ideia do apocalipse. Nada disso, apenas uma raça querendo se comunicar, não em inglês, português, mandarim ou russo. Eles querem falar uma única língua. Mas não somos assim. Por que não respeitam nossa incapacidade de criarmos uma língua universal? Brincadeiras a parte, esse rico roteiro vai dissecando as particularidades da humanidade. O cerne do filme não está nos exércitos enfrentando as naves malvadas (como em Independence Day). É algo mais elevado. Temos intelecto para decifrarmos uma linguagem extraterrestre? Será que evoluiremos sem uma unificação, ou nos destruiremos defendendo nossos feudos? O roteiro não escapa de algumas armadilhas e elege a China como o inimigo que colocará tudo a perder (Hollywood adora essas coisas de colocar um vilão na história).  



O filme é muito inventivo, sem dúvida. Os símbolos me lembraram (muito vagamente) aqueles círculos que aparecem em campos de plantações e que ninguém sabe sua origem. A linguagem dos símbolos como comunicação me lembrou “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (só que eram notas musicais), mas o roteiro centra no ser humano e mais precisamente da doutora Louise (nossa heroína que falará pela humanidade). Sua vida, suas perdas e seu futuro. Aí o roteiro poderá confundir alguns entrando numa área de fluxo temporal que leva a várias perguntas. O escritor Arthur C Clark cunhou uma frase que se encaixa bem nesse filme “Existem duas possibilidades... Ou estamos sozinhos no universo ou não estamos. Ambas são igualmente aterrorizantes".


A fotografia é deslumbrante. Os efeitos são perfeitamente adequados ao filme e o elenco muito bem escalado. O filme, impressiona, emociona e leva a reflexão. Villeneuve revelou ter em Spielberg sua fonte de inspiração, sua admiração. Em seu primeiro filme do gênero, mostrou que pode ir além dos filmes de suspense como “ Os Suspeitos”. O elenco está ótimo: Forest Whitaker dispensa comentários e seu Coronel Weber está muito bem caracterizado. Amy Adams está cotada para concorrer ao Oscar, pois realmente parece uma linguista e Jeremy Renner mostra que vem fazendo ótimos papéis. 



Ficção científica cerebral, entretenimento de alto nível e um dos melhores filmes do ano, com várias referências cinematográficas. Filme para ser visto no cinema. Talvez a questão seja: estamos prontos para um contato extraterrestre? Estamos prontos para uma possível revelação de nossa origem (caso não seja a que conhecemos?)? Está na hora da humanidade receber um salto tecnológico? Não há respostas neste filme para estas perguntas, mas muitos as formularão a partir do momento que o filme se encerrar.

Curiosidades:
Denis Villeneuve será o diretor da continuação do clássico "Blade Runner": "Blade Runner 2049" previsto para 2017

Forest Whitaker ganhou o Oscar de Melhor Ator pelo filme "O Último Rei da Escócia" (2006)

Amy Adams foi indicada 4 vezes ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelos filmes : "Retratos de Família" (2005); "Dúvida" (2008); "O Vencedor" (2010); "O Mestre" (2012) e como Melhor Atriz em "Trapaça" (2013).

Jeremy Renner foi indicado a dois Oscars: Melhor Ator por "Guerra ao Terror" (2008) e Melhor Ator Coadjuvante por "Atração Perigosa" (2010). 

Amy Adams e Jeremy Renner estiveram juntos no filme Trapaça (2013).

O diretor Denis Villeneuve e o roteirista Eric Heisserer criaram uma linguagem alienígena totalmente funcional, visual. Heisserer, Villeneuve e suas equipes conseguiram criar uma "bíblia de logogramas", que incluía mais de cem diferentes logogramas completamente operativos, dos quais setenta e um são realmente apresentados no filme.


A linguagem alienígena circular escura foi criada pela artista de Montreal Martine Bertrand. É também o filho do artista que criou os desenhos de Hannah.


Denis Villeneuve teve grande dificuldade em imaginar um interior que permitisse aos humanos navegar facilmente por um design tão íngreme e vertical. A decisão posterior de virar a gravidade de lado ofereceu uma solução óbvia e conveniente.

O nome original do filme era "Story of Your Life", o mesmo da novela original. O público de teste não gostou desse título, então foi alterado para "Arrival".


A palavra húngara a que Halpern se refere é "szalámitaktika". (Em inglês, isso se traduz em "táticas de salame".) A palavra significa dividir a oposição, a fim de enfrentar apenas inimigos menores e mais fracos.

Louise diz ao Coronel Weber que a palavra 'canguru' vem de um mal-entendido histórico, e na verdade significa "eu não sei", apenas para dizer a Ian que a história é falsa, mas ilustra seu ponto. Este é um mito real; não apenas uma história inventada. Envolve o tenente James Cook e Sir Joseph Banks, que chegaram à Austrália no século 18, onde fizeram contato com os Guugo Yimithirr, uma tribo aborígene costeira. Eles ficaram intrigados com a visão de um canguru e perguntaram a um membro da tribo o que era. De acordo com o mito, o homem da tribo respondeu com a palavra "gangurru", que significa "não entendo" em sua língua. Banks confundiu-o com o termo local para o animal, soletrando-o como "kanguru" em seu diário. O mito foi desmascarado na década de 1970 pelo linguista John B. Haviland. Na realidade, a palavra gangurru refere-se especificamente ao canguru cinza na língua Guugo Yimithirr. Quando Cook e Banks viajaram 1.400 milhas para o interior, encontraram a tribo Baagandji, que não estava familiarizada com a outra tribo e com a palavra gangurru, e pensaram que significava "animal desconhecido". Os Baagandji então começaram a usar a palavra para descrever os cavalos de Cook e Banks.

A nave do heptápode deve seu design a um asteroide chamado 15 Eunomia. Durante a pesquisa, o diretor Denis Villeneuve se sentiu atraído pela "forma insana como um ovo estranho" de Eunomia e pensou que esse tipo de seixo ou forma oval traria uma sensação perfeita de ameaça e mistério à espaçonave.

Na foto do quadro branco onde Louise escreve a grande pergunta, imediatamente acima da pergunta está a fórmula padrão para a entropia - a flecha do tempo.


Trailer:




Filmografia Parcial:
Denis Villeneuve (diretor):
Incêndios (2010); Os Suspeitos (2013); O Homem Duplicado (2013); Sicario: Terra de Ninguém (2015); A Chegada (2016); Blade Runner 2049 (2017)

Amy Adams









Lindas de Morrer (1999); Segundas Intenções 2 (2000); Prenda-me Se For Capaz (2002); Retratos de Família (2005); O Ex-Namorado da Minha Mulher (2006); Uma Noite no Museu 2 (2009); O Vencedor (2010); Na Estrada (2012); O Mestre (2012); O Homem de Aço (2013); Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016); A Chegada (2016); Animais Noturnos (2016); Liga da Justiça (2017).

Jeremy Renner










S.W.A.T.: Comando Especial (2003); Terra Fria (2005); A Fraude (2005); Extermínio 2 (2007); O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007); Guerra ao Terror (2008); The Avengers: Os Vingadores (2012); O Legado Bourne (2012); João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013); Trapaça (2013); O Mensageiro (2014); Vingadores: Era de Ultron (2015); Missão: Impossível - Nação Secreta (2015); Capitão América: Guerra Civil (2016); A Chegada (2016); Vingadores: Guerra do Infinito (2018); Homem-Formiga e a Vespa (2018); Missão Impossível 6 (2018).


Forest Whitaker









Picardias Estudantis (1982); Em Busca da Vitória (1985); A Cor do Dinheiro (1986); Platoon (1986); Tocaia (1987); Bom Dia, Vietnã (1987); O Grande Dragão Branco (1988); Um Rosto Sem Passado (1989); Perigosamente Harlem (1991); Hospital de Heróis (1992); Traídos pelo Desejo (1992); Os Invasores de Corpos - A Invasão Continua (1993); Contagem Regressiva (1994); Prêt-à-Porter (1994); A Experiência (1995); Fenômeno (1996); Ghost Dog (1999); A Reconquista (2000); Na Mira do Inimigo (2000); O Quarto do Pânico (2002); Por Um Fio (2002); A Fraude (2005); O Último Rei da Escócia (2006); O Grande Debate (2007); Ponto de Vista (2008); Os Reis da Rua (2008); O Efeito da Fúria (2008); Repo Men: O Resgate de Órgãos (2010); Detenção (2010); Assassinos de Aluguel (2012); O Último Desafio (2013); Zulu (2013); Busca Implacável 3 (2014); Nocaute (2015); A Chegada (2016); Rogue One (2016); Pantera Negra (2018).

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O EXPERIMENTO DE APRISIONAMENTO DE STANFORD / THE STANFORD PRISON EXPERIMENT (2015) - ESTADOS UNIDOS



AUTORIDADE VS SUBMISSÃO

Em 26 de agosto de 1971, Dr. Zimbardo  (Billy Crudup), inicia uma experiência, nas férias universitárias, recrutando jovens para o que considera um experimento de análise comportamental. Os jovens são entrevistados e selecionados, recebendo 15 dólares por dia (valor da época). A experiência parece simples: será recriado um  ambiente de prisão simulado nos interiores da Universidade de Stanford, onde parte fará o papel de carcereiros e a outra parte funcionará como detentos. Algumas regras serão aplicadas nessa “convivência”, só que algo acaba dando muito errado.



O Experimento de Aprisionamento de Stanford traz à tona um acontecimento verídico ocorrido na década de 70 e que até hoje é objeto de estudos e discussões: o Dr Philip Zimbardo conduziu uma experiência que deveria durar seis semanas e que não passou de 6 dias. A principal regra era que os presos não deveriam sofrer agressões físicas. O que parecia algo divertido para os jovens, com monitoramento constante de uma equipe de profissionais, tornou-se um pesadelo com um festival de absurdos e a complacência dos pesquisadores.



O grande trunfo deste filme é fazer uma análise mais séria sobre as posições de poder e submissão dentro de um confinamento. Por uma questão do “destino” um dos protagonistas torna-se carcereiro. E tudo começa a dar errado. O carcereiro “John Wayne”(Michael Angarano) passa a ter um comportamento completamente diferente do que se previra. Ele simplesmente cria um personagem (como descreveria posteriormente em entrevistas) que passa a “colocar na linha” os prisioneiros, mas para os espectadores a impressão que se tem é que houve um afloramento de uma personalidade doentia, imersa, que precisava apenas de um gatilho para se libertar. O gatilho foi o experimento. Foi uma posição de poder sobre os demais. O famoso ditado “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder de  Abraham Lincoln é muito bem explorado neste filme.


O tempo passa e o prisioneiro 8612 (Ezra Miller) se torna um detendo contestador das regras, tanto do presídio como do experimento. Suas ideias são de resistência e rebeldia, o que pode abreviar o experimento. A interferência do Dr Zimbardo muda tudo. De apenas um mero observador e estudioso do programa, resolve interferir a favor de um dos lados. O resultado é pior: agora mesmo que não perceba Zimbardo faz parte da experiência. Seus companheiros pesquisadores começam a temer pelos resultados e por processos judiciais por parte dos “presos” que podem manchar suas carreiras. Zimbardo mostra-se determinado e cada vez mais desprovido de bom senso. A pesquisa é tudo. Nada deve pará-la. Não serão um ou dois descontentes que colocarão todo o esforço abaixo. Uma figura convidada por Zimbardo, como consultor, parece corroborar  sua experiência: Jesse Fletcher  (Nelsan Ellis), um ex-detento, conhece as técnicas de manipulação que os presos praticam e tenta identificar aqueles que estão mentindo para conseguirem benefícios. Fletcher  não parece ser a pessoa certa para tal experimento. Não há imparcialidade em seus atos e emerge uma personalidade cheia de mágoa e ódio.


Phillip Zimbardo é um respeitado professor da Universidade de Stanford, que ganhou um Nobel de Psicologia por sua tese que descreve os políticos como  "Uniquely Simple Personalities" ("Personalidades de uma Simplicidade Única").  Em 2012 lançou o livro “O Efeito Lúcifer” em que disseca o Experimento Stanford e analisa os abusos na prisão de Abu Ghraib, entre outros. “O Experimento ... “ não é o primeiro filme sobre o assunto. Quem assistiu o filme  alemão “A Experiência” ou sua versão americana “Detenção” pode achar que esse longa não apresenta um argumento original. A diferença é que estes filmes beberam na fonte do incidente Stanford, que finalmente apresenta um filme mais fidedigno aos fatos e cujo roteiro é baseado no próprio livro de Zimbardo.  O filme deixa de fora o fato que a experiência foi financiada pela marinha americana para estudar o comportamento em prisões, mas nada que contribua para diminuir o filme.


Crudup fez um excelente trabalho, lembrando outro bom  filme que vi deste ator: “Prefontaine - Um Sonho Sem Limites”, além, claro, de sua participação como Dr Manhattan em Watchmen. O ator tem uma atuação bem sóbria que enriqueceu o filme. O restante do elenco está muito bem com destaque para o ator Michael Angarano,  na pele do irascível Christopher Archer (apelidado de “John Wayne”) e sua visão de como usar seu poder para estabelecer a ordem no caos. Muitos poderão dizer: “isto jamais aconteceria comigo!”, mas o ambiente claustrofóbico do encarceramento e a confusão, frente aos comportamentos submissos dos colegas, altera a percepção de uma pessoa. Todos os universitários assinaram um contrato com todas as regras, inclusive a opção de saída do experimento. Todos sabiam que haviam limites que não podiam ser ultrapassados. Alguns serão como o “detento” 8612, outros se submeterão as regras, mesmo que lhes sejam desfavoráveis.

 
O Experimento Stanford pode ser uma boa indicação para quem gosta de filmes baseados em fatos reais e oriundos de pesquisas promovidas pelo governo. A produção é boa, mas não espere grandes cenas de ação, lutas e confrontos. Seu intento é  voltar-se para uma abordagem mais psicológica. Um filme que leva a reflexão de como o ser humano se submete a certas situações e quando pessoas se apercebem desta fraqueza em seu semelhante.  A dominação se dá no caráter físico e psicológico. Basta mudar o cenário (prisão) para o cotidiano de algumas pessoas e traçar um paralelo do porquê permitem que suas vidas sejam manipuladas e controladas. Um filme que pode despertar algumas pessoas para o mundo real em que vivemos.



Trailer:



Filmografia Parcial:
Billy Crudup









Sleepers - A Vingança Adormecida (1996); Todos Dizem Eu Te Amo (1996); Prova de Fogo (1998); Amor Maior que a Vida (2000); Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003); Missão: Impossível 3 (2006); O Bom Pastor (2006); Watchmen: O Filme (2009); Inimigos Públicos (2009); Comer, Rezar, Amar (2010); O Experimento de Aprisionamento de Stanford (2015); Spotlight: Segredos Revelados (2015); Prometheus 2 (2017); The Flash (2018).

Ezra Miller






Depois da Escola (2008); Californication (seriado 2008);  Confusões em Família (2009); Uma Segunda Chance (2010); Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011) As Vantagens de Ser Invisível (2012); Madame Bovary (2014); O Experimento de Aprisionamento de Stanford (2015); Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016); Esquadrão Suicida (2016); Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016); Liga da Justiça (2017); Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018); Liga da Justiça de Zack Snyder (2021); Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (2022) The Flash (2023)


Michael Angarano











Quase Famosos (2000); Pequenos Segredos (2001); O Silêncio de Melinda (2004); Os Reis de Dogtown (2005); Super Escola de Heróis (2005); O Reino Proibido (2008); Seita Mortal (2011); O Experimento de Aprisionamento de Stanford (2015).

Thomas Mann









Projeto X: Uma Festa Fora de Controle (2012); João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013); O Experimento de Aprisionamento de Stanford (2015); Escola de Espiões (2015);  Kong: A Ilha da Caveira (2017); Amityville: O Despertar (2017); The Land of Steady Habits (2017).
  
Tye Sheridan











A Árvore da Vida (2011); O Impostor (2014); Últimos Dias no Deserto (2015); O Experimento de Aprisionamento de Stanford (2015); Lugares Escuros (2015); Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi (2015); Detour (2016); X-Men: Apocalipse (2016); Jogador Nº 1 (2018); Deadpool 2 (2018); X-Men: Fênix Negra (2019); Viajantes - Instinto e Desejo (2021); The Card Counter (2021); Bar Doce Lar (2021) 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

O CLÃ / EL CLAN (2015) - ARGENTINA / ESPANHA


ESTRUTURA MAFIOSA

O Clã (El Clan) é uma coprodução Argentina / Espanha que narra acontecimentos verídicos de uma família que passa a sequestrar pessoas influentes e ricas do bairro, muitas terminando mortas.


Vencedor  do Leão de Ouro em Veneza e dirigido por Pablo Trapero (de "Leonera" e "Elefante Branco") foca na relação pai e filho e no impacto direto em toda família. O filme tenta traçar o perfil do patriarca Arquimedes Puccio (Francella excelente), um ex-agente das forças ditatoriais de repressão que, diante do novo cenário democrático, resolve manter seu padrão de vida elevado sequestrando pessoas em Buenos Aires e  exigindo resgates de quase meio milhão de dólares, tudo com o aparente silêncio de sua família que finge ignorar o que se passa no porão da casa.

 
O filme começa traçando um breve panorama político que pode ser um tanto confuso para o resto do mundo.  A breve explicação do regime, através de imagens, nem sempre situa o espectador, logo cabe aqui uma explicação:  A ditadura na Argentina ocorreu entre 1976 e 1983. As imagens iniciais mostram o último dos presidentes militares, Leopoldo Galtieri (1981-1982), e situa a estória logo após a Guerra das Malvinas (Falklands para os britânicos), ocorrida entre abril e junho de 1982. Com a entrada do civil Raúl Alfonsin (1983-1989), a Argentina vive novos ares e Arquimedes e seus amigos não pertencem mais ao novo status quo. Os antigos membros do antigo regime estão “saindo de cena”. É tempo de mudanças. A democracia começa a enterrar a ditadura, mas os que estavam no poder nessa época ainda mantém laços e o patriarca da família Puccio tem outros planos para manter-se confortavelmente nessa nova  realidade.

 
A pergunta que fica é: Como uma família inteira (cinco filhos e a esposa) aceitou participar de tais atos? Como puderam fechar os olhos para o que acontecia dentro da própria casa? Como conseguiram manter a serenidade diante dos destinos das vítimas? Trapero optou for fazer um  filme com várias nuances e analogias bem sutis.   O porão da casa de Arquimedes pode ser visto como os antigos porões da ditadura. O clã funciona como estrutura mafiosa e não por acaso alguns associaram o longa a filmes do cineasta Martin Scorsece. A família senta à mesa no jantar e reza em agradecimento a refeição. O cinismo de infligir dor a terceiros e ao mesmo tempo rezar pode ser um simbolismo de uma família que em nada possui os valores cristãos, mas age como se estivessem puros, isentos de pecados e sangue nas mãos. Desaparecimentos ocorrem e não há (ou o filme ignorou) uma investigação, resquícios de um regime em que as pessoas “sumiam” e nada era feito.

 
Filmes que abordam a ditadura Argentina há vários: "Desaparecido – Um Grande Mistério", "A História Oficial", "Garagem Olimpo" e, mais recentemente, "O Segredo dos Seus Olhos'. Mas Trapero optou por abordar laços familiares. Arquimedes recruta seu filho Alex (Peter Lanzani) em suas ações. Este começa a entender o tipo de problema em que se meteu. Alex é um jogador de Rúgbi da seleção Argentina e tem uma carreira promissora. Arquimedes quer a família unida, não quer que haja uma desintegração neste seio familiar. Sua palavra é ordem, suas ordens são obedecidas sem contestações. A família possui um sequestrado dentro de casa e todos seguem suas rotinas: a mãe (ex-professora) cuida da casa, as filhas estudam e Alex tem uma loja. Sua consciência começa a pesar. Arquimedes lhe financia. A origem do dinheiro é óbvia.  É o cala boca que compra o silêncio. Em meio a crise financeira com saída de dólares do país, de investidores, numa democracia em estado latente e inflação galopante a família percebe que quer viver bem. E nesta realidade não perguntar o que passa e fugir da realidade é a saída. Um irmão, Guillermo (Franco Masini), foge. O outro, Daniel “Maguila” (Gaston Cocchiarale), retorna, apenas para reforçar  o grupo.

 
A escolha do elenco fez toda diferença. Francella, um ator de papéis cômicos, que possui um programa humorístico de sucesso na Argentina, construiu um personagem esplêndido (como o fizera em "O Segredo de Seus Olhos"). Seu Arquimedes não tem expressões exageradas ou tiques nervosos. Sua imagem é de uma pessoa  fria, manipuladora  e calculista o que passa um certo temor. Seu modo de falar e se comportar revelam de imediato que estamos diante de um homem que pode ter sido muito ruim no outro regime. Um homem que fez coisas reprováveis e não tem nenhum sentimento de culpa nem medo de ir contra Alex quando este lhe desagrada em determinada situação. Um lobo controlando sua matilha. Peter Lanzani faz Alex um filho que pensa em se casar com Monica (Stefania Koessl) e viver sua vida, mas que não consegue se livrar de um pai  psicologicamente opressor. Essa dualidade é o cerne de "O Clã".  Trapero (que produziu o filme junto com a produtora de Pedro Almodóvar) centrou na dissecação do seio familiar, seguindo uma linha e acertando em cheio, porque fugiu de narrar uma mera estória policial ou um drama das vítimas pós ditadura. Assumiu o lado familiar e centrou sua visão nesses laços. Tão forte e tão frágil. O espectador no meio do filme já tem uma ideia do desfecho da história e a explicação quanto ao destino de cada um se dá em um final satisfatório.
 
 
Filmado  quase 30 após os eventos, "O Clã" revela-se um filme denso, resultado (conforme descrito pelo diretor) de intensa pesquisa e entrevista com amigos, advogados da família Puccio, além de advogados especialistas neste crimes. Todo esse conteúdo, reforçado de um excelente elenco e trilha sonora da época, fazem de "O Clã" um filme muito interessante de ser assistido e que, provavelmente, trará opiniões díspares. Uns o acharão um filme acima da média, outros talvez o vejam como um filme que quase, como dizem, “chegou lá”. O que com certeza ele não causa no espectador é indiferença.

Trailer


Curiosidades:
O pai do ator Peter Lanzini chegou a jogar rúgbi com o Alejandro original.

Só nos primeiros 10 dias de exibição, o longa foi visto por mais de 1,5 milhão de espectadores argentinos, superando "O Segredo dos Seus Olhos" (2009) e "Relatos Selvagens" (2014).

Arquimedes faleceu em maio de 2013, aos 83 anos. Ao saber pela imprensa que sua estória seria contada, solicitou que Tropero escutasse sua versão dos fatos , mas não houve tempo de se estabelecer contato entre as partes devido ao falecimento de Arquimedes.

Este foi o oitavo longa do diretor.


Premiações:
Academy of Motion Picture Arts and Sciences of Argentina (2015)
Melhor Fotografia, Melhor Novo Ator, Melhor Figurino e Melhor Som

Goya Awards 2016
Melhor Filme Iberoamericano

SESC Film Festival, Brazil
Melhor Ator Estrangeiro

The Platino Awards for Iberoamerican Cinema 2016
Melhor Ator

Toronto International Film Festival
Platform Prize - Honorable Mention

Festival de Veneza 2015
Melhor Diretor



Filmografia Parcial:

Guillermo Francella











Brigada Explosiva (1986); Los Extermineitors (1989); Extermineitors 3: La gran Pelea Final (1991); Extermineitors 4: Como Hermanos Gemelos (1992); Un Argentino en New York (1998); O Segredo dos Seus Olhos (2009); Coração de Leão - O Amor Não Tem Tamanho (2013); O Clã  (2015); Quem Ama, Odeia (2017); Animal (2018); Minha Obra Prima (2018); O Roubo do Século (2020); Granizo (2022)

Fontes:

O Globo
New York Times
The Guardian
Site ZH Entretenimento
site da revista época
folha uol