quarta-feira, 1 de julho de 2020

MAD MAX (1979) - AUSTRÁLIA



CAOS SOCIAL E MISÉRIA HUMANA

Em um futuro próximo, uma crise energética global leva à anarquia e a desintegração da sociedade urbana até então conhecida.  Nas estradas proliferam gangues de motociclistas que aterrorizam e saqueiam comunidades do interior por onde passam.  A escassa e pouco equipada força policial passa a usar carros tunados para manter a ordem e fazer valer a lei. Max é um desses oficiais encarregados de impedir que o frágil resquício de sociedade se esvaia. Quando persegue um fugitivo chamado “Nightrider” (Vincent Gil), que perde o controle do carro e morre, passa a ser jurado de morte pela gangue de motoqueiros lideradas por Toecutter (Hugh Keays-Byrne).  Quando a força policial prende outro de seus membros e veem a justiça liberá-lo sem acusações, Goose (Steve Bisley), parceiro de Max, passa a ser o alvo. Goose é emboscado e sofre um terrível acidente. Max, desiludido com o sistema e apreensivo, segue o conselho da esposa e resolve abandonar a força policial viajando com a família. Quando sua esposa encontra Cutterfinger e sua gangue, a vida de Max nunca mais será a mesma.


Para entendermos o conceito hipotético do filme de como a sociedade do filme se diluiu é primordial lembrarmos que Mad Max foi realizado em 1979, apenas seis anos depois da crise petrolífera de 1973 em que a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) possuidora de 75% das reservas mundiais de petróleo (atualmente composto de Irã, Iraque, Kuwait, Líbia Argélia,  Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Angola, Equador, Nigéria, Catar e Venezuela) realizou, na época, um embargo cortando a exportação de petróleo aos EUA e outras nações que apoiaram Israel militarmente na Guerra de Yom Kipur, tendo como consequência o preço do barril aumentando 400% em cinco meses, assim como o combustível nos postos, devido a grande procura e a baixa oferta. Em 1979, com a crise política no Irã, e a consequente deposição de Xá Reza Pahlevi, houve um aumento, além da  Guerra Irã-Iraque (1980-1988). Logo, o tema era atualíssimo e o temor por uma guerra pelo petróleo era factível. Inserir o filme dentro desse ambiente e mostrar como suas consequências poderia criar uma sociedade distópica era uma grande ideia.



Primeiro longa de George Miller, aos 35 anos, que trocou a medicina, em 1970, pelo cinema. Por incentivo do irmão, inscreveu-se em um concurso universitário onde ganhou o prêmio e uma bolsa de estudos em um curso de cinema em Melbourne. Miller (que também coescreveu a estória) criou um argumento trivial, mas como a estória foi apresentada é que se mostrou o diferencial, tanto que a revista Times colocou o filme na lista dos 10 melhores do ano. No Brasil, em setembro de 1980,  mais de 991 mil espectadores, com a faixa etária para 18 anos, já haviam assistido o filme e, mundialmente, a partir de um orçamento de pouco mais de 400 mil dólares, arrecadou mais 100 milhões.  Mad Max tornou o cinema australiano conhecido mundo afora (principalmente com suas duas continuações), criou a “New Wave Australiana”,  mostrando à Hollywood como fazer muito com pouco, uma fórmula buscada pela indústria do entretenimento até hoje. Criou também dezenas de subgêneros, tanto disfarçados como explícitos, mas nunca igualados em termos de eficiência ou identificação com o público onde se tornou um dos mais lucrativos filmes da história. O filme foi tachado de niilista e talvez até realmente o seja, aonde o protagonista é levado à loucura (daí o "Mad" –“louco’ - Max) rompendo as últimas amarras que o prendiam aos conceitos de justiça e moralidade, um ponto sem retorno, que o faz cruzar uma divisa que o leva a se tornar júri, juiz e carrasco, um anti-herói, a ir até as últimas consequências para vingar a sua família no mesmo nível de violência de seus agressores.


Ganhador do Premio do Júri no Festival de Ficção científica de Avoriaz (França) foi taxado de brutal e dotado de violência gratuita, com um herói sem mácula, limite ou contenção. Habilmente, Miler incute um envolvimento pela sedução emocional, onde este termina por suprimir o senso crítico. O diretor fugiu das questões filosóficas e reflexivas de filmes como “2001 - Uma Odisséia no Espaço” e “A Laranja Mecânica” de Kubrick , investindo diretamente no pessimismo da sociedade “cada um por si”, onde o mal avança sem contenção com um sistema de valores deturpados. E, nesse contexto, para contê-lo, um homem de valores deve dar vazão aos seus instintos primitivos se tornando mal para colocar as coisas novamente nos eixos, linhas borradas do certo e do errado. Tudo isso envolvo em uma soberba montagem, um apurado trabalho de dublês, a câmera do fotógrafo David Eggby sobre a árida paisagem das estradas australianas e uma câmera inventiva que se releva a centímetros do asfalto. Na trilha sonora o compositor Brian May (não confundir com o integrante do grupo Queen).  Mad Max 2 pode até ser superior,  mas teve como aliado o fato de ter uma sólida narrativa já estabelecida e um orçamento bem mais robusto com o diretor e o ator principal novamente em uma parceria de sucesso, atenuando o lado “lobo solitário do personagem”.


Há algumas perguntas a serem feitas e esclarecidas: Goose sofre um atentado que o deixa irreconhecível e o que nos parece é que o personagem realmente não sobreviverá. Quanto à esposa de Max, o diálogo no hospital nos revela que ela sobreviveu com múltiplos traumas em estado crítico. Como o segundo exemplar não envolveria sua participação, há uma cena sutil (que mostrarei na análise do segundo filme) mostrando que, posteriormente, ela viria a falecer. Mas o mundo sofreria um outro abalo: uma guerra que terminaria por  descer a humanidade a outro patamar. Aqui ainda há um (fraco) sistema que tenta proteger o cidadão, mas já é um prenuncio da incapacidade do poder público de oferecer extensa proteção ao cidadão. As cidades, á beira do colapso, ainda existiam, mas a guerra era iminente. E apesar de ambientar-se na Austrália, poucos se deram conta que o filme não era americano.


Quanto ao elenco, o americano naturalizado australiano, Mel Gibson, acompanhou a irmã que faria o teste e chamou a atenção de Miller por estar com o rosto ferido de uma briga que tivera no dia anterior e lhe dera um semblante bruto, teve a possibilidade de fazer o teste semanas depois e ganhou o papel. O ator Hugh Keays-Byrne, que fez o vilão Toecutter, já tinha alguns filmes no currículo. O ator também fez o vilão” Immortan Joe” no filme “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015). Steve Bisley (Goose) tem uma extensa biografia na TV e cinema. Pode ser visto em “O Grande Gatsby” (2012) com Leonardo DiCaprio. Destaque para Joanne Samuel como Jessie, a esposa de Max. A atriz completa 63 anos este ano e dirigiu sua carreira também à seriados e filmes australianos. Tim Burns (como Johnny, The Boy) fez alguns filmes e séries que não passaram por aqui. Sua filmografia vai até 1992. Roger Ward (1936) como Fifi, o chefe de Max e maior nome do elenco na época, continua na ativa e tem extensa filmografia mesclando cinema australiano, americano e seriados de Tv.


Mad Max é um filme com uma montagem dinâmica em seus 70 minutos, mas não menos impactante, e com aceleração máxima nos 20 minutos finais. Apresenta um final cru, pesado, bem anti-hollywoodiano, com a visão ímpar de Miller, ao mostrar um homem em um mundo degenerado em que é levado a cruzar a tênue linha entre herói e vilão. Lançou uma trilogia de sucesso que teve o seu melhor exemplar, em termos técnicos e estéticos, na sequência “Mad Max: A Caçada Continua” e que terminaria no comercial "Mad Max: Além da Cúpula do Trovão. Em 2015 o diretor resolveu fazer um novo filme com elementos dos três filmes e que teve muito sucesso: “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015). Mad Max Lançou Mel Gibson para o estrelato e nos mostrou o veículo Interceptador V8, de 351 polegadas cúbicas (5,8 litros), a partir de um Ford Falcon XB GT de 1974, que até hoje é lembrado pelos fãs.


Trailer:



Curiosidades:
A maioria dos extras usados ​​no filme foram pagos com cervejas.

O "cartão de sair da cadeia" que Goose dá ao motociclista era uma piada no set. Por causa do orçamento limitado, a gangue de motoqueiros era uma verdadeira gangue de motoqueiros (os Vigilantes), e eles tinham que ir ao set todos os dias fantasiados; muitas vezes com suas armas de suporte exibidas. Como a empresa de produção esperava que eles fossem detidos pela polícia local, cada um recebeu uma carta explicando os requisitos peculiares do filme e solicitando o entendimento e a cooperação da polícia.

Tim Burns (Johnny, o Garoto) entrou tanto no personagem que irritou todo mundo no set, e foi abandonado, algemado, nas locações, durante um almoço.

Algumas das coisas que Nightrider diz pelo rádio são da letra da música "Rocker" do AC / DC.

George Miller descreveu toda a experiência como "cinema de guerrilha", onde a equipe fechava estradas sem permissão para filmar, não usava walkie-talkies porque sua frequência coincidia com o rádio da polícia e, após as filmagens, Miller e Byron Kennedy chegavam a varrer o local.

George Miller pagou cinquenta dólares a um motorista de caminhão para atropelar a bicicleta na cena final. No entanto, o motorista do caminhão não queria danificar sua plataforma; assim, a equipe teve que instalar um escudo pintado para parecer com a frente da plataforma.

Muitas das cenas de ação deste filme eram ilegais e feitas rapidamente, antes que as autoridades pudessem descobrir.

Mel Gibson não foi à audição para este filme, ele foi junto com sua irmã, que estava fazendo o teste. Mas porque ele esteve em uma briga de bar na noite anterior, e sua cabeça parecia "uma abóbora preta e azul" (suas palavras), foi-lhe dito que poderia voltar e fazer o teste em três semanas porque "precisamos de malucos!" " Ele voltou em três semanas, não foi reconhecido (porque seus ferimentos haviam sarado bem) e foi convidado a ler uma parte.

O passado de Miller como médico é referenciado no hospital St. George, que aparece no filme. Mad Max Rockatansky é uma referência ao patologista do século XIX, Carl von Rokitansky, criador do procedimento Rokitansky, o método mais comum de remoção dos órgãos internos em uma autópsia.

Como Gibson era relativamente desconhecido nos EUA, os trailers e as visualizações não apresentavam Mel Gibson, concentrando-se nos acidentes de carro e nas cenas de ação.

Mel Gibson conseguiu o papel de Max Rockatansky enquanto ainda era estudante de teatro. Ele recebeu $ 10.000.

Hugh Keays-Byrne muda seu sotaque, cena a cena, para fazer seu personagem parecer insano.

Hugh Keays-Byrne, Tim Burns e Reg Evans (Toecutter, Johnny the Boy e o chefe da estação) eram todos atores teatrais de Shakespeare com formação clássica.

Sheila Florance quebrou o joelho quando tropeçou enquanto corria com a espingarda antiga. Ela voltou para completar suas cenas com a perna e o quadril engessados.

A equipe não podia pagar por uma porta de suporte separatista, então os atores (na cena em que são presos no galpão) tiveram que romper a madeira maciça.

Antes do filme ser lançado nos Estados Unidos, a distribuidora American International Pictures sobrepôs as vozes dos atores. O lançamento do DVD Special Edition de 2002 foi o primeiro DVD dos EUA a apresentar a faixa original do idioma australiano.

Na época do lançamento do filme, o público americano praticamente não tinha experiência e, portanto, muita dificuldade em entender, dialogar com um sotaque australiano. É por isso que a voz de Mel Gibson foi dublada por outro ator - para impedir o fracasso comercial de Mad Max nos EUA, devido à rejeição pelos americanos de personagens "ininteligíveis".

Em "The Madness of Max" (2015), foi revelado que os atores que interpretavam os motociclistas eram tratados às vezes como se fossem delinquentes de verdade. Geoff Parry (Bubba Zanetti) entrou em um banco com cabelos descoloridos para descontar um cheque e eles recusaram o serviço. David Bracks (Mudguts) entrou em um restaurante com seu equipamento e recebeu ordens para sair porque "não serviam a sua espécie".

Jessie não usa linguagem gestual real. São apenas alguns movimentos que Joanne Samuel inventou.

No início do filme, há uma breve cena de dois sinais de trânsito. Eles lêem: "Anarchie" (Anarquia) e "Bedlam". Este sinal de estrada realmente existe na Austrália.

Muitas vezes creditado como o filme que abriu o mercado global de filmes australianos. Com seu orçamento apertado, conseguiu arrecadar US $ 100 milhões em todo o mundo - estabelecendo um novo recorde para o filme independente mais lucrativo de todos os tempos. Ele manteve esse recorde mundial do Guinness até ser superado por A Bruxa de Blair (1999).

A mão queimada que aparece no hospital é na verdade de Sheila Florance (May Swaisey).

O soprador personalizado no V8 era puramente cosmético, estava preso a um motor de partida embaixo do capô e não fazia nada na entrada de ar.

Além de Mel Gibson, apenas um outro ator apareceu neste filme e Mad Max 2: A Caçada Continua (1981). Era Max Fairchild - originalmente como Benno, e depois como refém na frente do carro de Humungus.

O Interceptor custou mais de US $ 35.000 para ser construído. Isso foi mais de três vezes o salário de Mel Gibson para o filme.

Por uma cena, o diretor de fotografia David Eggby segurou a câmera enquanto era passageiro de uma motocicleta percorrendo 160 quilômetros por hora. Recordando a cena, ele disse: "Eu sabia que estávamos arriscando nossas vidas por aí".

Para o papel principal, George Miller considerou um ator americano "para fazer com que o filme fosse visto o mais amplamente possível" e até viajou para Los Angeles, mas acabou optando por não fazê-lo, pois "todo o orçamento seria ocupado por um nome americano ". Então, em vez disso, o elenco apresentaria deliberadamente atores menos conhecidos.

O poster original mostra Jim Goose, já que "Mad" Max Rockatansky nunca usa capacete com protetor bucal, nem caneleiras e escudos no antebraço, em todo o filme.

Steve Bisley afirmou que ele conseguiu o papel de Jim Goose, porque ele sabia andar de moto, em vez de sua capacidade de atuação.

Dizia-se que Judy Davis fez o teste para o papel de Jessie e faleceu, mas George Miller declarou que ela estava lá apenas para acompanhar seus colegas de classe Mel Gibson e Steve Bisley.

A primeira escolha de George Miller para o papel de Max, foi o irlandês James Healey, que na época trabalhava em um matadouro de Melbourne e estava procurando um novo emprego como ator. Ao ler o roteiro, Healey recusou, achando o diálogo escasso e conciso muito desagradável.

Os críticos reclamaram do nível de violência no filme. Mas se você assistir ao filme, as piores cenas de violência acontecem fora da tela, e só vemos as consequências da violência.

Se você olhar atentamente a primeira cena do The Toecutter. Um dos membros da gangue do The Toecutter tem o logotipo da Pepsi no capacete.

Bubba Zanetti (Geoff Parry) atira na rótula de Max durante uma emboscada. É por causa dessa lesão que Max usa uma armação na perna, improvisada, nas sequências.

Este filme serviu de inspiração para a série Max Payne.

Mel Gibson e Steve Bisley foram parados por um patrulheiro da estrada enquanto dirigiam para o local em seu veículo V-8 Interceptor.

Reg Evans (o mestre da estação) e Geoff Parry (Bubba Zanetti) apareceram com Mel Gibson em Gallipoli (1981).


Trilha Sonora:




Cartazes:







Passado e Presente:



Filmografia Parcial:
Mel Gibson:












Mad Max (1979); Gallipoli (1981); O Ano Que Vivemos em Perigo (1982); Mad Max 2: A Caçada Continua (1981); Mad Max - Além da Cúpula do Trovão (1985); Máquina Mortífera (1987); Máquina Mortífera II (1989); Máquina Mortífera 3 (1992); Maverick (1994); Coração Valente (1995); O Preço de Um Resgate (1996); O Troco (1999); O Patriota (2000); Sinais (2002); O Fim da Escuridão (2010); Os Mercenários 3 (2014); Um Novo Despertar (2011); Plano de Fuga (2012); Os Mercenários 3 (2014); Herança de Sangue (2016); Pai em Dose Dupla 2 (2017); O Gênio e o Louco (2019); Boss Level (2019); Force of Nature (2020)

George Miller (Diretor)











Mad Max (1979); Mad Max 2: A Caçada Continua (1981); No Limite da Realidade (1983); Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão (1985); As Bruxas de Eastwick (1987); O Óleo de Lorenzo (1992); Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade (1988); Happy Feet: O Pinguim (2006);  Happy Feet 2: O Pinguim (2011); Mad Max: Estrada da Fúria (2015); Three Thousand Years of Longing (2020

2 comentários:

  1. Bom dia, Luis. Mad Max é um bom road movie pós-apocalíptico com cenas e atuações desatinadas, mas que devido ao baixo orçamento carece de melhor acabamento. Vale uma conferida nesse filme que considero como um pequeno clássico dos anos 70. Forte abraço.

    ResponderExcluir
  2. Bom dia Janerson.
    Sim, Mad Max é um filme "cru", que realmente careceu de um melhor acabamento. Faltava dinheiro, mas não eficiência por parte dos envolvidos. Tornou-se um clássico sobrevivendo aos anos. Um grande abraço e obrigado por mais este comentário.

    ResponderExcluir

Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre