quarta-feira, 31 de maio de 2023

TAXI DRIVER: MOTORISTA DE TAXI / TAXI DRIVER (1976) - ESTADOS UNIDOS

FÁBULA MORAL SOBRE O COMPORTAMENTO DIVERGENTE

(o texto contém spoilers)

Travis Bickle (Rober De Niro) é um veterano da Guerra do Vietnã que passa suas noites dirigindo um taxi para uma cooperativa devido ao seu problema com insônia, não rejeitando passageiros ou bairros violentos. Durante o dia, tem o hábito de frequentar cines pornô. Segundo sua ótica, Nova York é um verdadeiro inferno: suja, violenta e com grupos de indivíduos que considera culpados pela decadência moral e social da qual é obrigado a presenciar cotidianamente. Travis conhece Betsy (Cybill Shepherd), uma jovem que trabalha para o senador Palantine (Leonard Harris), candidato às primárias na corrida presidencial, mas põe tudo a perder em um encontro desastroso. Travis, aos poucos, se revela um homem com sérios transtornos. Ao conhecer Iris (Jodie Foster) uma pré-adolescente de 12 anos, prostituída e explorada por Sport (Harvey Keitel), resolve ir até as últimas consequências para retirá-la dessa situação, mesmo que esta não aparente interesse.

Taxi Driver é uma obra riquíssima em interpretações, repleta de percepções, alegorias e simbolismos que pode escapar de olhares menos atentos ou por aqueles que buscam ver o filme apenas como um passatempo rápido. Algumas percepções que podemos citar são: a fragmentação do ser humano mergulhado numa sociedade cada vez mais partida; um retrato do outro lado do American Way of Life da época; uma fábula moral sobre o comportamento divergente; uma investigação das contradições da cidade símbolo de um sistema; uma reflexão sobre os caminhos do homem urbano... Nesse reverso da medalha, percebemos um personagem antissocial que vê o mundo de dentro de seu taxi e que perdeu a fé na pátria pela qual lutou. Travis está cercado do que considera sinais de decadência social e moral. Ele se sente frustrado, cansado de si mesmo por não conhecer nada além dessa realidade. Há um certo magnetismo que o atrai às coisas que despreza. Um homem que busca uma identidade, busca entender-se dentro do contexto da qual desde que voltou da guerra parece não mais pertencer. Ele está perdido ou é a sociedade? Talvez ambos estejam de mãos dadas no caos das coisas que se tornaram cotidianas, vivendo o seu purgatório na esperança de uma libertação impossível, e seja pelo para-brisa ou pelo retrovisor, a visão de Travis é a de que vagueia na noite nova-iorquina em meio a um carrossel de horrores desejando varrer com ensandecida fúria o que considera um insuportável lixo moral.

Ao colocar no caminho de Travis vários episódios de violência, Scorcese sugere que a cidade como um todo padece da mesma doença: temos um homem traído que espera a mulher para eliminá-la; um cafetão que agride uma jovem prostituta e um comerciante que mata um jovem que o assaltara a pauladas. Um emblemático painel social que décadas depois seria ainda mais amplificado, mas tornando o filme "não tão violento" na vista de muitos espectadores dos dias atuais. O cinema foi amplificando a violência baseada na violência que a sociedade começava a transmitir. Nesse jogo de “a vida imita a arte” ou “arte imita a vida”, o filme nos mostra como pessoas acabam se perdendo cotidianamente em meio a esse caótico painel urbano. Muitos na época acharam o filme demasiado violento e inconsistente, quase que apelativo, de uma violência exagerada e com um personagem revestido de uma falácia psicopática típica de Hollywood. Mas Scorsese estava certo afinal. Se o filme na ambientação é datado, no contexto em que coloca o personagem permanece atual. Scorsese disse que o personagem seria um santo moderno em uma sociedade de gângsteres, mas a impressão é de que o diretor não se concentrou (propositadamente) em estudar as causas como nos deixar conjecturar se houve um fator obscuro trazido do Vietnã (ele veio de um conflito inútil e entende que agora participara de um conflito útil) e sim mostrar os motivos, que se demonstram muito cristalinos. Talvez Travis seja um solitário a caminho da paranoia, alguém que já não consegue dissociar realidade de suas fantasias e quando sofre a rejeição busca um foco para sua violência: redimir uma megalópole que sofre de uma doença incurável. Travis então se torna um representante, um paladino de uma parte silenciosa da sociedade que não mais suporta o que vê nas ruas onde vive. Isolado e ignorado pelos que o cercam busca na violência um refúgio, uma saída, um meio de ser percebido, uma ânsia pela integração nessa nossa sociedade afluente. E Nova York parece selecionar apenas os elementos que alimentam e reforçam suas obsessões. Difícil lembrar de outro filme que possa ter dramatizado a indiferença urbana de forma tão poderosa, como a contada aqui nessa estória de terror sociológico.

Travis se transforma em herói e a tragédia que proporciona se transforma em celebração dos tabloides e agradecimentos. O reverso da moeda pode confundir o espectador, mas não confunde a própria realidade que assiste a tudo como se já previsse o seu final. "Taxi Driver" é um inferno urbano, desde a cena inicial de um táxi emergindo de nuvens de vapor (percebam que o vapor vem “debaixo”- uma analogia ao inferno?) e quando Travis se refere a chuva o sentido é bíblico (daí as várias alegorias que ligam o filme a religião), como quando diz “um dia irá chover de verdade para varrer a escória das ruas" (uma referência ao dilúvio), além de Nova York sendo vista como uma antevisão do apocalipse. 

O famoso atentado a tiros (6 disparos com balas “explosivas”) de John Hinckley Jr., em 1981, contra a vida do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan (que também atingiu o secretário de imprensa e um agente) foi aparentemente desencadeado pelo personagem obsessivo de Robert De Niro, Travis Bickle, e seu plano para assassinar um candidato presidencial. Coincidentemente, a tentativa de assassinato fez com que a 53ª cerimônia do Oscar fosse adiada por um dia (Hinckle chegou a perguntar para os agentes que o prenderam se haveria o adiamento), quando De Niro ganhou o Oscar de Melhor Ator por “Touro Indomável” (1980). No quarto de Hinckley foi encontrada uma carta endereçada a Jodie (aos 18 anos), ele lhe dissera que havia escrito vários bilhetes endereçados a caixa postal da atriz e que iria assassinar o presidente, para que pudesse impressioná-la (algumas dessas cartas chegaram a ser entregues ao FBI que não o identificou), ele pode ter criado uma fantasia sobre a atriz ao vê-la no filme (que assistira 15 vezes). Após o atentado, Hinckley foi internado em uma clínica psiquiátrica sendo considerado inocente por motivo de insanidade (erotomaníaco) em 1982. Foi libertado em 10 de setembro de 2016, após trinta e quatro anos de confinamento. Curiosamente, agentes do serviço secreto teriam prendido posteriormente Edward Richardson (de 22 anos) ao escrever uma carta a Jodie Foster pretendendo “levar a conclusão a realidade de Hinckley”, ameaçando o presidente de morte e a atriz (dizia ter recebido as instruções de Hinckley em um “sonho profético”). Uma segunda carta encontrada mostrava que ele partilhava da mesma afeição que Hinckley possuía pela atriz .

Quanto a performance do elenco, não há muito o que falar: De Niro se encaixou perfeitamente no papel. O ator se preparou para o papel trabalhando como taxista noturno na cidade de Nova York no início de 1975. Um de seus passageiros foi um ator esforçado que o reconheceu por “O Poderoso Chefão II” (1974). O jovem ator perguntou a De Niro de forma desencorajadora: "Você acabou de ganhar um Oscar ... Meu Deus, é tão difícil conseguir trabalho?" Cybill Shepherd surgiu vestida de branco simbolizando a pureza, mas se apresentou em alguns momentos como uma “femme fatale” dos filmes noir (há elementos como a narração, a trilha de jazz, a fotografia noturna – mas a narrativa dinâmica, intensa e violenta não enquadra o filme nesse gênero). Jodie Foster numa caracterização de “prostituta-lolita” ganhou muito destaque com esse papel mostrando-se ótima atriz. Foster revelou no “The Graham Norton Show” (2007) que Scorsese e os produtores estavam muito desconfortáveis com sua personagem. Ninguém sabia como dirigi-la. Por ter apenas doze anos quando o filme foi filmado, ela não podia fazer as cenas mais explícitas (sua personagem também tinha doze anos). Connie Foster, a irmã mais velha de Jodie, que tinha dezenove anos quando o filme foi produzido, foi escalada como sua dublê para essas cenas. Foi a estreia em Hollywood de Albert Brooks como o amigo de Betsy. Harvey Keitel fez o gigolô que explorou a jovem Iris. Interessante conhecermos algumas escalações/ testes para os papéis por outros atores/ atrizes: Meryl Streep, Liza Minnelli, Barbara Hershey e Sigourney Weaver teriam recusado o papel de Betsy. Mary Steenburgen fez o teste para o papel de Betsy e foi a escolha preferida de Martin Scorsese. Goldie Hawn, Jane Seymour, Glenn Close e Susan Sarandon e Anjelica Huston também fizeram tese para o papel. Mia Farrow supostamente queria o papel de Betsy, mas Martin Scorsese a recusou. Depois de ver "todas as loiras da cidade", a produtora Julia Phillips ainda preferia Farrah Fawcett a Cybill Shepherd para o papel de Betsy. Isabelle Adjani e Ornella Muti receberam o papel de Iris, mas ambas recusaram. Kristy McNichol fez seis testes para o papel de Iris. Kay Lenz fez teste para o papel de Iris assim como Jennifer Jason Leigh, Debra Winger, Ellen Barkin, Geena Davis, Michelle Pfeiffer, Brooke Shields, Heather Locklear e Mariel Hemingway. A atriz Tatum O'Neal foi abordada por Scorsese e a Columbia Pictures para interpretar Iris. O'Neal recusou e disse que queria fazer o papel de Travis. Quando o estúdio recusou, O'Neal não se interessou, afirmando "Honestamente, essa parte é muito pequena. Acabei de ganhar um Oscar, sabe." Kim Basinger recebeu o papel de Iris, mas teve que recusar para continuar a trabalhar como modelo. Linda Blair foi a segunda escolha para interpretar Iris e Jodie Foster foi a terceira escolha. Burt Reynolds, ao promover suas memórias em 2015, disse que recusou o papel de Travis Bickle e lamentou a decisão. Rock Hudson foi considerado para o papel de Charles Palantine. Ele não conseguiu devido ao seu compromisso com a série de televisão “McMillan & Wife” (1971). Na época em que Tony Bill estava pensando em dirigir o filme, o roteiro de Paul Schrader foi enviado para Al Pacino, mas ele recusou o papel. A produtora Julia Phillips nunca soube se Pacino recusou o papel porque não gostou do roteiro ou porque não queria trabalhar com Bill. Harvey Keitel foi originalmente oferecido para o papel de funcionário da campanha do senador, interpretado por Albert Brooks. Ele decidiu assumir o papel de cafetão, mesmo que tivesse apenas cerca de cinco falas. Paul Schrader escreveu o papel de Travis com Jeff Bridges em mente, que estava no filme Stay Hungry (1976) durante as filmagens de Taxi Driver. Bridges também estava em produção de King Kong (1976). Martin Scorsese disse que ofereceu o papel de Travis a Dustin Hoffman. De acordo com Hoffman, ele recusou o papel porque "achou que ele (Scorsese) era louco!" Desde então, Hoffman se arrependeu de sua decisão. Muito interessante pensarmos nessas atrizes / atores nos papéis acima citados. 

Indicado a Quatro Oscars (não levou nenhum) e tendo recebido o prêmio de melhor filme no festival de Cannes 1976, Taxi Driver é uma contundente crítica social envolta por uma narrativa dinâmica e nervosa embalado pelos acordes Bernard Hermann (que faleceria na noite anterior na qual terminara de reger a partitura do filme - responsável por muitas partituras magistrais dos filmes de Hitchcock e vencedor por Cidadão Kane). Muitos críticos estão condicionados a encaixarem certos filmes em categorias predeterminadas: comedia, western, drama, romance ... o que leva a simplificação excessiva. “É difícil simplificar Taxi Driver” disse Scorsese e com razão, um filme que vai esmagando o espectador aos poucos, na qual Travis não seleciona passageiros, em um desafio inconsciente (e uma forma de alimentar seu ódio), no seu taxi da moralidade e na qual "caminha o pecado", terminando por eliminar os impuros e conseguindo um lugar de destaque no noticiário da tevê, recebendo a consagração da imprensa sem que sua insanidade seja questionada. Travis habita em um sistema que não foi criado para acolhe-lo e sim para explorá-lo (que maior exploração levá-lo a uma guerra inútil e depois deixá-lo à deriva em seu próprio país?). Uma obra-prima de caracterização sugestiva

Trailer:





Curiosidades: (contém alguns spoilers)

Quando Brian De Palma foi contratado para o projeto, ele queria que Melanie Griffith interpretasse Iris, mas após duas semanas de escalação, Griffth e De Palma foram demitidos. Martin Scorsese substituiu Griffith por Linda Blair. No entanto, Blair também desistiu e Scorsese mais tarde substituiu Blair por Jodie Foster, mas havia mais de duzentos candidatos para o papel. Scorsese disse que Jodie tinha a habilidade de interpretar uma prostituta de 12 anos.

O diretor Martin Scorsese afirma que a cena mais importante do filme é quando Bickle está ao telefone tentando marcar outro encontro com Betsy. A câmera se move para o lado lentamente e percorre o longo corredor vazio ao lado de Bickle, como se sugerisse que a conversa telefônica é dolorosa e patética demais para suportar; esta cena também mostra seu isolamento e solidão.

A história foi parcialmente autobiográfica para Paul Schrader, que sofreu um colapso nervoso enquanto morava em Los Angeles. Ele foi demitido do AFI, basicamente sem amigos, no meio de um divórcio, e foi rejeitado por uma namorada. Ocupando o apartamento de sua ex-namorada enquanto ela estava fora por alguns meses, Schrader literalmente não falou com ninguém por muitas semanas, foi a cinemas pornô e desenvolveu uma obsessão por armas. Schrader trabalhava na época como entregador de uma rede de restaurantes de frango. Passando longos dias sozinho em seu carro, ele sentiu, eu poderia muito bem ser um motorista de táxi. Ele também compartilhou com Travis a sensação de isolamento por ser um meio-oeste em um centro urbano. Schrader decidiu mudar a ação para a cidade de Nova York apenas porque os motoristas de táxi são muito mais comuns lá. O roteiro de Schrader chamou a atenção de Martin Scorsese e Robert De Niro quando eles o leram.

A esposa de Bernard Herrmann diz que quando Martin Scorsese, então relativamente desconhecido, ligou para seu famoso marido para pedir a Hermann que fizesse a trilha sonora, ele a princípio recusou dizendo: "Eu não escrevo música para filmes de carros". Hermann só concordou em fazê-lo quando viu a cena em que Travis derrama Schnapps em seu pão. Herrmann morreu na véspera de Natal de 1975, poucas horas depois de terminar as sessões de gravação deste filme, e o filme foi dedicado a ele.

A cena em que Travis Bickle está falando sozinho no espelho foi completamente improvisada por Robert De Niro. Os detalhes do roteiro apenas diziam: "Travis se olha no espelho". Martin Scorsese afirma que se inspirou para a cena de Marlon Brando balbuciando palavras em frente a um espelho em Os Pecados de Todos Nós (1967). 

Robert De Niro afirmou que o "Você está falando comigo?" A cena foi inspirada pelas brincadeiras de Bruce Springsteen com seu público em um show em meados dos anos 1970. 

Steven Spielberg visitou as sessões de gravação das músicas deste filme para dizer ao compositor Bernard Herrmann o quanto ele admirava seu trabalho. Herrmann respondeu: "Ah, sim? Então por que você sempre usa John Williams para seus filmes?" 

A namorada intermitente de Robert De Niro na década de 1970, Diahnne Abbott, aparece como a garota da bilheteria no cinema pornô perto do início do filme, que parece indiferente a Travis Bickle. 

Sobre o famoso "Você está falando comigo?" A cena pode ter sido inspirada pelo treinamento de Robert De Niro com Stella Adler, que (como exercício) fez seus alunos praticarem diferentes interpretações de uma frase semelhante. A lendária professora de atuação ficou surpresa ao ver um de seus ex-alunos usar "Você está falando comigo?" 

Martin Scorsese disse que quando filmou sua participação especial como o passageiro no banco de trás do táxi furioso com a esposa infiel, teve que se sentar em um cobertor para poder ser visto por cima do banco da frente, devido a sua altura de 1,63m. 

Antes de Jodie Foster ser escalada como Iris, havia mais de duzentas e cinquenta candidatas para o papel, incluindo Carrie Fisher, Bo Derek, Kim Cattrall, Rosanna Arquette e Michelle Pfeiffer. 

O filme foi rodado em um cronograma apertado, principalmente em locações em 1974, durante um verão sufocante na cidade de Nova York. As condições da filmagem ajudaram a definir o filme até a filmagem na rua durante a greve do lixo ("para onde quer que eu aponte a câmera, havia montes de lixo"). 

O conflito entre Martin Scorsese, a MPAA e os executivos da Columbia Pictures sobre o conteúdo violento deste filme tornou-se lendário. Um dos maiores rumores é que, ao enfrentar uma classificação "X" (filmes de  violência explícita ou sexo explícito que podem ser perturbadores ou ofensivos para alguns espectadores) do MPAA e tendo que editar o filme, Scorsese ficou a noite toda bebendo com uma arma carregada na mão, preparando-se para atirar no executivo da Columbia Pictures no dia seguinte. Depois de uma noite inteira de persuasão de seus amigos, Scorsese decidiu silenciar as cores no clímax violento e, posteriormente, obteve sua classificação R (Menores de 17 anos com acompanhamento dos pais ou responsável adulto. Contém algum material adulto). Existem muitas variações dessa lenda, uma dizendo que Scorsese planejava tirar a própria vida; outro diz que trouxe a arma para a Columbia Pictures e ameaçou o executivo até que o executivo cedeu. 

A Columbia Pictures queria que todo o clímax do tiroteio fosse cortado do filme, devido à sua violência gráfica. Quando Martin Scorsese ficou desesperado porque o estúdio estava tentando sabotar seu filme, ele mostrou a seu amigo, Steven Spielberg, a cena fora de contexto sem o resto do filme. Posteriormente, Spielberg concordou que a cena era brilhante e que cortá-la seria prejudicial. Foi logo após esse encontro que Scorsese teve a ideia de dessaturar a cor da cena vista no filme final. 

Robert De Niro estudou os dialetos do meio-oeste para criar a voz de Travis Bickle. 

A linha "Você está falando comigo?" foi votado como a décima citação do filme pelo American Film Institute, e como o número oito das "100 Maiores Linhas de Filmes" pela Premiere em 2007. 

O diretor Oliver Stone (Platoon) acredita que ele foi um dos modelos de Travis Bickle, apontando que ele estava sendo ensinado por Martin Scorsese na escola de cinema da Universidade de Nova York na época e, como Travis, ele era um veterano do Vietnã que se tornou motorista de táxi da cidade de Nova York e usava seu casaco verde-oliva monótono do Exército durante o serviço. 

O romance "La Nausée" de Jean-Paul Sartre provou ser uma grande inspiração para o roteiro de Paul Schrader. 

No final de janeiro de 2005, uma sequência foi anunciada por De Niro e Scorsese. Em uma exibição do 25º aniversário de Touro Indomável, De Niro falou sobre a história de um Travis Bickle mais velho em desenvolvimento. Também em 2000, De Niro mencionou o interesse em trazer de volta o personagem em conversa com o apresentador do Actors Studio, James Lipton. Em novembro de 2013, ele revelou que Schrader havia feito um primeiro rascunho, mas tanto ele quanto Scorsese acharam que não era bom o suficiente para ir além. 

Outros atores considerados para o papel de Travis Bickle foram Jeff Bridges, Jack Nicholson, Dustin Hoffman, Warren Beatty, Burt Reynolds, Ryan O'Neal, Peter Fonda, Al Pacino, Jon Voight, Robert Blake, David Carradine, Richard Dreyfuss, Christopher Walken , Alain Delon, James Caan, Roy Scheider, Paul Newman, Marlon Brando, Martin Sheen, Elliott Gould, Alan Alda e George Hamilton. 

De acordo com o livro de Amy Taubin, a personagem de Iris foi parcialmente inspirada pela memória de Paul Schrader dos anúncios da Coppertone dos anos 1950. Jodie Foster estreou como atriz em um anúncio da Coppertone quando tinha três anos de idade. 

O disco que Travis compra para Betsy é "The Silver Tongued Devil and I", de Kris Kristofferson. No restaurante, eles citam uma música do álbum, "Pilgrim Chapter 33" ("ele é um profeta ..."). 

Travis querendo resgatar Iris foi considerado por Schrader e Scorsese como Rastros de Ódio (1956) na década de 1970 na cidade de Nova York. Eles também deram a "Sport" algumas penas indianas em seu chapéu para vincular ainda mais os dois filmes. 

Martin Scorsese disse em uma entrevista que o filme foi inspirado em "Abhijaan" (1962) de Satyajit Ray. O personagem de Travis foi diretamente influenciado pelo papel de Soumitra Chatterjee 'Singhjee' de Abhijaan. 

Anúncios de filmes estrelados por Clint Eastwood e Charles Bronson podem ser vistos no filme. Como Robert De Niro neste filme, Eastwood e Bronson também retrataram vigilantes na tela. 

Ao longo dos créditos finais, pode-se ver uma marquise de cinema anunciando Desafiando o Assassino (1974), estrelado por Charles Bronson. 

Outdoors de filmes são vistos para Escalado para Morrer (1975), 007 Contra o Satânico Dr. No (1962) e possivelmente O Vento e o Leão (1975) (o outdoor anunciava Sean Connery). 

Martin Scorsese também faz uma cena, sentado, atrás de Betsy enquanto ela entra na sede da campanha de Palantine em câmera lenta. 

O moicano de Robert De Niro não era real, devido ao fato de De Niro ainda ter que filmar cenas para o filme com cabelo após as partes do moicano. O maquiador Dick Smith criou um boné careca colado na cabeça de De Niro, e o moicano era feito de crina grossa de cavalo. A peruca está em exibição no Museu da Imagem em Movimento em Astoria, Nova York. 

Os pais do diretor Martin Scorsese (Charles Scorsese e Catherine Scorsese) aparecem como os pais de Iris no artigo de jornal pendurado na parede de Travis no final do filme. 

Muitos críticos e fãs especularam que Travis Bickle realmente morreu durante o tiroteio climático, e as cenas em que ele se recupera, é agradecido pelos pais de Iris por carta e fala com Betsy quando ela anda em seu táxi por acaso, são ou seus delírios moribundos ou pura fantasia. Martin Scorsese e Paul Schrader forneceram comentários sobre os lançamentos do filme em LaserDisc e DVD e negam essa teoria. Scorsese disse que a corrida de táxi com Travis e Betsy é um evento real, com o olhar ambíguo de Travis depois que ela sai do táxi indicando incerteza sobre seus próprios pensamentos. Os comentários de Schrader foram que Travis se tornando um herói foi sua resposta chocada ao caso da vida real de Sara Jane Moore, que se tornou uma celebridade por um breve período depois de tentar matar o presidente Gerald Ford (em 1975). Ele também acrescentou que Travis "não está curado" depois de sobreviver ao tiroteio e "da próxima vez, ele não será um herói". 

Devido ao conteúdo sangrento da cena do tiroteio no bordel, o diretor de fotografia Michael Chapman concordou em dessaturar as cores na pós-produção. Isso explica por que o sangue parece ser rosa em vez de vermelho naquela cena. Mais tarde, quando o DVD estava sendo preparado, Martin Scorsese quis substituí-lo pela tomada original, com o sangue em seu vermelho vívido original, mas nenhuma cópia dessa cena original foi encontrada, então o DVD ainda tem as cores suaves.


Bastidores:








O Elenco Atualmente:








Cartaz:


Breve Filmografia:

Robert De Niro







O Poderoso Chefão II (1973); Taxi Driver (1976); O Franco Atirador; Touro Indomável (1980); Era Uma Vez na América (1984); A Missão (1986); Coração Satânico (1987); Os Intocáveis (1987); Fuga à Meia-Noite (1988); Não Somos Anjos (1989); Os Bons Companheiros (1990); Tempo de Despertar (1990); Cabo do Medo (1991); Desafio no Bronx (1993); Cassino (1995); Sleepers - A Vingança Adormecida (1996); Cop Land: A Cidade dos Tiras (1997); Ronin (1998); Máfia no Divã (1999); Homens de Honra (2000); Entrando Numa Fria (2000); A Máfia Volta ao Divã (2002); Entrando Numa Fria Maior Ainda (2004); As Duas Faces da Lei (2008); Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família (2010); O Lado Bom da Vida (2012); Ajuste de Contas (2013); Um Senhor Estagiário (2015); Joy: O Nome do Sucesso (2015); O Comediante (2016);  Coringa (2019); O Irlandês (2019); Em Guerra com o Vovô (2020); Vigaristas em Hollywood (2020); Amsterdam (2022); Batismo de Sangue (2022); Assassinos da Lua das Flores (2023); Meu Pai é um Perigo (2023)

Jodie Foster








Alice Não Mora Mais Aqui (1974); Taxi Driver: Motorista de Taxi (1976); O Circo da Morte (1980); Um Hotel Muito Louco (1984); Acusados (1988); O Silêncio dos Inocentes (1991); Mentes Que Brilham (1991); Neblina e Sombras (1991); Sommersby: O Retorno de um Estranho (1993); Maverick (1994); Nell (1994); Contato (1997); O Quarto do Pânico (2002); O Plano Perfeito (2006);Valente (2007); Elysium (2013), Hotel Artemis (2018),  O Mauritano (2021)


Cybill Shepherd







A Última Sessão de Cinema (1971); Amor, Eterno Amor (1975); Taxi Driver: Motorista de Taxi (1976); O Retorno (1980); O Mercador de Almas (1985); O Céu se Enganou (1989); Simplesmente Alice (1990); Uma Mulher de Coragem (2010); Você Acredita? (2015), Being Rose (2017), O Outro Lado do Vento (2018), Todas as Formas de Amor (2020) 


Albert Brooks







Taxi Driver (1976); A Recruta Benjamin (1980); No Limite da Realidade (1983); Infielmente Tua (1984); Nos Bastidores da Notícia (1987); Um Visto Para o Céu (1991); Irresistível Paixão (1998); A Musa (1999); Drive (2011); Bem-vindo aos 40 (2012); Um Homem Entre Gigantes (2015)


Peter Boyle (1935-2006)







Dias de Fogo (1969); Os Monitores (1969); Joe - Das Drogas à Morte (1970); Nem um Amante Resolve (1970); O Mundo Foi Minha Ilusão (1971); O Candidato (1972); Três Ladrões Desajustados (1973); Os Covardes Vivem Bem (1973); O Jovem Frankenstein (1974); Taxi Driver: Motorista de Táxi (1976); F.I.S.T. (1978); Hardcore: No Submundo do Sexo (1979); Dramático Reencontro no Poseidon (1979); Outland: Comando Titânio (1981); Johnny, o Gângster (1984); Ensina-me a Querer (1987); Walker, uma História Real (1987); Inferno Vermelho (1988); De Médico e Louco Todo Mundo Tem um Pouco (1989); Homens de Respeito (1990); Malcolm X (1992); Royce, um Agente Muito Especial (1994); O Sombra (1994); Enquanto Você Dormia (1995); Mente Assassina (1997); A Experiência II: A Mutação (1998); A Última Ceia (2001); Scooby-Doo 2: Monstros à Solta (2004)

Harvey Keitel









Alice Não Mora Mais Aqui (1974);  Taxi Driver (1976); Oeste Selvagem (1976); Os Duelistas (1977); Casanova E a Revolução (1982); Amor à Primeira Vista (1984); Camorra (1985); O Cavaleiro Estelar (1985); A Última Tentação de Cristo (1988);  Dois Olhos Satânicos (1990); A Chave do enigma (1990); Pensamentos Mortais (1991); Thelma & Louise (1991); Bugsy (1991); Cães de Aluguel (1992); Vício Frenético (1992); Mudança de Hábito (1992); A Assassina (1993); O Piano (1993); Sol Nascente (1993); Olhos de Serpente (1993); Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994); Irmãos de Sangue (1995); O Nome do Jogo (1995); Um Drink no Inferno (1996); Cop Land: A Cidade dos Tiras (1997); U-571: A Batalha do Atlântico (2000); Dragão Vermelho (2002); Procurados (2003); A Lenda do Tesouro Perdido (2004); Be Cool: O Outro Nome do Jogo (2005); O Jogo da Vingança (2006); A Lenda do Tesouro Perdido: Livro dos Segredos (2007); Acerto de Contas (2009); Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família (2010); O Grande Hotel Budapeste (2014); No Rastro da Bala (2014); Juventude (2015); O Comediante (2016). 

 

Fontes:

IMDB

Variety

The New York Times

O Livro do Cinema

1001 Filmes Para se Ver Antes de Morrer

The Guardian

O Globo

Jornal do Brasil

segunda-feira, 22 de maio de 2023

A BALEIA / THE WALE ( 2022) - ESTADOS UNIDOS

ADAPTAÇÃO CLAUSTROFÓBICA, MAS NECESSÁRIA

Charlie é um professor universitário de redação que ministra suas aulas online com a câmera de seu laptop desativada, para que os alunos nunca possam vê-lo, alegando que a mesma está quebrada. O motivo: ele sofre de obesidade mórbida aliada a uma profunda depressão. Sua dificuldade de locomover-se o mantém recluso em seu apartamento tendo praticamente apenas a visita de sua amiga e enfermeira Liz (Hong Chau).  Sua condição piora dia a dia devido a vários problemas de saúde e uma condição cardíaca agravada (uma pressão sanguínea de 23,8 x 14,3).  Um dia que seria fatídico para Charlie é interrompido pelo surgimento de Thomas (Ty Simpkins), um jovem missionário que bate à sua porta oferecendo (literalmente) salvação e, ao conhecer Charlie, entende que sua missão é salvá-lo, o que não é aceito pelo mesmo, e é visto por Liz com preocupação diante do passado de seu amigo com a igreja que a Thomas pertence e também por ela já ter tido um forte vínculo com essa mesma igreja.

Charlie possui uma filha adolescente, Elle (Sadie Sink), na qual mantém um relacionamento conturbado: ele abandonou o lar (e uma filha de oito anos) para viver com seu companheiro que terminaria por falecer de uma forma muito impactante. Elle nunca perdoou a sua partida, mas ela também tem seus problemas: tornou-se uma menina solitária, arredia  e rebelde que não consegue interagir com seus professores e possui problemas para completar seus trabalhos escolares. Charlie tem pouco tempo de vida e sente a urgente necessidade de se reconectar com a filha enquanto esta passa a frequentar sua casa diante da oferta de Charlie em lhe dar dinheiro e fazer suas redações, mas o rejeita de várias formas.

O diretor Darren Aronofsky possui filmes com temáticas bem interessantes em sua filmografia: “Réquiem Para um Sonho” (vício em drogas); “O Lutador” (a decadência e o envelhecimento de um lutador de Wresting); “Cisne Negro” (obsessão); “Mãe!” (um filme com alegorias bíblicas) ... Em “A Baleia”, o diretor resolve abordar alguns temas de uma maneira que poderá incomodar algumas pessoas. Aronofsky procurou uma forma de encontrar uma linguagem cinematográfica para a peça teatral de Samuel D. Hunter (responsável pelo roteiro) e nos colocou a presenciar a vida de Charlie. Sabemos pouco do que realmente aconteceu, apenas através de diálogos dos personagens, mas sabemos que Charlie está chegando ao final de sua jornada. Sua vida, após o suicídio do companheiro (irmão de Liz), saiu dos trilhos. A dor que passou a carregar se transformou em compulsão alimentar, seu coração está falhando e qualquer deslocamento simples (como andar ou levantar-se da cadeira) exige-lhe um esforço colossal. Liz (que fora criada no meio religioso como o irmão e se desencantou) deseja que Charlie se interne e tente uma recuperação, mas ele sabe que será adiar o inevitável, melhor deixar o dinheiro da internação e o tratamento (nos Estados Unidos o sistema de saúde não é gratuito para todos como é em nosso país) para a filha (Liz acredita que ele está falido e que não pode pagar um plano de saúde), para que esta possa ter uma formação, um bom emprego, uma vida digna. 

O título “A Baleia” parece uma metáfora nada simpática a condição direta do personagem soando até como de mau gosto, mas, na verdade, refere-se ao conto de Moby Dick que é citado várias vezes no filme, inclusive revelando a mensagem central do livro, e na qual muita coisa fará sentido de acordo com que o filme avança. Podemos ver o filme como o estudo de um personagem, como um homem em busca de redenção, um pai tentando se relacionar com a filha e, ao mesmo tempo, tentando salvá-la, pois vê nela um imenso potencial. Interessante vermos que o jovem Thomas deseja salvar Charlie, mas ele mesmo precisa ser salvo, mas, antes, precisa constatar este fato e ser honesto consigo mesmo. Liz também precisa escapar da situação em que se encontra: assim como Charlie ela está presa ao luto e vê no amigo o único elo que ainda a faz se lembrar do falecido irmão. Ver Charlie partir, sem que ela possa salvá-lo, também a deixa frágil, frustrada e com raiva, pois Charlie perdeu o interesse na vida e novamente outra pessoa mais próxima a ela está partindo. Agora que Charlie consegue manter um diálogo com Elle (que não via há oito anos - a jovem está em torno dos dezessete) já é tarde demais, ele acredita que só lhe restam alguns dias. Ele precisa romper o ressentimento de Elle que se recusa a perdoá-lo. Charlie, afinal, é humano, com virtudes e defeitos, erros e acertos como qualquer pessoa.

Parte da crítica não conseguiu se emocionar com um personagem triste, solitário e autodestrutivo em um drama triunfante e profundamente comovente. A Baleia foi classificado por estes como um filme piegas e melodramático. Muitos, inclusive,  se incomodaram no modo como o personagem de Charlie lida com sua alimentação: comendo baldes de frango frito, pedindo todo dia uma pizza e quase se engasgando com um sanduiche (aspectos que têm pouco a ver com comida e tudo a ver com seus sentimentos). Para muitos, não será um filme fácil de ser assistido. Houve aqueles que citaram o perigo de serem acionados “certos gatilhos” em alguns espectadores. Abriu-se até uma discussão se isso não estigmatizaria ainda mais as pessoas que estejam acima do peso, além do “Fat Shaming” - o ato de criticar o sobrepeso de alguém e faze-lo se sentir culpado por isso (Brendan Fraser citou ter conversado com a “Obesity Action Coalition” - uma ONG americana que ajuda obesos e que teria recebido o aval para o filme). Houve até quem criticasse o fato de usarem um ator magro para interpretar um obeso. O que o espectador precisa perceber é que o filme busca, em sua mensagem, a oportunidade de conscientizar as pessoas sobre o preconceito sofrido por pessoas nessas condições.

A escolha de Brendan Fraser foi algo bem interessante: quando o diretor assistiu ao filme “12 Horas Para o Amanhecer” (2006), ambientado em São Paulo, ele havia encontrado o seu personagem principal: Fraser, um ator de filmes de aventura e romances que fora caindo no ostracismo e 24 anos depois da estreia de “A Múmia” retornaria em uma elogiada atuação, aos 53 anos, com direito a uma ovação de pé de seis minutos no Festival de Cinema de Veneza, além de garantir uma indicação de Melhor Ator no Oscar de 2023, justamente vencida. Fraser, apesar do criticado uso de “fat suit” (preenchimento - o ator teria usado entre 22 a 130 kg de próteses), que aqui não caberia a crítica, pois é um termo mais voltado a quem deseja fazer comédias (atualmente mal visto na indústria e por espectadores), mostra-se um excelente ator, pois tudo está ali: a tristeza, a culpa, o olhar desesperançoso, o grito interno de socorro que não pode ser ouvido, o modo de caminhar ... Sadie Sink (uma das estrelas do ótimo seriado “Stranger Things”) revelou-se uma ótima escolha, apresentando a química com Fraser que faz o filme funcionar. Sua personagem traz todo o conflito que a estória precisava. Samantha Morton (a vilã “Alfa” do seriado “The Walking Dead”) faz Mary a ex-esposa que afastou a filha de Charlie e agora mostra-se preocupada com o que essa aproximação possa causar em ambos. O pouco tempo em cena de Samantha é o suficiente para mostrar-se uma excelente atriz. Hong Chau faz Liz com muita propriedade o que a fez ganhar uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Ty Simpkins é um Thomas que se descobrirá nesse pouco tempo com Charlie e Elle e Sathya Sridharan faz o entregador de pizza curioso em saber que é o seu misterioso cliente que nunca chega à porta quando ele faz a entrega. 

Indicado a 3 Oscars, A Baleia é um filme que incorpora muitas questões onde tudo é propositadamente apertado para dar uma sensação de pouco espaço, uma sensação de claustrofobia no espectador. Charlie é um homem que come compulsivamente para aplacar a dor e a culpa. É altruísta e egoísta; otimista quanto à filha e sem esperança quanto ao seu futuro, criou um estilo de vida hermético para si e nos coloca a entender como ele se sente a respeito de si mesmo. O espectador sente vontade de entrar no filme e salvar um personagem que se mostra muito forte no final. Aliás, um final arrebatador, nada convencional, e que pegará o espectador de surpresa. Cinema em sua função mais pertinente: a de levar a uma imensa reflexão (mesmo que alguns se sintam mal ao final da projeção) e a um aprendizado, que permanecerá na mente de quem o assistiu. Melodramático ou piegas? Eu diria que não. Necessário? Eu diria que sim.


Trailer:



Curiosidades:

Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Brendan Fraser), Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor atriz Coadjuvante (Hong Chau), conquistando os dois primeiros 

Por causa do peso severo de seu personagem, Brendan Fraser teve que vestir um traje protético pesado para o papel que ele usou por horas. Ele disse aos membros da mídia presentes no Festival Internacional de Cinema de Veneza (via Variety): "Desenvolvi músculos que não sabia que tinha. Até senti uma sensação de vertigem no final do dia, quando todos os aparelhos foram removidos; era como descer do cais para um barco em Veneza. Essa [sensação de] ondulação. Isso me deu apreço por aqueles cujos corpos são semelhantes. Você precisa ser uma pessoa incrivelmente forte, mental e fisicamente, para habitar esse ser físico. "

Após sua exibição de estreia no Festival de Cinema de Veneza, tanto o filme quanto o ator principal, Brendan Fraser, foram aplaudidos de pé por seis minutos; um momento, capturado pela câmera, que levou Fraser às lágrimas. Fãs e críticos de longa data consideram A Baleia (2022) um renascimento da carreira de Fraser após muitos anos de ausência das telas.

A jovem Ellie nas cenas de flashback é interpretada pela irmã mais nova de Sadie Sink, Jacey.

No Festival de Cinema de Veneza de 2022, Darren Aronofsky disse que levou dez anos para escalar o elenco deste filme

Samantha Morton já foi indicada 2  vezes ao Oscar por "Poucas e Boas" (1999) "Terra de Sonhos" (2004)

Charlie é vagamente baseado no escritor do filme e peça Samuel D. Hunter, que ensinou redação expositiva na Rutgers University e lutou contra o transtorno da compulsão alimentar periódica.

Adrian Morot ("Noé", "O Regresso") criou as próteses usadas no filme

Para a representação física de Charlie, uma combinação de próteses pesadas, CGI e maquiagem foram usadas em Fraser,

O diretor Darren Aronofsky também abordou a controvérsia sobre como a obesidade é abordada no filme. "Pessoas com obesidade são geralmente escritas como bandidos ou piadas", disse Aronofsky ao Yahoo Entertainment no ano passado. “Queríamos criar um personagem totalmente elaborado que tivesse partes ruins e boas; Charlie é muito egoísta, mas também é cheio de amor e está buscando perdão. Então [a controvérsia] não faz sentido para mim. Brendan Fraser é o ator certo para fazer esse papel, e o filme é um exercício de empatia”.

Para que os movimentos sejam realistas, um traje de pele artificial de corpo inteiro foi criado usando impressão 3D e preenchido com sacos de “pérolas de água gelatinosa” ("gelatinous water beads”), para acertar o movimento dos membros de Fraser.

No início da produção, Fraser passava cansativas cinco a seis horas em uma cadeira de maquiagem, todos os dias, para se tornar Charlie, com a contagem regressiva de duas a três horas no final das filmagens. As próteses avançadas eram tão pesadas que várias pessoas também tiveram que ajudar Fraser a se mover entre o estúdio e a sala de maquiagem.

Brendan Fraser consultou pessoas que passaram por cirurgias bariátricas para aprender mais sobre suas vidas e lutas.

Cartaz:












Samantha Morton no Clipe do U2 - "Electrical Storm"



Ty Simpkins no Clipe Logic - "One Day" feat. Ryan Tedder




Breve Filmografia:

Brendan Fraser







Filho do Bem, Filho do Mal (1991); Apostando no Amor (1991);Supostamente Culpado (1991); O Homem da Califórnia (1992); Código de Honra (1992); Cash: Em Busca do Dólar (1993); Escrito nas Estrelas (1993); Com Mérito (1994); O Pancada (1994); Paixões na Floresta (1995); Agora e Sempre (1995); Amor por Acidente (1996); Questão de Sensibilidade (1996); A Garota dos Meus Sonhos (1997); George, o Rei da Floresta (1997); Deuses e Monstros (1998); De Volta para o Presente (1999); A Múmia (1999); Endiabrado (2000); Monkeybone, no Limite da Imaginação (2001); O Retorno da Múmia (2001); O Americano Tranqüilo (2002); Revenge of the Mummy: The Ride (2004); Crash: No Limite (2004); 12 Horas até o Amanhecer (2006); O Último Golpe (2006); Ligados pelo Crime (2007); Viagem ao Centro da Terra: O Filme (2008); A Múmia: Tumba do Imperador Dragão (2008); Coração de Tinta: O Livro Mágico (2008); Decisões Extremas (2010); O Negociador (2011); Um Caso de Amor (2013); Uma Dupla Genial (2013); A Caça (2013); Busca Alucinante (2013); Em Busca de um Lar (2013); A Rosa Venenosa (2019); Irmãos do Crime (2019);  Nem um Passo em Falso (2021); A Baleia (2022); Professionals (seriado 2020); Patrulha do Destino (seriado 2013-2019); Assassinos da Lua das Flores (2023)


Sadie Sink







Bounce (1997); Punhos de Sangue (2016); O Castelo de Vidro (2017); Rua do Medo: 1994 - Parte 1 (2021); A Baleia (2022); Stranger Things (seriado 2017-2022)


Samantha Morton






Soldier Soldier (1991); Emma (1996); Jane Eyre (1997); Inocentes Pecadores (1997); Poucas e Boas (1999); Sonhando com Joseph Lees (1999); O Romance de Morvern Callar (2002); Minority Report: A Nova Lei (2002); Terra de Sonhos (2002);  Código 46 (2003); Amor Obsessivo (2004); Amor Obsessivo (2004); Honra E Liberdade (2005); Lassie (2005); Controle: A História de Ian Curtis (2007); Elizabeth: A Era de Ouro (2007); Sinédoque, Nova York (2008); A Corrente do Mal (2008); O Mensageiro (2009); John Carter: Entre Dois Mundos (2012); Cosmópolis (2012); Unidas pela vida (2013); A Ameaça (2013); Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016); Apenas Nós (2018); The Walking Dead (seriado 2019-2020); A Baleia (2022); Ela Disse (2022)


Hong Chau






Vício Inerente (2014); De A a Z (seriado 2014-2015); Pequena Grande Vida (2017); Intimidade Forçada (2018); Driveways - Uma Amizade Inesperada (2019); American Woman (2019); Watchmen (seriado 2019); Homecoming: De Volta à Pátria (seriado 2018-2020); Artemis Fowl: O Mundo Secreto (2020); A Baleia (2022);  O Menu (2022); O Agente Noturno (seriado 2023)


Ty Simpkins







Guerra dos Mundos (2005); Pecados Íntimos (2006); Jardins da Noite (2008); Força Policial (2008); Foi Apenas um Sonho (2008); 72 Horas (2010); Homem de Ferro 3 (2013); Sobrenatural: Capítulo 2 (2013); Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015); Dois Caras Legais (2016); Sobrenatural: A Última Chave (2018); Vingadores: Ultimato (2019); A Baleia (2022)


Sathya Sridharan







Terror em Duas Frases (2017); Amizade Dolorida (2018); Murderville (2020); Baleia (2022)


Fontes:

The New York Times

The Guardian

IMDB

Jornal O Globo

Independente.co

Standart.co

Rolling Stone

CNN

Collider

Empire

Yahoo Movies

Vanity Fair