quarta-feira, 8 de julho de 2020

MAD MAX: ALÉM DA CÚPULA DO TROVÃO / MAD MAX: BEYOND THUNDERDOME (1985) - AUSTRÁLIA



"DOIS HOMENS ENTRAM, UM HOMEM SAI"

Quinze anos após os eventos vistos em Mad Max II a civilização, como conhecida, é apenas uma memória. Os carros movidos a gasolina não existem mais, nem os criminosos nesses outrora possantes carros. Homens caminham como nômades a coletar resquícios de uma sociedade que ficou para trás. Nesse ambiente vemos Max em uma charrete improvisada com camelos sendo atacado por um pequeno avião biplano, cujo piloto, Jedediah e seu filho acabam por se apropriar. Max segue o trajeto do avião e descobre Batertown (“Cidade do Escambo”), onde a moeda de troca são utensílios e habilidades. A fim de tentar reaver suas posses, Max faz um acordo com Aunty Entity (Tina Turner), a poderosa governante local:  ele deve enfrentar "Blaster", o guarda-costas de "Master", um homem que divide o poder com Aunty e controla o fornecimento de gás metano à cidade.  A luta deve ser dentro da "Cúpula do Trovão" ("Thunderdome"), uma redoma onde desavenças são resolvidas e “dois homens entram e apenas um sai”. E "Blaster" sempre saiu. Max deve derrotar o gigante para que Aunty assuma o controle, soberana, mas o acordo entre os dois não pode vir à publico.


Dirigido por George Miller, em conjunto com George Ogilvie, “Mad Mad III” completa uma trilogia que define a personalidade do personagem principal. Visto sequencialmente percebemos que Miller criou uma jornada para o nosso herói. Se nas duas primeiras aventuras Max é um homem guiado por seus próprios princípios (como no segundo: “estou aqui somente pela gasolina”), primeiro movido pela vingança, posteriormente, pela sobrevivência. Aqui o personagem amadureceu, envelheceu, tornou-se mais profundo e humano, mas ao contrário da civilização em que se encontra, não perdeu seus princípios morais, uma característica que pouco vale nesse mundo e que lhe causará problemas.  


Miller queria fazer algo diferente, mostrar os estágios que a civilização precisaria galgar para se reerguer novamente. Para isso era necessário fugir das continuações que mantém uma fórmula intacta e repete o mesmo tema, exaustivamente, mudando apenas as situações. Miller ousou. Trocou a faixa adulta pela juvenil (13 anos nos EUA e 14 anos por aqui); abandonou a violência explícita; deu um caráter messiânico ao seu personagem retirando-o do “Guerreiro da Estrada” e tornando-o um “Guerreiro Nômade”; introduziu o humor e o nonsense (há homenagens aos “Caçadores da Arca Perdida” e “Indiana Jones e o Templo da Perdição”) e trocou a ação pela aventura. O resultado, para muitos, foi um filme inferior aos dois primeiros, mas ainda superior a muitas produções lançadas. Mas para aqueles que nunca tinham tido acesso ao primeiro e segundo filmes, devido a faixa etária para maiores, conhecendo somente agora Max, o filme agradou muito, até porque esse filmes podem ser vistos de uma forma independente não necessitando o conhecimento pregresso, mas, claro, quem acompanhou todos os filmes terá uma visão plena da obra de Miller, o que diferenciará muito sua percepção.


Talvez o maior problema com esse terceiro exemplar seja que a sequência mais empolgante do filme, o confronto na Cúpula do Trovão, acontece logo na primeira metade, com um clímax final muito breve.  Miller superficializou a estória que ficou carecendo de objetividade, num roteiro longo demais, sem um senso dramático e com um visual estilizado entre o primitivo e o futurista. Batertown, o primeiro assentamento substancial que vimos nessa distopia futura e que se reorganiza a partir do escambo (“onde só havia roubo, há comercio; onde só havia deserto há cidade”) foi uma boa ideia. Max se envolve no confronto político local, luta, sobrevive a "Blaster" (é na redoma que Max ainda se percebe humano, que possui dignidade, que não se perverterá como seus pares)  e a Aunty, mas as crianças perdidas (que simbolizam a pureza, a inocência não tocada por aquele mundo perverso e degenerado) frearam a ação ainda que justifique a ideia de Max se sacrificar pelo que será uma nova era para a humanidade. Difícil dizer se Max viu em “Feral Kid”, no segundo filme, um substituto ao seu filho e se essas crianças para Max simbolizam o que ele perdeu no primeiro filme, mas o conceito é interessante. Miller criou uma trilogia lógica, ainda que em seu último exemplar a história tenha perdido muito de seu ímpeto.


Mel Gibson (nome de batismo: Mel Columcille Gerard Gibson) está a vontade em seu Max. A pitada de humor e leveza que seu personagem carrega aqui parece que foi meio que um laboratório para a quadrilogia de sucesso “Máquina Mortífera” que estrelaria, no ano seguinte, ao lado de Danny Glover. Max se encontra no mundo devastado e faz a diferença no fim. De certo modo, sua jornada será vinculada a construção de dois pilares do novo mundo: a tribo do norte, cujo líder será o “Fera Kid” e as das “crianças do piloto Walker”.  A aparição de Bruce Spencer como Jedediah até hoje levanta questões se ele não seria o mesmo "Capitão Gyro" do filme anterior. A revista americana "Starlog" nº 44 (1985) afirmou serem personagens diferentes. O motivo de o ator receber um novo convite de Miller foi sua participação ter agrado os fãs em "Mad Max II". Até porque o “The Feral Kid”, já idoso, informa que eles tiveram sucesso em organizar uma sociedade e o capitão giro fora o primeiro dos líderes.  De certa maneira o filme meio que começa e se encerra também com seu personagem.  Tina Turner (nome real de Anna Mae Bullock), aos 46 anos,  fora convidada para estrelar “A Cor Púrpura” (1985) de Spielberg, mas declinou e, antes, tinha feito uma participação no filme Tommy (1975). A atriz conduziu bem, até porque houve uma identificação com  a personagem que perdeu tudo, sobreviveu e conseguiu se sobressair. Temos o veterano ator  Frank Thring (1926–1994), irreconhecível, do clássico “Ben Hur” entre outros na pele do Colecionador. Edwin Hodgeman como o leiloeiro e apresentador do “Thunderdome”, Dr. Dealgood, também se sobressai em rápida aparição.  Paul Larsson  que fez o "Blaster, na armadura" e o ator Stephen Hayes o "Blaster sem a máscara", além de Angelo Rossitto 1908-1991 (o pequenino "Master") ficaram bem caracterizados. Destaque para as aparições de Angry Anderson (como ”Ironbar”), vocalista da banda australiana de Hard Rock/ Heavy Metal “Rose Tattoo”; Geeling Ching (como uma guarda de Aunty) que participou do videoclipe de David Bowie, “China Girl”, e Brian Ellison, dublê e ator, que neste filme faz o homem que maneja a faca e Max atira em seu chapéu. Brian foi escolhido exatamente por fazer esse malabarismo no set de filmagens e chamar a atenção de Miller. Para a cena funcionar foi colocada uma pequena carga explosiva em seu adereço que, acionada, simulou receber um tiro.  Helen Buday que faz a jovem, líder das crianças, seguiu carreira no cinema australiano e está na ativa. Tom Jennings, o jovem guerreiro, voltou-se a séries e telefilmes australianos encerrando a carreira em 1992.


Max Max, Além da Cúpula do Trovão, se comparado dentro da trilogia, é o mais fraco, por mudar muito o conceito até então mostrado, mas finaliza a jornada de um homem tentando se reencontrar. Miller tentou trazer um ar de novidade à saga e agradou os que nunca tinham visto o personagem.  É um bom filme, no fim das contas: mais elaborado, mais pretensioso, mas que não obteve, junto aos fãs mais antigos, o aceite dessa obra. Ainda assim é um bom divertimento. Miller reuniria os elementos da trilogia em "Mad Max: Estrada da Fúria" na qual já anunciou que completará com mais duas sequências.

Trailer:






Curiosidades (contém spoliers):

Blaster foi interpretado por dois atores

George Miller perdeu o interesse no projeto depois que seu amigo e produtor Byron Kennedy foi morto em um acidente de helicóptero enquanto fazia uma inspeção no local. Isso pode explicar por que Miller lidou apenas com as cenas de ação, enquanto George Ogilvie lidou com o resto. O filme é dedicado a Byron Kennedy.

O filme não era originalmente um filme "Mad Max", mas um filme pós-apocalíptico de "O Senhor das Moscas", sobre uma tribo de crianças encontradas por um adulto. Tornou-se o terceiro filme de Mad Max, quando George Miller foi sugerido que Max é o homem que encontra as crianças.

Tina Turner teve que raspar a cabeça para que a peruca caísse. Ela teria tido nenhum problema com isso.

Os olhos de Max são diferentes; a pupila no olho esquerdo está permanentemente dilatada. Este é um aceno para Mad Max 2: A Caçada Continua (1981): Quando seu carro é forçado a sair da estrada por Wez e Max cai, ele sofre uma lesão grave no olho esquerdo, entre outras partes do corpo. A disparidade é mais fácil de ver em close-ups e muito fácil de ver em versões de alta definição do filme. 

A tempestade de areia no final do filme era real, e um avião de câmera voou nele para algumas fotos. A tempestade, na sua totalidade, atingiu a tripulação no deserto, forçando-os a montá-la em seus carros e onde quer que eles pudessem encontrar cobertura.

O vestido de malha de aço da Aunty Entity (Tina Turner) pesava mais de 55 kg.

Quando Max conhece Aunty, um saxofone é ouvido tocando, a câmera revela que a música não é a trilha sonora, mas acontece dentro do próprio filme, como um dos homens de Aunty está tocando. Este é um aceno para Mad Max (1979), onde a esposa de Max, tocando saxofone, é revelada da mesma maneira.

Em entrevistas sobre Mad Max 2: A Caçada Continua (1981), George Miller disse que, enquanto o mundo de Max estava após o colapso do sistema social / político / econômico que conhecemos, não foi após a Terceira Guerra Mundial. No entanto, de acordo com a introdução do Dr. Dealgood no Thunderdome, este filme se passa explicitamente após uma guerra, embora não necessariamente na Terceira Guerra Mundial.

Uma cena foi filmada, mas cortada, que Max tem um pesadelo sobre sua esposa Jesse e seu filho Sprog. Ele acorda, começa a chorar e começa a perceber que se tornou como a gangue de motociclistas que assassinou sua família. A cena excluída estava na novelização de Joan D. Vinge, mas faltam as imagens da cena excluída.

A arte do cartaz deste filme foi uma das últimas feitas por Richard Amsel.

Quando Max está desistindo de suas armas em Bartertown, ele desiste da besta de punho de Wez em Mad Max 2: A Caçada Continua (1981), que ele provavelmente recuperou depois que Wez foi morto por um caminhão.

Desde este filme, o termo "Assassino de Porcos" passou a significar "um pária vivendo à margem da sociedade".

Quando Max conhece "o assassino de porcos", eles passam por outro prisioneiro que é o personagem Charlie, do Mad Max original (o policial que se machuca e precisa falar com uma caixa de voz). (fonte IMDB)

O filme se passa quinze anos após o filme anterior Mad Max 2: A Caçada Continua (1981), que ocorreu cinco anos após Mad Max (1979). Isso faz com que este filme ocorra vinte anos após o primeiro.

A primeira da franquia feita com financiamento dos EUA, o que explica por que Tina Turner apareceu no filme.

George Miller havia planejado trazer Mad Max para a tela pequena e começou a desenvolver uma série de televisão baseada nos filmes Mad Max e que ele queria que Jon Blake, com quem ele havia trabalhado em Cool Change (1986), estrelasse a série. Mas a carreira de ator de Jon Blake terminou quando ele sofreu danos cerebrais permanentes em um acidente de carro e a série de televisão Mad Max nunca foi feita.

O co-roteirista Terry Hayes disse que: "Bartertown é uma versão aprimorada do nosso mundo (hoje)".

Havia rumores de que a sequência Mad Max: Fury Road (2015) se passa após Mad Max: Beyond Thunderdome (1985). No entanto, em Mad Max: Beyond Thunderdome (1985), Max tem cerca de quarenta anos e, em Mad Max: Fury Road (2015), Max tem cerca de 30 anos.


O apito que Max usa para atormentar temporariamente Blaster é o cachimbo de um Sailswain de marinheiro ainda hoje usado em navios da Marinha.

Não se explica por que Max não matou Blaster no filme. É possível que Blaster tenha lembrado Max de Benno (Max Fairchild), o lavrador autista que morava na fazenda de May Swaisey em Mad Max (1979) quando a esposa e filho foram assassinados por The Toecutter e sua gangue de motociclistas, ou ainda pode ter restado humanidade em Max que  achou ser errado e desumano mataro Blaster com deficiência mental. Alguns acreditam que Benno e Blaster são o mesmo personagem, apesar de serem interpretados por diferentes atores, e é possível que Benno possa ter sobrevivido à guerra nuclear.

Cartazes:






















Trilha Sonora:




















O Filme foi capa da antiga Revista Cinemin nº 19





















Capas de Revistas Estrangeiras:

                                     


Passado e Presente





















































We Don't Need Another Hero (Tina Turner)



One of Living (Tina Turner)




Uma Compilação do segundo e terceiro filmes



Frank Thring (1926–1994)














Angry Andreson 















Filmografia Parcial:
Mel Gibson










Mad Max (1979); Gallipoli (1981); O Ano Que Vivemos em Perigo (1982); Mad Max 2: A Caçada Continua (1981); Mad Max - Além da Cúpula do Trovão (1985); Máquina Mortífera (1987); Máquina Mortífera II (1989); Máquina Mortífera 3 (1992); Maverick (1994); Coração Valente (1995); O Preço de Um Resgate (1996); O Troco (1999); O Patriota (2000); Sinais (2002); O Fim da Escuridão (2010); Os Mercenários 3 (2014); Um Novo Despertar (2011); Plano de Fuga (2012); Os Mercenários 3 (2014); Herança de Sangue (2016); Pai em Dose Dupla 2 (2017); O Gênio e o Louco (2019); Boss Level (2019); Force of Nature (2020). 

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