sexta-feira, 3 de julho de 2020

MAD MAX 2: A CAÇADA CONTINUA / MAD MAX 2 / THE ROAD WARRIOR (1981) - AUSTRÁLIA


O GUERREIRO DA ESTRADA

Uma guerra entre nações industrializadas eclodiu no Oriente Médio e os donos do poder destruíram a sociedade. Grande parte do mundo tornou-se árido, sombrio e sem lei. Novos senhores da guerra surgiram, agora motorizados, vasculhando, pilhando e matando quem cruze os seus caminhos em busca de combustível, a única moeda de valor.  E a brutalidade virou uma condição "sinequanon" para a sobrevivência. Max Roxatansky continua sua jornada furiosa e existencial, dirigindo seu velho v-8, colhendo gasolina pelas estradas, vagando praticamente sem parar, de lugar nenhum para lugar nenhum até ser emboscado por uma horda de selvagens, lideradas por um homem chamado Humungus. Max sobrevive e conhece o piloto de um autogiro (Bruce Spence) que lhe mostra uma comunidade que tenta manter uma ordem social diante da eminente extinção, sendo detentora de um poço de petróleo e gasolina refinada que Humungus (Kjell Nilsson) reclama para si. Max faz um acordo com o líder (Michael Preston) da comunidade: conseguirá um carro pipa para fugirem com gasolina para o norte e lhe darão a maior quantidade de combustível que possa levar, mas o “Aiatolá do Caos” não permitirá a partida de ninguém.


Continuação da visão apocalítica de Miller da sociedade do futuro, situado em uma Austrália pós-apocalíptica, que na ótica do cinema é decididamente sombrio, dividindo-se entre trevas e luz.  Afim de situar o espectador, o filme começa com uma retrospectiva documental dos acontecimentos onde descobrimos que, além de seu filho ter morrido, sua esposa não resistiu aos ferimentos (há uma cena de Max em pé com 2 cruzes ao fundo, logo no início)
“My life fades, the vision dims. All that remais are memories ... they take me back ... I remember a time of chaos ... ruined dreams ... this wasted land. But most of all, I remember the road Warrior, the man we called Max. To understand who  he was we have to go back, to another time ... when the world was powered by the black fuel, and the deserts sprouted great cities of pipe and steel ... gone now, step away .." “ A minha vida se esvai, a visão embaça, tudo o que resta são recordações ....  lembro-me de um tempo de caos ... sonhos perdidos ... da terra devastada. Mas acima de tudo, eu me lembro do Guerreiro da Estrada, o homem a quem chamávamos de Max. Para compreender quem ele era temos que voltar a outra época ... quando o mundo era dirigido pelo combustível negro, e nos desertos apareciam grandes cidades de canos e aço hoje desaparecidas e eliminadas ...”


Houve uma época no cinema em que os heróis não tinham super poderes, eram de carne e osso. Sofriam na pele as consequências de seus atos, temiam a morte e suas habilidades eram a coragem, a determinação e o foco. Passavam a caminhar sozinhos em busca de algo perdido que nunca iriam recuperar e, nesse meio termo, ajudavam aqueles que eram brutalizados por seus semelhantes ou pelo sistema vigente. Os vilões eram claros e perceptíveis. Max fora um policial que perdera seu melhor amigo, viu a família ser massacrada e fora em busca de vingança mesmo que custasse a sua vida. Um homem sem esperança é um homem sem destino, que acaba indo de encontro a uma comunidade que representa um dos poucos polos de vestígios da humanidade. E aqui começa nosso filme. Ele é contado do ponto de vista daqueles que conseguiram manter um resquício de sociedade graças ao "Guerreiro da Estrada – “Road Warrior”, particularmente de um personagem agora bem idoso, perto do fim da vida, que não conheceu o passado de Max e não viria a conhecer o seu futuro. O breve contato com cavaleiro errante fez a diferença em sua vida e o tornaria uma pessoa  de valor no futuro. E é desse breve encontro que o filme se inicia.


Seguindo o esquema básico do Western americano temos Max que surge no filme como um “pistoleiro solitário” (ao estilo “Os Brutos Também Amam” – “Shane”) em seu cavalo (o possante V-8 do primeiro filme). Chega em um “posto avançado desolado”,  e se vê frente a frente com um líder querendo expulsar os colonos (aqui a comunidade sitiada) de suas terras. Os saqueadores ao invés de cavalos, agora possuem máquinas e ao invés de pistolas usam lanças, maças e bestas. O herói possui seu próprio código de ética, protege os fracos e, ao final do filme,  não se sabe sobre seu paradeiro, se tornando sozinho novamente e sendo lembrado por uma criança que o admira e sempre se lembrará dele (como em “Shane”).  No fim, uma  reflexão sobre a localização da moralidade em uma sociedade privada da civilização.



O cinema tem um incrível poder hipnótico de aproximar realidade à ficção, de criar ícones e mitos enquanto a TV cria celebridades. Cada década produz sua sociedade distópica: invasões alienígenas, guerra nuclear, sociedade destruída, revolução das máquinas, macacos superiores ao homem, submersão pelas águas, vírus letal ... Sabemos que é uma ilusão e ainda assim nos permitimos entrar nessa ilusão. No fim, talvez seja uma forma de hipnose. E Miller soube tirar proveito desse filão criando o mais icônico dos heróis apocalípticos. O enredo não é sofisticado, mas dada a energia com que é jogado na tela, com edições turbulentas e uma carga estética visceral com direito a possantes carros em alta velocidade,  capotagens e até colisões frontais,o filme entrega um espetáculo impactante.


A sequência “Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão”, apesar de comercialmente bem sucedido, diluiu a escuridão de Max centrando-se em sua jornada de volta a si mesmo. Mel Gibson , em entrevista , dizia ter abandonado Max, mas um roteiro com um argumento diferente traria o personagem para sua última aventura. Miller que usou, quase como personagem, em seus filmes, os carros, justificou em entrevista que na Austrália o culto aos carros era quase tão grande quanto ao culto às armas nos EUA. Daí sua utilização nos filmes como força motriz da ação.




Quanto ao elenco Mel Gibson tem participação em tempo integral e isso fez a diferença.  O ex-bodybuilder e ex-ciclista sueco nos Jogos Olímpicos de Verão de 1984,  Kjell Nilsson, faz o imponente Humungus por trás de uma máscara de Hockey. Muito se cogitou se ele não seria na verdade o ex-policial Jim Goose, que sofreu queimaduras no primeiro filme por haver carros de polícia com os bandidos e uma arma semelhante à arma padrão do MFP. Foi cogitada essa possibilidade no rascunho do roteiro, mas há uma cena quando o vilão pega a arma dentro de uma caixa que nos revela a sua foto com a esposa. A julgar pela foto fora um oficial que também perdera a esposa e, ao contrário de Max, se perdeu junto com a humanidade. Bruce Spence, o piloto do autogiro, tem os momentos mais engraçados e funciona como válvula de escape. Vernon Wells,com seu moicano Wez (ele foi o vilão de "Comando" com Schwarzenegger) tornou seu personagem icônico. Outro sempre lembrado é Emil Minty como o "garoto fera" e cujo destino da comunidade é descrito em sua narrativa. Destaque também para  Michael Preston (Pappagallo) e Virginia Hey como a mulher guerreira. Hey esteve em "007 Marcado para a Morte" e no seriado "Farscape" (1999-2002)



Filmado com um orçamento dez vezes maior, Mad Max 2: A Caçada Continua (subtítulo nacional bem ruim) é um espetáculo superior ao seu antecessor e posterior, pois a ação é inserida do início ao fim , com uma narração em off que funciona muito bem. Mesmo quarenta anos depois o filme ainda dá aulas de montagem, enquadramento de câmeras e personagens que ficaram na memória. Um espetáculo cujo argumento (escassez de combustível) diluiu-se com o tempo, mas não as cenas de ação espetaculares. Assim como muitos filmes dos anos 80 que ainda não conseguiram ser superados e, apesar da exagerada violência esse segundo exemplar, é um dos melhores filmes de ação  já realizados.

Trailer:




Curiosidades:

O filme se passa 5 anos depois de Mad Max (1979).

George Miller recusou a chance de dirigir o Rambo - Programa Para Matar (1982) para fazer o filme.

Eleito o melhor filme de ação de todos os tempos em uma pesquisa realizada pela revista Rolling Stone em 2015.

Mel Gibson teve apenas dezesseis linhas de diálogo em todo o filme.

O cão usado no filme, chamado simplesmente "Cão", foi comprado e treinado para atuar no filme. Como o som dos motores o perturbou (e em um incidente o fez se aliviar no carro), ele recebeu tampões especiais. Após a conclusão das filmagens, ele foi adotado por um dos operadores de câmera.

O cão de Max foi salvo de ser sacrificado pelos cineastas. Um dia antes de dormir, membros da equipe visitaram seu abrigo procurando um animal de estimação para o filme. Ele foi escolhido dentre vários outros cães, devido a ele pegar uma pedra do chão e brincar com ela como um brinquedo. Os membros da equipe perceberam que o cão poderia ter uma presença real no filme e tinha potencial para ser treinado. Este filme acabou sendo o único filme em que ele apareceria.

A raça do cão de Max é um cão de gado australiano ou "Blue Heeler".

Originalmente, essa era a conclusão da história de "Mad Max", que o destino de Max nunca teria sido revelado, e George Miller, Terry Hayes e Byron Kennedy não tinham intenção de fazer uma terceira sequência.

De acordo com o livro de curiosidades "Movie Mavericks", de Jon Sandys, uma das cenas mais espetaculares do filme foi na verdade um acidente grave. Um dos assaltantes que andam de moto bate em um carro, voa da moto, bate com as pernas contra o carro e gira no ar em direção à câmera. Foi um acidente real e genuíno: o dublê deveria sobrevoar o carro sem bater nele. Mas o incidente quase fatal parecia tão dramático que foi mantido no filme. O dublê quebrou muito a perna, mas sobreviveu. (Se você olhar o corpo do dublê, quadro a quadro, através de suas rodas de carroça, poderá ver que uma de suas pernas está dobrando em um ângulo levemente antinatural ao redor do joelho.)



Renomeado como "The Road Warrior" nos EUA porque, na época, o Mad Max original (1979) havia sido lançado apenas como distribuição restrita, de modo que "Mad Max 2" (o título usado fora da América do Norte) poderia ter confundido os espectadores. 

James Cameron citou o filme como uma de suas influências por trás de O Exterminador do Futuro (1984).

Depois que Mad Max (1979) terminou, e antes do lançamento do filme, todos os carros deveriam ser destruídos, incluindo o Interceptor preto, mas alguém achou que o Interceptor era bom demais para perder, então eles o salvaram do triturador. Quando a sequência estava em seu estágio de planejamento, alguém descobriu que o Interceptor havia sobrevivido de alguma forma, então eles a rastrearam e a compraram de volta.

O ano em que o filme se passa é desconhecido. Em uma entrevista em 1984, George Miller afirmou que os eventos dos dois filmes ocorreram em meados do final dos anos 90.

A pistola do Humungus contém uma caveira ornamental e ossos cruzados. Parece ser um desenho de Totenkopf, ou "Cabeça da Morte", um emblema famoso dos S.S. nazistas.

Segundo Vernon Wells, o parceiro de Wez (Golden Youth) não era realmente um parceiro sexual. Wells diz que houve uma cena deletada que explicou que Wez resgatou Golden Boy quando criança e se tornou uma espécie de pai substituto para ele

A cena de abertura foi originalmente filmada com Max passando por uma fazenda que Wez e outros estavam revistando, enquanto os corpos dos proprietários que eles mataram estavam pendurados mortos em uma árvore. Durante o massacre, o som de um V8 de alta potência se aproximando é ouvido por Wez. Ao longe, ele vê o Interceptor com seus grandes tanques de combustível passando. Wez pula em sua bicicleta e ele e os outros perseguem. A câmera sai do carregador do carro para significar uma curta passagem de tempo, e então a cena é como a conhecemos, com apenas Wez e dois carros ainda em perseguição, devido ao poder do Interceptador.

Como George Lucas e Guerra nas Estrelas (1977), os roteiristas Terry Hayes, George Miller e Brian Hannant foram inspirados nos filmes de samurai de Akira Kurosawa e no livro de Joseph Campbell "O Herói com Mil Faces".

George Miller afirmou em uma entrevista que O Menino e seu Cachorro (1975) foi sua inspiração por trás do filme.

George Miller baseou o Feral Kid em órfãos vietnamitas das ruas de Saigon.

George Miller disse que o personagem do Capitão Giroscópio foi escrito em parte para que o estúdio tivesse que pagar por um helicóptero para a filmagem. Fotos aéreas eram bastante caras. Mas eles eram necessários para mostrar o ponto de vista do capitão em seu giro-helicóptero.

Brian May, que compôs a trilha sonora de Mad Max (1979), voltou a compor a trilha sonora deste filme. Mas ele não compôs a trilha sonora de Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão (1985), e foi substituído por Maurice Jarre.

O veículo de Papagallo é reutilizado no Mad Max 3, conhecido como The Lobster Cage Vehicle, com várias modificações, como a adição de uma grade de proteção ao motorista e um teto feito de couro.

Emil Minty, encontrou uma caixa de arruelas de metal e as colocou em um barbante. Ele deu este colar para a atriz Arkie Whiteley. Ela estava usando esse colar no filme.

No roteiro original, Pappagallo já foi o diretor executivo da Seven Sisters Petroleum, uma grande empresa de petróleo. Depois de "o mundo desmoronar", ele decidiu fugir para as terras áridas junto com um grupo de pessoas.

Havia boatos e especulações de que a encarnação de Tom Hardy de Mad Max em Mad Max: Estrada da Fúria (2015) é The Feral Kid. No entanto, uma série de quadrinhos Vertigo de quatro edições, co-escrita por George Miller, estabelece que Hardy Max é o mesmo personagem que Max Gib, de Mel Gibson.

Max fazendo amizade com The Feral Kid prenunciou o seguinte filme Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão (1985), no qual Max é resgatado por uma tribo de crianças.



Trilha Sonora





Passado e Presente:



























Cartazes:
















Revistas:



Filmografia Parcial:
Mel Gibson: 











Mad Max (1979); Gallipoli (1981); O Ano Que Vivemos em Perigo (1982); Mad Max 2: A Caçada Continua (1981); Mad Max - Além da Cúpula do Trovão (1985); Máquina Mortífera (1987); Máquina Mortífera II (1989); Máquina Mortífera 3 (1992); Maverick (1994); Coração Valente (1995); O Preço de Um Resgate (1996); O Troco (1999); O Patriota (2000); Sinais (2002); O Fim da Escuridão (2010); Os Mercenários 3 (2014); Um Novo Despertar (2011); Plano de Fuga (2012); Os Mercenários 3 (2014); Herança de Sangue (2016); Pai em Dose Dupla 2 (2017); O Gênio e o Louco (2019); Boss Level (2019); Force of Nature (2020).


Vernon Wells










Mad Max 2: A Caçada Continua (1981); Mulher Nota Mil (1985); Comando Para Matar (1985); A Fortaleza ou Sequestrados (1985); Viagem Insólita (1987); Assassinato em Hollywood (1988); A Fortaleza (1992); Força-T - O Esquadrão de Aço (1994); Piratas do Espaço (1996); Silent Night,  Zombie Night (2009); Jurassic City (2015); The Perfect Weapon (2016); Dr. Jekyll and Mr. Hyde (2016); Empire of the Heart (2017); Contatos Alienígenas (2017); Landfall (2017); Lilith (2018); City of Gold (2018); Crossbreed (2019); Emerald Run (2019).

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