quarta-feira, 29 de maio de 2019

O GÊNIO E O LOUCO / THE PROFESSOR AND THE MADMAN (2019) - IRLANDA



PRODUÇÃO TURBULENTA

No início do século XIX o escocês James Murray (Mel Gibson), autodidata e conhecedor de diversas línguas, recebe a incumbência de um comitê de renomados professores a realizar um dos mais ambiciosos projetos da Universidade de Oxford: a criação de um famoso dicionário que daria ao mundo praticamente todos os verbetes ingleses conhecidos, incluindo significados, origens e citações. Murray, agora editor,  prevê um intenso trabalho de 7 anos para a conclusão do árduo projeto que mudará o mundo. O projeto emperra e surge uma ideia: “o dicionário da democracia”, uma chamada pública solicitando aos cidadãos comuns colaborações como o uso e etimologia das palavras.


O médico americano William Chester Minor (Sean Penn), em estado delirante,  percorre as ruas armado, em perseguição a um homem (Shane Noone), que acredita querer matá-lo. O homem é morto e Minor percebe ter matado a pessoa errada o que deixará uma viúva (Natalie Dormer) e 4 filhos menores. Após ser diagnosticado com problemas mentais é encaminhado ao Broadmoor Criminal Lunatic Asylum para ser confinado e tratado pelo doutor Richard Brayn (Stephen Dillane) que percebe que um trauma da Guerra Civil Americana provocam os surtos. Ironicamente, a convocação geral feita por Murray para contribuintes autônomos chega as mãos de Minor que passa a enviar milhares de contribuições permitindo que o projeto finalmente possa evoluir em grau considerável. Até que Murray resolve visitar seu maior colaborador em agradecimento, sem saber que fora diagnosticado como criminoso e insano.

 
Tão curiosa quanto a história descrita acima foi a concepção deste filme. Retirado do livro “The Surgeon of Crowthorne: A Tale of Murder, Madness and the Love of Words” (O cirurgião de Crowthorne - Um Conto de Assassinato, Loucura e o Amor das Palavras) de Simon Winchester. Em 1998, quando o livro foi lançado já se pensava em uma adaptação ainda mais pelo muito divulgado interesse de Mel Gibson e a compra deste pelos direitos em 1999. Só que apenas em setembro de 2016 iniciaram-se as filmagens. Gibson declinou da direção e colocou seu co-roteirista (que havia trabalhado com ele em “Apocalipto”) Farhad Safinia na direção. Em 2017 Gibson processaria (através de sua produtora Gibson’s Icon Productions) a Voltage Picture devido a “decisões criativas” e por Gibson e o diretor desejarem mais algumas semanas para cenas extras na Universidade de Oxford (grande parte do filme foi filmado na verdade em Dublin, em “Trinity College”) para garantir maior autenticidade. O motivo do veto: orçamento excedido e o tempo de execução acordados teriam sido ultrapassados. Gibson saiu do projeto com o diretor e perdeu a ação que também citava um acordo para dar-lhe a aprovação de terminar o filme. Safinia acabou com seu nome sumariamente removido dos créditos (seria sua estreia na direção), substituído pelo fictício ”P.B. Sherman” e um novo roteirista entrou no projeto (Todd Komarnicki). Farhad Safinia também abriu um processo, mas perdeu na Califórnia.  Então podemos entender porque Gibson se recusou a fazer publicidade levando o filme a ter uma divulgação bem fraca e sua exibição em poucas salas (inclusive no Brasil).
 


A essa altura o leitor deve estar em dúvida se vale a pena assistir ao filme. O filme tem problemas de montagem (na verdade o filme se inicia com a história de Minor e, depois, nos apresentam a de Murray). No início parece lento e confuso. As conversas entre Murray e os acadêmicos presunçosos, que não engoliram sua indicação poderiam ser melhor desenvolvidas, mas os diálogos com os amigos (os atores Steve Coogan e Ioan Gruffudd) de Murray ajudam um pouco.  Mas há aspectos interessantes como a entrada da citada viúva na história; a questão que paralisa a equipe: como conceituar a palavra arte e como rastrear seu significado através dos séculos; a questão das palavras terem “vida” e evoluir através dos anos; Mel Gibson em um papel bem diferente de seus personagens impetuosos, sua caracterização do escocês (Gibson já havia interpretado um escocês em “Coração Valente”) Murray ficou contida e funcionou muito bem; os percalços trilhados pelos envolvidos e a insólita associação dos personagens na concepção do prestigiado dicionário. O desenhista de produção Tom Conroy e o figurinista Eimer Ni Mhaoldomhnaigh fizeram um ótimo trabalho e realmente nos sentimos inseridos na época da história.


A imprensa internacional pega no pé de Gibson e Penn há anos. A queda de prestígio de Gibson por sua vida conturbada fora dos holofotes lhe rendeu antipatia junto a mídia e parte do público e alguns formadores de opinião classificaram o filme mesmo antes da estreia de fiasco, ou seja: uma avaliação negativa sem ao menos uma análise criteriosa. Com Penn (que considerei estar muito bem no papel) a briga vem de anos desde seu breve casamento com a cantora Madonna. Penn evoluiu como ator e diretor e apresenta altos e baixos na carreira (algo normal). Muitos não gostaram de sua atuação usando palavras como  “interpretação histérica” ou “exagerada”. Shane Noone (Game of Thrones); Steve Coogan (Stan & Ollie), Eddie Marsan (o gentil carcereiro Muncie) e Stephen Dillane (Stannis Baratheon de Games of Thrones), o médico com ideias e métodos questionáveis bem da própria época, estão bem e fazem o filme funcionar.
 


O Gênio e o Louco não é um filme para todo o tipo de público: tem um ritmo mais lento quase próximo as produções europeias (que tem um público bem fiel). Pode incomodar alguns por começar como um drama sobre a árdua criação de uma obra e, perto do final, parecer um thriller médico sobre a vida de Mirror internado. Mas ainda assim é um bom filme prejudicado por uma infeliz edição. Funciona para sabermos sobre essa incrível e insólita história e  pelo carisma da dupla central que entrega boas performances. Vale a conferida e sensação que sem os problemas ocorridos teria sido um grande filme

Trailer:




Curiosidades:
Stephen Dillane é pai de Frank Dillane que atuou em no seriado "Fear The Walking Dead" 

Mel Gibson é americano naturalizado australiano.


Filmografia Parcial: 

Mel Gibson













Mad Max (1979); Gallipoli (1981); O Ano Que Vivemos em Perigo (1982); Mad Max 2: A Caçada Continua (1981); Mad Max - Além da Cúpula do Trovão (1985); Máquina Mortífera (1987); Máquina Mortífera II (1989); Máquina Mortífera 3 (1992); Maverick (1994); Coração Valente (1995); O Preço de Um Resgate (1996); O Troco (1999); O Patriota (2000); Sinais (2002); O Fim da Escuridão (2010); Os Mercenários 3 (2014); Um Novo Despertar (2011); Plano de Fuga (2012); Os Mercenários 3 (2014); Herança de Sangue (2016); Pai em Dose Dupla 2 (2017); O Gênio e o Louco (2019); Boss Level (2019); Force of Nature (2020)


Sean Penn












Picardias Estudantis (1982); Juventude Em Fúria (1983); Caminhos Violentos (1986); As Cores da Violência (1988); Pecados de Guerra (1989); Não Somos Anjos (1989); Os Últimos Passos de um Homem (1995); Além da Linha Vermelha (1998); Sobre Meninos e Lobos (2003); A Intérprete (2005); Milk: A Voz da Igualdade (2008); A Árvore da Vida (2011); A Vida Secreta de Walter Mitty (2013); O Franco-Atirador (2015); O Gênio e o Louco (2019)


Natalie Dormer
 

 









Casanova (2005); Um Plano Brilhante (2007); City of Life (2009); Capitão América: O Primeiro Vingador (2011); W.E.: O Romance do Século (2011); Rush: No Limite da Emoção (2013); O Conselheiro do Crime (2013); Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (2014); Jogos Vorazes: A Esperança - O Final (2015); Games of Thrones (seriado 2012 a 2016); Floresta Maldita (2016); Na Escuridão (2018); Patient Zero (2018); O Gênio e o Louco (2019); The Dark Crystal: Age of Resistance (seriado 2019)

Jennifer Ehle












Backbeat - Os 5 Rapazes de Liverpool (1994);  Wilde - O Primeiro Homem Moderno (1997); Sunshine - O Despertar de um Século (1999); Possessão (2002); Mistério em River King (2005); Força Policial (2008); O Discurso do Rei (2010); Tudo Pelo Poder (2011); Contágio (2011); A Hora Mais Escura (2012); RoboCop (2014); O Impostor (2014); Cinquenta Tons de Cinza (2015); Melhores Amigos (2016); Além das Palavras (2016); Caçadora de Gigantes (2017); O Mau Exemplo de Cameron Post (2018); Cinquenta Tons de Liberdade (2018); Vox Lux: O Preço da Fama (2018); O Gênio e o Louco (2019) 

Steve Coogan













Resurrected (1989); A Chave Mágica (1995); Amigos para Sempre (1996);  Doce Vingança (1998); Alice no País do Espelho (1998); Um Agente em Apuros (2001); Volta ao Mundo em 80 Dias: Uma Aposta Muito Louca (2004); Álibi (2006); Maria Antonieta (2006); Uma Noite no Museu (2006); Perdendo a Noção (2008); Trovão Tropical (2008); Caminhos Desconhecidos (2009); Uma Noite no Museu 2 (2009); Percy Jackson e o Ladrão de Raios (2010); Pelos Olhos de Maisie (2012); Philomena (2013); Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba (2014); O Jantar (2017); Perfeita Pra Você (2018); Stan & Ollie (2018); O Gênio e o Louco (2019) 

Ioan Gruffudd
 













Wilde - O Primeiro Homem Moderno (1997); Titanic (1997); 102 Dálmatas (2000); Falcão Negro em Perigo (2001);  Atiradores (2002); Rei Arthur (2004); Quarteto Fantástico (2005); Jornada pela Liberdade (2006);  Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (2007); Um Segredo entre Nós (2008); O Segredo do Vale da Lua (2008);  W. (2008);  Santuário (2011); Quero Matar Meu Chefe (2011);  O Aventureiro: A Maldição da Caixa de Midas (2013); Deixa Rolar (2014); Terremoto: A Falha de San Andreas (2015); O Gênio e o Louco (2019)

Stephen Dillane
 












O Jardim Secreto (1987); Hamlet (1990); Déjà Vu (1997); Um Agente em Apuros (2001); Jogo de Espiões (2001); As Horas (2002); Rei Arthur (2004); Questão de Vida (2005); Gol!: O Sonho Impossível (2005); O Melhor Jogo da História (2005); Gol II: Vivendo o Sonho (2007); O Julgamento de Deus (2008); Código de Sangue (2009); A Hora Mais Escura (2012); Game of Thrones (seriado 2012 a 2015); O Destino de uma Nação (2017); Mary Shelley (2017); O Gênio e o Louco (2019)


Eddie Marsan












Gangues de Nova York (2002); 21 Gramas (2003); O Segredo de Vera Drake (2004); Ponto Final: Match Point (2005); O Carrasco (2005); A Vida Secreta das Palavras (2005); V de Vingança (2005); O Ilusionista (2006); Missão: Impossível 3 (2006); Miami Vice (2006); Hancock (2008); O Julgamento de Deus (2008); O Desaparecimento de Alice Creed (2009); Sherlock Holmes (2009); O Último Guarda-Costas (2010); Cavalo de Guerra (2011); Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (2011); Branca de Neve e o Caçador (2012); Jack, o Caçador de Gigantes (2013); Um Homem Entre Gigantes (2015); Atômica (2017); 7 Dias em Entebbe (2018); Deadpool 2 (2018); Vice (2018); O Gênio e o Louco (2019); Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (2019) 

sexta-feira, 24 de maio de 2019

KRAKEN: OS TENTÁCULOS DAS PROFUNDEZAS / / DEADLY WATER (2006) - ESTADOS UNIDOS / CANADÁ




CRIATURA MITOLÓGICA ?

Ray (Charlie O'Connell), um garoto de 8 anos, perde os pais em um passeio de barco ao sofrerem o ataque de um polvo gigante. 30 anos depois, agora fotógrafo aquático, em busca de vingança, junta-se a Nicole (Victoria Pratt), Jenny (Kristi Angus) e Michael (Cory Monteith) que buscam um tesouro perdido nas profundezas do famoso "Mar da Desolação": "O olho de Circe" e uma lendária máscara que nunca teve sua veracidade confirmada. Em contraponto, surge Maxwell (Jack Scalia), um homem poderoso, conhecido por roubar as riquezas do mar e vendê-las no mercado negro. E Maxwell precisa obter a “opala grega” a qualquer custo,  a mesma relíquia que o quarteto procura.
 

Kraken: Os Tentáculos das Profundezas é uma coprodução américo-canadense de 2006, rodada ao baixo custo de $ 2 milhões. Quando vemos um filme distribuído com 2 títulos internacionais “Kraken: Tentacles of the Deep” (título original) e “Deadly Water” (título nos EUA), aliais, esse ultimo título que passou em nossas tevês já podemos ter uma ideia de que algo não deu muito certo. Dirigido pelo húngaro Tibor Takács, egresso de seriados e telefilmes, podemos dizer que sabia administrar baixos valores, logo sua escolha para este telefilme foi mais do que lógica (mas não necessariamente a melhor). E ainda houve a colaboração de outro diretor não creditado: John Blush
 

Kraken ... começa com o jovem Ray lendo “20.000 Léguas Submarinas”, o clássico de Júlio Verne, mais sugestivo impossível, quando vê sua família perecer sob os tentáculos da mitológica criatura. Claro que ele iria surgir em algum momento e o faz quando a arqueóloga Nicole tem um dos membros de sua expedição submarina morto por idêntica criatura. Enquanto ele surge para matar a criatura, ela quer apenas encontrar os artefatos que seriam obras únicas para o museu que a financia. E, claro, que para não ficar nesse “lenga-lenga” o roteiro,  a quatro mãos, colocou um vilão (o ator Jack Scalia) de uma poderosa família grega que lhe ofereceu uma nova chance de voltar para o clã se pegasse o tal artefato grego. E já sabemos como o filme terminará. Não espere muitas surpresas. E não espere que o dinheiro tenha sido empregado em bons efeitos. Tem barco que explode e você só ouve o barulho e uns pedaços na água e, depois, outro barco “explode” bem longe. Os bandidos, para não deixar dúvida no espectador de quem é quem, se vestem de negro (??!!!). As lutas aquáticas confundem, assim como, quem a criatura está atacando. E não vou nem falar de Ray chegando no navio de Nicole, mandando um sorriso, oferecendo ajuda e pronto: já é membro da tripulação. Por isso acredito que o filme tenha mesmo ido direto para o mercado de vídeo. Não por acaso, tem como um dos distribuidores o canal Sci-Fi, aquele que passa filmes com efeitos estranhos. Se for, até que ficou muito bom, para os tipos de produção que apresentam.


Bom, o lado interessante da história é que tem boas cenas aquáticas, não fica preso na linha “tubarões e jacarés assassinos”, que passam o tempo todo matando pessoas, nem é uma mutação genética derivada de alguma experiência que a torne inteligente. Está mais para a lenda do monstro do lago Loch Ness. Eles ligam diretamente aos Krakens (daí o nome do filme), figuras mitológicas que agarravam navios e os levavam para o fundo do oceano. Até Homero descreveu tal criatura encontrando com Ulisses em seu livro “A Odisséia”. Um mito antigo, esses calamares gigantes, que teriam frequentado o Atlântico, a então chamada terra nova, as Costa da Noruega (onde se falava muito do já citado Monstro de Loch Ness), o Pacífico e o Continente Antártico (nunca encontrados).



Kraken: Os Tentáculos das Profundezas é um telefilme bem mediano que até prende a atenção. Chegou a passar no SBT na “Tela de Sucessos” e apresenta bons atores onde Victoria Pratt é a que se destaca mais, e uma criatura que a produção soube esconder do espectador mostrando praticamente partes. Vale uma conferida, num dia sem muitas opções.


Cartaz:



















Trailer:




Trilha Sonora:
If I Say -John Alden
You Got What I Want - 80 Proof Yob
Breezy - Damn the Diva
Yellow Morning - Girl Nobody
Coffee - Damn the Diva
The Modification Song - Andre Chrys
How - The Rye Catchers



Curiosidades:

O Telefilme foi rodado no Canadá
   

Filmografia Parcial:
Charlie O'Connell
 
 









Segundas Intenções (1999); Sliders: Dimensões Paralelas (seriado 1996-1999); Cara, Cadê Meu Carro? (2000); Sombras do Mal (2001); Novo no Pedaço (2002); O Beijo da Noiva (2002); Ataque do Tubarão Mutante (2012); Noite das Travessuras (2013); Sex, Marriage and Infidelity (2014);

Victoria Pratt

 










Cleopatra 2525  (seriado 200 a 2001); Mutant X (seriado 2001 a 2004); Assassinato no Presídio (2005); A Casa dos Mortos 2 (2005); Kraken: Os Tentáculos das Profundezas (2006); O Que é o Amor (2007); O Retorno dos Vermes Malditos (2010); A Vingança de Gina Meyers (2012); O Pesadelo da Filha (2014); June (2015); Death Valley (2015); Turbulence (2016); Heartland (seriado 2014 a 2018); Lazer Team 2 (2018)

Jack Scalia
 
 










Cidade do Medo (1984); Inferno Submarino (1990); After the Shock (1990); O Preço Da Sedução (1991); Crime e Sedução (1992); Reencontro Mortal (1992); Na Trilha da Corrupção (1994); Força-T - O Esquadrão de Aço (1994); Silencers - A Próxima Conquista (1996); Domínio Alien (1996); Vôo Noturno (2005); Black Widow (2010); The Thanksgiving House (2013)