terça-feira, 26 de novembro de 2024

PERSONA / QUANDO DUAS MULHERES PECAM / PERSONA (1966) - SUÉCIA


SOBRE CINEMA E SOBRE A ALMA HUMANA

Elisabet Vogler (Liv Ullmann) é uma atriz famosa que, durante uma récita da peça clássica de Electra, sofre um bloqueio psicológico em cena, no dia seguinte é encontrada em seu quarto imóvel e voluntariamente muda. É submetida a uma série de exames, que atestam possuir bom estado físico e mental, o que não justifica a sua mudez, sendo enviada, pela chefe da clínica psiquiátrica (Margaretha Krook), para descansar em uma casa de veraneio, à beira-mar, sob os cuidados de uma enfermeira chamada Alma (Bibi Andersson). Alma resolve elaborar uma estratégia: passa a recorrer à palavra por si e por Elisabeth. Surge uma grande amizade, a ponto de Alma revelar confidencias e intimidades. Vivendo isoladas, essas duas mulheres chegam a certa altura a dar a impressão de serem uma só pessoa, se estabelecendo de forma preocupante um gradual processo de identificação, relacionamento e transferência psicológica. 

Dirigido por Ingmar Bergman (1918-2007), um dos maiores expoentes da cinematografia mundial, Persona foi o 27º filme do diretor. No Brasil, deram à obra o infame título “Quando Duas Mulheres Pecam”, um título a fim de aguçar erroneamente a curiosidade para uma visão proibida, aquele velho embuste de se fabricar títulos como apelo de bilheteria, dando ênfase ao erotismo quando este é apenas um elemento incidental da obra, mudando a percepção de quem escolhe o filme para assistir. Praticamente uma defraudação da obra, pois pressupõe uma relação íntima entre duas mulheres, o que não ocorre. O título original se manteve na maioria dos países e se mostra mais adequado à proposta do filme. 

"Persona" não é fácil em termos de assimilação (irei me referir ao filme assim e, inclusive, o colocarei como primeiro nome no título da postagem). A sinopse cabe em um parágrafo, mas a verdadeira medida só se explica no fluir das imagens. Para um bom entendimento, não viso aqui fazer uma análise do ponto de vista da psicanálise (deixo para os profissionais da área). Persona deriva de uma palavra latina que quer dizer máscara; máscara do teatro antigo que designava as feições do personagem que o ator representava (ou quem a máscara ocultava). Também, aqui, poderia ser entendido como uma máscara de nossos sentimentos e pecados, aqueles nunca confessados e quase inconfessáveis. Persona também é um personagem da terminologia Jungiana (Carl Jung 1875-1961). Persona, enfim, é um filme sobre o cinema e sobre a alma humana.


NOS PRÓXIMOS PARÁGRAFOS, O TEXTO CONTERÁ INVEITÁVEIS SPOILERS

O filme se inicia no escuro. Lentamente surgem duas luzes: são os carvões de um projetor de cinema (os projetores a carvão não proporcionam uma luminosidade adequada). Então começa a projeção. Um projetor que nasce de outro projetor (um filme dentro do filme?). Imagens quase subliminares de frames por segundo (ou seja, "num piscar de olhos") surgem em tela (inclusive de dois órgãos genitais). Desenho animado, comédia muda ... aranhas, o olho de um cordeiro morto... cenas que lembram um cineasta que Bergman admirava: o cineasta Luis Buñuel (que se utilizava do recurso de dar um choque inicial para despertar a atenção do espectador). Vemos um menino procurando cobrir-se (calor = amor / afeto) sem consegui-lo; passando sua mão nas imagens de Elisabeth e Alma sem conseguir tocá-las (ambas negaram afeto aos filhos – rejeitaram o filho - cada qual em sua tragédia, como veremos à frente). Imagens também de um Bonzo se incendiando na rua e uma crucificação (a mão com o prego) poderiam ser entendidos como o tema do sacrifício da qual Elisabet se mostrará incapaz.

Lentamente, veremos uma estranha transferência de personalidades (fusão, transfusão de personalidade ou consciência) à medida que as duas mulheres se tornam íntimas. Elisabet deixará de ser doente e Alma (um nome sugestivo e não aleatório) passará a ser a vítima. Essa transferência será a estória de Persona. A dualidade entre o artístico e a realidade é a chave de persona. Alma se tornará um avatar de Elisabet ao tentar acessar o âmago da paciente, mas aos poucos começará a ter sua personalidade absorvida tornando-se a máscara (persona) sob a qual a atriz esconderá suas emoções. Passiva ou ativamente Elisabet se reflete em Alma. Quando Alma adormece, parece-lhe que Elisabet entra em seu quarto e há uma mistura de ternura com sensualidade (muitos consideram um sonho, consideram que a cena simboliza que Alma acreditou ter conseguido o afeto que esperava de Elisabeth ou que Bergman quis dar este conceito à cena). Ambas repartem a solidão e o sonho. Também realidade e sonho combinam-se. Há uma cena em que Elisabeth parece beijar o pescoço de Ana, mais à frente veremos ela beijar seu pulso. Há uma sutil analogia ao vampirismo: Elisabet suga a energia de Alma como um vampiro suga o sangue de suas vítimas.

O filme alcança o clímax, talvez, quando Alma, que sempre sentiu falta de uma irmã (possui sete irmãos) encontra em Elisabet (uma espécie de “heroína calada”), tardiamente, alguém que a ouça (por isso ela começa a falar por si e por ela). Ela conta o seu mais trágico segredo e reage a uma carta que Elisabeth, de proposito (com intenção de feri-la), deixa ao seu alcance (ela não sela a carta) sobre confidências feitas. O tom de ironia leva Alma a um estado de histerismo na qual se revela outra pessoa. O “não!”, mais grito do que palavra, marca um entreato. A mudez de Elisabet talvez nos revele que cada palavra, cada gesto possa ser uma mentira. Persona seria mais um papel que ela representa. Já Alma, parece uma pessoa sem problemas, mas percebemos que ela também tem um grande problema: o da insignificância, o de se considerar normal demais. Ela sofre de uma falta de percepção da individualidade. Percebemos a troca de personalidade quando o marido de Elisabet chega: é Alma quem o recebe. É a duplicidade, uma só pessoa em duas. Por isso a imagem de ambas, em determinado ponto, se funde em uma. É uma metáfora para o desdobramento da personalidade. A certa semelhança física entre as duas atrizes não foi por acaso.

Em um momento mais dramático, o rolo de filme rompe do projetor, exatamente como a estória. Elisabeth volta ao palco e Alma toma o ônibus para voltar ao seu cotidiano. Os carvões do projetor se afastam, a tela escurece, o filme termina. No começo e no fim existirá a mesma imagem, se apresentando exatamente ao inverso do que foi mostrada no começo, idêntica, mais invertida, projetada como um reflexo no espelho. Outro momento que Bergman nos traz algo de diferente é ao repetir uma sequência idêntica de diálogos a que foi anteriormente mostrada, parecendo um erro no filme. Uma ênfase do que levou Elisabet a rejeitar o filho desde a sua concepção.

FIM DOS SPOILERS

Quanto ao elenco, foi o primeiro trabalho de Ullmann para Bergman com a qual teve um romance e uma filha. Fez dez filmes com o diretor. Bibi Anderson fez 12 filmes com o cineasta. Nas cinematografias de ambas, esse filme aparece como referência de seus trabalhos.  

Persona é como uma sinfonia, é mais para ser sentida e apreciada do que interpretada. Não há como transmitir todo o seu sentido em alguns parágrafos. É uma experiência visual e uma experiência subjetiva. Um quebra-cabeças entre o autêntico e o falso, entre o bem e o mal, entre o real e o imaginário. O diretor criou um insinuante jogo de facetas e talvez queira nos dizer que Persona seja, no final das contas, as máscaras que todos usam. O famoso ditado “Nós representamos duas comédias, uma perante os outros e outra perante nós mesmos” poderia ser adequado. Persona para uns é uma sessão de psicanálise, outros o considerarão um amontoado de símbolos aleatórios, lançados à tela ao acaso. Persona é sobre cinema, é sobre o âmago humano.


Trailer:


Curiosidades:

Segundo ele mesmo, Ingmar Bergman se apaixonou por Liv Ullmann durante a produção deste filme.

Este filme é considerado um filme pictórico radical. Tanto Ingmar Bergman quanto seu diretor de fotografia Sven Nykvist acharam que os planos intermediários eram chatos; Portanto, o filme consiste em alguns planos amplos, planos intermediários ocasionais e muitos close-ups longos e intensos.

Na primavera de 1965, Ingmar Bergman foi internado no Hospital Sophia, em Estocolmo, por pneumonia. Enquanto estava hospitalizado, criou o roteiro básico deste filme. Inspirado na peça de um ato "The Stronger" de August Strindberg, uma existência que consistia em pessoas mortas, paredes de tijolos e algumas árvores sombrias do parque; e concebida como uma sonata para dois instrumentos.

O garoto no necrotério está lendo "Um Herói do Nosso Tempo". Um romance russo de 1839.

A escritora Susan Sontag escreveu que considerava Persona o melhor filme já feito.

Foi escolhido pela revista Premiere como um dos "100 Filmes que Abalaram o Mundo" na edição de outubro de 1998. A lista classificou os "filmes mais ousados ​​já feitos".

No site oficial de Ingmar Bergman, o verbete deste filme afirma que, de todos os filmes de Bergman, Morangos Silvestres (1957) é o mais imitado, O Sétimo Selo (1957) é o mais parodiado e este filme é o que é mais frequentemente discutido e analisado.

Ingmar Bergman comentou que fazer este filme literalmente salvou sua vida. Ele também disse que foi o primeiro filme que fez em que não se importou se o resultado seria um sucesso comercial ou não.

A montadora do filme Ulla Ryghe, que trabalhou em todos os filmes de Ingmar Bergman entre Através de um Espelho (1961) e Vergonha (1968), falou sobre a cena em que, durante um momento particularmente intenso entre os dois personagens principais, o filme parece queimar no projetor, que essa ilusão foi produzida de forma tão realista que criou dificuldades nas primeiras exibições, pois os projecionistas presumiram que o próprio celulóide estava pegando fogo e paravam o filme. Para evitar isso, uma etiqueta vermelha especial teve que ser afixada nas latas dos filmes para alertar os projecionistas sobre o fato de que, embora o filme pareça estar queimando, na verdade não está.

A versão americana, lançada pela United Artists, omite um breve close da genitália masculina no pré-crédito do filme.

A vida de Elisabet é, de certo modo, a da personagem Electra (de Eurípedes) que ela encena, a tragédia da vingança e do ódio


Cartazes:





Filmografias Parciais:

Liv Ullmann:






Paraíso do Pecado (1959), Curto é o Verão (1962), Quando Duas Mulheres Pecam (1966); A Hora do Lobo (1968); Vergonha (1968); A Paixão de Ana (1969); Visitantes na Noite (1970), O Visitante Noturno (1971), Os Emigrantes (1971), O Preço do Triunfo (1972), Joana, a Mulher que Foi Papa (1972), Gritos e Sussurros (1972); Horizonte Perdido (1973);  40 Quilates (1973), Cenas de um Casamento (1974), A Abdicação de uma Rainha (1974), A Flauta Mágica (1975)Hannah, A Esposa Comprada (1974); Face a Face (1976); O Ovo da Serpente (1977); Uma Ponte Longe Demais (1977), Sonata de Outono (1978); Amor em Jogo (1979), Prisioneiro Sem Nome (1983), Pato Selvagem (1983), Fora de Controle (1984), Virando Adulto (1984), Tomara Que Seja Mulher (1986), Gaby - Uma História Verdadeira (1987); O Jardim das Rosas (1989), Ponto de Mutação (1990); Sarabanda (2003); Duas Vidas (2012).


Bibi Andersson (1935–2019)






Senhorita Júlia (1951); Sorrisos de uma Noite de Amor (1955); O Sétimo Selo (1957); Morangos Silvestres (1957); No Limiar da Vida (1958);  O Rosto (1958); O Olho do Diabo (1960); A Praça dos Homens Sem Alma (1961); A Amante Sueca (1962); Curto é o Verão (1962); Para Não Falar de Todas Essas Mulheres (1964); Duelo em Diablo Canyon (1966); Quando Duas Mulheres Pecam (1966); Você é a Favor ou Contra o Divórcio? (1966); Palmeiras Negras (1968); O Sádico de Alma Negra (1969); A Paixão de Ana (1969); Entre Duas Paixões (1970); A Hora do Amor (1971); Cenas de um Casamento Sueco (1974); Chove Sobre Santiago (1975); O Inimigo do Povo (1978); Aeroporto 79: O Concorde (1979); Entre a Vida e a Morte (1983); Pobre Mariposa (1986); A Festa de Babette (1987); Anna (2000); Arn: O Cavaleiro Templário (2007);  Arn: Riket vid vägens slut (2008); The Frost (2009)


Ingmar Bergman (1918-2007 - diretor):






Mônica e o Desejo (1953); O Sétimo Selo (1957); Morangos Silvestres (1957); A Fonte da Donzela (1960); Através de um Espelho (1961); Luz de Inverno (1963); O Silêncio (1963); Quando Duas Mulheres Pecam (1966); A Hora do Lobo (1968); Vergonha (1968); A Paixão de Ana (1969); Gritos e Sussurros (1972); Face a Face (1976); Ovo da Serpente (1977); Sonata de Outono (1978); Da Vida das Marionetes (1980); Fanny & Alexander (1982).


terça-feira, 19 de novembro de 2024

A BALADA DE NARAYAMA / NARAYAMA BUSHIKÔ / THE BALLAD OF NARAYAMA (1983) - JAPÃO


 UBASUTE  - A CULTURA DO ABANDONO

Em um vilarejo, no interior do Japão, no sopé do Monte Narayama, há uma comunidade sobrevivendo sob as leis da natureza. Quando alguém completa 70 anos, o costume, oriundo de tempos passados, impõe que esses idosos abandonem suas famílias e sejam guiados até um ponto da “montanha sagrada” para lá não mais retornarem, morrerem sozinhos, tudo em benefício da comunidade. Orin (Sumiko Sakamoto), com 69 anos, resignada, sabe que seu tempo está próximo. Ela começa a se preparar para a partida, ao contrário de seu vizinho Mata (Seiji Miyaguchi), já doente, e que protesta acintosamente contra o senicídio que seu filho lhe prepara ao lhe cortar sua comida, obrigando-o a vagar em busca de alimento. Orin vive com o filho viúvo e 4 netos. Ela deseja, antes de dar lugar aos mais jovens, num mundo desolado pela pobreza, ajeitar algumas coisas, como conseguir uma esposa para o seu filho Tatsuhei (Ken Ogata) e que esta possa tomar conta da casa. Surge Tama (Yuko Mochizuki), uma viúva de 40 anos.

A Balada de Narayama é baseado no romance “Narayama Bushikô” (1956) do autor japonês Shichirô Fukazawa (1914-1987). O filme conquistou a Palma de Ouro em Cannes de Melhor Filme diante de elogios e críticas, estes últimos acreditavam que “Furyo – Em Nome da Honra” era merecedor do prêmio. Foi a segunda versão do romance de Fukazawa, o primeiro data de 1958. O diretor Shôhei Imamura (1926-2006) tinha uma filmografia de respeito com filmes como “Black Rain: A Coragem de uma Raça” (1989), “Minha Vingança” (1979), “Desejo roubado” (1958), “Todos Porcos” (1961) e resolveu apresentar algo um pouco diferente: um filme singular em seu estilo. Sobre a vida, a morte, o bestial e o sagrado; delicado e um tanto teatral, quase uma poesia bucólica, uma fábula que oscila entre o bárbaro e lírico. Isso quer dizer que apesar de muitos críticos elogiarem a obra por seus atributos artísticos, uma boa parte do público pode não respaldar essa opinião, alguns até sentiram-se chocados com algumas partes. Imamura fez um filme de arte que suscita várias sensações e desconforto é uma delas.  A verdade é que o grande momento do filme acontece em sua meia hora final quando a peregrinação de Orin se inicia ao lado do filho Tatsuhei. Não há como ficar indiferente ou isento de reflexão quanto ao seu clímax.

A época provavelmente é século 19. O nome do vilarejo é Moko-Mura.  O arroz é artigo de luxo. A maior parte do solo é estéril. Alimentar uma boca improdutiva é desconsiderado, por isso idosos devem partir e recém-nascidos podem ser mortos ou vendidos em troca de alimento. Ali imperam as superstições (eles acreditam que na montanha habita um deus que cuidará dos idosos em sua “transição”) e costumes arraigados. Uma espécie de microcosmos da miséria humana. Neste local é vergonhoso um idoso (a) ter todos os dentes e Orin ainda os tem. Alguns cantarolam uma música sugerindo que ela manteve seus dentes por causa de um acordo com demônios. Nem todos sabem suas idades, mas há alguém que pela dentição pode definir. Orin se autoflagela e retira quatro dentes. Ela está pronta para ir de encontro ao seu destino e morrer em benefício da comunidade. É o chamado Ubasute (ritual na qual os mais jovens levam seus parentes idosos para um local isolado e os abandonam para perecerem em épocas de escassez extrema). Tatsuhe torce para que, na montanha, caia neve o que findará a vida de sua mãe de forma mais rápida e feliz. Uma comunidade que assassina de forma bárbara uma família inteira que desviava alimentos e os escondiam em casa. Seus alimentos serão confiscados e divididos pelos demais. Não há arrependimentos nestas atitudes. Em alguns momentos revelam-se mais ferozes que alguns animais que ali habitam.

Talvez pelo diretor ter dado mais tons de fábula do que narrativa, tenha tornado o filme mais suportável para o público, e talvez por isso o filme funcione. Imamura nos mostra uma natureza de forma onipresente em tela. Vemos as mudanças de estação: primavera, verão, as folhas vermelhas do outono e depois a neve nas encostas de Narayama. Se há uma forte conotação sobre morte, há também sobre a vida: os falcões em suas caças, insetos se reproduzindo e fecundando a terra, serpentes se entrelaçado em meio aos humanos. Não por acaso, essas cenas sobre a natureza, em alguns momentos, se mesclam com algumas cenas de sexo que a história apresenta.

Sumiko Sakamoto estava com 47 anos quando interpretou a septuagenária Orin. A atriz perdeu 15 quilos para a cenas de subida de montanha e arrancou os 4 dentes frontais  para dar veracidade a cena em que perde os dentes. Ken Ogata (1937-2008) interpretou Tatsuhei, um filho angustiado em levar a mãe à montanha, principalmente pelo fato de ela ser inflexível quanto a decisão. Ele a carrega nas costas e segue os ditos que regem esses costumes que lhe são passados, mas ele não está preparado para o que encontrará ao chegar no local. Algo que ele não falará para os demais, mais que ficará para sempre em sua memória. Ele sabe que em poucas décadas terá o mesmo destino. A cena do ator quebrando a unha foi real e acabou sendo incorporada ao filme. 

A Balada de Narayama é um filme de arte, por isso estreou a parte dos grandes circuitos, principalmente porque os distribuidores sempre preferiram filmes de grande apelo. Imamura nos faz refletir sobre o abandono, sobre desalentos, sobre pessoas que perdem suas dignidades e muitas vezes nem percebem, em prol da sobrevivência. O filme nos mostra de uma forma ora crua e ora poética que algumas pessoas se importam, ainda que se sintam impotentes por costumes medievais, enquanto outras desejam apenas “se livrar do problema”. Ainda que seja um filme dos anos 80 e sua ambientação seja de quase dois séculos atrás, é muito atual.


Trailer:



Curiosidades:

"Narayama" pode ser traduzido literalmente como "montanha de carvalho".



Cartazes:



Filmografias Parciais:

Sumiko Sakamoto (1936-2021)






O Silêncio não Tem Asas (1966), Introdução à Antropologia (1966), Às Vezes... Como uma Prostituta (1978), A Balada de Narayama (1983), Água Quente Sob uma Ponte Vermelha (2001)



Ken Ogata (1937-2008)






Os Últimos Samurais (1974), Castelo de Areia (1974), Minha Vingança (1979), Virus (1980), Aconteceu no Fim da Era Tokugawa (1981), Portal do Inferno (1981), A Balada de Narayama (1983), Gueixa (1983), Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos (1985), O Rufião (1987), Estrelas do Mar (1988), Zatoichi: A Escuridão é sua Aliada (1989), Minha Alma Foi Golpeada (1991), O Livro de Cabeceira (1995), A Vingança de Yakuza 2 (1996), A Neve que Cai (2001), 11 de Setembro (2002), Tempo Limite (2003), A Última Lua Minguante (2004), A Espada Oculta (2004), Uma Longa Caminhada (2006), Honra de Samurai (2006), O Confidente de Confiança (2007), A Maldição do Milênio (2008)

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

LAYLA M. (2016) - HOLANDA / BÉLGICA / ALEMANHA / JORDÂNIA


UMA JOVEM EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE

Layla Mourabit (Nora El Koussour) é uma impetuosa jovem muçulmana de origem holandesa-marroquina que vive em uma Amsterdã que não é tão aberta e acolhedora para com ela e com sua religião, como deveria ser, se confrontando com o racismo e xenofobismo casual diário quanto às suas convicções, além da própria zombaria dos amigos quanto às suas vestimentas, ao optar por usar o hijab completo ou rezar em sala de aula, o que a leva a um gradual afastamento. Em casa, o relacionamento da jovem começa a se deteriorar. Seus pais e irmão possuem uma vida adaptada ao país e desejam apenas que ela que ela estude bastante, fique longe de problemas e se torne uma médica. Ela vê certa apatia nesse comportamento e valores familiares em questões da qual ela considera serem de suma importância, como por exemplo as ameaças à liberdade religiosa, como a proibição da burca e o distanciamento da questão síria. Essas questões a fazem imergir cada vez mais no estudo do Alcorão  e nas práticas islâmicas.

O que sua família não percebe de imediato é que Layla é apaixonada por Abdel (Ilias Addab), um jihadista que incentiva algumas de suas crenças (mas que em alguns momentos permanece brevemente mudo, quanto a sua postura rebelde e questionadora, deixando apenas a jovem falar ou mudando de assunto) e o estudo do alcorão. E que eles já conversam e namoram secretamente no Skype. Quanto mais Layla se sente agredida em sua crença, mais ele sente conforto em sua fé. 

Layla se casa sem o conhecimento dos pais, abandona a escola e viaja com o marido para Amã, na Jordânia. Antes, porém, passam pela Bélgica e visitam um campo de treinamento jihadista. A jovem vê tudo com entusiasmo (um misto de rebeldia e idealismo do que acredita ser certo), principalmente por se mudar para um país na qual será reconhecida por seus pares e poderá praticar a fé de forma pura, livre e sem cerceamentos morais. Só que a constatação desse novo mundo não é o que Layla conjecturava: ela passa a ser excluída de todas decisões do marido e seu grupo, tem o seu comportamento insubmisso questionado por Abdel, um marido que se mostra dominador, e amigos que passam a vê-la como uma pessoa que deveria apenas ser uma esposa subserviente. Layla que desejava dar aulas, como uma atividade útil, descobre que mesmo uma saída à rua ou a ida à uma mesquita na esquina desacompanhada é altamente reprovável. Sua liberdade de ir e vir é cerceada, a misoginia é algo normal.  E o pior: Abdel está se envolvendo em uma missão fatal e ela não tem como demovê-lo de seu propósito, visto como um ato de profundo heroísmo por seu grupo radical.

Realizado em 2016 Layla M. (o sobrenome abreviado é uma estratégia da imprensa de alguns páises quando não se deseja revelar a identidade da pessoa). tenta abordar de uma forma bem leve e não menos interessante a islamofobia que atinge a Europa e a América. Layla se sente sufocada, sente que não há mais lugar para ela em uma Europa cada vez mais intolerante seja por gestos, palavras ou olhares. Mas há uma certa ingenuidade da personagem, uma adolescente com sonhos e incertezas do futuro como tantas outras, em acreditar que seu comportamento liberal em pensamento e forte personalidade serão recebidos de braços abertos em uma outra cultura da qual a mulher tem papel secundário. E há também a reflexão étnica e religiosa se a nossa sociedade ocidental tem uma visão muito preto e branco, clichê, da fé alheia. Layla tentou encontrar o seu caminho, e percebeu que estava em um beco sem saída. Ou uma saída da qual não imaginara ter que tomar. Layla, é na verdade, todas as jovens que sofrem preconceito por professarem sua fé em algum país que não o seu de origem ou vestirem-se de um modo diferente, sendo vítimas indiretas de um extremismo, da falta de empatia e da ignorância. E assim são julgadas. Sociedades com medo, que produzem ódio e intolerância que, por sua vez, acabam criando radicalismos dentro de sua própria terra. Um assunto que precisa passar por uma reflexão constante em um momento de vários conflitos simultâneos e deslocamentos de massa pelo globo. A diretora holandesa Mijke de Jong e seu marido, o roteirista Jan Eilander acertadamente optaram por colocar uma pitada de romantismo que floresce na relação entre Layla e Abdel.  Momentos de verdadeira alegria e cumplicidade, o que suavizou o filme e o retirou-o de um contexto puramente sobre um estudo de caso.

Nora El Koussour, aos 22 anos, em seu primeiro papel desempenhou-o de uma forma bem coesa, passando a intensidade que a personagem precisava, assim como Ilias Addab interpretando Abdel. A performance da dupla foi beneficiada pela boa direção e história que em nenhum momento se mostra apelativa.

Layla M. nos revela não ser apenas um filme sobre uma garota que se radicaliza, tenta nos mostrar que os muçulmanos são como todos nós: amam, sofrem, tem dúvidas, sonhos, alegrias, buscam sua própria identidade ...É um filme sobre uma jovem de mente independente que não se enquadra no perfil estereotipado de uma futura terrorista, mas que larga tudo e que, em algum momento, terá que pagar um preço de ter caído em meio a um fanatismo. O final do filme, provocativo, mantém o interesse e promove uma nova reflexão do estado das coisas.


Trailer:



Curiosidades:

A Netflix adquiriu os direitos internacionais do filme após o Festival Internacional de Cinema de Toronto no ano passado.

A música que Layla tocou no hotel se chama Ya Ghayeb, é uma canção de amor do artista libanês Fadl Shaker que em 2011 abandonou a música por motivos religiosos, se juntou a um grupo de milicianos sunitas radicais e cantou para o salafismo islâmico. Shaker agora está cumprindo pena de 15 anos com trabalhos forçados por sua participação em confrontos com o exército libanês (Fonte : IMDB).

Quando Layla e seu marido chegam ao que supostamente é Israel, é possível ver muitos veículos militares passando (especialmente Hummers). Todos eles são pintados em cor de areia. Os veículos militares israelenses são verde-oliva.


Cartazes:




domingo, 17 de novembro de 2024

TEMPO DE GLÓRIA / GLORY (1989) - ESTADOS UNIDOS

O PELOTÃO SUICIDA QUE MUDOU OS RUMOS DE UMA GUERRA

1862. Norte e Sul dos Estados Unidos estão em uma guerra interna. Robert Gould Shaw (Matthew Broderick) sobrevive a Batalha de Antietam, o mais sangrento da história americana. Ferido e desiludido volta para casa sendo promovido a Coronel aos 25 anos e convidado a liderar o recém-criado 54º Regimento Voluntário de Infantaria de Massachusetts, formado por voluntários afrodescendentes livres a enfrentar os escravagistas confederados sulistas, criado com intenções demagógicas pelos industriais e abolicionistas. Sua primeira batalha não será contra os confederados, mas dentro de seu próprio exército que se nega a dar armas e roupas (muitos soldados caminhavam descalços) e que paga um salário inferior. Shaw treina o regimento, mas seus compatriotas não acreditam que tenham sucesso em confrontos até que o momento decisivo chega e eles terão que provar o seu valor.

Lançado para comemorar o 125º aniversário do fim da Guerra Civil, Tempo de Gloria narra um episódio não ensinado nos bancos escolares sobre a Guerra de Secessão Americana (1861 a 1865), o primeiro batalhão afrodescendente de toda a história das forças armadas americanas. Baseado nos livros “Lay This Laure”, “One Gallant Rush” e nas cartas escritas por Shaw arquivadas em Harvard, muitos conheciam um pouco dessa guerra pelo filme “E O Vento Levou”.

Hollywood resolveu investir nos outrora protagonistas infanto-juvenis, migrando-os para filmes de grande porte dramático. Tom Cruise estava protagonizando “Nascido em 4 de Julho” (1989), Michael J. Fox estava em “Pecados de Guerra” (1989)... Agora chegara a hora de Broderick, que vinha de filmes como Jogos de Guerra (1983), “Ladyhawk – O Feitiço de Aquila” (1985) e “Curtindo a Vida Adoidado” (1986). O ator conseguiria se sustentar num papel mais maduro, o único dos três com um personagem de peso histórico? O ator tinha 26 anos quando se iniciaram as filmagens, mesma idade e os traços próximos ao de Shaw. A narrativa parte de seu personagem. É através dos olhos de Shaw que veremos as selvagerias das batalhas, os combates suicidas, as pilhagens feitas por seus pares, o racismo para com seus comandados, assim como ele verá um grupo solidário com senso de dignidade, solidariedade e autoconfiança e que terá uma gloria paga com muitas vidas.

As cenas de batalha são muito bem realizadas, com enormes pelotões de fuzilamento frente a frente o que justificava o grande número de baixas. Há quem possa achar insólito como alguns desses confrontos surgem na tela, mas eram reais: a infantaria normalmente ia à frente, o que consistia em marchar em direção ao inimigo segurando o fuzil com a baioneta armada, os que escapassem aos tiros de canhão e ao fuzilamento direto entravam em um mortal confronto corpo a corpo. E as botas não tinham pé esquerdo ou direito. Eram moldadas com o uso.

A abolição da escravatura americana em 1863, em meio à guerra, possibilitou a formação de um batalhão que é o mostrado no filme. Curiosamente também tivemos nossa guerra nesse período: A Guerra do Paraguai (1864 a 1870). Dom Pedro também teria pensado, dizem, na abolição ao ter os escravos lutando na Guerra do Paraguai, mas as pressões internas impediram tal ato, apenas declarou alforriados aqueles que lutaram na guerra. Em 1871 era criada a lei do ventre livre que, na pratica, não funcionava muito, pois estes só eram efetivamente livres após a maioridade (21 anos). A Lei Áurea (1888) resolveu este problema 17 anos depois. Já a Inglaterra havia abolido a escravatura em suas colônias em 1833.

O elenco foi muito bem escalado. Matthew Broderick sempre foi a primeira escolha, apesar que o diretor Edward Zwick (que vinha de “Sobre Ontem à Noite” (1986)) chegou a cogitar Tom Cruise e Timothy Hutton para o papel. Broderick, de certa forma, pareceu um pouco deslocado no papel talvez porque o filme não mostre a transição de um jovem introvertido, demonstrado em cartas, em um grande combatente ou porque os coadjuvantes foram melhor delineados.  Os líderes naturais, que surgem no batalhão, são interpretados por Trip (Denzel Washington) um escravo fugitivo, rebelde e que não vê a guerra como solução ao preconceito reinante. Papel que lhe rendeu o seu primeiro Oscar, ele já havia sido indicado por “Um Grito de Liberdade” (1987). Morgan Freeman interpretou John Rawlins, o coveiro que encontra Shaw ferido no campo de batalha e depois no regimento. Freeman seria indicado ao Oscar por “Conduzindo Miss Daisy” (1989). Andre Braugher,  como Thomas Searles, interpretou um intelectual e amigo de infância de Shaw que se alista e que descobrirá o seu papel no conflito. Cary Elwes interpretou o amigo de faculdade e braço direito de Shaw. Jihmi Kennedy interpretou o caipira com uma mira excelente, Jupiter Sharts. No restante do elenco há diversos rostos conhecidos. Podemos destacar: Jane Alexander, John Finn, Cliff De Young, Jay O. Sanders, Richard Riehle, Bob Gunton e Mark Margolis.

Orçado em US$ 18.000.000, com uma arrecadação mundial de US$ 26.979.166, Tempo de Glória conquistou três Oscars: som, fotografia (Freddie Francis) e Ator Coadjuvante. É um filme bem realizado, com batalhas bem montadas. Não explica muito porque uma história sobre afrodescentes tem sua narrtaiva centrada do ponto de vista de um oficial branco. A justificativa talvez tenha sido pelo apelo que Broderick traria nas bilheterias e Denzel e Freeman ainda não serem tão conhecidos quanto atualmente ou por ser um filme dos anos 80. Uma produção que narra uma missão suicida e um marco que ficou gravado na história americana.


 Trailer:



Curiosidades: 

Denzel Washington já foi indicado 10 vezes ao Oscar conquistando por duas vezes, neste filme e em Dia de Treinamento (2002).

Morgan Freeman já foi indicado 5 vezes ao Oscar conquistando uma vez pelo filme A Menina de Ouro (2005)

Edward Zwick  ganhou Oscar de melhor filme por Shakespeare Apaixonado (1999)

Alguns filmes do diretor Edward Zwick: Sobre Ontem à Noite (1986), Tempo de Glória (1989), Lendas da Paixão (1994), Coragem sob Fogo (1996), Nova York Sitiada (1998), Shakespeare Apaixonado (1999), O Último Samurai (2003), Diamante de Sangue (2006), Um Ato de Liberdade (2008), Amor e Outras Drogas (2010), O Dono do Jogo (2014), Jack Reacher: Sem Retorno (2016), Justiça Em Chamas (2018)

Edward Zwick afirmou que, para a cena do açoite, Denzel Washington foi chicoteado em contato total com um chicote especial que não cortava suas costas, mas ainda doía. Para a tomada final da cena, Zwick hesitou em gritar "Corta!" para sinalizar que o açoite parasse, e o resultado foi a lágrima espontânea de Washington descendo por sua bochecha.

Morgan Freeman usou sua experiência na Força Aérea para informar como os relacionamentos seriam formados na unidade. Freeman afirmou que ninguém se torna amigo rápido durante o treinamento, mas as parcerias são feitas de acordo com os pontos fortes.

Morgan Freeman fez todas as suas próprias cenas de ação

A maioria das cenas de Cary Elwes foram cortadas do filme.

Kevin Jarre se inspirou para escrever o roteiro quando encontrou um monumento a Robert Gould Shaw no Boston Common. O monumento é mostrado nos créditos finais.

A batalha inaugural do verdadeiro 54º Massachusetts foi em James Island, Carolina do Sul, em 16 de julho de 1863. A cena que descreve a batalha foi filmada no final de fevereiro de 1989, no acampamento de escoteiras em Rose Dhu Island, perto de Savannah, Geórgia. Nevou durante as filmagens, e aquecedores tiveram que ser trazidos para derreter a neve. Mais tarde, na cena "Christmas at Camp Readville", filmada em março de 1989 no antigo Train Roundhouse em Savannah, Geórgia, sopradores de neve foram trazidos para soprar gelo lascado no chão, para dar a aparência de neve de inverno.

Denzel Washington inicialmente se opôs a aparecer no filme até perceber que isso lhe daria uma chance de interpretar um personagem mais completo.

O enredo com os homens recusando seus contracheques é baseado em um evento real. O 54º, e seu regimento irmão, o 56º, tinham recebido a promessa de pagamento igual às tropas brancas, mas o governo federal tentou deduzir vários dólares por mês para provisões, que normalmente eram fornecidas gratuitamente às unidades brancas. Os soldados negros recusaram seu pagamento. O que não é mostrado é que o estado de Massachusetts votou para compensar a diferença no pagamento com fundos estaduais, mas os homens recusaram: era uma questão de honra para eles que o governo federal honrasse suas obrigações e os tratasse como tratava os soldados brancos.

Edward Zwick afirmou que a tensão dos atores durante a cena do açoite era real e palpável, já que todos estavam sobrecarregados e chateados por filmar o açoite de um homem negro no mesmo local em que açoites e linchamentos já haviam ocorrido na vida real.

De acordo com Edward Zwick , Matthew Broderick e Cary Elwes não se deram bem durante as filmagens.

Embora o regimento tenha conquistado glória eterna por atacar Fort Wagner, o 54º Massachusetts continuou a servir pelo restante da guerra. Na Batalha de Olustee, Flórida, membros do regimento empurraram um trem quebrado carregado com soldados feridos da União por 13 milhas com a ajuda de cavalos.

Shaw é mostrado cavalgando por postos de prática cortando melancias com sua espada. Embora espadas fossem comuns entre oficiais e cavalaria durante a Guerra Civil, elas raramente eram usadas como armas em combate, e teriam sido incômodas e até perigosas para a infantaria usar. A baioneta se tornou sua arma de lâmina mais praticável.

Robert Gould Shaw e Charles Fessenden Morse foram os únicos dois soldados cujos nomes reais foram usados ​​no filme. Morse, no entanto, não fazia parte do 54º Massachusetts na vida real. Cabot Forbes foi baseado em Edward Needles Hallowell, que liderou o 54º após a morte de Shaw.

O soldado não identificado do 10º Connecticut que se envolve nas provocações de Trip na cena da "luta do soldado", e aparece mais tarde gritando "dê-lhes o inferno, 54º!", é interpretado (sem créditos) pelo roteirista do filme Kevin Jarre. A cena fictícia de quase luta foi escrita para retratar com precisão que atitudes racistas em relação aos afrodescendentes também floresceram no norte.

Embora não seja mostrado no filme, Robert Gould Shaw se casou com Anna Kneeland Haggerty alguns meses antes do 54º Regimento de Massachusetts ser enviado para a Carolina do Sul. 

Muitas cenas/subtramas foram cortadas tanto da versão teatral quanto do DVD, incluindo Shaw e Cabot Forbes frequentando a escola juntos. Quase todas as cenas de Jane Alexander foram cortadas. A breve participação especial de Jane Alexander pretendia ser muito maior, como evidenciado pelos primeiros créditos do pôster e do trailer destacando seu nome.

Em seu livro de memórias de carreira "Hits, Flops, and Other Illusions", o diretor Edward Zwick cita Matthew Broderick como uma fonte de considerável frustração e raiva, embora ele relegue isso principalmente à pré e pós-produção e diga que era muito mais fácil trabalhar com Broderick no set (tensões com Cary Elwes à parte). Antes disso, no entanto, Broderick expressou infelicidade com o roteiro e ameaçou abandonar o filme algumas vezes. Em um ponto, ele pediu ao vencedor do Oscar Bo Goldman para reescrever; quando Goldman soube que esse pedido havia sido feito sem o conhecimento de Zwick, ele recusou.

Embora este seja o primeiro grande filme a reconhecer que os afrodescendentes tinham sua própria unidade na Guerra Civil Americana, o assunto já havia sido mencionado em outros filmes, como Shenandoah (1965).

O verdadeiro problema, acredita Zwick, era Patricia Broderick , que odiava o roteiro e, por meio de seu filho, forçou Zwick a uma longa e combativa reunião onde ela exigiu mudanças que enfatizassem Robert Gould Shaw e ignorassem os outros personagens. Isso incluía várias cenas que, na opinião de Zwick, eram historicamente precisas, mas não fizeram nada pelo filme, exceto desacelerá-lo. As cenas foram escritas e filmadas, mas ninguém ficou feliz com os resultados, levando-as a serem cortadas. Depois de assistir a uma exibição, Michael Ovitz contatou Zwick e exigiu que Broderick tivesse permissão para fazer seu próprio corte do filme. Zwick, cujo contrato lhe dava o corte final, recusou. Ele continua dizendo que Broderick já se desculpou e foi perdoado por seu comportamento.

Matthew Broderick e sua mãe/então empresária, Patricia Broderick , exigiram uma exibição prévia da primeira montagem de Ed Zwick (enquanto o diretor estava com o compositor trabalhando na trilha sonora). Zwick entregou pessoalmente uma cópia de seu corte bruto aos Brodericks. Patsy insistiu em um prólogo estendido (envolvendo o histórico do Coronel Robert Shaw); O diretor não os informou que já havia cortado sua introdução estendida para acomodar o tempo de execução do filme. De acordo com Ed Zwick, logo após essa exibição prévia, ele recebeu um telefonema do agente da CAA de Broderick, Michael Ovitz , exigindo que seu cliente tivesse permissão para recortar o filme ele mesmo. Zwick recusou o pedido deles, apontando para seu próprio acordo contratual de corte final.

No ataque ao Forte Wagner, quase metade do regimento foi morto, ferido ou capturado. Por sua bravura na batalha, o sargento William H. Carney se tornou o primeiro homem negro a ganhar a Medalha de Honra, a mais alta condecoração militar do país. Ela foi finalmente dada a ele 37 anos depois.

 

Cartaz: 












Filmografias Parciais:

Matthew Broderick







A Volta de Max Dugan (1983); Jogos de Guerra (1983); O Feitiço de Áquila (1985); Curtindo a Vida Adoidado (1986); Projeto Secreto - Macacos (1987); Metido em Encrencas (1988); Negócios de Família (1989); Tempo de Glória (1989); Um Novato na Máfia (1990); O Fantástico Mundo do Dr. Kellogg (1994); O Pentelho (1996); Godzilla (1998); Conte Comigo (2000); Um Natal Brilhante (2006); Roubo nas Alturas (2011); O Lado Americano (2016); The Gettysburg Address (2017); Look Away (2017); To Dust (2018); A Christmas Story Live! (2017); Ao Pó Voltará (2018); Amor Invisível (2019); Daybreak (seriado 2019); Painkiller (Minissérie 2022)

Denzel Washington






A História de um Soldado (1984);  Um Grito de Liberdade (1987); Tempo de Glória (1989); Sem Limite para Vingar (1991); Malcolm X (1992); Filadélfia (1993); O Dossiê Pelicano (1993); Maré Vermelha (1995); Assassino Virtual (1995); O Diabo Veste Azul (1995); Coragem sob Fogo (1996); Possuídos (1998); Nova York Sitiada (1998); O Colecionador de Ossos (1999); Hurricane, o Furacão (1999); Duelo de Titãs (2000); Dia de Treinamento (2001); Um Ato de Coragem (2002); Por um Triz (2003); Chamas da Vingança (2004); Sob o Domínio do Mal (2004); O Plano Perfeito (2006); Déjà Vu (2006); O Gângster (2007);  O Grande Debate (2007); O Sequestro do Metrô 123 (2009); O Livro de Eli (2010); Protegendo o Inimigo (2012); O Voo (2012); O Protetor (2014); Sete Homens e um Destino (2016); Um Limite Entre Nós (2016); O Protetor 2 (2018), Os Pequenos Vestígios (2021), A Tragédia de Macbeth (2021), O Protetor: Capítulo Final (2023), Gladiador II (2024)

Morgan Freeman 






O Homem do Prego (1964); Attica: A Rebelião Sangrenta (1980); Brubaker (1980); Meu Pai, Eterno Amigo (1984); Malandros de Rua (1987); Meu Mestre, Minha Vida (1989); Um Rosto sem Passado (1989); Conduzindo Miss Daisy (1989); Tempo de Glória (1989); Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões (1991); O Poder de um Jovem (1992); Os Imperdoáveis (1992); Um Sonho de Liberdade (1994); Epidemia (1995); Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) Reação em Cadeia (1996); Amistad  (1997); Impacto Profundo (1998); Sob Suspeita (2000); Na Teia de Aranha (2001); A Soma de Todos os Medos (2002); O Apanhador de Sonho (2003); Todo Poderoso (2003); Menina de Ouro (2004); Cão de Briga (2005); Edison, Poder e Corrupção (2005); Batman Begins (2005); Xeque-Mate (2006); O Contrato (2006); A Volta do Todo Poderoso (2007); Medo da Verdade (2007); Antes de Partir (2007); O Procurado (2008); Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008); Invictus (2009); RED: Aposentados e Perigosos (2010); Conan, o Bárbaro (2011 - narrador); Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012); Invasão a Casa Branca (2013); Truque de Mestre (2013);  Ted 2 (2015); Invasão a Londres (2016);  Truque de Mestre: O 2º Ato (2016); Ben-Hur (2016); Despedida em Grande Estilo (2017);  Alfa (2018); O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos (2018); Um Sonho Interrompido (2018), O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos (2018), A Rosa Venenosa (2019), Invasão ao Serviço Secreto (2019), Safe Airbags PSA: Epidemic (2020), Vigaristas em Hollywood (2020), Um Príncipe em Nova York 2 (2021), Conquista (2021), Sozinhos (minissérie 2021), Dupla Explosiva 2: E a Primeira-Dama do Crime (2021), Rodovia Paraíso (2022), Muti: Crime e Poder (2023), Uma Boa Pessoa (2023), 57 Segundos (2023), Operação Lioness (seriado 2023–2024 7 episódios) 

Andre Braugher (1962-2023)






Tempo de Glória (1989); As Duas Faces de Um Crime (1996); Homicide: Life on the Street  (seriado 1993 a 1998); Alta Frequência (2000); Hack (seriado 2002 a 2004); Poseidon (2006); Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (2007); O Nevoeiro (2007); O Apostador (2014); Lei & Desordem / Brooklyn Nine-Nine (seriado 2013 - 2020) 

 

Cary Elwes






Memórias de um Espião (1984), Uma Aventura em Oxford (1984), A Prometida (1985), Lady Jane: Uma História Verdadeira (1986), A Princesa Prometida (1987), Tempo de Glória (1989), Dias de Trovão (1990), Top Gang! Ases Muito Loucos (1991), Drácula de Bram Stoker (1992), Paixão sem Limite (1993), A Louca! Louca História de Robin Hood (1993), Rotação Máxima (1994), O Livro da Selva (1994), Twister (1996), O Mentiroso (1997), Beijos que matam (1997), Máquina de Guerra (1998), O Poder Vai Dançar (1999), A Sombra do Vampiro (2000), Correndo Contra o Tempo (2000), O Miado do Gato (2001), Insurreição (2001), Espero Que Você Morra (2001), Vilões por Acaso (2002), Jogos Mortais (2004), Crimes em Série (2004), Uma Garota Encantada (2004), Edison, Poder e Corrupção (2005), Ela é a Poderosa (2007), O Assassino do Alfabeto (2008), Os Fantasmas de Scrooge (2009), Pior Impossível (2010), Jogos Mortais: O Final (2010), Policial Sob Suspeita (2011), Sexo Sem Compromisso (2011), Sombras do Além (2011), João, Maria e a Bruxa Da Floresta Negra (2013), Insegurança (2013), Lute Por Sua Vida (2014), A Rainha da Espanha (2016), Aventura Perigosa (2016), À Beira do Abismo (2017), Não Durma (2017), O Clube dos Meninos Bilionários (2018), A Maldição do Teatro (2018), Natal Sangrento (2019), Rogai por Nós (2021), A Voz da Resistência (2021), Um Castelo para o Natal (2021), O Último Trem pro Natal (2021), Esquema de Risco: Operação Fortune (2023), Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte Um (2023), Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo (2023), Guerra Sem Regras (2024), Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes (2024)

 

Jihmi Kennedy






Cidade do Medo (1984), Fábrica de Loucuras (1986), O Mistério do Rosário Negro (1987), Cadeira Elétrica (1988), De Médico e Louco Todo Mundo Tem um Pouco (1989), Tempo de Glória (1989), The Lives of Angels (2007) 

Jane Alexander






A Grande Esperança Branca (1970);  Os Novos Centuriões (1972); Todos os Homens do Presidente (1976); Os Desalmados (1978); Kramer vs. Kramer (1979); Brubaker (1980); Amarga Sinfonia de Auschwitz (1980); Herança Nuclear ou Testamento (1983);  Cidade Ardente (1984); Ciranda de Ilusões (1987); Tempo de Glória (1989); Regras da Vida (1999); O Chamado (2002); A Pele (2006);  Alma Perdida (2009); O Exterminador do Futuro: A Salvação (2009); A Casa dos Sonhos (2011); O Último Amor de Mr. Morgan (2013); Lista Negra (seriado 2013-2014); The Good Wife (seriado 2011 -2015); Contos do Loop (seriado 2020 3 episódios), Três Cristos (2017)


John Finn






Nos Calcanhares da Máfia (1984), Comando do Inferno (1988), Um Tira Implacável (1988), Um Homem Chamado Falcão (1989), Tempo de Glória (1989), Um Tiro que Não deu Certo (1990), Minhas Ideias Assassinas (1990), Horas de Desespero (1990), Outubro Negro (1991), A Lente do Desejo (1991), Negócio Sujo (1992), Justiça das Ruas (1991), Justiça Implacável (1992), Cidadão Cohn (1992), Vencer ou Morrer (1993), Risco Total (1993), O Dossiê Pelicano (1993), O Pagamento Final (1993), Gerônimo: Uma Lenda Americana (1993), Segredos da Vida (1994), Contagem Regressiva (1994), Truman (1995), City Hall: Conspiração no Alto Escalão (1996), Turbulência (1997), Um Adolescente em Apuros (1997), Crime Verdadeiro (1999), O Dia Da Justiça (2000), A Máfia Volta ao Divã (2002), Prenda-Me se for Capaz (2002), Caçado (2003), Revelações (2003), Arquivo Morto (seriado 2003–2010), A Salva-vidas (2013), Um Laço de Amor (2017), Agentes Duplos (2018), Astra: Rumo às Estrelas (2019)

 

Cliff De Young






Um Dia de Sol (1973); Um Dia de Sol no Natal (1977); Vivendo na Corda Bamba (1978); Tratamento de Choque (1981); Fome de Viver (1983); Jovens sem Rumo (1984); Admiradora Secreta (1985); F/X: Assassinato sem Morte (1986); O Voo do Navegador (1986); Estado de Alerta (1987); Choque Mortal (1988); Momentos de Terror (1988); Tempo de Glória (1989); Quase sem Destino (1990); Horas Violentas (1992); RoboCop 4 (1994); Carnossauro 2 (1995); O Substituto (1996);  Jovens Bruxas (1996);O Último Homem do Planeta Terra (1999); Em Busca da Justiça (2000); Promessa de Amor (2004); 2012 - O Ano da Profecia (2008); Caminho para o Nada (2010); Livre (2014);  Reality Queen! (2020) 

 

 Jay O. Sanders

 






Caçada Impiedosa (1983); Tucker - Um Homem E Seu Sonho (1988); Tempo de Glória (1989); Bonita E Perigosa (1991); Sem Defesa (1991); JFK - A Pergunta que Não Quer Calar (1991); Daylight (1996); Na Teia de Aranha (2001); O Dia Depois de Amanhã (2004); Eu Odeio o Dia dos Namorados (2009); Lanterna Verde (2011), Pessoa de Interesse (seriado 2012–2014 - 9 pessoas), A Loss of Shadows (2017), The Sinner (seriado 2018 - 7 episódios), DC Noir (2019), Ponto Cego (seriado 2015–2020 - 11 episódios), Quando Você Terminar de Salvar o Mundo (2022), Um Lugar Para Voltar (2022), Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades (2022)

 

Richard Riehle






Chuva Negra (1989); Tempo de Glória (1989); Neblina e Sombras (1991); Herói por Acidente (1992); Corpo em Evidência (1993); Free Willy (1993); O Fugitivo (1993); Cassino (1995); Momento Crítico (1996); Estranha Obsessão (1996); 187: O Código (1987); Código Para o Inferno (1998); Gigolô Por Acidente (1999); O Homem da Terra (2007); Big Stan: Arrebentando na Prisão (2007); H2: Halloween 2 (2009; Transformers: A Era da Extinção (2014); Os 3 Cães Mosqueteiros (2014), Amnésia (2014), Larry Gaye: O Comissário de Bordo Renegado (2015), Muito Mais Que o Esperado (2015), Demência (2015), Meninas Brutais (2018), Pup Star: Feliz Natal (2018), Um Maluco no Natal (2018), O Último Homem (2018), Limbo: Entre o céu e o inferno (2019), Os 3 Infernais (2019), Muito Mais que o Esperado (2021), Segredos Não Podem Ser Enterrados (2021)

 

Mark Margolis (1939-2023)





The Other Side of Victory (1976), Vivendo com Estilo (1979), Vestida para Matar (1980), Natal Diabólico (1980), Arthur, o Milionário Sedutor (1981), A Vingança (1982), A Ira dos Anjos (1983), Caçada Impiedosa (1983), Scarface (1983), Cotton Club (1984), Uma Janela Suspeita (1987), O Segredo do Meu Sucesso (1987), Tempo de Glória (1989), Contos da Escuridão (1990), Comando Delta 2: Conexão Colômbia (1990), O Poço e o Pêndulo (1991), 1492: A Conquista do Paraíso (1992), Ace Ventura: Um Detetive Diferente (1994), Poder Absoluto (1997), Thomas Crown, a Arte do Crime (1999), Um Sinal de Esperança (1999), Fim dos Dias (1999), Ninguém é Perfeito (1999), Réquiem para um Sonho (2000), Hannibal (2001), O Alfaiate do Panamá (2001), Hardball - O Jogo da Vida (2001), Bridget (2002), Infested - A Invasão (2002), Oz (seriado 1997 - 10 episódios), Demolidor - O Homem sem Medo (2003), Reflexos da Amizade (2004), A Passagem (2005), Fonte da Vida (2006), A Garota da Casa ao Lado (2007), Medo da Verdade (2007), O Lutador (2008), Um Ato de Liberdade (2008), Cisne Negro (2010), Breaking Bad (seriado 2008 - 08 episódios), Imortais (2011), O Perigo Vem do Lago (2013), Noé (2014), Casamento Grego 2 (2016), Reencontrando o Amor (2016), O Despertar da Juventude (2020), Better Call Saul (seriado 2015 - 22 episódios)

Bob Gunton






Tempo de Glória (1989); Nascido em 4 de Julho (1989);JFK - A Pergunta que Não Quer Calar (1991); Jennifer 8 - A Próxima Vítima (1992); O Demolidor (1993); Um Sonho de Liberdade (1994); Eclipse Total (1995); A Última Ameaça (1996); Patch Adams: O Amor é Contagioso (1998); Gritos Mortais (2007); O Mafioso (2011); Argo (2012); Os 33 (2015); Demolidor (seriado 2015); Royal Pains (seriado 2010-2016); Mountain Top (2017);  Trial & Error  (2017);  Invencível: Caminho da Redenção (2018);  Ghostbusters: Mais Além (2021); Scarlett (2021)