quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O HOMEM DO PREGO / THE PAWBROKER (1964) - ESTADOS UNIDOS





UM SOCO NO ESTÔMAGO DO ESPECTADOR

Rod Steiger, em uma atuação magistral, é um Judeu chamado Sol Nazerman que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz. Vive num bairro pobre em Nova Iorque, possui uma loja de penhores, onde normalmente oferece valores abaixo aos bens penhorados por uma comunidade carente, desesperada e até mesmo marginal que vai até sua loja. Frio e insensível, em quase tudo que ocorre em sua vida, correlaciona aos horrores da guerra: um anel, uma mulher, borboletas, enfim, o cotidiano. 




Sol não consegue corresponder ao amor de uma mulher que se diz apaixonada. Não crê em Deus e nos homens, crê apenas no dinheiro. Acha que todas as pessoas são no fundo ruins, ou seja, tornou-se uma pessoa amargurada que perdeu as esperanças e sabe que ninguém pode lhe compreender. A vida lhe deu essa crença. Sua mente é sua própria prisão. Possui um assistente de loja que quer aprender como enriquecer, mas que planeja assaltá-lo. O diretor Sidney Lumet (de filmes como “12 Homens e uma Sentença”; “Um Dia de Cão” e “Rede de Intrigas”) fez um filme seco, forte em suas cenas, depressivo, cuja origem baseia-se no livro homônimo do escritor Edward Lewis Wallant. E foi o primeiro filme americano a abordar o tema do Holocausto do ponto de vista de um sobrevivente.

 
Brock Peters

Sol é um homem que viu o pior do ser humano e foi destruído com a  morte de sua família, a tortura de seu melhor amigo e o choque de presenciar o destino de sua esposa. Sua sobrevivência é apenas física, pois, psicologicamente, ele não sobreviveu ao campo. O diretor coloca em seu personagem uma síntese de muitos sobreviventes dos campos.



Muitos filmes mostram a dor física a que uma pessoa pode ser submetida, mas poucos conseguem mostrar a devastação da psiquê que essas pessoas sofreram. Refazer suas vidas, viver e sorrir para uma sociedade que nunca vai compreender, em sua totalidade, o que eles passaram, é a parte mais dolorida. Rod Steiger conseguiu uma atuação tão marcante que foi indicado ao Oscar de Melhor Ator. Não há como o espectador não ficar empático ao destino de Sol e até entender no que se tornou. E essa façanha credita-se ao ator.



A fotografia em preto e branco do diretor de fotografia  Boris Kaufman (1897–1980) (de “12 Homens e uma Sentença” e “Sindicato de Ladrões”) é o grande destaque: dá um tom frio, desolador e melancólico ao filme. Bem dentro do que o personagem se tornou. Ela alterna flashbacks da tragédia de Sol com a sociedade contemporânea em que vive, na qual não mais se encaixa.



Filme que alguns poderão considerar um pouco lento,  porém é cinema arte de profunda reflexão. Não é indicado para a geração Blockbuster e sim para as pessoas que querem assistir a um filme e terem uma boa conversa sobre como é o mundo e seus reflexos nas pessoas.


Trailer:






Curiosidades:
Boris Kaufman ganhou o Oscar de Melhor Fotografia por Sindicato de Ladrões (1954).

O diretor Sidney Lumet foi indicado 5 vezes ao Oscar.

Rod Steiger, ganhou o Urso de Berlin por sua atuação.

Depois que os cineastas apelaram ao conselho de apelações da MPAA para se opor à censura do filme, ele se tornou o primeiro filme dos EUA a mostrar uma mulher nua da cintura para cima e receber um selo de código de produção. Foi o primeiro de uma série de confrontos entre cineastas e a MPAA nos anos 1960 que levariam ao abandono do Código em cinco anos, em favor de um sistema de classificação.

O cenário de Richard Sylbert foi deliberadamente projetado para ser uma série de gaiolas – telas de arame, grades, fechaduras, alarmes, etc. – para simbolizar que, embora Sol não estivesse mais em um campo de concentração, ele ainda estava efetivamente aprisionado por suas memórias.

Estreia no cinema de Morgan Freeman.

Fortemente influenciado pela nova onda francesa de cinema. Sidney Lumet disse que se inspirou profundamente em dois filmes de Alain Resnais: Hiroshima, Meu Amor (1959) e Noite e Neblina (1956).

Thelma Oliver não percebeu até o início das filmagens que sua cena de nudez seria filmada com a intenção de ser vista (a nudez geralmente era feita por cima do ombro). Ela ficou muito chateada com isso, mas concordou em desnudar os seios, criando assim a história do cinema.


Stanley Kubrick, Karel Reisz e Franco Zeffirelli recusaram a oportunidade de dirigir. Kubrick não achou excitante, Zeffirelli estava ansioso para começar a dirigir filmes a partir de seu cenário de palco, mas sentiu que o material era muito sombrio para ele, e Reisz achou muito perto de casa, tendo perdido seus pais no Holocausto.

Selecionado para preservação no National Film Registry pela Biblioteca do Congresso em 2008.

Baruch Lumet (Mendel) foi o pai do diretor Sidney Lumet.


Rod Steiger ficou muito magoado por ter perdido o Oscar de Melhor Ator para Lee Marvin em Dívida de Sangue (1965) pelo que Steiger considerou uma performance cômica leve. Ainda assim, ele só teve que esperar mais dois anos para também ser o ganhador do Oscar de Melhor Ator, por sua atuação em No Calor da Noite (1967).

Uma das regras que a United Artists, que inicialmente flertava com o financiamento do filme, insistia era que não deveria haver representações abertas no filme do Holocausto, já que era um assunto tão deprimente. Ted Allan, que foi o primeiro contratado para escrever o roteiro, achou isso uma coisa difícil de contornar.

Uma das regras que a United Artists, que inicialmente flertava com o financiamento do filme, insistia era que não deveria haver representações abertas no filme do Holocausto, já que era um assunto tão deprimente. Ted Allan, que foi o primeiro contratado para escrever o roteiro, achou isso uma coisa difícil de contornar.

Sidney Lumet se aproximou de Laurence Olivier, Kirk Douglas e Burl Ives para interpretar o papel-título.

Como o filme era preto e branco, o sangue visto é na verdade calda de chocolate.

Por causa do assunto e da nudez, o filme teve grande dificuldade em conseguir um distribuidor.

Enquanto caminha pelas ruas de Nova York, Nazerman passa por um teatro anunciando "A Mulher que Pecou" (1962), filme que contou com o ator Brock Peters, que interpreta Rodriguez.

Groucho Marx foi considerado para o papel-título.

O principal produtor britânico Michael Balcon recusou o projeto por causa de seu tema do Holocausto, considerando-o veneno de bilheteria.

Em uma entrevista de 1999 com Robert Osborne, Rod Steiger disse que baseou o grito silencioso no final do filme nos rostos da obra-prima de Pablo Picasso, "Guernica".



Trilha Sonora:
I Don't Wanna Be a Loser - Lesley Gore
Soul Bossa Nova - Quincy Jones e Orchestra


Cartaz:






Filmografia Parcial:
Rod Steiger (1925–2002)










Sindicato de Ladrões (1954); A Trágica Farsa (1956); Al Capone (1959); O Mais Longo dos Dias (1962); O Homem do Prego (1964); Doutor Jivago (1965); No Calor da Noite (1967); Waterloo (1970); Quando Explode a Vingança (1971); Mussolini - Ascensão e Glória de um Ditador (1974); F.I.S.T. (1978); Horror em Amityville (1979); O Leão do Deserto (1980); A Outra Face (1984); Criação Monstruosa (1987); O Jogador (1992); O Especialista (1994); Hurricane: O Furacão (1999); O Fim dos Dias (1999); Corpo e Alma (2000); Uma Grande Jogada (2001) 



Brock Peters (1927–2005)










Carmen Jones (1954); A Mulher que Pecou (1962); O Sol É Para Todos (1962);O Homem do Prego (1964); Juramento de Vingança (1965); Aventura Submarina (1968); Os Quatro da Ave Maria (1968); No Mundo de 2020 (1973); Pânico na Multidão (1976); Ameaça no Supersônico (1977); A Incrível Jornada da Dra. Meg Laurel (1979); As Aventuras de Huckleberry Finn (1981); Jornada nas Estrelas IV - A Volta para Casa (1986); Alligator 2 - A Mutação (1991); Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida (1991); Fantasmas do Passado (1996). 

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