quarta-feira, 19 de outubro de 2016

MORANGOS SILVESTRES / SMULTRONSTÄLLET / WILD STRAWBERRIES (1957) - SUÉCIA






ENTRE O REAL E O ONÍRICO

Filme do genial diretor Ingmar Bergman contando a estória de Isak Borg (Victor Sjöström), um conceituado médico que receberá, em Estolcomo, um prêmio pelos seus 50 anos de profissão. Isak resolve viajar de carro, após um tenebroso sonho que o fez desistir de voar, sendo acompanhado por sua nora, Marianne (Ingrid Thulin). 


Durante o trajeto recebe a revelação de que Marianne não gosta dele, seu filho o odeia e seus amigos e parentes o consideram mesquinho e malvado com as pessoas que o cercam. Que tudo de ruim que possui, como frieza e distanciamento, encontram-se em seu filho que agora está em crise conjugal com a esposa. 


A dupla dá carona a três jovens, entre eles Sara (Bibi Andersson) que estão a caminho da Itália. Dividindo o mesmo carro, o idoso passa a repensar toda sua vida e comportamento. Através de alguns cochilos tirados durante a viagem, passa a relembrar sua juventude (Sara lembra um amor de outrora), o convívio com a sua família e o redescobrimento de sua vida perto da morte. Um homem preso em seu próprio mundo. Lírico e melancólico.


Obra prima cinematográfica em preto e branco, narrada de uma forma singela e poética. É um filme sobre a velhice, sobre a reflexão da proximidade do fim. Não há como não ficar com os olhos vidrados na tela para saber como Isak borg (que significa algo como “fortaleza de gelo”) lidará com todas as informações que receberá em seus sonhos (o relógio sem ponteiro é muito impactante), que indicam ao doutor que algo está mudando. Tudo isso em um único dia.


A atuação de Victor Sjöström foi perfeita. Mostra um ser humano que está fisiologicamente vivo, mas espiritualmente morto. A atriz Ingrid Thulin (Marianne) fez, igualmente, um excelente papel como a nora que, aos poucos, vai se afeiçoando por aquela pessoa que parece começar a conhecer. O trio de jovens serviu como o ponto de reflexão que Victor precisava. Vendo seus comportamentos ele reflete o seu passado e o futuro de sua nora com seu filho. E funcionou muito bem, pois o trio lança perguntas, cria situações e questiona dogmas que, de certa forma, estão diretamente ligados à situação. Vale destacar que Victor Sjöström foi um dos maiores cineastas suecos antes de Bergman e sua atuação no filme foi uma forma que o diretor encontrou de homenageá-lo.


Morango silvestres é considerado pelos críticos, com plena justiça,  como um dos melhores filmes de todos os tempos. Dependendo da faixa etária do espectador e / ou vivência, o filme pode passar a impressão de chato e cansativo. Para aqueles que gostam de filmes com uma reflexão profunda, de manifestação artística, sem a necessidade de se explicar tudo, este pode ser uma excelente indicação.



Trailer italiano:






Curiosidades:
As iniciais de Isak Borg são as mesmas do diretor Ingmar Bergman o que pode passar a idéia de que o filme pode ser uma alusão de como se veria na velhice, pois na época estava com 39 anos.

Victor Sjöström tinha a mesma idade de seu protagonista: 78 anos.

Ultimo filme de Victor Sjöström (1879–1960).

Ingrid Thulin (1926 - 2004) trabalhou em nove filmes do diretor.

Indicado na categoria de Melhor Roteiro. 

Max Von Sydow faz uma ponta na cena do posto de gasolina.

O título se refere aos morangos que eram colhidos na sua casa quando era criança.

Há uma frase muito interessante dentro do livro “1001 filmes antes de morrer” atribuída a Bergman em 2007: “Eu não tenho certeza se é sobre mim. Claro, eu estou presente, mas a base do caráter de Isak Bog é toda do meu pai”.

Ingmar Bergman descreveu na entrevista como teve a ideia enquanto dirigia de Estocolmo a Dalarna, parando em Uppsala, onde havia nascido e criado, e dirigindo em frente à antiga casa de sua avó, quando de repente começou a pensar em como isso seria se pudesse abrir a porta e lá dentro seria exatamente como fora durante sua infância. "Então me ocorreu - e se você pudesse fazer um filme sobre isso; que você simplesmente subisse de uma forma realista e abrisse uma porta, e então você entraria em sua infância, e então você abriria outra porta e voltaria à realidade, e aí você vira uma esquina e chega em algum outro período da sua existência, e tudo continua, vive. Essa foi mesmo a ideia por trás de Morangos Silvestres (1957) "

De acordo com o lançamento do DVD sueco (que contém uma entrevista introdutória com o próprio Bergman), Ingmar Bergman escreveu o filme com Victor Sjöström em mente. Ele e a produtora concordaram que não haveria filme sem Sjöström. Bergman não se atreveu a ligar para seu ídolo Sjöström para falar sobre o filme, então o chefe da produtora fez a ligação. Sjöström inicialmente relutou, devido à sua idade avançada, mas concordou em se encontrar com Bergman para discutir o filme. Então Bergman foi ao apartamento dele e falou sobre isso, Sjöström disse que vai pensar sobre isso. Na manhã seguinte, Sjöström ligou e concordou com a parte com uma condição: que pudesse voltar para casa e tomar seu grogue de uísque às 17h todos os dias.

O diretor de fotografia Gunnar Fischer diz que várias cenas tiveram que ser filmadas em ambientes fechados devido à saúde precária de Victor Sjöström. "Tivemos que fazer uma projeção traseira muito ruim no carro porque nunca sabíamos se Victor voltaria vivo no dia seguinte." No entanto, contanto que Victor estivesse em casa às 17:15. a cada dia, "e teve seu uísque pontualmente, tudo correu bem."

Ingmar Bergman escreveu o roteiro enquanto estava no hospital.

Em 1963, Stanley Kubrick listou Morangos Silvestres (1957) como seu segundo filme favorito.

Um dos 10 filmes favoritos do diretor soviético Andrei Tarkovsky.

Aparição final na tela de Victor Sjöström.

Embora Naima Wifstrand tenha interpretado a mãe de Victor Sjöström no filme, ela era onze anos mais jovem na vida real.

Selecionado pelo Vaticano na categoria "valores" de sua lista de 45 "grandes filmes".

Incluído entre os "1001 filmes que você deve ver antes de morrer", editado por Steven Schneider.

A banda canadense de rock alternativo Wild Strawberries tirou seu nome do título do filme.

Em 2004, a banda de rock Guided By Voices lançou a música Girls Of Wild Strawberries. Uma homenagem às atrizes deste filme.



Cartaz:


















Filmografia Parcial:
Ingrid Thulin (1926–2004)  









Ilha do Amor (1953); Tramas de Traição (1956); Morangos Silvestres (1957); No Limiar da Vida (1958); Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (1962); Luz de Inverno (1963); O Silêncio (1963); De Volta das Cinzas (1965); Jogos da Noite (1966); A Hora do Lobo (1968); Os Deuses Malditos (1969); Gritos e Sussurros (1972); Salão Kitty (1976)(1972); A Travessia de Cassandra (1976); A Casa do Sorriso (1991);

Bibi Andersson (1935–2019)






Senhorita Júlia (1951); Sorrisos de uma Noite de Amor (1955); O Sétimo Selo (1957); Morangos Silvestres (1957); No Limiar da Vida (1958);  O Rosto (1958); O Olho do Diabo (1960); A Praça dos Homens Sem Alma (1961); A Amante Sueca (1962); Curto é o Verão (1962); Para Não Falar de Todas Essas Mulheres (1964); Duelo em Diablo Canyon (1966); Quando Duas Mulheres Pecam (1966); Você é a Favor ou Contra o Divórcio? (1966); Palmeiras Negras (1968); O Sádico de Alma Negra (1969); A Paixão de Ana (1969); Entre Duas Paixões (1970); A Hora do Amor (1971); Cenas de um Casamento Sueco (1974); Chove Sobre Santiago (1975); O Inimigo do Povo (1978); Aeroporto 79: O Concorde (1979); Entre a Vida e a Morte (1983); Pobre mariposa (1986); A Festa de Babette (1987); Anna (2000); Arn: O Cavaleiro Templário (2007);  Arn: Riket vid vägens slut (2008); The Frost (2009)


Max von Sydow (1929 - 2020)









O Sétimo Selo (1957);  Morangos Silvestres (1957); No Limiar da Vida (1958); O Rosto (1958); A Fonte da Donzela (1960); Através de um Espelho (1961); Luz de Inverno (1963); A Maior História de Todos os Tempos (1965); A Morte Não Manda Aviso (1966); A Hora do Lobo (1968); Vergonha (1968); A Paixão de Ana (1969); O Exorcista (1973); Três Dias do Condor (1975); O Guerreiro do Futuro (1975); O Exorcista II - O Herege (1977); A Morte ao Vivo (1980); Flash Gordon (1980); Fuga Para a Vitória (1981); Conan, o Bárbaro (1982); 007 - Nunca Mais Outra Vez (1983); A Morte nos Sonhos (1984); Duna (1984); Hannah e Suas Irmãs (1986); Pelle, o Conquistador (1987);  Tempo de Despertar (1990); Um Beijo Antes de Morrer (1991); Europa (1991); Cidadão X (1995); O Juiz (1995); Amor Além da Vida (1998); Insônia (2001); Intacto (2001); O Escafandro e a Borboleta (2007);  A Hora do Rush 3 (2007); Solomon Kane - O Caçador de Demônios (2009);  Ilha do Medo (2010); Robin Hood (2010); Star Wars: O Despertar da Força (2015); Game of Thrones (seriado 2016) 




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