Layla Mourabit (Nora El Koussour) é uma
impetuosa jovem muçulmana de origem holandesa-marroquina que vive em uma Amsterdã
que não é tão aberta e acolhedora para com ela e com sua religião, como deveria ser, se
confrontando com o racismo e xenofobismo casual diário quanto às suas convicções, além da própria zombaria
dos amigos quanto às suas vestimentas, ao optar por usar o hijab completo ou
rezar em sala de aula, o que a leva a um gradual afastamento. Em casa, o relacionamento
da jovem começa a se deteriorar. Seus pais e irmão possuem uma vida adaptada ao
país e desejam apenas que ela que ela estude bastante, fique longe de problemas
e se torne uma médica. Ela vê certa apatia nesse comportamento e valores familiares
em questões da qual ela considera serem de suma importância, como por exemplo
as ameaças à liberdade religiosa, como a proibição da burca e o distanciamento
da questão síria. Essas questões a fazem imergir cada vez mais no estudo do Alcorão
e nas práticas islâmicas.
O que sua família não percebe de imediato é que Layla é apaixonada por Abdel (Ilias Addab), um jihadista que incentiva algumas de suas crenças (mas que em alguns momentos permanece brevemente mudo, quanto a sua postura rebelde e questionadora, deixando apenas a jovem falar ou mudando de assunto) e o estudo do alcorão. E que eles já conversam e namoram secretamente no Skype. Quanto mais Layla se sente agredida em sua crença, mais ele sente conforto em sua fé.
Layla se casa sem o conhecimento dos pais, abandona a escola e viaja com o marido para Amã, na Jordânia. Antes, porém, passam pela Bélgica e visitam um campo de treinamento jihadista. A jovem vê tudo com entusiasmo (um misto de rebeldia e idealismo do que acredita ser certo), principalmente por se mudar para um país na qual será reconhecida por seus pares e poderá praticar a fé de forma pura, livre e sem cerceamentos morais. Só que a constatação desse novo mundo não é o que Layla conjecturava: ela passa a ser excluída de todas decisões do marido e seu grupo, tem o seu comportamento insubmisso questionado por Abdel, um marido que se mostra dominador, e amigos que passam a vê-la como uma pessoa que deveria apenas ser uma esposa subserviente. Layla que desejava dar aulas, como uma atividade útil, descobre que mesmo uma saída à rua ou a ida à uma mesquita na esquina desacompanhada é altamente reprovável. Sua liberdade de ir e vir é cerceada, a misoginia é algo normal. E o pior: Abdel está se envolvendo em uma missão fatal e ela não tem como demovê-lo de seu propósito, visto como um ato de profundo heroísmo por seu grupo radical.
Realizado em 2016 Layla M. (o sobrenome abreviado é uma estratégia da imprensa de alguns páises quando não se deseja revelar a identidade da pessoa). tenta abordar de uma forma bem leve e não menos interessante a islamofobia que atinge a Europa e a América. Layla se sente sufocada, sente que não há mais lugar para ela em uma Europa cada vez mais intolerante seja por gestos, palavras ou olhares. Mas há uma certa ingenuidade da personagem, uma adolescente com sonhos e incertezas do futuro como tantas outras, em acreditar que seu comportamento liberal em pensamento e forte personalidade serão recebidos de braços abertos em uma outra cultura da qual a mulher tem papel secundário. E há também a reflexão étnica e religiosa se a nossa sociedade ocidental tem uma visão muito preto e branco, clichê, da fé alheia. Layla tentou encontrar o seu caminho, e percebeu que estava em um beco sem saída. Ou uma saída da qual não imaginara ter que tomar. Layla, é na verdade, todas as jovens que sofrem preconceito por professarem sua fé em algum país que não o seu de origem ou vestirem-se de um modo diferente, sendo vítimas indiretas de um extremismo, da falta de empatia e da ignorância. E assim são julgadas. Sociedades com medo, que produzem ódio e intolerância que, por sua vez, acabam criando radicalismos dentro de sua própria terra. Um assunto que precisa passar por uma reflexão constante em um momento de vários conflitos simultâneos e deslocamentos de massa pelo globo. A diretora holandesa Mijke de Jong e seu marido, o roteirista Jan Eilander acertadamente optaram por colocar uma pitada de romantismo que floresce na relação entre Layla e Abdel. Momentos de verdadeira alegria e cumplicidade, o que suavizou o filme e o retirou-o de um contexto puramente sobre um estudo de caso.
Nora El Koussour, aos 22 anos,
em seu primeiro papel desempenhou-o de uma forma bem coesa, passando a
intensidade que a personagem precisava, assim como Ilias Addab interpretando Abdel.
A performance da dupla foi beneficiada pela boa direção e história que em nenhum
momento se mostra apelativa.
Layla M. nos revela não ser apenas um filme sobre uma garota que se radicaliza, tenta nos mostrar que os muçulmanos são como todos nós: amam, sofrem, tem dúvidas, sonhos, alegrias, buscam sua própria identidade ...É um filme sobre uma jovem de mente independente que não se enquadra no perfil estereotipado de uma futura terrorista, mas que larga tudo e que, em algum momento, terá que pagar um preço de ter caído em meio a um fanatismo. O final do filme, provocativo, mantém o interesse e promove uma nova reflexão do estado das coisas.
Trailer:
Curiosidades:
A Netflix adquiriu os direitos internacionais do filme após o Festival Internacional de Cinema de Toronto no ano passado.
A música que Layla tocou no hotel se chama Ya Ghayeb, é uma canção de amor do artista libanês Fadl Shaker que em 2011 abandonou a música por motivos religiosos, se juntou a um grupo de milicianos sunitas radicais e cantou para o salafismo islâmico. Shaker agora está cumprindo pena de 15 anos com trabalhos forçados por sua participação em confrontos com o exército libanês (Fonte : IMDB).
Quando Layla e seu marido chegam ao que supostamente é Israel, é possível ver muitos veículos militares passando (especialmente Hummers). Todos eles são pintados em cor de areia. Os veículos militares israelenses são verde-oliva.
Cartazes:
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