sexta-feira, 23 de junho de 2017

KRAMER VS KRAMER (1979) - ESTADOS UNIDOS





TRAUMAS DO DIVÓRCIO

Ted Kramer (Dustin Hoffman) é um homem que dá mais atenção ao emprego do que à família. Certo dia, após 5 meses de trabalho árduo, recebe a notícia de sua promoção. Ao chegar em casa recebe outra notícia: sua esposa, Joanna (Meryl Streep), o está deixando, sem conversa e sem chance de reconciliação, apenas com a roupa do corpo. 


Ted é deixado com o filho, Billy (Justin Henry) de 5 anos e sente-se como uma pessoa em um navio à deriva, sem direção. De uma hora para outra tudo vira de cabeça para baixo. Como a esposa sempre cuidou do filho, começa a tentar suprir as necessidades de Billy que não entende o desaparecimento da mãe e quer um motivo. Motivo que Ted ainda não encontrou. 


Ted passa seus dias entre acordar, levar o filho à escola, ir para seu trabalho, voltar para pegar a criança, dá-lhe a janta e pô-lo na cama. O trabalho de Ted aos poucos começa a desmoronar, pois nesta empresa pais separados que cuidam de seus filhos não tem vez. Nitidamente percebe-se que a empresa só visa o lucro e seu superior imediato não quer saber dos problemas que Ted vem enfrentando na sua vida particular. Seu chefe passa a lhe dar vários avisos e demonstrar desinteresse quando Ted fala do filho. Aqui percebemos bem o âmago de certas pessoas: interessam-se somente por seus problemas e dinheiro no bolso. Qualquer situação que implique em perda de lucro é imediatamente rechaçada. Cumprindo seu papel de pai e tendo como única amiga no momento a sua vizinha Margaret (Jane Alexander), também separada e na mesma situação, Ted confidencia sua dúvidas e esperanças à sua nova amiga que outrora fora confidente de sua esposa. 



Após 18 meses, Joanna  reaparece informando que fora para outra cidade, teve consultas com um psicólogo e deseja a guarda de seu filho. Ted evoluiu como ser humano e assume a sua "mea culpa" pelo fracasso do casamento  percebendo que nunca dera ouvidos aos anseios da esposa e não era muito presente com o filho. Mas esses 18 meses foram suficientes para criar um laço com o filho, difícil agora de ser rompido, mesmo que ainda ame a ex-esposa.  Ao saber da notificação da guarda da criança, Ted recebe uma má notícia: é despedido da firma em que trabalha no pior momento possível, pois desempregado não poderá lutar pela guarda de seu filho. 


Drama setentista que gerou, na época, uma onda de discussões a respeito de guarda de paternidade e os impactos causados nos filhos com separações. O filme, apesar de algumas vezes apelar para o sentimentalismo, não se torna piegas. A direção segura do diretor Robert Benton extrai dos personagens principais ótimas atuações com a dose certa de sutileza. Difícil não tomar parte em um lado da questão em filmes do gênero, mas que nesse caso o roteiro tenta "equilibrar a balança" do poder concedendo para ambos suas razões, fazendo com que o público se divida entre a mãe que "abandonou" o filho para conseguir uma vida que considerava melhor e assim dividi-la com o filho ou o pai ausente que não dava atenção à esposa, mas que encontrou um modo de se recriar como ser humano e evoluiu o suficiente para poder ter a guarda do filho.


Essa questão dos traumas do divórcio, na época, deram ao filme 5 Oscars por conseguir transmitir de maneira tão perfeita um assunto tão delicado. Se hoje esse assunto não desperta mais interesse, antigamente divórcio era algo impensável, até na família brasileira. Mãe separada sofria diversas humilhações, assim como seus filhos, por parte de outros pais que achavam que uma família desestruturada não era apta a conviver com as "famílias de bem". 


A questão religiosa também era muito forte, principalmente em países cristãos e no filme, em determinado momento,  Joanna cita o "até que a morte nos separe" como um dogma religioso aprofundado em seu ser, levando-a à culpa por romper o laço sagrado do matrimônio. Cabe aqui ressaltar que a lei do divórcio só veio a ser sancionada, no Brasil, pelo presidente militar Ernesto Geisel, em 26 de dezembro de 1977. Logo, este filme estava no auge das discussões que se iniciavam a respeito do tema e quem viveu essa época sabe que o assunto foi parar nas novelas, programas de auditórios, séries e rádios. Muitas bobagens foram ditas na época como o fim da sociedade, a decadência moral, filhos rebeldes e sem futuro. 


Vendo hoje esse filme podemos comparar com certos assuntos que hoje mexem com a nossa sociedade  e causam tantas celeumas. Daqui a igual tempo (em torno de 30 anos) nossos assuntos cotidianos serão considerados velhos e ultrapassados. A sociedade sempre caminhará, se para bem ou mal não saberemos, mas muitas vezes, independerá de nós. Nós iremos e a evolução ou involução continuará.

Trailer:



Curiosidades:
O filme venceu cinco Oscars: Melhor Filme, Melhor Ator (Dustin Hoffman), Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep), Melhor Diretor (Robert Benton) e Melhor Roteiro Adaptado.

Justin Henry participou de poucos filmes e hoje trabalha no ramo de mídias digitais (concorreu ao Oscar de Melhor Coadjuvante por esta produção)

Dustin Hoffman viria a ganhar seu segundo Oscar em 1988, ao lado de Tom Cruise, no filme “Rain Man”, na qual fez o papel de um autista.

Mary Louise Streep é a recordista em indicações ao Oscar (20) e ganhou por três vezes:  Kramer vs. Kramer (1979), A Escolha de Sofia (1983) e a A Dama de Ferro (2011).

O diretor Robert Benton ganhou 3 Oscars por :   Kramer vs. Kramer (1979) - Melhor Roteiro e Direção ; Um Lugar no Coração (1984) - Melhor roteiro e foi  indicado por: Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas (1967); A Última Investigação (1977); O Indomável - Assim É Minha Vida (1994), como Melhor Roteiro e Um Lugar no Coração (1984), como Melhor Diretor

A atriz JoBeth Williams (no papel de Phyllis Bernard) já foi indicada ao Oscar por sua direção no curta On Hope (1994)

Jane Alexander  já foi indicada  4 vezes ao Oscar: A Grande Esperança Branca (1970); Todos os Homens do Presidente (1976); Kramer vs. Kramer (1979) e Herança Nuclear ou Testamento (1983)

Filmografia Parcial:
Dustin Hoffman

 









A Primeira Noite de um Homem (1967); Perdidos na Noite (1969); O Pequeno Grande Homem (1970); Papillon (1973); Todos os Homens do Presidente (1976); Maratona da Morte (1976); Liberdade Condicional (1978); Kramer vs. Kramer (1979); Tootsie (1982); Ishtar (1987); Rain Man (1988); Negócios de Família (1989); Dick Tracy (1990); Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991); Herói por Acidente (1992); Epidemia (1995); Sleepers - A Vingança Adormecida (1996); O Quarto Poder (1997); Esfera (1998); O Júri (2003); Entrando Numa Fria Maior Ainda (2004); Perfume: A História de um Assassino (2006); Tinha Que Ser Você (2008); Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família (2010).

Meryl Streep :
 

 






 


O Franco Atirador (1978); Kramer vs. Kramer (1979); A Mulher do Tenente Francês (1981); A Escolha de Sofia (1982); Amor à Primeira Vista (1984); Entre Dois Amores (1985); A Difícil Arte de Amar (1986); Ironweed (1987);Ela É o Diabo (1989); Lembranças de Hollywood (1990); Um Visto Para o Céu (1991); A Morte lhe Cai Bem (1992); A Casa dos Espíritos (1993); O Rio Selvagem (1994); As Horas (2002); O Diabo Veste Prada (2006); Mamma Mia! (2008); A Dama de Ferro (2011); O Doador de Memórias (2014); Florence: Quem é Essa Mulher? (2016); Mary Poppins Returns (2018). 

Jane Alexander:

 













A Grande Esperança Branca (1970);  Os Novos Centuriões (1972); Todos os Homens do Presidente (1976); Os Desalmados (1978); Kramer vs. Kramer (1979); Brubaker (1980); Amarga Sinfonia de Auschwitz (1980); Herança Nuclear ou Testamento (1983); Cidade Ardente (1984); Ciranda de Ilusões (1987); Tempo de Glória (1989); Regras da Vida (1999); O Chamado (2002); A Pele (2006); Alma Perdida (2009); O Exterminador do Futuro: A Salvação (2009); A Casa dos Sonhos (2011); O Último Amor de Mr. Morgan (2013); Lista Negra (seriado 2013-2014); The Good Wife (seriado 2011 -2015); Three Christs (2018).

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