sábado, 26 de setembro de 2015

A CASA DA NOITE ETERNA / THE LEGEND OF HELL HOUSE (1973) - REINO UNIDO



FANTASMAS VERSUS CIÊNCIA

Milionário idoso e moribundo compra uma mansão tida como a mais assustadora e enigmática da Inglaterra, onde ocorreram várias mortes. Seu morador teria sido uma pessoa horrenda, em modos e costumes, chamado Emeric Belasco (Michael Gough), cujo corpo nunca fora encontrado. Seu objetivo é descobrir se a casa realmente comporta fantasmas, o que evidenciaria uma nova vida após a morte. Para tanto oferece uma recompensa de 100.000 libras a três especialistas, que considera os melhores em suas áreas, para que fiquem na mansão durante sete dias e investiguem-na, independente do resultado. Dr. Barrett (Clive Revill), físico;  Florence Tanner (Pamela Franklin), uma médium capaz de comunicar-se com espíritos e Benjamin Franklin Fischer (Roddy McDowall), paranormal e único sobrevivente da última tentativa de decifrar os mistérios da casa, onde os pesquisadores foram mortos ou saíram loucos após a experiência. Dr Barret, acompanhado de sua esposa Ann (Gayle Hunnicutt), reluta em ter em sua companhia Tanner e Fisher, pois não acredita na habilidade de seus amigos tendo na física a resposta para todos os mistérios.  O quarteto entra na mansão e, aos poucos, cada um passa a ser afetado por fenômenos inexplicáveis que tentam feri-los de todas as formas.


O roteiro foi de Richard Matheson  (1926 - 2013),  autor de vários livros que se transformaram em filmes como: The Omega Men que foi levado às telas em “A Última Esperança da Terra” com Charlton Heston e “Eu Sou a Lenda” com Will Smith, além de  “Em Algum lugar do Passado”, Encurralado entre outros.  Aqui Matheson adaptou de seu livro, Hell House, que teria sido uma inspiração de suas conversas com o autodenominado mago inglês Aleister Crowley


A Casa da Noite Eterna possui uma direção muito inteligente de John Hough, que talvez tenha tido neste filme o seu melhor desempenho. Diretor de filmes como A Montanha Enfeitiçada (1975); Incubus (1982) e O Triunfo de um Homem Chamado Cavalo (1983), Hough  fez um filme nos moldes clássicos dos filmes de terror, com o uso contido de efeitos, evitando os clichês do gênero. A história é densa e, muitas vezes, brinca com o imaginário do espectador quando, ao invés de mostrar os fatos em flashbacks, apenas limita-se a narrá-los, deixando que cada um preencha as cenas em seu consciente.  A história narrada sobre o passado da casa é tão interessante que daria uma produção própria. Mas não pensem que não há bons truques e soluções visuais: a nevoa em torno da mansão, um gato preto que parece tomado por alguma força, copos e candelabros que voam, sombras que tomam vida, além de uma narração que mostra o dia e a hora dos acontecimentos, todos colaborando de forma eficaz para o clima denso da produção. A violência, muito presente nos filmes atuais, foi posta de lado. Apesar de ter estreado em nossos cinemas com censura de 18 anos e estreado na Tv para a faixa etária dos 14, atualmente, não pode ser considerado assustador, mas tem o climão envolvente, necessário aos apreciadores do gênero. 


Ciência versus espiritualidade entram em choque, incorporados nos personagens de Barret e Tanner e seus sistemas de crenças. Barret encara a situação mais como um confronto, onde ganhar de Tanner e provar a inexistência de espíritos é mais importante do que decifrar os mistérios da casa. Barret, cético por natureza, encara a casa como uma grande fonte de energia, concentrada, a disposição de pessoas dotadas de capacidades extra-sensoriais. Sua experiência em casos similares, onde obteve resultados através da ciência pura, o credenciou a estar ali. Tanner acredita em espíritos e acha engraçado que Barret tente resolver espiritualidade com ciência. No meio desta briga encontra-se Fisher que tenta apenas sobreviver, bloqueando suas habilidades. Como ele próprio diz: "não interagindo com que há na casa". Tanner passa a ser o grande alvo do oculto. Ela entra em contato com uma entidade que alega ser o filho de Belasco e que necessita de sua ajuda para libertar-se. Barret entende que Tanner se autoflagela e cria os efeitos. Fisher não sabe no que acreditar, mas tende para Tanner, a jovem médium, que sempre presencia os efeitos e chega a ser vítima de possessão. Nem a esposa de Barret escapa, passando a ter sonambulismos e atitudes indecorosas, fruto das antigas perversões ocorridas na casa. No fim, alguns espectadores poderão ficar divididos, pois a solução, de certa forma, é uma combinação dos esforços dos envolvidos e suas técnicas. Talvez o diretor não quisesse colocar um peso maior na balança da disputa homem versus ciência.



A trilha sonora de Delia Derbyshire e Brian Hodgson pode ser avaliada como um dos destaques. Foi uma das primeiras produções a utilizar música eletrônica associada às cenas com muito som e ruídos para o espectador ser captado pelo clima angustiante da trama. A dupla esteve atuante em produções da Tv como Dr Who.


O elenco fez toda a diferença. Começando por Roddy McDowall, imortalizado na franquia  O Planeta dos Macacos da década de 70, onde participou de todos os filmes, sempre por trás da máscara de um símio, ora Cornelius ora Cesar, além do seriado homônimo. Ficou conhecido por sua famosa interpretação como o apresentador de programas e caçador de vampiros, no sucesso da primeira versão “A Hora do Espanto”. O ator começa a ter maior destaque em cena a partir do quarto de final e sua participação será fundamental para a solução do enigma à cerca da “Mansão do Inferno”. Pamela Franklin (de Os Inocentes), aos 23 anos, uma atriz mais voltada para seriados, foi uma escolha mais do que acertada, pois sua atuação segura a tornou centro das atenções e fez o filme funcionar. Clive Revill com sua cara fechada o tempo todo e Gayle Hunnicutt, como sua bela esposa que foi para no meio do furação apesar do pedido do marido em não acompanha-lo desta vez , faz muito bem as cenas bem sutis de erotismo. Gayle também tem uma extensa filmografia junto a seriados


A Casa da Noite Eterna era um dos cult movies da galera notívaga das décadas de 80 e 90 que adoravam assisti-lo nas madrugadas da Globo, na sessão Calafrio da Tv Record (No Rio de Janeiro, canal 9) e na Rede Bandeirantes. Infelizmente o filme foi desaparecendo de nossas Tvs. Para aqueles que gostam de produções de terror antigas, este pode ser considerado um dos melhores exemplares: um ótimo roteiro, uma direção segura e atores talentosos.

Trailer (em inglês):





 
Curiosidades:
Michael Gough que faz uma rápida a aparição como Belasco é  mais conhecido do público por fazer o personagem Alfred, o mordomo de Batman, nos filmes dos diretores Tim Burton e Joel Schumacher.

O filme concorreu no Festival de Cinema Fantástico de Avoriaz (França) e no Saturn Awards (EUA).

O produtor James H. Nicholson (1916–1972) faleceu antes da conclusão do filme. Susan Hart que co-produziu era sua esposa e atriz de filmes e seriados.

O escritor Richard Matheson diminuiu a violência gráfica e as cenas sexuais mais intensas de seu romance para dar ao roteiro do filme uma atmosfera mais melancólica.

O romance original foi ambientado na Nova Inglaterra, com uma equipe americana de investigadores psíquicos. O enredo foi alterado para se adequar à produção do filme na Inglaterra, com atores britânicos interpretando os investigadores.

No início do filme, no quarto dela e do marido, Ann Barrett é vista segurando o romance "Educação Sentimental" do autor francês do século XIX Gustave Flaubert. O romance foi, sem dúvida, deliberadamente escolhido para ela segurar pelos cineastas, já que grande parte do romance é sobre paixão, sexo e desejo, fazendo com que se encaixe bem com a natureza altamente sexualizada e erótica de grande parte do filme. Também prenuncia suas cenas posteriores e sugere sua sexualidade reprimida.

O ator Michael Gough passou um tempo muito curto na produção, e é por isso que ele não é creditado. Além de sua curta aparição no final do filme, as únicas outras contribuições de Gough para o filme foram algumas linhas de diálogo gravadas.

Richard Matheson queria Richard Burton e Elizabeth Taylor para estrelar este filme.

Durante o auge do VHS, este filme foi considerado altamente colecionável.

Apesar dos personagens principais serem britânicos, na vida real Roddy McDowall foi o único membro do elenco que nasceu na Grã-Bretanha. Clive Revill era da Nova Zelândia, Pamela Franklin nasceu no Japão e Gayle Hunnicutt veio da América.

Cartaz:




 
Breve Filmografia:
Roddy McDowall (1928–1998):









A Força do Amor (1939); Como Era Verde o Meu Vale (1941); A Força do Coração (1943); As Chaves do Reino (1944); Macbeth - Reinado de Sangue (1948); Punhos da Liberdade (1952); A Teia de Renda Negra (1960); Cleópatra (1963); A Maior História de Todos os Tempos (1965); O Carrasco de Pedra (1967); O Planeta dos Macacos (1968); Fuga do Planeta dos Macacos (1971); A Conquista do Planeta dos Macacos (1972); O Destino do Poseidon (1972); A Batalha do Planeta dos Macacos (1973); A Casa da Noite Eterna (1973); Planeta dos Macacos (seriado 1974); Viagem Fantástica (seriado 1977);  Círculo de Ferro (1978); O Fabuloso Ladrão de Bagdá (1978); Assassinato num Dia de Sol (1982); Lendas do Macaco Dourado (seriado 1982 a 1983) Os Donos do Amanhã (1984); A Hora do Espanto (1985); Morte no Inverno (1987); Um Salto para a Felicidade (1987); A Hora do Espanto 2 (1988); Shakma: A Fúria Assassina (1990); Convite Para a Morte (1991); Confusão em Dobro (1992); As Areias do Tempo (1992; Reflexo do Demônio 2 (1994); Mistério no Fundo do Mar (1995); Ensina-me a Viver (1995); A Última Festa (1996); As Novas Aventuras de Mowgli (1997); Something to Believe In (1998); Loss of Faith (1998)

Clive Revill (1930):









O Pequeno Príncipe (1974); Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca (1980); As Duas Faces de Zorro (1981); Transformers - O Filme (1986 - voz); Sublime Loucura (1996); As Sandálias do Pescador (1968); Drácula - Morto Mas Feliz (1995);

Pamela Franklin









Os Inocentes (1961); Verdade Oculta (1964); As Novas Aventuras De Flipper (1964); Nas Garras do Ódio (1965); A Primavera de uma Solteirona (1969); As Aventuras de David Copperfield (1970); O Feiticeiro (1972); Meu Pai, Meu Amigo (1973); A Casa da Noite Eterna (1973); Escola de Meninas (1973);  A Fúria das Feras Atômicas (1976);


Gayle Hunnicutt








Os anjos Selvagens (1966); Uma Nova Cara no Inferno (1968); Detetive Marlowe em Ação (1969); Tortura de um Pesadelo (1970); A Máquina do Amor (1971); Scorpio (1973);  A Casa da Noite Eterna (1973); Sombras na Escada (1975); The Saint and the Brave Goose (1979); Ponto de Fusão, África (1980); O Rosto Milionário (1981); A Volta do Agente da U.N.C.L.E. (1983); O Alvo da Morte (1985); Pesadelo Cruel (1986); Silêncio Como Gelo (1989); É Difícil Ser Deus (1989); Dallas (1989 -1991)


Michael Gough (1916–2011) 








Mais Forte que o Amor (1948); Sarabanda (1948); Androcles e o Leão (1951); Entre a Espada e a Rosa (1953); O Grande Rebelde (1953); Ricardo III (1955); O Vampiro da Noite (1958); Horrores do Museu Negro (1959); A Solidão da Riqueza (1961); As Profecias do Dr. Terror (1965); A Maldição da Caveira (1965); Eles Vieram do Espaço Exterior (1967); Espetáculo de Sangue (1967); Laços Eternos (1968); A Maldição do Altar Escarlate (1968); Júlio César (1970); Trog, o Monstro da Caverna (1970); Henrique VIII e Suas Seis Esposas (1972); Hospital do Horror (1973); A Casa da Noite Eterna (1973); Galileu (1975); Meninos do Brasil (1978); Venom (1981); Inside the Third Reich (1982); Merlin e a Espada (1983); O Fiel Camareiro (1983); Top Secret!: Superconfidencial (1984); Entre Dois Amores (1985); Caravaggio (1985); Maschenka (1987); O Quarto Protocolo (1987); A Maldição dos Mortos-Vivos (1988); Batman (1989); O Jardim (1990); O Segredo de uma Sentença (1991); Batman: O Retorno (1992); A Época da Inocência (1993); Batman Eternamente (1995); The Haunting of Helen Walker (1995); Batman & Robin (1997); Um Caso de Amor (1988); O Jardim das Cerejeiras (1999); A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999); The Strange Case of Delfina Potocka: The Mystery of Chopin (1999)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre