quarta-feira, 5 de abril de 2017

OS INOCENTES / THE INNOCENTS (1961) - REINO UNIDO



AMBÍGUO

Srta Giddens (Debora Kerrr), em seu primeiro emprego, consegue o cargo de governanta para cuidar de dois sobrinhos órfãos de um milionário. O empregador é um bom vivant, cujo interesse é curtir a vida e ter uma pessoa que possa cuidar das crianças sem que seja importunado. Localizada em uma área afastada, a casa de campo passa um clima lúgubre. Flora e Miles se apresentam como crianças adoráveis, que cativam Giddens imediatamente. Com o passar dos dias, esta começa a perceber algo de estranho:  aquelas adoráveis crianças parecem tomadas por uma força sobrenatural.




Ao conversar com a administradora da mansão, Sra Grose, esta lhe confidencia  acontecimentos estranhos ocorridos antes de sua chegada: ali viviam a antiga governanta Jessel e o antigo jardineiro, Quint. Ambos morreram de uma forma pouco convencional. Giddens passa a desconfiar que há algo mais nessa estória, até que começa a presenciar vultos e aparições na casa.




Baseado no conto “The Turn of the Screw” (No Brasil: “A Outra Volta do Parafuso”), de Henry James, de 1898, “Os Inocentes” foi uma produção inglesa, co-escrita pelo renomado novelista Truman Capote, responsável pelos diálogos adicionais, e é apresentado como um terror sobrenatural. Aliado à fotografia em preto e branco de Freddie Francis, que se tornaria diretor de filmes de terror como As Profecias do Dr. Terror  e As Torturas do Dr. Diábolo, o filme cria uma atmosfera muito mais adequada, hoje, ao suspense, pois, na verdade, é uma produção que apresenta um terror sem sustos e se sustenta por sua excelente estória e atuação dos envolvidos.



Filmes antigos normalmente causam certa repulsa a determinados espectadores, que preferem ver algo mais novo e com efeitos especiais elaborados. “Os Inocentes” foi realizado numa época em que luzes, sombras e sons eram os principais efeitos. Essa produção, que ficou esquecida no tempo, é um ótimo passatempo a ser descoberto porque possui algo que a destaca: a ambiguidade.




O roteiro, muito bem elaborado, coloca o espectador frente a um dilema: estamos diante de um caso de possessão de almas inocentes corrompidas ou a preceptora, miss Giddens, está sofrendo de uma crescente paranoia? Essa guinada no filme, a partir da segunda metade do filme, é a cereja no bolo e suscita, até hoje, opiniões sobre o seu desfecho. Essa conclusão caberá, na verdade, a quem se dispor a assisti-lo. Cada frase, cada cena, tem sua função. Não há diálogos vazios para preencher o tempo. O filme vai sempre num fluxo crescente até sua conclusão. E aí vai um conselho: se não entender o final, volte às cenas iniciais. Pode ser de alguma ajuda.



O elenco é ótimo. Debora Kerr está perfeita como a mulher assustada, insegura e reprimida que acredita que os órfãos sofrem uma influência maligna. Megs Jenkins faz uma senhora Grose que presenciou coisas que considera horríveis do casal falecido, mas começa a divergir das opiniões de Giddens, deixando o espectador propositadamente confuso. Pamela Franklin, em sua estreia no cinema, nos apresenta uma Flora gentil e carente. Martin Stephens faz Miles, um garoto estranho e dissimulado. Curiosamente, desistiu da carreira em 1966, voltando-se para a arquitetura.




Em suma: “Os Inocentes” é um filme muito interessante, ambientado na era vitoriana (século XIX), com um terror psicológico de primeira. Passou na Tv Tupi nos anos 70, na Tv Bandeirantes nos anos 70 e 90 e na Globo nos anos 80. Depois, como muitas produções, desapareceu das programações. Vale a pena assistir a esse estilo de filme abandonado pelos atuais estúdios, em prol dos efeitos, onde até o final nada está definido.

Trailer:


Curiosidades:
Foi lançado um filme chamado “The Night Comers”, que por aqui recebeu o título de “Os que Chegam com a Noite” e relata os acontecimentos ocorridos entre Quint e Jessel na sombria mansão. Muitos não gostaram, pois se tentou explicar algo que muitos não viram necessidade. O filme teve o ator Marlon Brandon à frente do elenco e, como diretor, Michael Winner que ficou famoso por dirigir Charles Bronson nos três primeiros “Desejo e Matar”, além do filme “A Sentinela dos Malditos”.

No filme “O Chamado” (2002) há uma canção de fundo quase inaudível. É a canção que Flora canta e se chama "O Willow Waly". O áudio foi aproveitado deste filme.

Deborah Kerr foi indicada seis vezes ao Oscar:  Meu Filho (1949); A Um Passo da Eternidade (1953); O Rei e Eu (1956); O Céu é Testemunha (1957); Vidas Separadas (1958) e Peregrino da Esperança (1960). 

Em 1994 ganhou um Oscar pelo conjunto de sua obra. 

A atriz faleceu aos 86 anos por problemas decorrentes do Mal de Parkinson.

Foram filmadas  outras versões da estória como “The Turn of the Screw” de 1974 e 1999

O roteiro se baseou menos no livro e mais da adaptação da Broadway "The Innocents" (1950) de William Archibald's 

A canção do filme, "O Willow Waly", foi cantada por Isla Cameron.

Martin Scorsese (Cabo do Medo) incluiu o filme em sua lista dos 11 maiores filmes de horror de todos os tempos.

A cantora Kate Bush escreveu e  interpretou a música "The Infant Kiss" do álbum "Never for Ever (1980)", inspirada no filme. 




Filmografia Parcial:
Deborah Kerr (1921–2007)









O Castelo do Homem Sem Alma (1942); Narciso Negro (1947); Mercador de Ilusões (1947); Inverno D'Alma (1947); Meu Filho (1949); As Minas do Rei Salomão (1950); Quo Vadis (1951); O Prisioneiro de Zenda (1952); Júlio César (1953); A Rainha Virgem (1953); A Um Passo da Eternidade (1953); O Rei e Eu (1956); O Céu é Testemunha (1957); Tarde Demais para Esquecer (1957); Vidas Separadas (1958); Crepúsculo Vermelho (1959); A Tortura da Suspeita (1961); Os inocentes (1961); Casino Royale (1967); Movidos Pelo Ódio (1969) 


Pamela Franklin










Os Inocentes (1961); Verdade Oculta (1964); As Novas Aventuras De Flipper (1964); Nas Garras do Ódio (1965); A Primavera de uma Solteirona (1969); As Aventuras de David Copperfield (1970); O Feiticeiro (1972); Meu Pai, Meu Amigo (1973); A Casa da Noite Eterna (1973); Escola de Meninas (1973);  A Fúria das Feras Atômicas (1976);




2 comentários:

  1. Ah, o charme das obras em preto e branco... Nunca fui a fundo, mas acredito que Os Inocentes foi um dos primeiros filmes a colocar doces crianças como pano de fundo para algo mais assustador surpreendendo a plateia. As atuações (especialmente de Débora Kerr) estão à altura do que se espera de um grande suspense/horror pscológigo como esse. O sombreamento em algumas cenas dão o tom certo do mistério e o resultado é ótimo. Abraços e parabéns pela lembrança dessa quase esquecida pérola britânica.

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    1. Boa Noite Janerson. Infelizmente muitos filmes foram relegados ao esquecimento e poucas pessoas se interessam em buscar boas obras, numa época em que os roteiros e atuações eram o forte de uma produção e não "efeitos criativos" (em alguns casos) para esconder defeitos destas. Semente Maldita (1956), que já analisei por aqui, também utiliza, no caso, criança, para assustar plateias. O uso de luzes e sombras sempre trouxeram bons resultados nas mãos de hábeis diretores de fotografia. Um abraço e obrigado por comentar mais este post.

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