AMBÍGUO
Srta Giddens (Debora Kerrr), em seu primeiro emprego, consegue o cargo de
governanta para cuidar de dois sobrinhos órfãos de um milionário. O empregador
é um bom vivant, cujo interesse é curtir a vida e ter uma pessoa que possa
cuidar das crianças sem que seja importunado. Localizada em uma área afastada,
a casa de campo passa um clima lúgubre. Flora e Miles se apresentam como crianças
adoráveis, que cativam Giddens imediatamente. Com o passar dos dias, esta começa a
perceber algo de estranho: aquelas
adoráveis crianças parecem tomadas por uma força sobrenatural.
Ao conversar com a administradora da mansão, Sra Grose,
esta lhe confidencia acontecimentos estranhos
ocorridos antes de sua chegada: ali viviam a antiga governanta Jessel e o
antigo jardineiro, Quint. Ambos morreram de uma forma pouco convencional. Giddens
passa a desconfiar que há algo mais nessa estória, até que começa a presenciar
vultos e aparições na casa.
Baseado no conto “The Turn of the Screw” (No Brasil: “A Outra
Volta do Parafuso”), de Henry James, de 1898, “Os Inocentes” foi uma produção
inglesa, co-escrita pelo renomado novelista Truman Capote, responsável pelos
diálogos adicionais, e é apresentado como um terror sobrenatural. Aliado à
fotografia em preto e branco de Freddie Francis, que se tornaria diretor de
filmes de terror como As Profecias do Dr. Terror e As Torturas do Dr. Diábolo, o filme cria
uma atmosfera muito mais adequada, hoje, ao suspense, pois, na verdade, é uma
produção que apresenta um terror sem sustos e se sustenta por sua excelente
estória e atuação dos envolvidos.
Filmes antigos normalmente causam certa repulsa a
determinados espectadores, que preferem ver algo mais novo e com efeitos
especiais elaborados. “Os Inocentes” foi realizado numa época em que luzes,
sombras e sons eram os principais efeitos. Essa produção, que ficou esquecida
no tempo, é um ótimo passatempo a ser descoberto porque possui algo que a
destaca: a ambiguidade.
O roteiro, muito bem elaborado, coloca o espectador
frente a um dilema: estamos diante de um caso de possessão de almas inocentes corrompidas
ou a preceptora, miss Giddens, está sofrendo de uma crescente paranoia? Essa
guinada no filme, a partir da segunda metade do filme, é a cereja no bolo e suscita,
até hoje, opiniões sobre o seu desfecho. Essa conclusão caberá, na verdade, a
quem se dispor a assisti-lo. Cada frase, cada cena, tem sua função. Não há
diálogos vazios para preencher o tempo. O filme vai sempre num fluxo crescente
até sua conclusão. E aí vai um conselho: se não entender o final, volte às
cenas iniciais. Pode ser de alguma ajuda.
O elenco é ótimo. Debora Kerr está perfeita como a mulher
assustada, insegura e reprimida que acredita que os órfãos sofrem uma
influência maligna. Megs Jenkins faz uma senhora Grose que presenciou coisas
que considera horríveis do casal falecido, mas começa a divergir das opiniões
de Giddens, deixando o espectador propositadamente confuso. Pamela Franklin, em
sua estreia no cinema, nos apresenta uma Flora gentil e carente. Martin
Stephens faz Miles, um garoto estranho e dissimulado. Curiosamente, desistiu da
carreira em 1966, voltando-se para a arquitetura.
Em suma: “Os Inocentes” é um filme muito interessante, ambientado
na era vitoriana (século XIX), com um terror psicológico de primeira. Passou na
Tv Tupi nos anos 70, na Tv Bandeirantes nos anos 70 e 90 e na Globo nos anos
80. Depois, como muitas produções, desapareceu das programações. Vale a pena assistir
a esse estilo de filme abandonado pelos atuais estúdios, em prol dos efeitos,
onde até o final nada está definido.
Trailer:
Curiosidades:
Foi lançado um filme chamado “The Night Comers”, que por
aqui recebeu o título de “Os que Chegam com a Noite” e relata os acontecimentos
ocorridos entre Quint e Jessel na sombria mansão. Muitos não gostaram, pois se
tentou explicar algo que muitos não viram necessidade. O filme teve o ator
Marlon Brandon à frente do elenco e, como diretor, Michael Winner que ficou
famoso por dirigir Charles Bronson nos três primeiros “Desejo e Matar”, além do
filme “A Sentinela dos Malditos”.
No filme “O Chamado” (2002) há uma canção de fundo quase
inaudível. É a canção que Flora canta e se chama "O Willow Waly". O áudio foi aproveitado deste filme.
Deborah Kerr foi indicada seis vezes ao Oscar: Meu Filho (1949); A Um Passo da Eternidade (1953); O Rei e Eu (1956); O Céu é Testemunha (1957); Vidas Separadas (1958) e Peregrino da Esperança (1960).
Em 1994 ganhou um Oscar pelo conjunto de sua obra.
A atriz faleceu aos 86 anos por problemas decorrentes do Mal de Parkinson.
Deborah Kerr foi indicada seis vezes ao Oscar: Meu Filho (1949); A Um Passo da Eternidade (1953); O Rei e Eu (1956); O Céu é Testemunha (1957); Vidas Separadas (1958) e Peregrino da Esperança (1960).
Em 1994 ganhou um Oscar pelo conjunto de sua obra.
A atriz faleceu aos 86 anos por problemas decorrentes do Mal de Parkinson.
Foram filmadas outras versões da estória como “The Turn of the
Screw” de 1974 e 1999
O roteiro se baseou menos no livro e mais da adaptação da Broadway "The Innocents" (1950) de William Archibald's
A canção do filme, "O Willow Waly", foi cantada por Isla Cameron.
Martin Scorsese (Cabo do Medo) incluiu o filme em sua lista dos 11 maiores filmes de horror de todos os tempos.
A cantora Kate Bush escreveu e interpretou a música "The Infant Kiss" do álbum "Never for Ever (1980)", inspirada no filme.
Filmografia Parcial:
Deborah Kerr (1921–2007)
O
Castelo do Homem Sem Alma (1942); Narciso Negro (1947); Mercador de
Ilusões (1947); Inverno D'Alma (1947); Meu Filho (1949); As Minas do Rei
Salomão (1950); Quo Vadis (1951); O Prisioneiro de Zenda (1952); Júlio
César (1953); A Rainha Virgem (1953); A Um Passo da Eternidade (1953); O
Rei e Eu (1956); O Céu é Testemunha (1957); Tarde Demais para Esquecer
(1957); Vidas Separadas (1958); Crepúsculo Vermelho (1959); A Tortura da Suspeita (1961); Os inocentes (1961); Casino Royale (1967); Movidos Pelo Ódio (1969)
Pamela Franklin
Os Inocentes (1961); Verdade Oculta (1964); As Novas Aventuras De Flipper (1964); Nas Garras do Ódio (1965); A Primavera de uma Solteirona (1969); As Aventuras de David Copperfield (1970); O Feiticeiro (1972); Meu Pai, Meu Amigo (1973); A Casa da Noite Eterna (1973); Escola de Meninas (1973); A Fúria das Feras Atômicas (1976);
Ah, o charme das obras em preto e branco... Nunca fui a fundo, mas acredito que Os Inocentes foi um dos primeiros filmes a colocar doces crianças como pano de fundo para algo mais assustador surpreendendo a plateia. As atuações (especialmente de Débora Kerr) estão à altura do que se espera de um grande suspense/horror pscológigo como esse. O sombreamento em algumas cenas dão o tom certo do mistério e o resultado é ótimo. Abraços e parabéns pela lembrança dessa quase esquecida pérola britânica.
ResponderExcluirBoa Noite Janerson. Infelizmente muitos filmes foram relegados ao esquecimento e poucas pessoas se interessam em buscar boas obras, numa época em que os roteiros e atuações eram o forte de uma produção e não "efeitos criativos" (em alguns casos) para esconder defeitos destas. Semente Maldita (1956), que já analisei por aqui, também utiliza, no caso, criança, para assustar plateias. O uso de luzes e sombras sempre trouxeram bons resultados nas mãos de hábeis diretores de fotografia. Um abraço e obrigado por comentar mais este post.
Excluir