FICÇÃO APOCALÍPTICA ANOS 70
1975. Eclode uma
guerra biológica entre China e URSS que praticamente dizima a humanidade. Um
dos únicos sobreviventes se imunizou com um soro, por ele desenvolvido, antes de
sofrer um acidente de helicóptero. Seu nome: Robert Neville (Charlton Heston).
1977. Robert vive em Los
Angeles onde, durante o dia, dirige o seu carro e se abastece de suprimentos. A
noite é da “Família”, um grupo de sobreviventes mutantes, fotofóbicos,
liderados por Mathias (Anthony Zerbe), um ex-âncora de um programa de telejornalismo, que busca
tirar Neville de seu apartamento-fortaleza-laboratório a fim de levá-lo a
julgamento, pois o cientista representa um dos últimos vestígios de uma
sociedade científica destrutiva. Diariamente, Neville e Mathias travam um duro
combate na qual apenas um sobreviverá. Neville tenta localizar o esconderijo de
Mathias durante o dia e o líder da fanática seita, queima livros, destrói
máquinas e equipamentos científicos durante a noite, enquanto seu grupo tenta
atacar o cientista.
A maior parte das horas do dia de Neville é gasta também caçando implacavelmente os discípulos mutantes de Matthias. Só que o cientista aproveita para ir a uma loja de departamentos e se surpreende ao descobrir que não é o único ser humano “normal” vivo. Ao perseguir uma mulher chamada Lisa (Rosalind Cash), acaba parando em um dos esconderijos dos mutantes que o capturam. Mas, no último momento, Neville descobre que Lisa não está sozinha e que ainda há esperança para a humanidade
Esta não é a primeira adaptação do livro de Richard Matheson ("O Incrível Homem que Encolheu"; "Encurralado"; "Em Algum Lugar do Passado" ...), o primeiro foi “Mortos Que Matam” / “O Último Homem na Terra” (1964), uma coprodução ítalo-americana com Vincent Price como Robert Morgan (e não Robert Neville). Matheson ficou tão descontente com a versão "inepta" de sua história que usou o pseudônimo de "Logan Swanson" nos créditos do roteiro (mas, muitos, consideram a melhor de todas as adaptações). E, aqui, também não foi diferente. Matheson disse que a essência de seu livro também desaparecera neste exemplar. Heston se interessou pela historia quando se deparou com o livro “The Omega Man” enquanto filmava “A Marca da Maldade” (Touch of Evil) de Orson Wells. Já o diretor de Fotografia Russell Metty, havia trabalhado no mesmo filme e foi contratado. O uso do sutil Technicolor revela-se em cena. Heston cogitava também ter Orson como diretor, algo que agradava Matheson, mas Wells ficou preso ao filme “The Other Side of the Wind” (que só foi lançado em 2018, muito tempo após sua morte). O filme terminou nas mãos de Boris Sagal (1923–1981), um diretor mais voltado a seriados e telefilmes. Em 1957, a famosa “Hammer Films” adquiriu os direitos e pediu a Matheson (1926-2013) que escrevesse o roteiro. Infelizmente, quando o roteiro final foi submetido ao “British Board of Film Censors” eles não o aprovaram devido a algumas cenas violentas e sangrentas. O roteiro de Matheson, cujo filme se chamaria "The Night Creatures" foi descartado. A Hammer vendeu a propriedade para a Lippert Films, nos Estados Unidos, e Matheson voltou a se envolver. Até surgir a versão de 1964, tendo o roteiro rescrito por William P. Leicester que desagradou o escritor.
A destruição da terra ou o fim da humanidade, devido a explosões atômicas, invasões galácticas, colisões de asteroides, desenvolvimento de armas biológicas, sociedades distópicas, derretimento polar, cataclismos naturais ... figura com insistência no catálogo dos estúdios de Hollywood, nos últimos anos, inclusive, ganhado posição de destaque, sempre especulando sobre o futuro e fantasiando sobre o presente, mas poucos filmes conseguiram expressar um apocalipse nuclear, com tamanho impacto na tela, como “O Dia Seguinte” (The Day After).
Ao contrário do
livro, o filme centra mais aventura que na reflexão enquanto a segunda insere
timidamente corpo à primeira. E isso fez com que o filme ficasse sob fogo
pesado de Matheson e fãs de fantasia científica que ficaram indignados por se
desviarem da história original. Mas devemos considerar que, ao criarem essa
nova história, utilizando o tema original, a produção não realizou uma versão
desleixada ou inepta, devendo ser julgado e avaliado como um filme por si só e
não uma tentativa fracassada de levar às telas um clássico da literatura de
SciFi moderna, recheada por uma peça visualmente perturbadora e uma atmosfera
melancólica, existindo como um filme de ação de fantasia e quase que ignorando
uma análise do caráter pessoal do personagem, surgindo em poucos momentos, como
quando ele joga xadrez com um busto de Júlio César, o flashback de antes do
evento catastrófico e, posteriormente, quando se envolve emocionalmente com
Lisa (Rosalind). No final ambíguo, para uns impactante, para outros exagerado,
o por vezes solilóquio Neville é transformado em uma espécie de messias
abnegado, em uma parábola religiosa, deixando nítido, certos paralelismos, com
situações obscurantistas da época (como a negação à ciência) e, porque não, atuais. A destacar uma obvia e
corajosa mensagem antirracista, em uma época que os EUA ainda tinham fortes
problemas inter-raciais sociais, piores que os atuais.
Quanto ao elenco, Charlton Heston era um herói de ação e aventura dos anos 50 / 60. Vindo de filmes como "O Planeta dos Macacos", ainda faria outro filme no gênero ficção-científica: "No Mundo de 2020" (1973). Foi uma escolha acertada. Na parte feminina quem chegou perto de pegar o papel foi a atriz Judy Pace, então conhecida por seus papéis na tevê e em "Crow, o Magnífico" (1968) e "A Invasão das Rãs" (1972). No final, Heston e Seltzer decidiram por Rosalind Cash, então mais conhecida "Klute, O Passado Condena" (1971) e que se saiu bem no papel. Anthony Zerbe que fez vários vilões posteriormente, talvez seja lembrado por dois filmes que fizeram sucesso em VHS: "Onze para o Inferno" e "Crepúsculo de Aço". Paul Koslo (1944–2019) faz o jovem Dutch. Quem viu "Robojox" se lembrará do ator. E "Lincoln Kilpatrick" ( "A Fortaleza") faz Zachary, quase irreconhecível, sob a maquiagem.
A Última Esperança da Terra, para muitos, ganhou um status de cult, para outros, um bom filme com visual ultrapassado. É um filme que mantém o espectador preso do início ao fim, possuindo o mérito de apresentar uma montagem dinâmica em uma metragem de 90 minutos. Teve outras duas releituras em 2007 com os filmes "A Batalha dos Mortos", “Eu Sou a Lenda”.
Trailer:
Curiosidades:
Os escritores tiveram a ideia de transformar o interesse amoroso de Neville em uma mulher afro-americana. Embora uma relação inter-racial ainda fosse considerada controversa nos anos setenta, os escritores perceberam que num mundo onde a humanidade estava quase extinta, os poucos sobreviventes não se importariam mais com tais questões.
De acordo com as anotações do diário de Charlton Heston para a produção do filme, ele escreveu como estava começando a se cansar de papéis de "heróis de ação" neste ponto de sua carreira.
A produtora queria um local que parecesse uma área metropolitana abandonada, mas era muito caro para construir. O produtor dirigiu pelo centro de Los Angeles em um fim de semana e descobriu que não havia lojas abertas, então a maioria dos exteriores do filme foi filmado lá nos fins de semana.
Charlton Heston havia lido o romance original em um avião voltando para Los Angeles e estava muito interessado em uma adaptação moderna do livro. Ele desconhecia totalmente o fato de já ter sido transformado em filme anos antes como Mortos que Matam (1964), estrelado por Vincent Price.
Richard Matheson disse que A Última Esperança da Terra (1971) foi tão afastado de seu livro que nem o incomodou.
A cena com Robert Neville correndo pela rua gritando: "não há telefone tocando, caramba!" foi filmado no mesmo trecho da estrada de uma cena em Clube da Luta (1999) onde o Narrador coloca Marla Singer em um ônibus e a manda sair da cidade para sua própria segurança.
No filme, a praga que causa o fim do mundo foi desencadeada pela guerra bacteriológica como resultado de uma guerra de fronteira entre a China e a Rússia. De fato, a China e a Rússia tiveram algumas escaramuças de fronteira muito sérias durante 1969 que deixaram muitos líderes mundiais preocupados com a possibilidade de uma guerra total entre as superpotências comunistas.
Tim Burton disse que este é um de seus filmes favoritos, e o único filme que ele levaria com ele se estivesse preso em uma ilha deserta. Mais tarde, ele trabalhou com Heston em seu remake de Planeta dos Macacos.
No início do filme, Neville vê um calendário datado de março de 1975, então comenta que o cinema local está oferecendo Woodstock - 3 Dias de Paz, Amor e Música (1970) "pelo terceiro ano consecutivo". Isso indica que A Última Esperança da Terra (1971) se passa em 1977. (O próprio Neville menciona o 5 de agosto de 1977 ao gravar seu diário em áudio.)
Uma das 8 faixas que Neville toca em seu carro na sequência de abertura é claramente "Strangers In The Night" de Sinatra - mas presumivelmente devido a problemas de licenciamento, uma versão instrumental de "A Summer Place" é usada na trilha sonora.
Charlton Heston diz em sua biografia que o diretor Sagal perdeu a paciência muitas vezes no set com a equipe.
Charlton Heston quis Anthony Zerbe escalado para o filme, depois de tê-lor visto atuando no teatro.
Duas cenas foram deletadas antes do lançamento teatral do filme: Uma cena em que Lisa (Rosalind Cash) visita o túmulo de seus pais e ouve choro vindo de uma cripta próxima. Entrando na cripta, ela encontra um membro feminino da "Família" (Anna Aries) segurando seu bebê natimorto. Armada com uma metralhadora, Lisa pensa em matar a mãe, mas se vira e vai embora. Em outra cena deletada imediatamente a seguir, ela conta a Neville (Charlton Heston) sobre o incidente, ao que ele pergunta se ela "cuidou dela". Lisa diz a Neville que não poderia fazer isso... e revela que está grávida de seu filho.
Outra cena deletada apresenta a garotinha (Jill Giraldi), que traz flores e maçãs em uma sacola para o jardim do apartamento de Neville, e reza para que ele a proteja, e não deixe o "diabo levar sua alma".
A Warner Brothers originalmente queria a atriz Diahann Carroll para o papel de Lisa
Incluído na lista de 2001 do American Film Institute de 400 filmes indicados para os 100 filmes americanos mais emocionantes.
A arma principal de Neville durante o filme é uma submetralhadora Smith & Wesson M76, às vezes equipada com uma lanterna. Durante o primeiro ataque noturno da Família, Neville usa um fuzil automático Browning (BAR) com um alcance infravermelho. A submetralhadora Smith & Wesson M76 de 9 milímetros era uma versão americana atualizada da submetralhadora sueca K M45, a favorita de alguns soldados das Forças Especiais (Boinas Verdes) no Vietnã.
Charlton disse que sua co-estrela Rosalind Cash teve dificuldades em atuar com ele. Ele então tentou falar com ela bem baixinho e confessou que também teve dificuldades em interpretar Ben Hur.
Neville quase morre em um acidente de helicóptero. Ironicamente, o diretor Boris Sagal foi morto durante a produção da minissérie Terceira Guerra Mundial, quando bateu nas pás do rotor de cauda de um helicóptero.
Este foi o segundo filme que Charlton Heston e Anthony Zerbe estrelaram juntos.
Charlton Heston faleceu, aos 84 anos, de complicações do Alzeihmer.
Rosalind Cash faleceu, aos 56 anos, de câncer.
Lincoln Kilpatrick faleceu, aos 72 anos, em decorrência de Câncer de pulmão.
Paul Koslo faleceu, aos 74 anos, de Câncer de pâncreas.
Cartazes:
Filmografia Parcial:
Charlton Heston (1923–2008)
Julius Caesar (1950); O Maior Espetáculo da Terra (1952); As Aventuras de Búfalo Bill (1953); O Segredo dos Incas (1954); A Selva Nua (1954); Os Dez Mandamentos (1956); A Marca da Maldade (1958); Da Terra Nascem os Homens (1958); Ben-Hur (1959); A Maior História de Todos os Tempos (1965); Agonia e Êxtase (1965); O Senhor da Guerra (1965); ...E o Bravo Ficou Só (1967); O Planeta dos Macacos (1968): De Volta ao Planeta dos Macacos(1970); A Última Esperança da Terra (1971); À Sombra das Pirâmides (1972); No Mundo de 2020 (1973); Os Três Mosqueteiros (1973); Aeroporto 1975 (1974); Os Quatro Mosqueteiros: A Vingança de Milady (1974); Terremoto (1974); Pânico na Multidão (1976); S.O.S. - Submarino Nuclear (1978); A Montanha do Ouro (1982); Quanto Mais Idiota Melhor 2 (1993); Tombstone - A Justiça Está Chegando (1993); True Lies (1994); O Planeta dos Macacos (2001); Genghis Khan: The Story of a Lifetime (2010).
Rosalind Cash (1938–1995)
Klute, O Passado Condena (1971); A Última Esperança da Terra (1971); Os Novos Centuriões (1972); Aconteceu num Sábado (1974); Monstro sem Alma (1976); A Killing Affair (1977); Flashpoint (1979); Jim Jones: A Tragédia da Guyana (1980); O Homem com a Lente Mortal (1982); As Aventuras de Buckaroo Banzai (1984); Do Sussurro ao Grito (1987); Spa Diabólico (1988); A Marcha da Morte (1989); Contos Macabros (1995).
Anthony Zerbe
...E o Bravo Ficou Só (1967); A
Libertação de L. B. Jones (1970); A Última Esperança da Terra (1971);
Justiceiro Implacável (1975); A Encruzilhada do Amor (1980); Na Hora da Zona Morta (1983); Onze para o
Inferno (1986); Crepúsculo de Aço (1987); Cegos, Surdos e Loucos (1989); 007 -
Permissão para Matar (1989); Jornada nas Estrelas - Insurreição (1998); Matrix
Reloaded (2003); Matrix Revolutions (2003); Trapaça (2013).
Lincoln Kilpatrick (1932–2004)
Os Impiedosos (1968); Stiletto (1969); O
Estranho John Kane (1971); A Última Esperança da Terra (1971); No Mundo de
2020 (1973); Força Mortal (1983); Condenação do
Além (1987); Prova de Fogo (1988); A Fortaleza (1992); The Stoneman (2002)
Paul Koslo (1944–2019)
Os 5
Guerrilheiros (1970); Corrida Contra o Destino (1971); A Última Esperança
da Terra (1971); A Fuga dos Homens Pássaros (1971); A Máquina de Matar (1971);
Joe Kidd (1972); Quando o Ódio Explode (1973); Jogo Sujo (1973); Desafiando o
Assassino (1974); Duas Ovelhas Negras (1974); A Piscina Mortal (1975);
Justiceiro Implacável (1975); A Viagem dos Condenados (1976); Amor e Balas
(1979); Raízes II (minissérie 1979); Portal do Paraíso (1980); Kenny
Rogers as The Gambler: The Adventure Continues (1983); Os Aniquiladores (1985);
Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon (1988); Robojox: Os Gladiadores do Futuro
(1989); Solar Crisis (1990); Extro II - O Reencontro (1991); Projeto Mortal
(1992); Prisão do Inferno (1993); O Juízo Final (1996); Inferno (1999); Y.M.I.
(2004)
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