segunda-feira, 7 de setembro de 2015

DEPOIS DE MAIO / APRÉS MAI (2012) - FRANÇA



ANOS REBELDES

O ano é 1968, Gilles (Clément Métayer) é um adolescente de 17 anos numa França de regime conservador. O jovem divide seu tempo entre os estudos de arte, distribuição de panfletos de esquerda, atos rebeldes e o primeiro amor, ao lado de Laure (Carole Combes). Com a ida de Laure para a Inglaterra, que tem dúvidas sobre o relacionamento, Gilles conhece Christine (Laura Creton), uma jovem que, ao contrário de Laure, é uma ativista política com convicções do mundo que deseja revolucionar. Após uma ação malsucedida, que deixa um policial ferido gravemente, o grupo resolve dar uma pausa em seus atos e Gilles foge com Christine para Londres e depois Florença (Itália), onde trava contato com correntes da época: anarquismo, maoismo, contracultura  e a posição contrária a invasão dos Estados Unidos no conflito Vietnã . Tudo isso misturado à liberdade sexual, pacifismo e uma salada de ideias que leva o jovem a questionar-se sobre o seu futuro. Seu primeiro contato com pequenos curtas, direcionados a debates sobre a conjuntura social-econômica mundial, o faz refletir sobre entrar para o mundo do cinema. Ao reencontrar Laure, ele descobre que a jovem encontra-se em um mundo de hedonismo em que ele não se enquadra, enquanto Christine seguirá seu próprio caminho com suas ideologias. Resta a Gilles refletir sobre seu futuro: largar os atos revolucionários de seus pares, parar de pensar em mudar o mundo, arrumar uma profissão e, como diz, “amadurecer”. Só que esta decisão o encaixará em um mundo contrário ao que combatia: capitalismo, uma vida mais segura, constituir família e ter uma profissão que ama.



Contado do ponto de vista de Gilles, o cineasta Olivier Assayas revela ter se baseado em sua ótica daquele mundo quando tinha 13 anos. Uma época de profundas transformações, que repercutiu no mundo todo e que influenciou, de certa forma, o mundo como o vemos hoje.  Assayas preferiu não centrar sua visão em conflitos e ideologias políticas. Sua visão é da juventude, da época de uma geração que queria mudar o mundo sem saber como, de uma forma impensada, com ideologias florescendo  a todo momento. Uma visão poética de uma juventude que amou, lutou por uma sociedade alternativa, onde alguns a abandonaram por questões diversas. A história de Gilles é um desses, entre tantos, jovens que optou pelo que era realmente importante: sua vida. O abandono do “eu” em prol da “coletividade” ou o abandono da “coletividade” em prol do “eu”? Talvez a única maneira para Gilles encontrar-se nesse “admirável mundo novo”, do início dos anos 70, seja realizar sua própria revolução dentro da revolução que desejava.



Para os brasileiros que não conhecem os acontecimentos relativos a maio de 68, devo deixar algumas considerações: o governo de Charles De Gaulle se deparou com movimentos estudantis por reformas no sistema de ensino. O crescimento desse movimento alcançou as classes operárias, conduzindo a uma greve geral dos trabalhadores, que atingiu diretamente o governo provocando a renúncia, um ano depois, de De Gaulle. O filme mostra, logo no início, um confronto entre os estudantes e as forças do governo que pode ser uma alusão ao confronto de 6 de maio onde 2 mi estudantes, professores e simpatizantes confrontaram as forças policiais. Esses acontecimentos mudaram a França e tornaram-se um marco na história desse país.


"Depois de Maio" é um filme essencialmente de arte. Isto quer dizer que nem todos apreciarão a forma como a narrativa será conduzida. Ainda que o diretor tenha optado por dar um ritmo que cadenciasse os diálogos dos protagonistas com suas ideias, temores e desejos, não há como determinado público não achá-lo “arrastado”. Essa característica do filme é essencial para a condução da história, pois o ritmo do filme é ditado pela vida dos protagonistas. Há momentos “calmos” com diálogos, reflexões e casais namorando. Em outros momentos o ritmo acelera, como na vida de qualquer um. A diferença do cinema europeu é que não há uma necessidade de ditar ritmos acelerados para manter o espectador preso a poltrona, pois esse público está acostumado com produções mais centradas na história do que na ação. Com isso aqueles acostumados a produções com muita ação, efeitos e diálogos curtos poderão se desinteressar logo no início. Já aqueles que estão acostumados a produções reflexivas, poderão encontrar em "Depois de Maio" um filme delicioso que será mais fácil de ser compreendido, em sua totalidade, ao final da projeção, quando perceberemos claramente a transposição das ideias do diretor.


O elenco, quase em sua totalidade, é de jovens (os adultos aparecem como um complemento de interação à história) que executam muito bem aquilo que lhes foi proposto: o trio Clément Métayer, Carole Combes e Laura Creton são o fio da meada da história e o diretor Assayas conseguiu que todos os envolvidos tivessem sua relevância dentro do contexto. Destaque também para os atores Alain (Felix Armand) e sua paixão: uma jovem ruiva americana (India Salvor Menuez), que deseja aprender dança grega e, posteriormente, repensa seu futuro.

Vale a pena acentuar a bela fotografia do francês Éric Gautier ("Diários de Motocicleta" e "Na Natureza Selvagem") com belas imagens que nos remetem aos “anos dourados”. A trilha sonora também é de bom gosto com composições de: Tangerine Dream, Nick Drake; Johnny Flynn; Syd Barrett entre outros. 



"Depois de Maio" é direcionado aos espectadores que gostam do cinema europeu de arte. É um filme aparentemente lírico, mas de acordo com o andamento da história torna-se reflexivo. Uma demonstração (ou uma expiação do diretor) sobre jovens sonhadores e idealistas que apenas desejavam mudar o mundo.

 







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