terça-feira, 8 de setembro de 2015

O SOM AO REDOR / O SOM AO REDOR (2012) - BRASIL



O SOM AO REDOR. O SOM DO MUNDO

"O Som ao Redor" conta o cotidiano de um bairro de classe média de Recife. Dentro deste ambiente, visualizamos os moradores de uma determinada rua em seu dia-a-dia e que, após a chegada de um grupo local que vende segurança,  na forma de vigilância,  muda o cotidiano deste moradores.  O filme é dividido em três capítulos: "Cães de Guarda", "Guardas Noturnos" e "Guarda Costas" que interagem entre si, ou seja: a continuidade da história não é prejudicada, pois quase não há mudanças perceptíveis na narrativa, apresentando seus principais personagens inseridos nessa crônica das grandes cidades.

Bia (Maeve Jinkings), é uma dona de casa, mãe de dois filhos, que estudam inglês e mandarim. Compra drogas de um entregador de água local e sofre com os uivos e latidos de um cão que mora ao lado.  João (Gustavo Jahn) e Sofia (Irma Brown) tentam engatar um romance. Estão se conhecendo e aproveitando o momento, o famoso “que dure enquanto for eterno”. João é filho de Francisco (W. J. Solha), um poderoso e rico fazendeiro que vive em uma casa luxuosa. Seu poder se estende além do bairro e até mesmo os homens liderados por Clodoaldo (Irandhir Santos), que oferecem a segurança, tem que pedir seu consentimento para trabalhar no local (uma clara crítica ao regime  coronelista que ultrapassa a fronteira agrária e se estende às grandes cidades). Dinho, primo de João, é o bad boy do bairro, conhecido por furtos e que João suspeita ter arrombado o carro de Sofia levando o cd player. Esses personagens, aliados a outros, que interagem à trama, tornam o filme “O Som ao Redor” um filme muito interessante.

Com um investimento de 1,6 Milhões, o filme colheu ótimas críticas do New York Times que o colocou entre as dez melhores produções daquele ano. O diretor Kleber Mendonça Filho, que foi crítico de cinema do Jornal do Commercio de Pernambuco, também foi o responsável pelo roteiro e teve sua esposa, Emilie Lesclaux, como produtora. Kleber Mendonça, ao longo de 2 horas de filme, trabalhou com aspectos interessantes da sociedade brasileira, mas o seu mérito foi ter realizado um filme que pode ser perfeitamente adequado a qualquer país da América do Sul ou outros países socialmente equivalentes ao Brasil.

Essa dualidade da vida neurótica e caótica das cidades é expressa em vários exemplos, assim como a sociedade divida em classes. Podemos percebê-los na violência expressa no homem que arranha um carro; na mulher que apanha da vizinha; no tratamento de Francisco com seu empregados; no adolescente que furta no bairro, mas como é da Família do Sr Francisco, é considerado um "intocável". Com a chegada da milícia, algumas coisas mudam: Dinho recebe uma ameaça anônima avisando para não “aprontar”. Uma empregada se relaciona com Clodoaldo que aparenta ter sempre um ar de mistério em suas ações. A reunião dos condôminos para decidir se mandam embora, por justa causa, o zelador idoso que passou a dormir no serviço. Muitos ficam em dúvida, mas quando descobrem que sua demissão custará 16 mil, por ter trabalhado durante treze anos, as feições e comportamentos mudam, mesmo quando um dos condôminos cita que o valor do rateio será irrisório e que eles gastam muito mais em coisas supérfluas. Ironia e hipocrisia. Kleber Mendonça ainda remexe, levemente, na relação entre patrões ricos e empregados comparando-as, em certas situações, a um modelo de escravidão moderna.


Quanto ao elenco, o principal nome é Irandhir Santos que faz um homem que aparece misteriosamente no bairro. Trabalha sem muito alarde, apenas acompanhando o dia-a-dia dos moradores. Seu papel parece funcionar como um chamariz da produção, mas apenas parece. Outro destaque fica com a atriz Maeve Jinkings  e seu papel de Bia, uma personagem como tantas outras nesse mundo, mas atuação da atriz passa a ser um dos  pontos altos da produção. Destaques para W. J. Solha, ator, escritor e artista plástico na pele do “coronel” Francisco e Gustavo Jahn cujo ofício principal é na direção, mas que atuou no longa.

Com o título internacional de “Neighboring Sounds”, “O Som ao Redor” encanta aos estrangeiros, mas  para os brasileiros pode soar cotidiano demais, dentro da realidade diária. Talvez esse seja um dos trunfos do filme: o brasileiro já não se percebe no caos em que vive e o filme tende a descortinar a visão daqueles que o assistem,  podendo levar a alguma reflexão. O que é normal para nós, soa como absurdo para outros países


Filme brasileiro, independente, com bom roteiro e atuações. Como cereja do bolo, um final muito criativo que justifica a presença dos personagens e suas reais motivações.

 

Trailer:




Curiosidades:

- O filme foi rodado em 2010, estreou em 2012 no Festival de Roterdã e, no Brasil, em 2013.

- Foi escolhido como o representante do Oscar 2104, mas ficou fora da pré-seleção da academia.

- Kleber Mendonça escreveu o roteiro em 8 dias.

- A Film Comment (Pubicado pela  Film Society of Lincoln Center ) colocou o longa como um dos 20 melhores do ano.

 

Principais Prêmios:

Festival de Gramado 2012: Melhor  filme, som e crítica

Festival do Rio 2012: melhor filme

International Film Festival Rotterdam 2012: prêmio da crítica

Copenhagen International Film Festival2012: melhor filme

Associação de Críticos de Toronto 2013: melhor filme 


Filmografia Parcial:
Irandhir Santos:







Cinema, Aspirinas e Urubus (2005); Baixio das Bestas (2006); Olhos Azuis (2009); Besouro (2009); Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010); A Febre do Rato (2011); O Som ao Redor (2012); Ausência (2014); A Luneta do Tempo (2014); A História Da Eternidade (2014); Obra (2014); Aquarius (2016).


Maeve Jinkings  







Falsa Loura (2007); Boa Sorte, Meu Amor (2012); Era Uma Vez Eu, Verônica (2012); Boi Neon (2015); Aquarius (2016).


W.J. Solha







O Salário da Morte (1971); Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio (2002); Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio (2008); Era Uma Vez Eu, Verônica (2012)


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