Homem de outro
planeta cai na terra e com seu conhecimento cria uma empresa
gigantesca, de tecnologia avançada, que passa a ameaçar outras corporações,
chegando a incomodar a CIA. Ele fica nos bastidores e coloca um testa de ferro
à frente da companhia, o advogado de patentes Oliver Farnsworth (Buck
Henry). Este ser, autodenominado Thomas Jerome Newton (o cantor David Bowie),
tem como missão construir um foguete que o leve de volta ao lar,
levando água para a sobrevivência de sua família que vive um planeta desértico.
Mas, aos poucos, Jerome se acostuma com os hábitos humanos e começa a se
desviar de seus propósitos iniciais.
Filmado em 1975 no Novo México, ao custo na época de 1,5 milhões de dólares, O Homem que Caiu na Terra foi realizado numa das fases mais emblemáticas do cantor, que estava envolvido com álcool e drogas. O roteiro, baseado no livro “The Man Who Fell to Earth” de Walter Tevis, deixa muitas brechas soltas e cabe ao espectador tentar juntá-las como num quebra cabeças gigante. A condução não linear de Nicolas Roeg, que antes era operador de câmera (de filmes como “A Maior Aventura de Tarzan” de 1959), poderá deixar muitos espectadores confusos e alguns não conseguirão sequer terminar de ver o filme. A lentidão de algumas tomadas, os cortes abruptos, as mudanças de cenas para outros protagonistas, talvez tenha sido o maior problema deste filme, mas aqueles que perseverarem e assistirem as 2h15min de projeção poderão tirar suas próprias conclusões, visto que muitos críticos elogiaram a produção como inovadora e desafiadora.
A ideia central do O Homem Que Caiu na Terra é até muito interessante: quando pensamos que construirá seu foguete e retornará aos braços de sua família, nosso herói passa a viver o cotidiano do ser humano e cede às suas tentações. No início não sabemos de sua origem e causa certo espanto sua adoração por água. Posteriormente, começa a gostar de bebida alcoólica, em especial Gim, além de sua fixação pela televisão que em sua visão “não acrescenta em nada” a vida do ser humano, mas a hipnose que esta causa em Jerome é tão grande que, para entender a humanidade, será mais fácil compreendê-la pela tv, seja através de fatos documentários ou filmes, tudo de maneira simultânea, em 7 tvs. A forma como a história da família de Jerome é contada é pura criatividade: colocou-se a família andando num campo com trajes especiais. Pinturas de telas são mostradas, insinuando que a terra foi ficando árida e desértica (talvez pela decomposição da Camada de Ozônio). Algumas cenas mostram a família de Jerome assistindo programas da terra, provavelmente captada com diferenças de décadas, por isso muita coisa é conhecida sobre a terra, inclusive que o que move o mundo é o dinheiro.
Jerome não revela sua origem, diz-se britânico e possui um passaporte. Passa como milionário recluso e arruma uma companhia feminina, Mary-Lou (Candy Clark) que lhe mostra os prazeres mundanos da carne. O filme apresenta cenas de nudez dos atores, muito ousadas para a época, seja da dupla central ou do ator Rip Torn (Nathan Bryce), no papel do engenheiro responsável pela consecução do projeto de Jerome. O maior erro do alienígena é confiar no ser humano, que o trai e revela o seu segredo que havia confiado à apenas duas pessoas. Jerome é levado para um quarto dentro de um hotel e submetido a vários testes que nada detectam a respeito de sua origem. A única evidência que poderia provar sua diferença é através de suas lentes de contato que, inadvertidamente os médicos, ao submeterem Jerome ao aparelho de raios-x, prendem-se para sempre aos seus olhos. A conclusão é que ele apenas é um ser humano que possui uma anomalia. O problema é que esse tempo que transcorreu foi de anos e sua família não mais existe e Mary-Lo naturalmente envelheceu com o tempo.
Não há evidências, mas sugestões de que Jerome, de alguma forma,
conseguia transitar entre o tempo e o espaço, o que pode ser percebido nas cenas
em que está no carro e aparecem imagens dos antigos colonos americanos que se
surpreendem ao ver o veículo ou quando Jerome aparece para Nathan no cais e a
imagem muda instantaneamente para a cama ao lado de May- Lou.
Olhando de certa forma, parece um filme bastante interessante, visto que é uma crítica aos costumes sociais e ao caráter humano, mas a falta de uma narração, já citada, linear, comprometeu o filme, tornando mais fácil de ser compreendido após seu minuto final de projeção. Nesse momento o telespectador poderá pegar as partes essenciais, processar e chegar a diversas análises e conclusões.
A fotografia é o grande destaque do filme, com belas paisagens de cores vivas e agradáveis. O figurino é muito anos 70, com paletós e chapéus típicos da época o que envelheceu muito o filme. A vestimenta dos alienígenas em seu planeta natal ficou estranha e mostra que faltou dinheiro nesta produção, mesmo porque a casa dos seres chega a ser tosca. Quanto à terra, de efeitos especiais, somente a maquiagem de Bowie e o envelhecimento dos atores.
O elenco teve grande destaque para o lado bom e para o lado ruim. Bowie revelou, anos mais tarde, que atuou instintivamente, tentado compensar sua inexperiência, com uma atuação que julgava possível no momento. Rip Torn, talvez o mais conhecido depois de Bowie, teve boa atuação, mas na parte final pareceu perdido em meio a tantas falas estranhas. Candy Clark saiu-se muito bem dentro do que o papel lhe forneceram e foi muito ousada em suas cenas de nudez numa época em que a América ainda era muito puritana. O restante do elenco fez a sua parte. O lado ruim ficou com a família de Jerome que, muitas vezes, se moveu como bonecos saltitando nas pontas dos pés com gestos exagerados. A falta de diálogo nestas cenas parece remeter as atuações dos antigos filmes mudos. Outro fator curioso são os saltos no tempo do personagem que necessita de um espectador completamente imerso no filme para não se perder.
Trailer:
Curiosidades:
David Bowie (1947-2016) possuía uma anomalia chamada Anisocoria que consiste em
ter um dos olhos com a pupila de diâmetro desigual, parecendo ter olhos de
cores diferentes, resultado de um soco que recebera em uma briga na
adolescência. Muitos confundem com Heterocromia que seria um olho de cada cor
David Bowie faleceu de câncer em 10 de junho de 2016, aos 69 anos.
O produtor Michael Deeley esteve envolvido, posteriormente, na produção
de “Comboio” (1978); “O Franco Atirador” (1978) e “Blade Runner – O Caçador de Androides” (1982), entre outros
O produtor Barry Spikings foi produtor executivo em ”Comboio” (1978) e
co-produtor de “O Franco Atirador” (1978)
A música “Blue Bayou” foi Interpretada por Roy Orbison. Não há músicas de Bowie
no filme. A trilha sonora ainda tem: Steely Dan; Player; Louis Armstrong;
Bing Crosby entre outros.
O diretor Nicolas Roeg fez, entre outros: A Longa Caminhada (1971); Inverno de
Sangue em Veneza (1973) e Convenção das Bruxas (1990) e trabalhou como diretor
de fotografia em filmes como Fahrenheit 451 (1966)
Candy Clark seria indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante no filme
“Loucuras de Verão” ( American Graffiti) de 1979
Buck Henry foi co-roterista do filme “A Primeira Noite de um Homem’ (1967) e
roteirista de “Um Sonho Sem Limites” (1995, seus mais famosos.
Peter O’ Toole foi cogitado para o papel principal
Breve
filmografia:
David Bowie (1947–2016)
O Homem Que Caiu na Terra (1976); Fome de Viver (1983); Furyo, Em Nome da Honra (1983); Um Romance
Muito Perigoso (1985); Labirinto - A Magia do Tempo (1986); A Última Tentação
de Cristo (1988); Basquiat - Traços de Uma Vida (1996); Zoolander (2001); O
Grande Truque (2006); Reação Colateral (2008);
Rip Torn: (1931-2019)
Os Bravos Morrem de Pé (1959); O Rei dos Reis (1961); Coma (1978); Temporada Brilhante (1979) Relação Violentada (1980); O Príncipe Guerreiro (1982); Apertem os Cintos - o Piloto Sumiu! - 2ª Parte (1982); Cidade Ardente (1984); O Limite da Traição (1987); Nadine - Um Amor a Prova de Balas (1987); Um Visto Para o Céu (1991); RoboCop 3 (1993); MIB: Homens de Preto (1997); O Informante (1999); MIB - Homens de Preto II (2002); Reação Colateral (2008)
A História de James Dean (1976); O Homem Que Caiu na Terra (1976); American Graffiti – Loucuras de Verão (1979); Trovão Azul (1983); Amityville - A Casa do Medo (1983); Olhos de Gato (1985); Caminhos Violentos (1986); Buffy - A Caça-Vampiros (1992); Zodíaco (2007); Gravado em Meu Peito (2008), O Desinformante! (2009), Bob's New Suit (2011), Cold Moon (2016), Twin Peaks: O Retorno (seriado 2017 - 2 episódios)
Buck Henry (1930-2020)
Ardil 22 (1970); O Homem Que Caiu na Terra (1976); O Céu Pode Esperar
(1978); Ária (1987); Um Visto Para o Céu (1991); O Jogador (1992); Short Cuts -
Cenas da Vida (1993); Dois Velhos Rabugentos (1993)
Bernie Casey (1939-2017)
A Revolta dos Sete Homens (1969); Sexy e Marginal (1972); Os Demônios (1972);
Caçada em Atlanta (1981); 007 - Nunca Mais Outra Vez (1983); Os Espiões Que
Entraram Numa Fria (1985); As Amazonas na Lua (1987); Um Tira de Aluguel
(1987); Bill & Ted - Uma Aventura Fantástica (1989); 48 Horas - Parte 2
(1990); Correntes Alucinantes (1991);
Bom mesmo
ResponderExcluirObrigado pelo comentário Karim Antônio. O filme é muito interessante realmente. Esteja convidado a voltar sempre que desejar. Abs de Cinéfilos Para Sempre
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