REALIDADE SEM ENFEITES
Quem
assistir Johnny Mad Dog poderá ter várias impressões: brutal, cruel, atordoante,
realístico, triste, entre diversas outras. Johnny é um jovem soldado de aproximadamente
15 anos, cooptado aos 10 anos, para lutar na guerra civil de seu país (Libéria), no continente
africano. O jovem atua como “General” de um grupo próximo à sua idade, cujo
líder é “nunca morre", um homem que enfrenta as forças presidenciais e
se julga uma espécie de libertador do povo. Seus soldados matam, aterrorizam,
estupram e destroem o que vier pelo caminho.
Em
seu primeiro filme para a grande tela, Jean-Stéphane Sauvaire (que também co-assina
o roteiro) fez um filme inquietante, seco, recheado de referências que
tristemente prendem os espectadores frente à uma realidade ainda possível. Não há
como não ter aquela sensação de estarmos diante de um filme único, algo que há
muito tempo o cinema não produz.
Sauvaire
choca o espectador em vários momentos: um bando de “crianças” munidas de fuzis
dizimando pessoas que julgam apoiadoras do governo ou pessoas de origem éticas chamadas
de Dogo. As mortes chocam:
essas "crianças" matam crianças, matam velhos ou simplesmente atiram em direção a
uma pessoa qualquer na confusão. A pobre população não possui armas e fica impotente
diante de tamanha brutalidade.
O
filme não deixa claro quem está certo. Seriam Mad Dog e seu grupo, libertadores,
ou máquinas de manobras? Libertadores do quê?. O “coronel nunca morre"
fica praticamente nos bastidores. Incentiva sua “tropa” (Mad Dog é de uma delas) a se encherem de drogas e entoarem canções de guerra. Alega que seus
soldados não podem ser atingidos por balas, como fosse um feiticeiro tribal. Balas de
festim corroboram sua exibição e os "soldadinhos" vão à um guerra da qual não entendem e cuja a única
regra que conhecem é a violência brutal. Eles não são mais crianças em
espírito, apenas em aparências. São adultos em atitudes e crianças em discernimento”.
Aqueles
que assistiram produções como “Diamante de Sangue”, “Tiros em Rhuanda”, “Hotel
Rhuanda”, “Senhor das Armas” entre tantas produções podem ter uma certa familiarização
quanto a questão das guerras brutas recheadas de ódio racial, numa nação que
não consegue manter a paz por um longo tempo. Mas deixemos bem claro: Johnny Mad
Dog joga na cara no espectador a realidade, sem enfeites: feia, suja, absurda e
desesperançosa.
Referências
sarcásticas não faltam: um dos garotos acha uma Uzzi (de fabricação
israelense) e cita Chuck Norris no filme “Comando Delta”. Johnny usa colar que
julga protegê-lo de balas e um cordão com um crucifixo, que provavelmente nem
sabe o seu real significado. Pega uma bíblia e entende como um simples livro. Há uma criança do grupo de Johnny vestida de borboleta e outra com vestido de noiva (seria uma analogia à resquícios de inocência em meio ao caos ?). Johnny alega lutar há tanto tempo que não se lembra mais do nome verdadeiro A
ONU, uma força mantenedora da paz, é retratada como apenas um exército que faz
figuração, pois não impede os massacres.
Sua participação aqui é em defesa de um hospital (que seria uma zona neutra)
e em seu desfile de tanques. A trupe juvenil chega a intimidá-los na frente do
hospital, mas Johnny não é tão burro assim. Ele sabe o poderio daquela força
estrangeira no país. E enfrentar soldados treinados é bem diferente de
massacrar civis inocentes. Afinal essa neutralidade permite que ele siga em seu
caminho de sangue.
O
filme centra em "Johhny" (Christophe Minie); "Laokole" (Daisy Victoria Vandy), a jovem adolescente que tenta salvar o seu pai do ataque do grupo; “Mal Aviso”, um garoto extremamente violento; "Fatmata
/ Lovelita" (Careen Moore), uma Dogon cativa e "Nunca Morre" (Joseph Duo), o auto
intitulado "coronel" que usa crianças em sua guerra. Sauvaire dirige magnificamente
esses atores sem experiência, conseguindo colher atuações impressionantes, que
tornaram o filme o que ele é.
Johnny
Mad Dog não é um filme simples, não é um filme fácil de ser assistido, mas é
programa obrigatório para cinéfilos. O tipo de filme que, para muitos, ficará guardado
na memória por seu conteúdo impactante. Não é um filme fácil de ser encontrado,
mas que vale o tempo gasto.
Trailer:
Trailer:
Curiosidades:
Baseado no Livro "Johnny Chien Méchant", de 2002, do autor Emmanuel Dongala.
Alguns dos atores do elenco foram soldados na guerra da Liberia.
Filmado em Monrovia, maior cidade da Libéria.
A guerra civil na Libéria ocorreu entre 1989 e 2003, onde se perderam em torno de 250.000 vidas.
O ator Prince Kotie reclamou que, ao final das filmagens, os atores receberam torno de 450 euros. Esse valor era dez vezes o salário mínimo na Libéria.
Premiações:
Cannes Film Festival
Hamburg Film Festival
Skip City International D-Cinema Festival
Stockholm Film Festival
Hamburg Film Festival
Skip City International D-Cinema Festival
Stockholm Film Festival
Fontes:
The New York Times
The Guardian
The China Post
IMDB
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