quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O SÉTIMO SELO / DET SJUNDE INSEGLET / THE SEVENTH SEAL (1957) - SUÉCIA



A INEVITÁVEL CERTEZA DO FIM

Filme sueco, em preto e branco, de 1957. O Sétimo Selo (título tirado do Livro do Apocalipse) mostra, de uma forma peculiar, a volta de um cavaleiro das cruzadas, Antonius Block (Max Von Sydow), à sua terra natal onde se depara com o avanço da peste negra e toda a loucura da idade média européia. O filme narra a estória desse cavaleiro que, ao ter um encontro com a Morte (Bengt Ekerot), lhe propõe um acordo: se vencer será deixado em paz e lhe será revelado o conhecimento de tudo. Se perder aceitará seguir com ela. 




Enquanto o jogo se desenrola (as jogadas são feitas ao longo do filme, em encontros esporádicos entre os protagonistas) o cavaleiro e seu escudeiro vão conhecendo os personagens principais: Jof / Joseph (Nils Poppe) e Mia (Bibi Andersson) de uma caravana de saltimbancos (que mantém a alegria e esperança em meio ao caos); o ferreiro e sua mulher infiel; o ladrão que rouba dos mortos e uma moça sem rumo que passa a acompanhar o escudeiro que lhe salva de uma situação terrível. Neste contexto, o cavaleiro questiona a manipulação dos fiéis pela igreja, bem como, a existência de Deus e do Diabo. Há também o questionamento da vida e do pós-morte. O sentido da vida como um todo




Com uma narrativa densa e ótimos diálogos, o diretor Bergman nos mostra que, independente da época, o ser humano é "imortal em seus desejos e mortal em seus temores" (Pitágoras) e que sempre, num período conturbado, existirão aqueles que levantarão as questões da punição divina (aqui a Peste Negra, 1347 - 1351, que mais tarde descobriu-se ser transmitida por pulgas de ratos e classificada como Peste Bubônica. Há novas descobertas que contradizem esta teoria, mas não cabe aqui uma análise). Aliais Bergman sempre trouxe para seus filmes seus questionamentos. Em Morango Silvestres ele fez um ensaio sobre a velhice e os relacionamentos. Aqui são suas dúvidas acerca da existência de Deus e o confronto com a morte (que se veste de preto com a face branca). O diretor sempre dizia que a arte é a salvação, por isso o destino dos artistas circenses.
 


O conhecimento adquirido do cavaleiro ao longo dos anos (uma analogia a um soldado que volta da guerra), ao lado de seu  escudeiro (o ator Gunnar Björnstrand), mostram o homem frente à desilusão com a religião (a total falta de fé), com a vida e o afastamento das questões que a envolvem (seus anos nas cruzadas lhes mostraram o ser humano real). Seus olhos são frios, desesperançosos. Contemplam as calamidades com ares de sabedoria, compreendendo o que realmente se sucede e o que não é percebido pelos demais, atônitos o suficiente para não raciocinarem



A cada rodada com a morte, suas possibilidades vão diminuindo. Suas crenças passam a serem questionadas e a sua busca por Deus mais intensa e dolorosa. O Cavaleiro informa à Morte que só quer ter o conhecimento, quer entender o antes, o durante e o depois. Sentir a presença de Deus e ter o conforto da existência do paraíso.. 



Destaque para a atuação de Von Sydow, aqui com 28 anos, para a cena do saltimbanco, sendo obrigado a dançar e fazer imitações na taberna (que mostra que, mesmo diante do fim, o ser humano tem prazer de infligir sofrimento ao semelhante para esconder seu medo e fragilidade); o cavaleiro tentando contato com uma jovem que se diz possuída (na tentativa de descobrir se o diabo existe); o cavaleiro distraindo a morte (para salvar a vida de outros) e a cena final mostrando uma certa esperança.





Um filme que foi um marco durante muito tempo com uma composição de época primorosa. A utilização de contrastes de luzes e sombras também impressionam. Hoje, talvez seja considerado chato para aqueles que estão acostumados a arrasta quarteirões. É um filme de arte europeu. É um dos maiores filmes da cinematografia deste esplêndido cineasta. Visceral, marcante, único, poético, reflexivo, filosófico, simbólico... Para aqueles que gostam de assistir e depois discutir seus pontos. 



Trailer: 




Curiosidades:

Primeiro Selo - Conquista mundial, Cavalo branco;
Segundo Selo - Conflito e guerra, Cavalo vermelho;
Terceiro Selo - Fome e escassez, Cavalo preto;
Quarto Selo - Morte, Cavalo Amarelo;
Quinto Selo - Visão do martírio, ou mártires;
Sexto Selo - Perturbações “cósmicas” ou sinais do céu, e a marcação dos 144 mil;
Sétimo Selo - Soar das sete trombetas dos sete anjos e o Juízo Final. 

O filme só foi exibido comercialmente no Brasil em 1974, 17 anos após o seu lançamento. 

Bergman criou o filme a partir de pinturas em  igrejas medievais suecas, que vislumbrava quando seu o pai o levava em visita.

Gunnar Fisher, diretor de fotografia, também trabalhou em Morangos Silvestres.

Ingmar Bergman creditou ao filme por ajudá-lo a superar seu medo paralisante da morte. Como o filme tratava abertamente do assunto, ele o considerou uma experiência altamente catártica.

A inspiração para este filme veio dos filmes de época de Akira Kurosawa, dos quais Ingmar Bergman era um grande fã.

As peças de xadrez usadas no filme foram vendidas da propriedade de Ingmar Bergman em 2009 por 1 milhão de coroas suecas (cerca de US $ 145.000 na época).

Ingmar Bergman baseou toda a iconografia do filme nos murais de uma igreja onde seu pai, o clérigo, costumava pregar.

Os últimos dois minutos do filme são pura improvisação. Os atores representaram toda a cena final, quando Ingmar Bergman viu no céu uma nuvem de formato incomum. Ele disse à trupe novamente para usar fantasias e dirigiu uma nova versão da cena final em uma tomada.

Dos mais de 50 filmes que ele fez, este é um dos raros favoritos de Ingmar Bergman.

O título é uma citação bíblica do Apocalipse de São João, o Divino, capítulo 8.

Filmado em um período de 35 dias por apenas US $ 150.000.

A imagem mais icônica do filme, de um cavaleiro jogando xadrez com a morte, foi tirada de Täby Kyrka no município de Täby, na Suécia. Foi pintado em 1480 por Albertus Pictor e é notável por não ter sido pintado durante a Reforma.

Ingmar Bergman começou a escrever o roteiro de O Sétimo Selo (1957) enquanto estava no Hospital Karolinska de Estocolmo, recuperando-se de um problema estomacal.

O script foi inicialmente rejeitado. Ingmar Bergman acabaria reescrevendo cinco vezes. Só depois do sucesso de Sorrisos de uma Noite de Amor (1955) em Cannes é que passou a ser considerado mais a sério.

O roteiro é baseado em uma peça de um ato que Ingmar Bergman escreveu em 1953-4 como um exercício para os alunos de atuação no Teatro da Cidade de Malmö. Ele pediu aos alunos que sugerissem os papéis que gostariam de desempenhar. Com base nisso, ele escreveu algumas páginas de monólogos. Após o exercício, Bergman processou o material para a peça finalizada chamada Trämålning (1963), com muitas semelhanças com "O Sétimo Selo".

Selecionado pelo Vaticano na categoria "valores" de sua lista de 45 "grandes filmes".

Van Halen e Scott Walker (de seu álbum Scott 4) deram o nome de uma canção a O Sétimo Selo (1957), ambos inspirados neste filme de Ingmar Bergman. O do Van Halen também menciona A Fonte da Donzela (1960).

O filme foi satirizado com frequência ao longo dos anos, principalmente em Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975), A Última Noite de Bóris Grushenko (1975) e Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo (1991).

Nomeado na "Palma de Ouro" no Festival de Cinema de Cannes, França 1957.


Cartaz:



















Breve Filmografia
Max von Sydow (1929 - 2020)








 O Sétimo Selo (1957); Morangos Silvestres (1957); No Limiar da Vida (1958); O Rosto (1958); A Fonte da Donzela (1960); Através de um Espelho (1961); Luz de Inverno (1963); A Maior História de Todos os Tempos (1965); A Morte Não Manda Aviso (1966); A Hora do Lobo (1968); Vergonha (1968); A Paixão de Ana (1969); O Exorcista (1973); Três Dias do Condor (1975); O Guerreiro do Futuro (1975); O Exorcista II - O Herege (1977); A Morte ao Vivo (1980); Flash Gordon (1980); Fuga Para a Vitória (1981); Conan, o Bárbaro (1982); 007 - Nunca Mais Outra Vez (1983); A Morte nos Sonhos (1984); Duna (1984); Hannah e Suas Irmãs (1986); Pelle, o Conquistador (1987);  Tempo de Despertar (1990); Um Beijo Antes de Morrer (1991); Europa (1991); Cidadão X (1995); O Juiz (1995); Amor Além da Vida (1998); Insônia (2001); Intacto (2001); O Escafandro e a Borboleta (2007);  A Hora do Rush 3 (2007); Solomon Kane - O Caçador de Demônios (2009);  Ilha do Medo (2010); Robin Hood (2010); Star Wars: O Despertar da Força (2015); Game of Thrones (seriado 2016) 


Bibi Andersson (1935–2019)







Senhorita Júlia (1951); Sorrisos de uma Noite de Amor (1955); O Sétimo Selo (1957); Morangos Silvestres (1957); No Limiar da Vida (1958);  O Rosto (1958); O Olho do Diabo (1960); A Praça dos Homens Sem Alma (1961); A Amante Sueca (1962); Curto é o Verão (1962); Para Não Falar de Todas Essas Mulheres (1964); Duelo em Diablo Canyon (1966); Quando Duas Mulheres Pecam (1966); Você é a Favor ou Contra o Divórcio? (1966); Palmeiras Negras (1968); O Sádico de Alma Negra (1969); A Paixão de Ana (1969); Entre Duas Paixões (1970); A Hora do Amor (1971); Cenas de um Casamento Sueco (1974); Chove Sobre Santiago (1975); O Inimigo do Povo (1978); Aeroporto 79: O Concorde (1979); Entre a Vida e a Morte (1983); Pobre mariposa (1986); A Festa de Babette (1987); Anna (2000); Arn: O Cavaleiro Templário (2007);  Arn: Riket vid vägens slut (2008); The Frost (2009)


Ingmar Bergman (diretor):

Mônica e o Desejo (1953); O Sétimo Selo (1957); Morangos Silvestres (1957); A Fonte da Donzela (1960); Através de um Espelho (1961); Luz de Inverno (1963); O Silêncio (1963); Quando Duas Mulheres Pecam (1966); A Hora do Lobo (1968); Vergonha (1968); A Paixão de Ana (1969); Gritos e Sussurros (1972); Face a Face (1976); Ovo da Serpente (1977); Sonata de Outono (1978); Da Vida das Marionetes (1980); Fanny & Alexander (1982).

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