sábado, 1 de outubro de 2016

A ONDA / THE WAVE (1981) - ESTADOS UNIDOS



O SER HUMANO MANIPULÁVEL

Ben Ross (Bruce Davison) é um professor de história, explicando as raízes do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e como parte da Alemanha abraçou a causa. Dos alunos surge uma pergunta enigmática: porque seus cidadãos não impediram tamanha loucura? Ben não tem uma resposta, mas a pergunta o persegue durante a noite.




No dia seguinte o professor inicia um experimento, que consiste em mostrar o poder e o sucesso através da disciplina. Consegue a atenção da classe e começa a mostrar novas regras de comportamento. A classe estranha, mas se sente entusiasmada com o novo modo como o professor conduz a aula. Ben se surpreende , ao chegar no outro dia, e ver a turma tendo aceitado prontamente sua primeira diretriz. Resolve aplicar mais dois conceitos: comunidade e ação. Aproveita para criar uma saudação e nomear monitores que informem aqueles que não estejam seguindo as regras ou se engajando. São incentivados a trabalharem juntos e recrutarem novos adeptos. Um novo mantra é criado: “A força pela disciplina, a força pela comunidade, a força pela ação”




A jovem Lauree (Lori Lethin), ensinada a pensar por si mesma, começa a entrar em conflito com Ben e seus alunos, percebendo uma mudança em toda escola, inclusive em seu namorado David (John Putch). Robert (Johnny Doran), até então um jovem aluno tímido, torna-se confiante e braço direito de Ben e do movimento. Lauree resolve lutar contra seu professor, cuja esposa também percebe a mudança de comportamento do marido. Só que muitos começam a ver a interferência de Lauree como algo indesejado.




Baseado em um caso real, ocorrido em Palo Alto, Califórnia, “A Onda” narra os acontecimentos ocorridos em 1967, quando o professor Ron Jones criou um movimento chamado “Terceira Onda” (uma alusão de que é a onda mais forte no mar). Só que sua experiência revelou-se um verdadeiro Tsunami.
A Onda de 1981 (não confundir com a versão alemã de 2008) é um telefilme americano, de 44 minutos, que mostra como a manipulação, bem orquestrada, pode influenciar pessoas a fazerem aquilo que normalmente contestariam. Esta produção é muito fiel aos fatos e, por ser de curta duração, é bem direta. 



Temos vários fatores interessantes: a vontade de pertencer a algo maior do que a própria pessoa (o pertencer social, o medo da exclusão); a submissão à autoridade (muito bem explicada numa cena do filme I Como Ícaro,  que disseca o famoso experimento Milgram); a abdicação de pensar (muito clara na frase de Ben: “"é impressionante o quanto eles nos estimam mais quando tomamos decisões por eles"); a exclusão daqueles que se mostram contrários ao pensamento reinante. A comunidade acima do indivíduo (onde este passa a ter um papel menos importante em sua individualidade). O líder com o ego inflado, a adulação e devoção. Quando a situação começa a sair do controle, Ben tem que tomar uma decisão: acabar com o experimento ou elevá-lo a um grau mais alto, mas será que as pessoas estão prontas para sua revelação ?




Esta versão de “A Onda” é de certa forma impactante, não por cenas, mas pela mensagem  de alta reflexão, que mostra que mesmo num país democrático (principalmente em períodos de turbulência social ou econômica) sempre haverá uma porta para “líderes carismáticos”, que ofereçam uma solução para os problemas reinantes. E que cidadãos comuns podem sentir identificação com ideias fascistas, mesmo que nunca tenham pensado em tal coisa. Serve também para pessoas refletirem sobre grupos que participam e se analisarem dentro destes e se sofrem manipulação de terceiros.





 
Típico filme que deve ser sugerido àqueles que, como Lauree,  fizeram a mesma pergunta de como a Alemanha se tornou nazista. Recomendado para ser assistido junto com a versão de cinematográfica de 2008, com mais enredo e duração e, propositadamente, mais impactante. Ambas as versões encontram-se no You Tube.

Curiosidades:

Ron Jones, o professor responsável pelo experimento original, esteve na première de "A Onda" de 2008. Em entrevista, informou que o que seria uma experiência de sala transformou-se em uma experiência de terror. Que seu ego envaideceu-se e a sensação de poder e controle tomaram conta dele.

Baseado no romance de Todd Strasser.

A terceira onda teve um movimento combatente, chamado “Breakers”, cuja líder era uma aluna que não concordava com os preceitos da ordem.

Ron Jones coescreveu a história deste telefilme e a da versão alemã de 2008.


Filmografia Parcial:
Bruce Davison
Calafrio (1971); Ensina-me a Esquecer (1973); A Onda (1981); Crimes de Paixão (1984); Os Espiões que Entraram numa Fria (1985); Rodas do Terror (1987); Short Cuts - Cenas da Vida (1993); A Cura (1995); As Bruxas de Salém (1996); O Aprendiz (1998); X-Men: O Filme (2000); Crimes em Primeiro Grau (2002); X-Men 2 (2003); O Júri (2003); Quebra de Confiança (2007); O Guardião 3 - A Maldição do Cálice de Judas (2008); As Senhoras de Salem (2012); Palavras e Imagens (2013); Star Trek: Captain Pike (2016); Sobrenatural: Capítulo 4 (2017).

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