Final do século XXI. O espaço se tornou a fronteira final, mas
ainda assim palco de disputas pelo direito de colonização. De um lado temos uma
aliança terrestre na qual a parte das pessoas vive em bases no espaço, do outro
lado temos os Dracs, do planeta Dracon, que reivindicam o mesmo direito de
exploração. Os dois lados estão em guerra.
Certo dia, a estação é atacada. Durante a batalha, duas naves se abatem mutuamente caindo no planeta vulcânico Fyrine IV e os pilotos sendo dados como mortos. Willis Davidge (Dennis Quaid) logo percebe que seu inimigo, tal qual igual a ele, sobreviveu. Seu primeiro ímpeto é eliminá-lo, mas acaba por ser capturado pelo reptiliano Drac Jeriba Shigan (Louis Gossett Jr.). Logo perceberão que o local possui dois sóis e seis luas sendo habitado por estranhas criaturas carnívoras. Não há vegetação e chuvas de meteoros são um constante perigo. Embora inimigos naturais, resolvem por suas diferenças de lado evoluindo para um vínculo de amor fraternal e respeito. O tempo passa e ambos aprendem as respectivas linguagens conhecendo suas culturas e crenças. Jeriba revela que sua raça tem algo bem peculiar: em determinado período, sem se relacionarem, geram filhos. E ele carrega um em seu ventre. Sem condições adequadas Jeriba vem a falecer, pedindo que Willis cuide de seu filho Zammis (Bumper Robinson) e um dia o leve até o seu planeta. Mas o pior está por vir: Willis e o pequeno Zammis não estão sozinhos.
A partir do livro de Barry Longyear (vencedor do Hugo Awards de 1980) coube a Edward Khmara (de “O Feitiço de Áquila” (1985) e “Dragão: A História de Bruce Lee”(1993), elaborar um roteiro que contivesse a essência do livro. Wolfgang Petersen (de "O Barco-Inferno no Mar" e "A História Sem Fim") assumiu a direção depois que o diretor Richard Loncraine foi despedido após duas semanas de produção. O roteiro original possuía 140 páginas, mas o produtor executivo Stanley O'Toole, exigiu reduções imediatas no roteiro. Khmara aceitou algumas delas, mas o diretor Loncraine recusou, com o roteiro caindo para em torno de 75 páginas. A Fox interrompeu a produção que acontecia na Islândia. Visando reduzir perdas na produção, o estúdio conseguiu Petersen como substituto querendo que este continuasse de onde Loncrane parou. Mas Petersen tinha as suas próprias ideias. Ele queria redesenhar grande parte da produção e filmar nos estúdios da Bavaria, em Munique, onde acabara de fazer “A História Sem Fim”. Essencialmente, Inimigo Meu voltava à estaca zero.
Foram construídos setenta cenários, foram utilizados sete toneladas de sal, 12 máquinas de vento operando a 30km/h, 3000 galões de gás propano, 1000 galões por minuto de água gelada para a chuva. A maquiagem de Gossett Jr., com bolhas de ar por dentro, a cargo de Chris Walas (Gremlins), levava de duas a três horas para ficar pronta. Parte das filmagens foram realizadas na ilha de Lanzarote, Ilhas Canárias, a 5 mil milhas da costa oeste da África (Marrocos), com 300 vulcões e grandes extensões devastadas. A empresa ILM de George Lucas foi a responsável pelos impressionantes efeitos quando foram exibidos pela primeira vez. O desenhista de produção foi Rolf Zehetbauer (o mesmo de “Casablanca” e “Cabaret”), responsável pelo “planeta assustador”. A música coube a Maurice Jarree (tinha ganho o Oscar por "Passagem para a Índia”) e a fotografia a Tony lmi (Apache: Helicópteros Invencíveis). Tudo isso em um orçamento de US$ 40.000.000,00. Mas o faturamento bruto mundial não correspondeu: US$ 12.303.411,00. O filme foi considerado um fracasso em termos financeiros.
A verdade é que a proposta do filme não conquistou o público: o filme se apresentava como um antídoto a violência deletéria que assolava a indústria cinematográfica dos anos 80, um veículo singular, inclusive na indústria atual, onde a violência gera gigantescos dividendos. O filme passa a mensagem de denúncia, não apenas o absurdo da guerra (era época da “guerra fria”), mas o poder da solidariedade germinada pela adversidade, a superação de preconceitos mútuos, a liberdade das imposições herdadas de seus respectivos regimes, contundentes metáforas da sociedade da época e porque não, atual. Uma fábula futurística sobre os perigos atuais do medo e da desconfiança mútuos das guerras que constantemente vem se apresentando no nosso cotidiano. Por isso o filme não envelhece, mas como podemos perceber possui uma mensagem ambiciosa e difícil de ser aceita na sociedade belicista em que vivemos.
Dennis Quaid vinha de “Os Eleitos” e fez um personagem psicologicamente condicionado a odiar e matar os Dracs que reclamavam direitos sobre um sistema. Um homem embrutecido por batalhas espaciais. Ele nos mostra que a primeira reação do ser humano diante do desconhecido ou estranho é defesa e / ou ataque. Ele é um dos Irkmaans (humanos). Louis Gosset Jr (Oscar por A Força do Destino) fez o Drac Jeriba, alienígenas que são homens e mulheres reunidos em um só ser o que lhes dá a condição de gerarem espontaneamente outro ser semelhante em determinado ponto de sua vida. Quando Jeriba aprende inglês, ele se mostra mais humano que o próprio Wills. Ele ensina a seu inimigo seus ensinamentos sagrados, sua pequenez frente ao universo, sua linhagem e, lhe confia sem bem mais precioso, seu filho Zammis (Bumper Robinson). O ódio racional de ambos se converte em respeito e cumplicidade frente aos desafios do inóspito planeta. Bumper Robinson surgiu em cena como o pequeno Drac Zammis que Willis cuidará, dará a educação de duas raças, mas que precisará salvar sua vida de humanos exploradores e escravagistas. Robinson fez aparições em algumas séries e emprestou sua voz para dezenas de desenhos e games. Brion James (Blade Runner, o Caçador de Andróides e O Confronto Final) interpretou Stubbs, mas um para sua galeria de vilões. O restante do elenco não é muito conhecido por aqui.
Inimigo Meu, apesar de oriundo de um livro, lembra muito, no início, "Inferno no Pacífico" de John Boorman, na qual os protagonistas parecem caminhar para a destruição mútua, mas de acordo com que a estória caminha podemos ver uma adaptação da obra de Robinson Crusoé e Sexta-Feira. Houve quem interpretasse o título como "Mina Inimiga", pois o filme trazia uma mina em seu enredo, uma imposição dos produtores que acreditavam que o público podia não perceber que era um pronome possessivo, mas o escritor Barry Longyear esclareceu, em uma convenção, que o "mine" era realmente um pronome possessivo (como em "meu inimigo"). O filme é uma metáfora da sociedade dos anos 80 (e porque não atual, hoje somos o futuro dos que viveram até os anos 80) e merece crédito por tentar algo diferente com o gênero (mas os espectadores da época esperavam batalhas espaciais e muitos tiros) sendo um dos filmes de ficção científica mais subestimados de sua época. Fala sobre ódio, amor, colonialismo, o homem-lobo-do-homem, conciliação ... Um filme que merece ser redescoberto e melhor compreendido.
Trailer:
Curiosidades:
Louis Gossett Jr. disse em uma entrevista à televisão que falava enquanto gargarejava saliva quando criança como uma daquelas coisas de criança. Ele disse ao diretor Wolfgang Petersen que achava que isso daria um toque bom ao seu personagem. Gossett executou as estranhas vocalizações sozinho (sem próteses bucais ou efeitos de pós-produção) e frequentemente fazia "a voz de Drac" em aparições em convenções. De acordo com Louis Gossett Jr., a linguagem Drac foi criada do zero. Grande parte era russa, pronunciada ao contrário.
O lago onde Davidge e Sheegan se encontram pela primeira vez é o mesmo lago artificial construído sob medida para as cenas modelo de submarino de O Barco: Inferno no Mar (1981), também dirigido por Wolfgang Petersen, além de uma ou duas cenas de A História Sem Fim (1984), também filme de Petersen.
Depois de demitir o diretor original Richard Loncraine (Ricardo III (1995) e Firewall: Segurança em Risco (2006)), o recém-nomeado chefe de produção e produtor da 20th Century Fox, Lawrence Gordon, deu luz verde ao filme novamente com Dennis Quaid e Louis Gossett Jr., mas desta vez contratando Wolfgang Petersen como diretor. Depois de assumir o projeto, Petersen decidiu não usar nenhuma das filmagens já feitas por Loncraine e decidiu começar do zero, realocando toda a produção e construindo novos cenários em sua Alemanha Ocidental natal (o filme foi rodado principalmente na Bavaria Studios em Munique) e também redesenhou o traje e a maquiagem alienígena de Gossett para se parecer mais com o personagem de Barry Longyear, conforme descrito em seu livro.
O novo chefe de estúdio da 20th Century Fox, Barry Diller, e o novo executivo de produção, Lawrence Gordon, deram sinal verde para "Comando para Matar" (1985), "Os Aventureiros do Bairro Proibido" (1986) e futuras sequências de sucesso, "A Jóia do Nilo" (1985) e "Aliens, O Resgate" (1986). Eles continuaram com a produção deste filme porque tinham Dennis Quaid e Louis Gossett Jr. sob contratos caros, pelos quais o estúdio teria que pagar mesmo depois de abortar o filme.
O orçamento original do filme era de apenas US$ 17 milhões no início da produção, quando Richard Loncraine era o diretor e a produção foi ambientada na Islândia. Quando ele foi demitido do projeto e Wolfgang Petersen assumiu o filme e recomeçou, o orçamento final do filme, incluindo as filmagens descartadas de Loncraine, disparou para mais de US$ 40 milhões.
Durante a sequência de abertura da batalha, a tela do computador dentro da nave Drac está na verdade exibindo a estrutura de uma proteína.
As bolas de ração Drac, semelhantes a borracha, eram feitas de gelatina verde.
Terry Gilliam teve a oportunidade de dirigir, mas recusou, preferindo desenvolver seu próprio projeto, que viria a se tornar "Brasil: O Filme (1985)".
A lata vazia de refrigerante que Davidge encontra no filme é Pepsi. No romance do filme de Barry B. Longyear e David Gerrold, a lata vazia de refrigerante é Coca-Cola.
Alguns sets foram reaproveitados para filmar o videoclipe de "TV Makes the Superstar" do Modern Talking em 2003.
A música que Jerry canta no filme é "The Midnight Special", uma canção que foi popularizada por Lead Belly e Creedence Clearwater Revival.
Louis Gossett Jr e Dennis Quaid também estiveram juntos em Tubarão 3 (1983).
David Lynch foi um dos diretores considerados.
Wolfgang Petersen recusou fazer o filme duas vezes. A única coisa que o convenceu foi que ele poderia começar a dirigir o filme do zero. Então ele começou a filmar em Lanzarote e, após a filmagem principal, ele ordenou que mais de 40 toneladas de rocha de lava fossem transportadas de volta para os estúdios da Baviera, em Munique. Para algumas cenas, como o interior de estações espaciais, eles construíram estúdios sonoros enormemente grandes, que eram os maiores da Europa continental naquela época.
Foi oferecido a Grace Jones o papel de Jeriba Shigen, mas ela teve que recusar porque estava ocupada filmando "007 - Na Mira dos Assassinos / A View to a Kill" (1985).
O filme se passa de 2092-2095. Quando Davidge é resgatado de Fyrine IV e levado para a enfermaria, seu registro mostra que ele foi declarado Desaparecido em Ação (MIA) e dado como morto em 11 de julho de 2092 e foi então encontrado em Fyrine IV em 6 de setembro de 2095.
Entre as cenas originais da versão "sucateada" do filme estava um final mais longo, onde Davidge retorna Zammis ao seu planeta natal e é apresentado aos pais de Jeriba, antes da longa cerimônia com o Santo Conselho.
Cartazes:
Filmografia Parcial:
Dennis Quaid
Você Está Sozinha? (1978); O Vencedor (1979); Cavalgada dos Proscritos (1980); Tudo em Família (1981); Sede de triunfo (1983); Os Eleitos - Onde o Futuro Começa (1983); A Morte nos Sonhos (1984); Inimigo Meu (1985); Acerto de Contas (1986); Viagem Insólita (1987); Sob Suspeita (1987); Morto ao Chegar (1988); A Fera do Rock (1989); Wyatt Earp (1994); Coração de Dragão (1996); As Duas Faces da Lei (1997); Corações Apaixonados (1998); Alta Frequência (2000); Traffic: Ninguém Sai Limpo (2000); Desafio do Destino (2002) Garganta do Diabo (2003); O Dia Depois de Amanhã (2004); O Voo da Fênix (2004); Ponto de Vista (2008); G.I. Joe: A Origem de Cobra (2009); Pandorum (2009); Os Cavaleiros do Apocalipse (2009); Legião (2010); Soul Surfer: Coragem de Viver (2011); Footloose: Ritmo Contagiante (2011); Além da Escuridão (2011); Quatro Vidas de um Cachorro (2017); Eu Só Posso Imaginar (2018); Pretenders (2018); Juntos Para Sempre (2019); Midway - Batalha em Alto Mar (2019); Feliz Natal e Tal (2019); Nascido para Vencer (2021); Underdog: A História de Kurt Warner (2021); Milagre Azul (2021); The Tiger Rising (2022)
Louis Gossett Jr. (1936-2024)
O Sol Tornará a Brilhar (1961); Amor Sem Barreiras (1970); Dois Trapaceiros da Pesada (1971); O Fundo do Mar (1977); A Força do Destino (1982); Tubarão 3 (1983); O Guardião (1984); Inimigo Meu (1985); Águia de Aço (1986); Os Aventureiros do Fogo (1986); Um Diretor Contra Todos (1987); Águia de Aço II (1988); O Justiceiro (1989); Sudie e Simpson - Uma Amizade Proibida (1990); Força Vermelha (1991); Rebeldes e Heróis (1991); Águia de Aço III: Ases do Céu (1992); Golpe Perfeito (1992); Monolith - A Energia Destruidora (1993); Sonhos Divididos (1994); Retrato de Coragem (1995); Águia de Aço IV - O Combate Final (1995); O Preço da Liberdade (1996); Managua (1997); Juízo Final (1999); Busca Sem Limite (2000); Momentum: Ameaça Indestrutível (2003); Deixados para Trás III: Mundo em Guerra (2005); Aprendendo a Viver (2009); Os X-Mercenários (2014); Undercover Grandpa (2017); The Reason (2018); Three Months (2022); The Color Purple (2023); A Scorched Earth (2023); Imaginary Friends (2023)
Brion James (1945-1999)
Lutador de Rua (1975); Dois Vigaristas em Nova York (1976); A Outra Face de Moisés (1980); O Confronto Final (1981); Blade Runner, o Caçador de Andróides (1982); 48 Horas (1982); O Senhor das Águias (1984); Conquista Sangrenta (1985); Inimigo Meu (1985); O Aniquilador (1986); Crepúsculo de Aço (1987); Cherry 2000 (1987); Morto ao Chegar (1988); Inferno Vermelho (1988); Escorpião Vermelho (1988); Tango e Cash - Os Vingadores (1989); 48 Horas - Parte 2 (1990); Nemesis - O Exterminador de Andróides (1992); Showdown - A Hora de Vencer (1993); O Quinto Elemento (1997); Perseguidos Pela Máfia (2000).