quinta-feira, 30 de maio de 2024

INIMIGO MEU / ENEMY MINE (1985) - ESTADOS UNIDOS / REINO UNIDO / ALEMANHA ORIENTAL

 


SUPERAÇÃO DE PRECONCEITOS MÚTUOS

Final do século XXI. O espaço se tornou a fronteira final, mas ainda assim palco de disputas pelo direito de colonização. De um lado temos uma aliança terrestre na qual a parte das pessoas vive em bases no espaço, do outro lado temos os Dracs, do planeta Dracon, que reivindicam o mesmo direito de exploração. Os dois lados estão em guerra.

Certo dia, a estação é atacada. Durante a batalha, duas naves se abatem mutuamente caindo no planeta vulcânico Fyrine IV e os pilotos sendo dados como mortos. Willis Davidge (Dennis Quaid) logo percebe que seu inimigo, tal qual igual a ele, sobreviveu. Seu primeiro ímpeto é eliminá-lo, mas acaba por ser capturado pelo reptiliano Drac Jeriba Shigan (Louis Gossett Jr.). Logo perceberão que o local possui dois sóis e seis luas sendo habitado por estranhas criaturas carnívoras. Não há vegetação e chuvas de meteoros são um constante perigo. Embora inimigos naturais, resolvem por suas diferenças de lado evoluindo para um vínculo de amor fraternal e respeito. O tempo passa e ambos aprendem as respectivas linguagens conhecendo suas culturas e crenças. Jeriba revela que sua raça tem algo bem peculiar: em determinado período, sem se relacionarem, geram filhos. E ele carrega um em seu ventre. Sem condições adequadas Jeriba vem a falecer, pedindo que Willis cuide de seu filho Zammis (Bumper Robinson) e um dia o leve até o seu planeta. Mas o pior está por vir: Willis e o pequeno Zammis não estão sozinhos.

A partir do livro de Barry Longyear (vencedor do Hugo Awards de 1980) coube a Edward Khmara (de “O Feitiço de Áquila” (1985) e “Dragão: A História de Bruce Lee”(1993), elaborar um roteiro que contivesse a essência do livro. Wolfgang Petersen (de "O Barco-Inferno no Mar" e "A História Sem Fim") assumiu a direção depois que o diretor Richard Loncraine foi despedido após duas semanas de produção. O roteiro original possuía 140 páginas, mas o produtor executivo Stanley O'Toole, exigiu reduções imediatas no roteiro. Khmara aceitou algumas delas, mas o diretor Loncraine recusou, com o roteiro caindo para em torno de 75 páginas. A Fox interrompeu a produção que acontecia na Islândia. Visando reduzir perdas na produção, o estúdio conseguiu Petersen como substituto querendo que este continuasse de onde Loncrane parou. Mas Petersen tinha as suas próprias ideias. Ele queria redesenhar grande parte da produção e filmar nos estúdios da Bavaria, em Munique, onde acabara de fazer “A História Sem Fim”. Essencialmente, Inimigo Meu voltava à estaca zero.

Foram construídos setenta cenários, foram utilizados sete toneladas de sal, 12 máquinas de vento operando a 30km/h, 3000 galões de gás propano, 1000 galões por minuto de água gelada para a chuva. A maquiagem de Gossett Jr., com bolhas de ar por dentro, a cargo de   Chris Walas (Gremlins), levava de duas a três horas para ficar pronta. Parte das filmagens foram realizadas na ilha de Lanzarote, Ilhas Canárias, a 5 mil milhas da costa oeste da África (Marrocos), com 300 vulcões e grandes extensões devastadas. A empresa ILM de George Lucas foi a responsável pelos impressionantes efeitos quando foram exibidos pela primeira vez. O desenhista de produção foi Rolf Zehetbauer (o mesmo de “Casablanca” e “Cabaret”), responsável pelo “planeta assustador”. A música coube a Maurice Jarree (tinha ganho o Oscar por "Passagem para a Índia”) e a fotografia a Tony lmi (Apache: Helicópteros Invencíveis). Tudo isso em um orçamento de US$ 40.000.000,00. Mas o faturamento bruto mundial não correspondeu: US$ 12.303.411,00. O filme foi considerado um fracasso em termos financeiros.

A verdade é que a proposta do filme não conquistou o público: o filme se apresentava como um antídoto a violência deletéria que assolava a indústria cinematográfica dos anos 80, um veículo singular, inclusive na indústria atual, onde a violência gera gigantescos dividendos. O filme passa a mensagem de denúncia, não apenas o absurdo da guerra (era época da “guerra fria”), mas o poder da solidariedade germinada pela adversidade, a superação de preconceitos mútuos, a liberdade das imposições herdadas de seus respectivos regimes, contundentes metáforas da sociedade da época e porque não, atual. Uma fábula futurística sobre os perigos atuais do medo e da desconfiança mútuos das guerras que constantemente vem se apresentando no nosso cotidiano. Por isso o filme não envelhece, mas como podemos perceber possui uma mensagem ambiciosa e difícil de ser aceita na sociedade belicista em que vivemos.

Dennis Quaid vinha de “Os Eleitos” e fez um personagem psicologicamente condicionado a odiar e matar os Dracs que reclamavam direitos sobre um sistema. Um homem embrutecido por batalhas espaciais. Ele nos mostra que a primeira reação do ser humano diante do desconhecido ou estranho é defesa e / ou ataque.  Ele é um dos Irkmaans (humanos). Louis Gosset Jr (Oscar por A Força do Destino) fez o Drac Jeriba, alienígenas que são homens e mulheres reunidos em um só ser o que lhes dá a condição de gerarem espontaneamente outro ser semelhante em determinado ponto de sua vida. Quando Jeriba aprende inglês, ele se mostra mais humano que o próprio Wills. Ele ensina a seu inimigo seus ensinamentos sagrados, sua pequenez frente ao universo, sua linhagem e, lhe confia sem bem mais precioso, seu filho Zammis (Bumper Robinson). O ódio racional de ambos se converte em respeito e cumplicidade frente aos desafios do inóspito planeta. Bumper Robinson surgiu em cena como o pequeno Drac Zammis que Willis cuidará, dará a educação de duas raças, mas que precisará salvar sua vida de humanos exploradores e escravagistas. Robinson fez aparições em algumas séries e emprestou sua voz para dezenas de desenhos e games. Brion James (Blade Runner, o Caçador de Andróides e O Confronto Final) interpretou Stubbs, mas um para sua galeria de vilões. O restante do elenco não é muito conhecido por aqui.

Inimigo Meu, apesar de oriundo de um livro, lembra muito, no início, "Inferno no Pacífico" de John Boorman, na qual os protagonistas parecem caminhar para a destruição mútua, mas de acordo com que a estória caminha podemos ver uma adaptação da obra de Robinson Crusoé e Sexta-Feira. Houve quem interpretasse o título como "Mina Inimiga", pois o filme trazia uma mina em seu enredo, uma imposição dos produtores que acreditavam que o público podia não perceber que era um pronome possessivo, mas o escritor Barry Longyear esclareceu, em uma convenção, que o "mine" era realmente um pronome possessivo (como em "meu inimigo"). O filme é uma metáfora da sociedade dos anos 80 (e porque não atual, hoje somos o futuro dos que viveram até os anos 80) e merece crédito por tentar algo diferente com o gênero (mas os espectadores da época esperavam batalhas espaciais e muitos tiros) sendo um dos filmes de ficção científica mais subestimados de sua época. Fala sobre ódio, amor, colonialismo, o homem-lobo-do-homem, conciliação ... Um filme que merece ser redescoberto e melhor compreendido.


Trailer:




Curiosidades:

Louis Gossett Jr. disse em uma entrevista à televisão que falava enquanto gargarejava saliva quando criança como uma daquelas coisas de criança. Ele disse ao diretor Wolfgang Petersen que achava que isso daria um toque bom ao seu personagem. Gossett executou as estranhas vocalizações sozinho (sem próteses bucais ou efeitos de pós-produção) e frequentemente fazia "a voz de Drac" em aparições em convenções. De acordo com Louis Gossett Jr., a linguagem Drac foi criada do zero. Grande parte era russa, pronunciada ao contrário.

O lago onde Davidge e Sheegan se encontram pela primeira vez é o mesmo lago artificial construído sob medida para as cenas modelo de submarino de O Barco: Inferno no Mar (1981), também dirigido por Wolfgang Petersen, além de uma ou duas cenas de A História Sem Fim (1984), também filme de Petersen.

Depois de demitir o diretor original Richard Loncraine (Ricardo III (1995) e Firewall: Segurança em Risco (2006)), o recém-nomeado chefe de produção e produtor da 20th Century Fox, Lawrence Gordon, deu luz verde ao filme novamente com Dennis Quaid e Louis Gossett Jr., mas desta vez contratando Wolfgang Petersen como diretor. Depois de assumir o projeto, Petersen decidiu não usar nenhuma das filmagens já feitas por Loncraine e decidiu começar do zero, realocando toda a produção e construindo novos cenários em sua Alemanha Ocidental natal (o filme foi rodado principalmente na Bavaria Studios em Munique) e também redesenhou o traje e a maquiagem alienígena de Gossett para se parecer mais com o personagem de Barry Longyear, conforme descrito em seu livro.

O novo chefe de estúdio da 20th Century Fox, Barry Diller, e o novo executivo de produção, Lawrence Gordon, deram sinal verde para "Comando para Matar" (1985), "Os Aventureiros do Bairro Proibido" (1986) e futuras sequências de sucesso, "A Jóia do Nilo" (1985) e "Aliens, O Resgate" (1986). Eles continuaram com a produção deste filme porque tinham Dennis Quaid e Louis Gossett Jr. sob contratos caros, pelos quais o estúdio teria que pagar mesmo depois de abortar o filme.

O orçamento original do filme era de apenas US$ 17 milhões no início da produção, quando Richard Loncraine era o diretor e a produção foi ambientada na Islândia. Quando ele foi demitido do projeto e Wolfgang Petersen assumiu o filme e recomeçou, o orçamento final do filme, incluindo as filmagens descartadas de Loncraine, disparou para mais de US$ 40 milhões.

Durante a sequência de abertura da batalha, a tela do computador dentro da nave Drac está na verdade exibindo a estrutura de uma proteína.

As bolas de ração Drac, semelhantes a borracha, eram feitas de gelatina verde.

Terry Gilliam teve a oportunidade de dirigir, mas recusou, preferindo desenvolver seu próprio projeto, que viria a se tornar "Brasil: O Filme (1985)".

A lata vazia de refrigerante que Davidge encontra no filme é Pepsi. No romance do filme de Barry B. Longyear e David Gerrold, a lata vazia de refrigerante é Coca-Cola.

Alguns sets foram reaproveitados para filmar o videoclipe de "TV Makes the Superstar" do Modern Talking em 2003.

A música que Jerry canta no filme é "The Midnight Special", uma canção que foi popularizada por Lead Belly e Creedence Clearwater Revival.

Louis Gossett Jr e Dennis Quaid também estiveram juntos em Tubarão 3 (1983).

David Lynch foi um dos diretores considerados.

Wolfgang Petersen recusou fazer o filme duas vezes. A única coisa que o convenceu foi que ele poderia começar a dirigir o filme do zero. Então ele começou a filmar em Lanzarote e, após a filmagem principal, ele ordenou que mais de 40 toneladas de rocha de lava fossem transportadas de volta para os estúdios da Baviera, em Munique. Para algumas cenas, como o interior de estações espaciais, eles construíram estúdios sonoros enormemente grandes, que eram os maiores da Europa continental naquela época.

Foi oferecido a Grace Jones o papel de Jeriba Shigen, mas ela teve que recusar porque estava ocupada filmando "007 - Na Mira dos Assassinos / A View to a Kill" (1985).

O filme se passa de 2092-2095. Quando Davidge é resgatado de Fyrine IV e levado para a enfermaria, seu registro mostra que ele foi declarado Desaparecido em Ação (MIA) e dado como morto em 11 de julho de 2092 e foi então encontrado em Fyrine IV em 6 de setembro de 2095.

Entre as cenas originais da versão "sucateada" do filme estava um final mais longo, onde Davidge retorna Zammis ao seu planeta natal e é apresentado aos pais de Jeriba, antes da longa cerimônia com o Santo Conselho.


Cartazes:






Filmografia Parcial:

Dennis Quaid 






Você Está Sozinha? (1978); O Vencedor (1979); Cavalgada dos Proscritos (1980); Tudo em Família (1981); Sede de triunfo (1983);  Os Eleitos - Onde o Futuro Começa (1983); A Morte nos Sonhos (1984); Inimigo Meu (1985); Acerto de Contas (1986); Viagem Insólita (1987); Sob Suspeita (1987);  Morto ao Chegar (1988); A Fera do Rock (1989); Wyatt Earp (1994); Coração de Dragão (1996); As Duas Faces da Lei (1997); Corações Apaixonados (1998); Alta Frequência (2000); Traffic: Ninguém Sai Limpo (2000); Desafio do Destino (2002) Garganta do Diabo (2003); O Dia Depois de Amanhã (2004); O Voo da Fênix (2004); Ponto de Vista (2008); G.I. Joe: A Origem de Cobra (2009); Pandorum (2009); Os Cavaleiros do Apocalipse (2009); Legião (2010); Soul Surfer: Coragem de Viver (2011); Footloose: Ritmo Contagiante (2011); Além da Escuridão (2011); Quatro Vidas de um Cachorro (2017); Eu Só Posso Imaginar (2018); Pretenders (2018); Juntos Para Sempre (2019); Midway - Batalha em Alto Mar (2019); Feliz Natal e Tal (2019);  Nascido para Vencer (2021); Underdog: A História de Kurt Warner (2021); Milagre Azul (2021); The Tiger Rising (2022)


Louis Gossett Jr. (1936-2024) 







O Sol Tornará a Brilhar (1961); Amor Sem Barreiras (1970); Dois Trapaceiros da Pesada (1971); O Fundo do Mar (1977); A Força do Destino (1982); Tubarão 3 (1983); O Guardião (1984); Inimigo Meu (1985); Águia de Aço (1986); Os Aventureiros do Fogo (1986); Um Diretor Contra Todos (1987); Águia de Aço II (1988); O Justiceiro (1989); Sudie e Simpson - Uma Amizade Proibida (1990); Força Vermelha (1991); Rebeldes e Heróis (1991); Águia de Aço III: Ases do Céu (1992); Golpe Perfeito (1992); Monolith - A Energia Destruidora (1993); Sonhos Divididos (1994); Retrato de Coragem (1995); Águia de Aço IV - O Combate Final (1995); O Preço da Liberdade (1996); Managua (1997); Juízo Final (1999); Busca Sem Limite (2000); Momentum: Ameaça Indestrutível (2003); Deixados para Trás III: Mundo em Guerra (2005); Aprendendo a Viver (2009); Os X-Mercenários (2014);  Undercover Grandpa (2017); The Reason  (2018); Three Months (2022); The Color Purple (2023); A Scorched Earth (2023); Imaginary Friends (2023)


Brion James (1945-1999)







Lutador de Rua (1975); Dois Vigaristas em Nova York (1976); A Outra Face de Moisés (1980); O Confronto Final (1981); Blade Runner, o Caçador de Andróides (1982); 48 Horas (1982); O Senhor das Águias (1984); Conquista Sangrenta (1985); Inimigo Meu (1985); O Aniquilador (1986); Crepúsculo de Aço (1987); Cherry 2000 (1987); Morto ao Chegar (1988); Inferno Vermelho (1988); Escorpião Vermelho (1988); Tango e Cash - Os Vingadores (1989); 48 Horas - Parte 2 (1990); Nemesis - O Exterminador de Andróides (1992); Showdown - A Hora de Vencer (1993); O Quinto Elemento (1997); Perseguidos Pela Máfia (2000). 

5 comentários:

  1. Luís, td bem?
    Esse assiste no cinema.
    Na época fazia cursinho e morava fora de casa. Para espantar a solidão e arejar a cabeça resolvi seguir o conselho de um amigo e quase todas ás sexta-feiras ia ao cinema. Ás vezes havia uns filmes ruins e eu furava o hábito. Mas ás vezes eram filmes esperados e foi esse o caso de Inimigo Meu.
    Mas ainda para contextualizar, naquele ano assisti Platoon, A Cor do Dinheiro, Peggy Sue - Seu Passado A Espera ( muito bom, né? ), Conquista Sangrenta ( totalmente esquecível ), Hot Spot ( com Don Johnson, um noir durante o dia ), Robocop ( revolucionário ), O Enigma da Pirâmide ( putz, adorei ) e alguns outros que cometerei a injustiça de não lembrar.
    Inimigo Meu foi legal. Sempre curti SciFi, mas hoje analisando — e após reler sua resenha — vejo que era um drama. Sua temática e execução enxuta o tornam ainda atual, embora esquecido. De fato, lembra Inferno no Pacífico.
    Por ser menos aventura que o esperado para o gênero, talvez isso justifique sua baixa audiência e a carreira curta na telinha. Só o revi uma vez apenas, na Globo. Bem, teria muito que acrescentar ás platéias de todas as épocas, visto sua mensagem de aceitação do outro e de tolerância para superar as dificuldades. Por isso me pergunto o quanto as TVs do Brasil realmente vêem o cinema como instrumento de educação das pessoa. Curioso, tirando a Band ( com o saudoso Cine Cult, lembra? Era com o Rubens Ewald Filho? ) e a Cultura ( intermitentemente, mas sem grande destaque ) investiram na cinefilia. Claro, falando somente das TVs abertas.
    Porque será?
    Voltando ao filme, o seu melhor é o tema da aproximação dos antagonistas, que sobrevivem e — principalmente — se tornam pessoas melhores quando colocam de lado suas diferenças. Um anti-belicismo ainda necessário, infelizmente
    Uma pausa: rapaz, naquela época eu achava que o mundo iria melhorar, sabia?
    Quanto aos atores, palmas para Louis Gosset Jr., que conseguia emocionar debaixo daquela maquiagem toda. Acho que por seu personagem ser o mais estóico isso também ajudou.
    Dennis Quaid, na época tinha simpatia por ele, mas hoje o acho limitado. No 1/3 final do filme ele é mais exigido e… está ok. Vamos dizer que a paternidade lhe fez bem.
    Brion James é mesmo um eterno vilãozão, não é?
    E palmas para Wolfgang Petersen, que fez um filme com sua assinatura ( vide seus relatos da produção ) e bancou umas escolhas corajosas. Acho que sua filmografia o gabaritou pra isso. Que fim levou, heim?
    E, já que estamos no quesito palmas, palmas pra vc também, Luís, que teve uma boa escolha com mais esta resenha. Só aqui mesmo para lembrarmos de Inimigo Meu, muito bom!
    Aquele abraço de sempre, Luís.
    Nós, seus leitores, lhe somos devedores.

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    1. Olá Mario. Tudo bem? Vou dividir o meu comentário como você o fez (coisas da plataforma, que limita o número de caracteres nos comentários - infelizmente somos reféns disso)
      Assisti "Inimigo Meu" também no cinema, época boa, de uma gama de bons filmes que surgiam semanalmente e que não dava tempo de se assistir a todos ou a grana era curta e tinha que ser seletivo (eu sempre pegava os folhetos promocionais dos cinemas Luiz Severiano Ribeiro e via os lançamentos com as grades de horários, também através de trailers dos filmes que assistíamos - nada de Youtube - fora isso, eram jornais ou programas como "Cinemania" e "Cine MTV"). Eu também tinha essa ideia do filme ser ficção-científica, mas foi a partir do momento que revi o filme, agora não mais com o olhar de quem de saía da adolescência, mas de quem amadureceu um pouco ao longo dos anos, que percebi coisas que na época desse lançamento, não me eram não tão importantes ou perceptíveis. Para mim, era cinema diversão, com a mensagem de que as pessoas devem sempre , como você bem disse, resolver suas diferenças. E, ao rever o filme, quase 30 anos depois, foi que tudo pareceu bem claro para mim. Merecia uma análise, por isso os filmes que analiso, mesmo os que já tenha visto, revejo com um olhar mais atual. Daí começam as pesquisas dos percalços que os envolvidos passaram, os desejos dos executivos sobre quais atores fariam o filme e suas mudanças (gosto muito de buscar essas informações - acredito que entendemos melhor o filme - aquilo que se propunha e o seu conteúdo final, muitas vezes tão distantes um do outro).
      Interessante essa sua percepção sobre o mundo mudar. Eu também tinha isso, não acreditava num futuro "Mad Max", via algo como Jornada nas Estrelas. Acho que a tevê e o cinema projetavam esperança de alguma forma através de seus realizadores. Hoje o futuro me parece um pouco com "No Mundo de 2020", mas ainda torço para um futuro em que o ser humano elimine guerras, fomes e utilize a tecnologia para o seu crescimento / amadurecimento.
      Quanto a Dennis Quaid, tenho essa percepção também de que seus bons papéis veem escasseando, mas vejo que "a velha guarda" começa a ter dificuldades de bons papéis e os roteiros hoje não ajudam. E, de certa maneira, o público parece não se importar com qualidade ou exigi-la. Vi "Eu só Posso Acreditar" (2018) e considerei sua atuação muito boa, mas não é mais regra, infelizmente.
      Wolfgang Petersen (1941-2022) continuou com alguns sucessos comerciais, uns bons, outros nem tanto. Podemos destacar Na Linha de Fogo (1993), Epidemia (1995), Força Aérea Um (1997), Mar em Fúria (2000), Tróia (2004) e Poseidon (2006) - esse seu penúltimo filme. Inimigo Meu foi o seu último filme fantasia / ficção científica. O fracasso desse filme lhe mostrou que deveria seguir outros caminhos, mas A História Sem Fim e Inimigo Meu estão gravados em sua biografia e no coração de muitos que assistiram esses dois filmes.
      A Tv Cultura e Rubens Edwald Filho são parte da história e suas contribuições foram muito relevantes. Aqui no Rio, durante muitos anos, não tive acesso a Tv Cultura (coisas das antenas analógicas. Em alguns lugares a transmissão chegava, em outras nem pensar). Meu acesso a obras cult vinham de cinemas que nem mais existem por aqui (uma pena, mas ainda há aqueles que resistem) e o programa da antiga TVE que, aos sábados investia, muito em cinema anos 50 a 70 e os Europeus)

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  2. Luís, tenho uma lembrança maravilhosa daqueles tempos.
    Ia quase sempre ao mesmo cinema, que era o único de uma cidade pequena, tinha uns 40 ou 50 mil habitantes.
    Tinha uns anúncios do comércio local: farmácia tal, supermercado tal. Poucos trailers. E antes de tudo isso, com as luzes baixas, tocava algumas músicas de filmes famosos. Tinha um improviso de namoro naquela época e depois da sessão iamos tomar sorvete na sorveteria ao lado. Bem gostoso mesmo.
    E acontecia lá uma coisa que depois acho que nunca mais vi. Eles exibiam filmes que já tinham sido lançados no passado, como que em reprise, sabe?
    Então, naquele ano, assisti Trocando as Bolas, Warriors - Os Selvagens da Noite, Splash - Uma Sereia Em Minha Vida. Uma vez exibiram Indiana Jones!
    Depois que passei no vestibular, voltei umas 3 vezes para rever os amigos. Na última, faz uns 20 anos, ele ainda estava lá, se aguentando. Rapaz, 20 anos…
    Lembra Cinema Paradiso? Para mim sim.
    Abraço!

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  3. Oi Mario.
    Aqui no Rio, também haviam uns cinemas que, volta em meia, exibiam reprises de filmes famosos que nunca tinham sido exibidos na TV. Bons tempos. E sim, época de namoro, de sair do cinema e tomar sorvete ou comer um hambúrguer com a namorada. Época de longas filas, às vezes passávamos uma sessão inteira em pé para poder entrar na próxima. Época em que os cinemas vendiam mais ingressos que lugares. A moça da bilheteria avisava: "só tem lugar sentado nas escadas!". Fora o "homem da censura" (em alguns cinemas), um senhor que ficava fiscalizando quem era abaixo da faixa etária do filme. O cinema não devolvia o dinheiro do ingresso e ainda falava para as pessoas da fila não comprarem (uma forma de punição).
    A maioria dos cinemas de rua desapareceu e só são lembrados através de fotos. Hoje, a maioria se localiza em Shoppings e brigam com os streamings (que lançam centenas de séries e filmes) para sobreviver. A violência urbana crescente também afastou as pessoas desses cinemas. Era normal uma sessão de sábado terminar as 22 hs e as ruas estarem cheias. Hoje, muitas dessas ruas, estão vazias às 16hs no final de semana.
    Bons filmes esses que você citou neste e no parágrafo anterior (já tinha até me esquecido de Conquista Sangrenta e de Hot Spot -- os demais vi também - Uma safra muito boa de filmes que tínhamos).
    Os anos 80 /90 foram uma época de novidades na cultura, na música, no cinema ... - até no modelo de gestão de negócios). Não havia um modelo rígido, havia uma abertura para que todos apresentassem seus trabalhos, por isso tantos estilos musicais variados e filmes distintos. Nos tempos atuais, parece que podaram a criatividade e "pasteurizaram " / uniformizaram a cultura. Um gênero surge, por exemplo, na música, milhares cantam de forma semelhante, fica difícil identificar até a voz de muitos. No cinema, alguém descobre um "filão" (termo muito comum antigamente) , logo surge uma serie de produções que praticamente nem variam, apenas copiam e jogam na tela (antigamente diziam que certas produções plagiavam outras de forma descarada, mas os envolvidos eram até criativos, inventavam uma coisa aqui e ali para se destacarem) . Não tem coisa mais chata do que ver um filme na qual já sabemos o que acontecerá nos próximos 5 a 10 minutos? Mas, como dizem, "é o que temos para hoje". Não é um saudosismo dos tempos passados, é uma crítica para que as pessoas inovem , tragam conteúdo (como você bem destacou) , criem mentes capacitadas a reflexão (a sociedade precisa muito disso), sem precisar grudar o espectador na tela / cadeira com cenas de violências crescentes ou chocá-los.
    Quanto ao título, uma curiosidade. Na época, a sessão de cartas do Jornal do Brasil (RJ) mostrou um "embate" entre dois leitores sobre o verdadeiro significado de "Enemy Mine", com um leitor defendendo ser "Mina Inimiga", pelo posicionamento de "mine" na frase e outro leitor defendo que a construção seria correta (inglês arcaico ou literário) . Achei muito interessante o diretor se pronunciar em uma convenção, anos depois, pois essa confusão parece também ter acontecido entre o público americano devido os altos executivos da produção, complicarem tudo, ao adicionarem uma mina de extração à estória do filme.
    Bom é isso. Te agradeço muito pelo ótimo comentário que você fez trazendo muita relevância à postagem e, de muitas formas, enriquecendo-a. Até sexta trarei um filme pouco conhecido, mas interessante, com jovens atores que ficaram conhecidos posteriormente como Karen Allen (de "Starman" e "Os Caçadores da Arca Perdida"). Um ótima semana, um grande abraço e volte sempre.

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  4. Luís
    Me questiono se não é saudosismo toda essa gama de lembranças que nos faz achar que o antes era melhor.
    Havia de fato qualidades e inovações ( exatamente, os filmes eram sucessivamentes inovadorores em algo naquele período ) que hoje não vemos mais, como há no presente cabeças pensantes e corações sensíveis que conseguem nos surpreender. Como exemplo, me vem á memória Blade Runner 2049.
    O que não há comparação — e creio nunca mais haverá — era nosso olhar inocente face á vida que viria a se descortinar pra nós.
    Só os jovens sonham como os jovens. Esse era o ingrediente.
    E eu também acredito DE VERDADE num futuro Jornada nas Estrelas, mas com um tempo de realização centenário.
    E sim, já vi filme sentado na escada (O Exterminador do Futuro ) e já esperei de pé na fila uma sessão acabar para entrar no outra ( um tio me levou pra ver King Kong, acho que tinha uns 10 ou 11 anos, foi f… aguentar, mas depois valeu bem a pena ).
    Quanto aos cinemas de rua, dos majestosos aos humildes, apenas podemos torcer por eles e prestigiá-los quando possível. Dói vê-los fechar, mas o que eu posso te dizer é que um dia irei morar em Pasárgada e lá haverá de ter um cineminha em cada esquina. Tô certo?
    Luís, faça um review de Hot Spot, acho que vale o esforço.
    Como já disse Gilberto Gil, aqueeeeeele abraço!

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