“NÓS SEMPRE TEREMOS PARIS”
Segunda Guerra Mundial. O
avanço da Alemanha Nazista pela Europa provocou um êxodo de cidadãos em busca
da liberdade na América. Lisboa se tornou o grande ponto de embarque para este novo
mundo. Nem todos, contudo, conseguiam chegar lá. O desespero de uma imensa massa de
refugiados criou uma tortuosa rota de Paris a Marselha, pelo Mediterrâneo, até
Orã. De lá seguiam por ferrovia,
automóvel, ou mesmo a pé, pelas orlas africanas, até Casablanca, norte da África,
no Marrocos Francês. Uma cidade controlada pelos franceses, mas em conluio com
os alemãs. Os que possuíam recursos financeiros e prestígio conseguiam um visto
de saída com funcionários corruptos. Para os menos favorecidos só restava
aguardar ... aguardar ... aguardar ...
É nessa atmosfera recheada de tensão, intrigas, perigo e corrupção que encontramos Rick Blaine (Humphrey Bougart) um homem cínico, neutro em relação ao conflito europeu e individualista convicto; dono clube noturno, o mais famoso em Casablanca, chamado “Rick’s Café Américain”, onde todos se misturam: espiões, militares, contrabandistas, colaboracionistas, jogadores ... enquanto esperam uma chance de escaparem da cidade. Um dia entra em seu estabelecimento o casal Ilsa (Ingrid Bergman) e Victor Laszlo, ela o outrora grande amor de Rick que se separou deste quando a Alemanha tomou Paris e ele um dos líderes da resistência europeia que conseguira fugir três vezes das garras dos nazistas. O casal está à procura de duas cartas de trânsito (salvos condutos). O que a maioria desconhece é que Ugarte (Peter Lorre) era o novo possuidor dos documentos, após dois mensageiros germânicos serem encontrados mortos no deserto e que pretendia vendê-los ao casal. E, antes de morrer, deixou-os com Rick que passou a ter seus planos próprios. A chegada inesperada de Ilsa e de um grupo de oficiais liderados pelo Major Strasser (Conrad Veight), que deseja impedir a fuga de Laszlo, faz com que Rick tenha que repensar tudo que vivera até então.
Tudo já foi dito sobre Casablanca, inclusive esta frase, mas é um filme que por sua relevância não poderia ficar de fora de uma resenha crítica. Baseado em uma obscura peça teatral não encenada (“Everybody come to Rick’s”) de Murray Burnett e Joan Allison, Casablanca (a história da peça se passava em Lisboa) levantou-se uma falsa informação de que os protagonistas originais seriam Ronald Reagan, Dennis Morgan e Ann Sheridan que um ano antes alcançaram o sucesso com o filme “Em Cada Coração um Pecado”, mas a informação não procede. George Raft e Hedy Lamarr (Sansão e Dalila) foram realmente cogitados, mas Lammar não queria trabalhar com um roteiro inacabado. Bergman revelou que era contratada de David O. Seiznick e que este lhe informara que iria emprestá-la a Warner para um filme onde vestiria lindas roupas em uma atmosfera romântica. Quando Bergman perguntou a respeito da história sua resposta foi de que não sabia, apenas que os gêmeos Epstein (Julius e Philip) estavam a frente do roteiro e que confiava muito neles por seus trabalhos passados com o diretor Michael Curtiz (nome de batismo Mikaly Kertész). O que Bergman não sabia era que a história estava sendo escrita e reescrita da noite para o dia, continuamente, e que sequer lhe haviam dito com quem sua personagem ficaria no final. Dois finais foram projetados sobre esta questão, mas apenas um foi levado às telas.
Mas qual o fascínio de Casablanca? Por que perdura
através de gerações? Por que é considerado um cult movie por excelência e um
dos melhores exemplares da época de ouro de Hollywood dos anos 30 e 40? Como
filmagens processadas à base do improviso, com os atores trabalhando sem saber
o que filmariam no dia seguinte, com um final ignorado até a ultima tomada
e com um diretor que tinha dificuldade
de se expressar no idioma americano conseguiu transformá-lo em um clássico?
Primeiro, como já dito, contou com invejável coincidência histórica, mas o
tempo foi passando e este motivo não diz muita coisa atualmente.
Casablanca foi um dos raros filmes de aventura na qual a
ação ocorre em interiores, recriada em estilo exótico e artificial nos
estúdios Foi uma história acerca de
refugiados filmada por refugiados e com seis personagens em busca de uma
história (visto que o roteiro nunca ficava pronto) entrelaçada por dramas
passionais e emoções incandescentes. Há uma atmosfera hipnótica entre o casal
Bougart e Bergman, onde os espectadores acabam sendo atraídos ao Rick’s Café
Americain. E o diretor conclamou a adesão da plateia num ritmo crescente da
montagem e inteligentes diálogos-chaves de (de Howard kock) que se tornariam
amplamente conhecidos . Diálogos que já pertencem a antologia do cinema, cuja
frase célebre “Play it again, Sam” (Toque de novo, Sam) nunca foi dita no filme
(e sim inventada por Woody Allen em uma peça homônima que depois se transformou
no título do filme “Sonhos de um Sedutor”). Bougart diz apenas "Play it
once, Sam" (toque uma vez mais, Sam)... “as time goes by”.
Talvez o núcleo base seja como Rick se comportaria diante de uma crise, quando confrontado com uma escolha inevitável de um dos lados, entre seus interesses e suas simpatias e com um problema a mais: o ressurgimento de uma mulher que o amara e o deixara, numa história mal resolvida de encontros e desencontros. Um passado com a obrigação de ser desvendado. Quando o filme se inicia Rick é uma incógnita, cuja máscara começa se partir ao mostrar seu verdadeiro eu que começa a enxergar uma consciência e uma recuperação de valores esquecidos; uma renuncia do belo pelo justo, do romantismo em prol do que é certo; da prevalência dos problemas do mundo sobre a angústia de três pessoas. Enquanto tenta demonstrar uma conduta inflexível, indiferente e serenamente astuciosa seus sentimentos são mais frágeis do que aparenta. O clímax de Casablanca diz respeito aos esforços de Laszlo e sua esposa para deixar o Marrocos. Rick tem duas cartas de trânsito que tornariam isso mais fácil. Mas ele irá fazê-lo? A escolha é entre ir embora com Ilsa – os sentimentos mútuos ainda persistem fortemente principalmente quando seu pianista toca e canta "As Time Goes By", aquele sentimento antigo e irresistível os consome em uma onda asfixiante e enlouquecedora - ou deixá-la partir com Henreid, que pode fazer muito pela resistência e pela guerra. Nunca uma partida foi tão pungente e bela.
A grande ousadia deste filme foi deixar o espectador com a dúvida do que teria acontecido com aqueles personagens. Diante de um cinema atual, que precisa apresentar tudo bem mastigado, podemos entender porque não se consegue mais realizar filmes como os de antigamente. O panorama mundial era diferente, assim como sua atmosfera. Casablanca foi lançado três anos antes da queda do mundo moderno: 1945. Naquele ano, o lado do bem lançou bombas nucleares sobre cidades cheias de civis e o mundo descobriu o que acontecia em Auschwitz. Era o fim de uma época de inocência onde não seria mais tão mais fácil distinguir os bons dos maus.
Quanto ao elenco, sua eclética composição foi um dos
grandes trunfos do filme: a sueca Ingrid Bergman era uma aposta após o sucesso
da também sueca, naturalizada americana, Greta Garbo, em Hollywood. Sua Ilsa
dividida entre o amor e o dever não decepcionou. Dizem que estava ansiosa por
terminar o filme para fazer “Por Quem os Sinos Dobram”, da Paramount, um filme
sobre a revolução espanhola (onde começou a filmar um dia depois de terminar
Casablanca). O francês Paul Henreid faria com elegância Victor Laszlo, líder da
resistência theca. O americano Humphrey Bougart era uma aposta arriscada: vinha
de "Relíquia Macabra" de John Huston, mas os seu papéis anteriores de
“gangsters” pouco tinham a ver com a complexidade emocional deste seu
personagem. Sua virada começou a partir de "Seu Último Refúgio"
continuou em "Relíquia Macabra" e consolidou-se nesse filme. Muitos
disseram que, ao longo dos anos, o ator e seu personagem tornaram-se muito
parecidos. E o mito Bougart deve-se muito a este personagem. O ator alemão
Conrad Veight (em seu penúltimo filme)
deu vida ao seu major Heinrich Strasser. O francês Claude Rains, como Renaut, era um dos preferidos do diretor. Rains
esteve ótimo como um oficial corrupto e maleável que tenta impressionar os
nazistas, mas que, na verdade, os despreza. Sua frase “Procure os suspeitos habituais” ficou
famosa. O inglês Sydney Greenstreet como Ferrari é um rico proprietário do
clube noturno "Blue Parrot Café" e rival de Rick nos negócios. O húngaro Peter Lorre tem uma participação
rápida, mas contundente, como um pusilânime vigarista. Madeleine Le Beau como
Yvonne, a namora de Rick, chorou de verdade na cena em que é cantada a canção
“La Marseillaise” de Joseph Rouget de Lisle que sufoca a canção “Die Wacht am
Rhein”, onde podemos também ver a atriz Corinna Mura ao violão. Dizem que
quando a cena surgia nas telas do cinema São Luiz,no Rio de Janeiro, a frase
“Viva La France” era repetida pelas plateias emocionadas em aplausos
incontidos.
Mas não só o elenco principal brilhou neste filme. Temos
que destacar os rápidos personagens que surgiram em tela, mas que engradeceram
o filme: Curt Bois como batedor de carteiras, Ludwig Stossel e Ilka Gruning
como um charmoso casal de velhinhos a caminho de Lisboa. Joy Page como a noiva refugiada, Marcel Dalio
como crupiê. S. Z. Sakall, como maître no Rick's e participante do movimento
clandestino anti-Eixo, e Leonid Kinskey como o barman. Todos estão excelentes. Os produtores
realmente investiram em um elenco secundário espetacular.
Oscar de melhor filme,
roteiro adaptado e direção, e arquétipo do chamado cult movie, Casablanca nos
apresenta a bela fotografia em tons evanescente de Arthur Edeson (responsável
pela bela iluminação de Frankenstein- 1931); a canção nostálgica “As Time Goes
By”, imortalizada na voz de Dooley Wilson, fazendo sua estreia no cinema, que
nem foi indicada ao Oscar; uma trama que colocou face a face três personagens
com seus conflitos íntimos e que teve o mérito de reunir pela primeira vez dois
dos maiores mitos do cinema, que não filmariam juntos novamente. Um filme para
quem gosta de clássicos e para quem ama o cinema.
Trailer 1:
Trailer 2:
Curiosidades
Em 2007, o American Film Institute classificou este como o terceiro maior filme de todos os tempos.
Foi eleito o 3º melhor filme de todos os tempos pela Entertainment Weekly
Incluído na lista de 2001 do American Film Institute dos 100 melhores filmes americanos.
Ingrid Bergman foi indicada sete vezes ao Oscar e conquistando 3 por À Meia Luz (1944); Anastacia, a Princesa Esquecida (1956) e Assassinato no Expresso Oriente (1974). Faleceria no mesmo dia que nascera, 29 de agosto, aos 67 anos, de câncer de mama. Foi casada com o diretor italiano Roberto Rossellini (1950 a 1957) e a filha do casal, Isabella Rossellini, se tornou modelo e atriz famosa.
Humphrey DeForest Bogart foi indicado três vezes ao Oscar ganhando por Um Aventura na àfrica (1944). Usuário constante de cigarros e bebidas faleceu de câncer de esôfago em 1957 aos 57 anos, um mês antes de completar 58 anos. O ator foi casado com atriz Lauren Bacall (de 1945 a 1957), sua quarta e ultima esposa.
László Löwenstein ou "Peter Lorre" faleceu de infarto em 1969 os 59 anos.
Incluído na lista de 1998 do American Film Institute dos 100 Maiores Filmes Americanos.
Hans Walter Konrad Veidt ou Conrad Veidt (1893–1943), ator alemão naturalizado britânico faleceria no ano seguinte a esta produção, aos 53 anos, de ataque cardíaco.
O nome de batismo de Paul Henreid era Paul Georg Julius Freiherr von Hernried Ritter von Wasel-Waldingau
Claude Rains teve 4 indicações ao Oscar: A Mulher Faz o Homem (1939); Casablanca (1942); Vaidosa (1944); Interlúdio (1946)
No início do filme, Victor Laszlo adquire uma grande cicatriz sobre o olho direito. O motivo da existência da cicatriz nunca é abordado no filme. Uma possível explicação é a sugestão da tortura de Laszlo pelos nazistas
Sydney Greenstreet foi indicado ao Oscar por Relíquia Macabra (1941).
Muitos dos atores que interpretaram os nazistas eram, na verdade, judeus alemães que haviam escapado da Alemanha nazista.
Para se preparar para trabalhar com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman assistiu muitas vezes a Relíquia Macabra (1941).
Renault diz a Rick que sabe que ele mandou armas para a Etiópia, referindo-se à invasão da Itália em 1935.
Durante a cena em que a "La Marseillaise" é cantada sobre a canção alemã "" Die Wacht am Rhein "("O relógio do Reno "), muitos dos figurantes tinham lágrimas reais nos olhos, pois muitos eram refugiados reais da perseguição nazista na Alemanha e no resto da Europa e foram superados pelas emoções que a cena trouxe. A cena foi copiada de A Grande Ilusão de Jean Renoir (1937), em que soldados franceses em um campo de prisioneiros de guerra alemão cantam a canção como um gesto semelhante de desafio. Nesse filme, a música era liderada por um prisioneiro que estava se arrastando para um show que os prisioneiros estavam apresentando. A música foi escrita em 1792 por Claude Joseph Rouget de Lisle em Estrasburgo, após a declaração de guerra da França contra a Áustria, e foi originalmente intitulado "Chant de guerre pour l'Armée du Rhin" ("Canção de Guerra para o Exército do Reno"). ") ht am Rhein" ("A Guarda do Reno"), muitos dos figurantes tiveram lágrimas reais em seus olhos, em grande parte, eram verdadeiros refugiados da perseguição nazista na Alemanha e em outros lugares da Europa ope e foram dominados pelas emoções que a cena trouxe à tona. A cena foi copiada de A Grande Ilusão (1937), de Jean Renoir, em que soldados franceses em um campo de prisioneiros de guerra alemão cantam a canção como um gesto semelhante de desafio. Nesse filme, a música era liderada por um prisioneiro que estava se arrastando para um show que os prisioneiros estavam fazendo. A canção foi escrita em 1792 por Claude Joseph Rouget de Lisle em Estrasburgo após a declaração de guerra da França contra a Áustria, e foi originalmente intitulada "Chant de guerre pour l'Armée du Rhin" ("Canção de Guerra para o Exército do Reno").
Rick's Cafe foi um dos poucos sets originais construídos para o filme, o resto foi reciclado de outras produções da Warner Brothers devido às restrições do tempo de guerra aos materiais de construção.
A então esposa de Humphrey Bogart, a atriz Mayo Methot, continuamente o acusava de ter um caso com Ingrid Bergman, muitas vezes confrontando-o em seu camarim antes de uma cena ser filmada. Bogart entrava no set furioso. Na verdade, apesar da química inegável na tela entre Bogart e Bergman, eles quase não falavam, e a única vez que se conectaram foi quando os dois almoçaram com Geraldine Fitzgerald. De acordo com Fitzgerald, "O assunto do almoço era como eles poderiam sair daquele filme. Eles achavam o diálogo ridículo e as situações inacreditáveis ... Eu conhecia Bogart muito bem e acho que ele queria unir forças com Bergman , para ter certeza de que ambos disseram as mesmas coisas. " Por qualquer motivo, Bogart e Bergman raramente se falaram depois disso.
Na década de 1980, o roteiro deste filme foi enviado aos leitores de vários grandes estúdios e produtoras sob o título original, "Everybody Comes to Rick's". Alguns leitores reconheceram o roteiro, mas a maioria não. Muitos reclamaram que o roteiro "não era bom o suficiente" para fazer um filme decente. Outros deram queixas como "antiquado demais", "diálogo demais" e "sexo insuficiente".
Durante a produção, Humphrey Bogart foi chamado ao estúdio para ficar no meio do set do Rick's Cafe e acenar com a cabeça. Ele não tinha ideia do que o aceno de cabeça significava na história - que ele estava dando seu O.K. para a banda no café tocar a "Marselhesa".
Conrad Veidt, que interpretou o major Strasser, era bem conhecido na comunidade teatral da Alemanha por seu ódio aos nazistas e sua amizade com os judeus. (Sua esposa, Ilona "Lily" Prager ", era judia.) Ele foi forçado a fugir de seu próprio país quando soube que a SS havia enviado um esquadrão da morte atrás dele. Veidt apenas interpretou vilões de filmes durante a Segunda Guerra Mundial, pois estava convencido de que interpretar vilões nazistas ajudariam no esforço de guerra.
Dooley Wilson (Sam) era um baterista profissional que fingiu tocar piano. Como a música foi gravada ao mesmo tempo que o filme, a execução do piano era na verdade uma gravação de uma performance de Jean Vincent Plummer, que estava tocando atrás de uma cortina, mas que estava posicionado de forma que Dooley pudesse assistir e copiar os movimentos de suas mãos.
Nunca é revelado porque Rick não pode voltar para a América. Julius J. Epstein disse mais tarde que "meu irmão (Philip G. Epstein) e eu tentamos muito encontrar uma razão pela qual Rick não poderia voltar para a América. Mas nada parecia certo. Finalmente decidimos não dar nenhuma razão".
As cartas de trânsito que motivam tantos personagens no filme não existiam na França controlada por Vichy - elas são puramente um artifício de enredo inventado pelos roteiristas.
Para maximizar os lucros da distribuição estrangeira do filme, o estúdio sugeriu que quaisquer personagens desagradáveis que não os nazistas também deveriam ser de um país inimigo / Eixo, neste caso, a Itália. É por isso que Ugarte e Ferrari, assim como o escuro batedor de carteira europeu, são italianos.
Madeleine Lebeau, que interpreta Yvonne, e Marcel Dalio, que interpreta o crupiê Emil, eram marido e mulher na época das filmagens. Não muito antes, eles escaparam dos nazistas fugindo de sua França natal.
A canção original que o Maj. Strasser e os outros alemães iriam cantar não era "Die Wacht am Rhein", uma canção patriótica escrita em 1840 e amplamente usada na Guerra Franco-Alemã e na Primeira Guerra Mundial, mas sim "Das Horst-Wessel -Lied ", o hino do Partido Nazista e segundo hino nacional não oficial da Alemanha nazista. No entanto, a Warner Bros. mudou quando percebeu que a música estava protegida por direitos autorais, o que não teria sido um problema se o filme estivesse sendo distribuído apenas em território Aliado. No entanto, como o filme também seria lançado em países neutros, isso poderia ter causado grandes dores de cabeça diplomáticas e até mesmo aberto à Warner Bros. a possibilidade absurda de ser processada pelos nazistas por violação de direitos autorais. Ou ter que pagar royalties a eles.
Em 2006, o roteiro do filme foi eleito o "Melhor Roteiro de Todos os Tempos" pelo Writers Guild of America.
A diferença de altura entre Humphrey Bogart e Ingrid Bergman muda ao longo do filme. Isso porque Bergman era, na verdade, três a cinco centímetros mais alto que Bogart. Para criar a ilusão de que era o contrário, Michael Curtiz colocou Bogart em cima de caixas e sentou-se em travesseiros em algumas fotos, ou Bergman se curvou (como quando ela se sentou no sofá na cena "franco por seus pensamentos").
"Rick's Café Américain" foi inspirado no Hotel El Minzah em Tânger, Marrocos.
O produtor Hal B. Wallis quase transformou a personagem Sam em uma mulher. Hazel Scott, Lena Horne e Ella Fitzgerald foram considerados para o papel.
A canção "As Time Goes By" foi escrita anos antes do filme ser feito. Assim, foi considerada inelegível para consideração ao Oscar e não indicada para Melhor Canção do Ano.
Paul Henreid não se dava bem com seus colegas atores. Ele considerou Humphrey Bogart "um ator medíocre", enquanto Ingrid Bergman chamou Henreid de uma "prima donna".
A esposa de Conrad Veidt, Ilona (Lily) Prager, era judia e essa é uma das razões pelas quais ele teve que fugir da Alemanha antes que ele ou sua esposa fossem presos. Veidt também se envolveu em atividades anti-nazistas entre a comunidade teatral alemã, fato que não passou despercebido pelas autoridades nazistas.
Howard Hawks disse em entrevistas que deveria dirigir o filme e Michael Curtiz dirigir Sargento York (1941). Os diretores almoçaram juntos e Hawks disse que não sabia fazer essa "comédia musical", enquanto Curtiz não sabia nada sobre "aquele povo da montanha". Eles trocaram de projetos. Hawks teve dificuldade em dirigir as cenas que envolviam o canto, ou seja, a cena "La Marseillaise". É irônico notar que a maioria de seus outros filmes envolveu pelo menos uma cena de canto.
Durante os flashbacks de Rick em Paris, ele e Ilsa são mostrados dançando em uma boate. A música que eles estão dançando é "Perfídia". O tema da música é a traição de um amante, uma dica do que Rick pensava de Ilsa quando ela desapareceu e agora, quando ela reaparece.
A publicidade do estúdio em 1941 afirmou que Ronald Reagan e Ann Sheridan estavam programados para aparecer neste filme, e Dennis Morgan é mencionado como o terceiro ator principal. Isso nunca foi o caso, porém, e a falsa história foi plantada, seja por um publicitário de estúdio ou um assessor de imprensa para os outros três atores, para manter seus nomes na imprensa. Enquanto isso, George Raft tentava o papel com Jack L. Warner, mas Hal B. Wallis fora designado para pesquisar o que seria o próximo filme de Humphrey Bogart.
Bogart era um jogador de xadrez extremamente ávido e habilidoso, e era conhecido por jogar jogos por dinheiro quando era mais jovem e morava em Nova York durante a Depressão (supostamente 25 centavos por jogo). Ele também jogava xadrez por dinheiro quando não estava filmando suas cenas em Casablanca e outros filmes. Há uma foto de Claude Rains assistindo Bogart jogar Paul Henried no set de Casablanca, e Bogart e sua esposa Lauren Bacall apareceram na capa da Chess Review em 1945. A cena com Rick estudando um tabuleiro de xadrez era uma posição de um dos jogos por correspondência de Bogart.
No livro de Peter Biskind, 'My Lunches with Orson', Orson Welles relatou uma conversa que teve com Humphrey Bogart durante as filmagens de 'Casablanca', na qual Bogart afirmou: "Estou no pior filme que já participei."
Devido a seus fortes temas anti-nazistas, o filme não foi lançado na Alemanha até 1952, após o fim da guerra. Foi mostrado em uma versão fortemente censurada, com todas as referências ao nazismo retiradas. Esta versão é quase meia hora mais curta e os personagens principais são reescritos por dublagem. O lutador da resistência Victor Laszlo se tornou um físico atômico norueguês que descobre os misteriosos raios delta e está fugindo da Interpol, e várias sequências famosas, incluindo a sequência "La Marseillaise", foram deletadas. Uma dublagem e relançamento em 1975 permitiu ao público alemão finalmente ver o filme em sua integridade original.
Em 1973, um executivo da Warner Bros. abordou François Truffaut sobre a direção de um remake. Ele recusou, observando que "[não é] meu filme favorito de Humphrey Bogart, e eu o considero muito mais baixo do que À Beira do Abismo (1946) ou Uma Aventura na Martinica (1944)... [Mas] Eu conheço estudantes americanos adoro este filme, especialmente o diálogo, e eles sabem cada linha de cor. Eu ficaria igualmente intimidado pelos atores; não posso imaginar Jean-Paul Belmondo e Catherine Deneuve sucedendo Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. "
A Warner Bros. queria remover a música "As Time Goes By", mas Ingrid Bergman já havia cortado o cabelo curto para seu próximo filme, Por Quem os Sinos Dobram (1943), então o diretor Michael Curtiz não conseguiu refazer a filmagem cena.
Ao contrário da crença popular, a frase "[P]lay it again, Sam" não é falada neste filme. Ingrid Bergman diz: "Toque, Sam" e "Toque mais uma vez. Pelos velhos tempos". Apesar disso, a linha se popularizou tanto que foi falada pelo ator Roger Moore em 007 Contra o Foguete da Morte (1979).
Cartazes:
Trecho do filme colorizado:
As Time Goes By:
As Time Goes By na voz de Sinatra
As Time Goes By na voz de Carly Simon
Filmografia Parcial:
Humphrey Bogart (1899–1957)
Querido das Mulheres (1930); Corpo e Alma (1931); Garota Rebelde (1931); Sede de Justiça (1934); Floresta Petrificada (1936); O Grande O'Malley (1937); Talhado Para Campeão (1937); Assim é Hollywood (1937); O Gênio do Crime (1938); A Lei do Mais Forte (1939); Vitória Amarga (1939); Heróis Esquecidos (1939); Caravana de Ouro (1940; Seu Último Refúgio (1941); Relíquia Macabra (1941); Casablanca (1942); Sahara: Em Busca da Sobrevivência (1943); Uma Aventura na Martinica (1944); À Beira do Abismo (1946); Inspiração Trágica (1947); Prisioneiro do Passado (1947); O Tesouro da Sierra Madre (1948); Paixões em Fúria (1948); O Crime não Compensa (1949); No Silêncio da Noite (1950); Uma Aventura na África (1951); A Hora da Vingança (1952); O Diabo Riu por Último (1953); A Nave da Revolta (1954); Sabrina (1954); A Condessa Descalça (1954); Horas de Desespero (1955); A Trágica Farsa (1956); A Trágica Farsa (1956)
Ingrid Bergman (1915–1982)
O Conde de Munkbro (1935); O Grande Pecado (1935); A Mulher que Vendeu a Alma (1938); Intermezzo: Uma História de Amor (1939); O Médico e o Monstro (1941); Casablanca (1942); Por Quem os Sinos Dobram (1943); À Meia Luz (1944); Os Sinos de Santa Maria (1945); Joana D'Arc (1948); Sob o Signo de Capricórnio (1949); Joana na Fogueira (1954); Anastacia, a Princesa Esquecida (1956); Indiscreta (1958); A Visita (1964); Caminhando Sob a Chuva de Primavera (1970); O Mistério dos Anjos (1973); Assassinato no Expresso Oriente (1974); Sonata de Outono (1978); Golda (1982)
Conrad Veidt (1893–1943)
Colomba (1918); Diferente dos Outros (1919); O Gabinete do Dr. Caligari (1920); Danton (1921); Lady Hamilton (1921); Lucrezia Borgia (1922); Paganini (1923); As Mãos de Orlac (1924); As Mãos de Orlac (1924); O Crime do Silêncio (1926); O Passado de um Homem (1927); Cena Final (1929); Expresso para Roma (1932); O Judeu Errante (1933); Guilherme Tell (1934); O Desconhecido (1935); O Rei dos Condenados (1935); Jornada Sinistra (1937); O Último Jogo (1938); Nas Sombras da Noite (1940); O Ladrão de Bagdá (1940); Fuga (1940); Os Homens de Minha Vida (1941); Sombra do Passado (1942); Casablanca (1942); Insuspeitos (1943)
Claude Rains (1889–1967)
O Homem Invisível (1933); Crime Sem Paixão (1934); Corações Divididos (1936); O Príncipe e o Mendigo (1937); As Aventuras de Robin Hood (1938); Tornaram-me um Criminoso (1939); Filhas Corajosas (1939); Quatro Esposas (1939); O Gavião do Mar (1940); Que Espere o Céu (1941); O Lobisomem (1941); Casablanca (1942); O Fantasma da Ópera (1943); Passagem Para Marselha (1944); César e Cleópatra (1945); Interlúdio (1946); Neve e Sangue (1950); O Corsário Maldito (1951); Lisboa (1956); O Vale das Paixões (1959); O Mundo Perdido (1960); O Planeta dos Desaparecidos (1961); Lawrence da Arábia (1962); A Maior História de Todos os Tempos (1965)
Peter Lorre (1904–1964)
O Diabo Branco (1930); M, o Vampiro de Dusseldorf (1931); O Homem que Sabia Demais (1934); Crime e Castigo (1935); Supremo Sacrificio (1936); Obrigado, Sr. Moto (1937); O Palpite de Mister Moto (1938); Mr. Moto Se Aventura (1938); Almas Rebeldes (1940); O Homem dos Olhos Esbugalhados (1940); Relíquia Macabra (1941); Casablanca (1942); A Cruz de Lorena (1943); A Máscara de Dimitrios (1944); Anjo Diabólico (1946); Os Dedos da Morte (1946); Casbah, O Reduto da Perdição (1948); Areia Movediça (1950); O Diabo Riu por Último (1953); 20.000 Léguas Submarinas (1954); A Volta ao Mundo em 80 Dias (1956); O Palhaço que não Ri (1957); A História da Humanidade (1957); O Bamba do Regimento (1957); O Grande Circo (1959); Viagem ao Fundo do Mar (1961); O Corvo (1963); Farsa Trágica (1963); O Otário (1964)
Paul Henreid (1908–1992)
Invasão (1940); Gestapo (1940); E as Luzes Brilharão Outra Vez (1942); Casablanca (1942); Um Passo Além da Vida (1944); O Pirata dos Sete Mares (1945); Sonata de Amor (1947); O Último Pirata (1950); A Princesa de Damasco (1952); A Vênus de Bagdá (1953); Devoção de Mulher (1956); Quando Explodem as Paixões (1959); Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (1962); O Exorcista II: O Herege (1977)
Sydney Greenstreet (1879–1954)
Relíquia Macabra (1941); O Intrépido General Custer (1941); Casablanca (1942); Passagem Para Marselha (1944); Um Sonho em Hollywood (1944); Três Desconhecidos (1946); Mercador de Ilusões (1947); A Mulher de Branco (1948); Caminho da Redenção (1949); Malaia (1949)
Madeleine Lebeau (1923–2016)
A Porta de Ouro (1941); Casablanca (1942); Do Amor ao Ódio (1950); Encruzilhada do Pecado (1951); A Carne é Fraca (1953); Napoleão (1955); O Príncipe e a Parisiense (1957); A Mentira do Amor (1958); 8½ (1963); Angélica, a Marquesa dos Anjos (1964); La bouquetière des innocents (1967)
Michael Curtiz (1886–1962) - Diretor
Boccaccio (1920); Amor, Heroísmo e Glória (1923); A Avalanche (1923); General Babka (1924); O Terceiro Degrau (1926); Flor do Lodo (1928); A Arca de Noé (1928); Corações no Exílio (1929); Inferno Negro (1935); A O Capitão Blood (1935); Carga de Cavalaria Ligeira (1936); As Aventuras de Robin Hood (1938); Anjos de Cara Suja (1938); Quatro Esposas (1939); O Gavião do Mar (1940); A Estrada de Santa Fé (1940); O Lobo do Mar (1941); A Canção da Vitória (1942); Casablanca (1942); Passagem Para Marselha (1944); Alma em Suplício (1945); Caminho da Redenção (1949); O Egípcio (1954); Natal Branco (1954); A Hora Escarlate (1956); As Aventuras de Huckleberry Finn (1960); São Francisco de Assis (1961); Os Comancheros (1961)
Fontes:
Variety
Time
The Guardian
Hollywood Reporter
Ny Times
Guia de Filmes Nova Cultural
Revista Cinemin
Set Cinema e Video
Jornal O Globo
Jornal do Brasil
IMDB
Gostaria apenas de registrar que a versão mais bonita que conheço de As Time Goes By é a de Carly Simon, com a participação especialíssima de Steve Wonder. Ouçam que vale a pena, fãs ou não de Casablanca.
ResponderExcluirBoa Tarde Mario Catucci.
ResponderExcluirNão conhecia essa versão de Carly Simon. Como sempre a cantora apresenta arranjos interessantes para suas canções e regravações. Muito interessante esta versão, tanto que a adicionei à postagem. Muito obrigado por mais este comentário. Um grande abraço e volte sempre.
Parabéns! Amei!
ResponderExcluirBoa noite (você esqueceu de mencionar o seu nome)
ResponderExcluirQue bom que análise agradou. Desculpe pela demora em responder, um grande abraço e volte sempre.