domingo, 22 de novembro de 2015

NO CALOR DA NOITE / NO SILÊNCIO DA NOITE / IN THE HEAT OF THE NIGHT (1967) - ESTADOS UNIDOS




"ME CHAMAM SR. TIBBS"

O filme narra a história de Virgill Tibbs (Sidney Potier de “Ao Mestre Com Carinho”) preso à noite em uma estação de trem no Estado do Mississipi (Sul dos EUA) como suspeito do assassinato de um empresário da cidade, apenas por parecer suspeito para o guarda Wood (Warren Oates do filme "Trovão Azul"). Levado à uma delegacia é inicialmente interrogado com extrema arrogância pelo xerife local, Bill Gillespie (Rod Steiger), que não acredita em sua história de que visitara a família e que estaria na estação de trem aguardando para voltar para sua cidade na Philadelphia (Norte dos EUA). ~


Após identificar-se como um agente da polícia, especialista em homicídios, Tibbs traz para si todo o racismo implícito e explicito da cidade, numa época em que as pessoas de origem negra praticamente não possuíam direitos. Com o trem partindo apenas no dia seguinte, Gillespie solicita ajuda de Tibbs, que não se sente à vontade devido sua prisão arbitrária, mas resolve ajudar. Tibbs iniciará uma investigação que o levará a vários pretensos culpados, além de ter que lidar com cidadãos racistas que acreditam que a violência seria o único meio de intimidá-lo.  Sua posição social causa ciúmes no delegado e moradores que não aceitam que ele possa ter melhores condições financeiras do que os que ali moram.
 

Ganhador de 5 Oscars, “No Calor da Noite” pode ser visto como um expressivo drama sobre o racismo e intolerância nos Estados Unidos de 1967 Com uma ótima direção de Norman Jewinson (A Mesa do Diabo, Jesus Cristo Superstar, A História de um Soldado e Rollerball - Os Gladiadores do Futuro) e atuações precisas de Poitier e Steiger (que levou a estatueta de melhor ator), o filme mantém o espectador preso à tela até o final. 

 
As tentativas de conduzir uma investigação, em uma cidade predominante racista, mostram um ótimo painel da sociedade da época, lembrando que Martin Luther King seria assassinado um ano depois, levantando ainda mais a questão da América (ainda hoje) racista. A polícia captura um suspeito, Harvey (Scott Wilson), Tibbs tenta interrogá-lo. Os guardas e o preso ficam incomodados.  Quando revela que o assassino era destro e o preso canhoto, Tibbs expõe toda a ineficiência e amadorismo da polícia local e logo é convidado a pegar o trem e partir. Tibbs aceita, mas quer levar evidências do caso. Gillespie o prende e o coloca na cela com o suspeito. Logo o solta e Tibbs parte, mas a solicitação da esposa do morto (a atriz Lee Grant) à uma autoridade superior coloca o investigador novamente no caso.



Para aqueles que não conhecem muito bem a história da questão racial nos EUA, o Sul dos Estados Unidos vivia basicamente do trabalho escravo para mover sua economia agrícola. Havia muitas plantações de algodão, muitos senhores de escravos e a escravidão não era combatida pela maioria. Já o norte caminhava para a abolição. Tibbs vem de um lado americano que venceu a Guerra de Secessão (1861 a 1865), possui conhecimento e experiência em sua área, ganha bem e tem o seu valor reconhecido. Vai para a cidade que mais combateu os abolicionistas e na qual, ainda nos idos de 1967, negava os direitos àqueles que lá viviam apenas por possuírem a cor de sua pele diferente. Tibbs assusta a todos, está em posição superior, tem conhecimento superior numa cidade em que prender um suspeito sem uma investigação decente é um ato corriqueiro, acobertando aqueles que vivem do poder e o exercem mesmo que estejam errados. Gillespie acha o nome Virgill engraçado e pergunta ao investigador como lhe chamam, sua resposta é: “Me chamam Sr. Tibbs” (“They Call Me Mr. Tibbs)”. A fala dispensa explicações, mas Gillespie continua o chamando de Virgill.


É um filme que vale, e muito assistir, pelo comportamento da sociedade da época (maior ainda nas cidades interioranas americanas), pela questão do racismo, pela forma como eram retratados os negros no Mississipi (como copeiros, coletores de algodão ou mecânicos de automóveis) ou mesmo pela forma como foi dirigido. O filme consegue seu objetivo de uma forma prática e direta, levando a uma profunda reflexão sobre as questões do racismo. Um ponto alto do filme é quando Tibbs e Gillespie  vão à uma fazenda de algodão. A impressão é de que ali a escravidão nunca deixou de existir. Os trabalhadores são todos negros e são “escravizados” economicamente. Quando Tibbs questiona o dono, Eric Endicott (Larry Gates), e seus motivos para ver o empresário morto , este lhe esbofeteia como se dissesse que sua cor não permitiria tal audácia. A resposta é imediata: Tibbs lhe esbofeteia violentamente e lhe mostra que não é um de seus “escravos”. É livre e tem autoridade. Essa cena causou grande impacto na época, pois não havia filmes que mostrassem uma reação por parte da minoria quando atacada. A cena é de um simbolismo ímpar e até hoje possui sua força. Outro ponto alto do filme é quando Gillespie questiona Tibbs, após o incidente e uma fala furiosa do investigador de que se, no fundo, ele também não seria como eles, mostrando que os dois lados, independente da cor, podem apresentar, em determinadas situações, o mesmo comportamento.   


Filme policial muito bem estruturado com reviravoltas e um clima que se mantém até o fim, onde descobriremos o assassino e quais foram suas motivações. As sutilezas do ótimo roteiro (que levou o Oscar) estão em quase todos os momentos do filme: no comportamento dos personagens, nas falas, o que leva a quem o assiste a ter máxima atenção e tirar todo o proveito desta ótima produção com dois grandes atores.


O final bem sacado mostra que algumas pessoas podem mudar seus comportamentos, ainda que parcialmente.


Trailer :





Curiosidades:
 
Na Tv recebeu o nome de “No Silêncio da Noite”.

Foi o vencedor do Oscar nas seguintes categorias: Melhor Ator (Rod Steiger), Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição  e Melhor Som. Foi ainda indicado nas categorias Melhor Diretor e Melhores Efeitos Especiais,

Indicado ao Grammy de 1968 na categoria de Melhor Trilha Sonora.

O filme foi feito no norte dos EUA por insistência de Potier, devido, em certa ocasião, ele e Harry Belafonte terem sofrido ameaça de morte no Mississipi por grupos racistas.
George C. Scott (de Patton) foi a primeira escolha para o papel de Steiger, mas estava envolvido com outra produção.
Curiosamente Steiger recebeu o convite para estrelar Patton, mas recusou. Mais tarde confidenciou ter se arrependido da escolha.

Em 2007, O American Film Institute elegeu o filme como 57º melhor filme de todos os tempos.

Música de Quincy Jones.

O filme teve duas sequências: “Noite Sem Fim” (They Call Me Mister Tibbs!) (1970) e “A Organização” - The Organization (1971).

“They Call Me Mister Tibbs !”,  nome do segundo filme da trilogia, foi retirado da citada fala do personagem Virgill Tibbs.


O ator  Harry Dean Stanton (1926–2017)  fez uma ponta não creditada

Houve uma série americana baseada nos personagens do filme chamada "In the Heat of the Night" (1988 a 1999) com  Howard E. Rollins Jr. (A História de um Soldado) e Carroll O'Connor. A série não foi exibida no Brasil




















Filmografia Parcial:
Sidney Potier (1927 - 2022)










O Ódio é Cego (1950);  Sementes de Violência (1955);  Cruel Dilema (1956); Sangue Sobre a Terra (1957); Acorrentados (1958); O Sol Tornará a Brilhar (1961); Paris Vive à Noite (1961);  Uma Voz nas Sombras (1963);  Os Legendários Vikings (1964);  A Maior História de Todos os Tempos (1965); Ao Mestre, com Carinho (1967);  No Calor da Noite (1967); Adivinhe Quem vem para Jantar (1967); Um Homem para Ivy (1968); Noite Sem Fim (1970); O Estranho John Kane (1971); Conspiração Violenta (1975); Atirando para Matar (1988); Espiões sem Rosto (1988); Quebra de Sigilo (1992); Ao Mestre, com Carinho 2  (1996); Mandela e De Klerk  (1997); O Chacal (1997); Rumo à Liberdade  (1998);  Construindo um Sonho (2001)

Rod Steiger (1925–2002)











Sindicato de Ladrões (1954);  A Trágica Farsa (1956); Al Capone (1959); O Mais Longo dos Dias (1962); O Homem do Prego (1964); Doutor Jivago (1965); No Calor da Noite (1967); Waterloo (1970); Quando Explode a Vingança (1971); Mussolini - Ascensão e Glória de um Ditador (1974); Jesus de Nazaré (1977); F.I.S.T. (1978);  Horror em Amityville (1979); O Leão do Deserto (1980); A Outra Face (1984);  Criação Monstruosa (1987); O Jogador (1992); O Especialista (1994); Marte Ataca! (1996); Hurricane: O Furacão (1999); O Fim dos Dias (1999); Corpo e Alma (2000); Uma Grande Jogada (2001) 


Anthony James (1942–2020)











No Calor da Noite (1967); Sam Whiskey, o Proscrito (1969); Corrida Contra o Destino (1971); Assim Nasce um Homem (1972); O Estranho sem Nome (1973); A Mansão Macabra (1976); Perigo na Montanha Enfeitiçada (1978); Perseguição Assassina (1978); Uma Cidade Muito Louca (1981); Trovão Azul (1983); Pesadelos Diabólicos (1983); Era da Destruição (1987); A Dama de Ferro (1988); Corra que a Polícia vem Aí! 2 1/2 (1991); ; Os Imperdoáveis (1992) e participação em vários seriados

Warren Oates (1928–1982) 










A Lei do Mais Valente (1959); O Rei dos Facínoras (1960); Pistoleiro do Entardecer (1962); A Terra que Amamos (1962); Juramento de Vingança (1965); O Tiro Certo (1966); A Volta dos Sete Homens (1966); No Calor da Noite (1967); Meu Ódio Será Sua Herança (1969); Pistoleiro sem Destino (1971); As Aventuras De Tom Sawyer (1973); Dillinger: Inimigo Público nº 1 (1973); Terra de Ninguém (1973); Galo de Briga (1974); Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (1974); A Volta do Pistoleiro (1978); 1941: Uma Guerra Muito Louca (1979); Recrutas da Pesada (1981); Fronteira da Violência (1982); Trovão Azul (1983); Sede de Triunfo (1983)

Lee Grant











Crepúsculo de uma Paixão (1959); Terror in the City (1964); A Caldeira do Diabo (1965-1966); Divórcio à Americana (1967); No Calor da Noite (1967); O Vale das Bonecas (1967); Noites de Amor, Dias de Confusão (1968); Amor Sem Barreiras (1970); Escravos da Noite (1970); O Hotel das Ilusões (1971); Shampoo (1975); A Viagem dos Condenados (1976); Aeroporto 77 (1977); A Profecia II (1978); O Enxame (1978); Charlie Chan e a Rainha Dragão (1981); Horário de Visitas (1982); Haverá Outro Amanhã? (1983); Com a Vida em Jogo (1987); Um Visto para o Céu (1991); A Última Festa (1996); Dr. T e as Mulheres (2000); Cidade dos Sonhos (2001); Going Shopping (2005); Killian & The Comeback Kids (2021)

4 comentários:

  1. Filme muito bom (sou apaixonada por clássicos)! Excelente resenha, adoro filmes e com certeza vou visitar muitas vezes o blog, parabéns!

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    1. Muito obrigado pelo comentário e pela visita Emilene. A ideia é colocar muitos filmes, inclusive os clássicos, que são sempre muito apreciados. Muito contente de ter gostado da resenha. Volte sempre e seja bem vinda vinda. Abs

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  2. Um dos grandes filmes da Academia. É interessante ver a predominância de Mr. Tibbs em sua elegância, altivez, educação e perspicácia sobre o conservadorismo e intransigência de seu colega Gillespie. A trama prende do início ao fim não havendo momento de inércia em nenhum momento. A trilha sonora é muito boa e casa muito bem com o filme. Parabéns pela resenha. Abraço.

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    1. Boa Noite Janerson. Este é um filme que atualmente é pouco lembrado, mas devido a sua grande direção e elenco torna-se obrigatório para quem gosta do bom cinema. Que bom a análise agradou e obrigado por tecer comentários também neste post. Abs

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