SOLDADO DE DEUS
Estamos na Segunda Guerra Mundial. Desmond Doss (Andrew
Garfield) resolve juntar-se às fileiras de jovens que entrarão
na guerra para lutarem pela liberdade, após o ataque dos japoneses a Pearl
Harbor. Sua intenção é trabalhar junto
com a equipe médica (como socorrista), auxiliando aqueles que se ferirem em
combate, mas há algo completamente insólito: Doss, um membro da Igreja Adventista do 7º Dia,
recusa-se a pegar em qualquer arma e não aceita trabalhar no sábado. Em treinamento, cria vários “problemas” para
seus superiores que não conseguem aceitar o fato de um chamado “opositor
consciente” estar entre os soldados treinados para matar. Esta é a história de
um dos momentos mais desconhecidos do grande publico: Desmond Doss o homem que levou sua inabalável
fé ao campo de batalha e que conseguiu resgatar, sozinho, 75 homens, feridos, do
campo de batalha.
Baseado em fatos reais "Até Último Homem" levou 14 anos
para chegar às telas. E veio pelas mãos de um dos diretores que pouco dirigiu,
mas quando o fez mostrou muito talento: Mel Gibson. Afastado há mais de 10 anos
da direção, desde o filme "Apocalypto", resolveu encarar o
desafio de levar às telas uma das mais interessantes histórias, nunca amplamente
divulgada, da Segunda Guerra Mundial.
Dividido em três atos, vemos a história de Desmond Doss (1919–2006)
desde a sua infância, de uma família religiosa, com um pai (Hugo Weaving) atormentado
pelos horrores da Primeira Grande Guerra, que resolve servir ao seu país contra
as forças do eixo. Desmond não acredita em pegar em armas, não acredita em
matar. Seus superiores, o Sargento Howell (Vince Vaughn) e o Capitão Glover
(Sam Worthington) ficam sem saber como lidar com a situação. Zombado,
agredido, humilhado, Doss mantém sua fé em seguir seus princípios mesmo com a incompreensão
de seu grupo que vê nele um covarde e para os seus superiores, alguém com sérios
problemas psicológicos. Essa divisão da história em infância,
treinamento no exército e o ida ao front foi uma excelente escolha narrativa, pois possibilitou criar um seguimento linear dos fatos, evitando o vai e vem que tanto
confunde os espectadores. Um soldado socorrista
munido somente de uma bíblia e seu kit de primeiros socorros parece algo tirado
de um filme tipo "Forrest Gump": um conto interessante, com uma mensagem
edificante. Só que aqui foi real. Claro que foram inseridos elementos
narrativos e personagens para que o filme ganhasse força nas telas, mas a
essência ficou intocada.
É importante saber que “objectores conscientes” (também
conhecido pelos termos: “imperativo de consciência” “opositor consciente” "opositor consciencioso" ...) não foram novidades na guerra. Eles existiram
e não aceitavam participar do conflito sob nenhum pretexto. Normalmente ficavam
isolados em um acampamento militar e sofriam muitas humilhações. Só que Doss se
declarava um “cooperador consciente”. Ele queria ir a guerra, mas para ajudar
os enfermos, não para matar. E foi parar numa das batalhas mais cruéis e
sangrentas do período: a batalha em Okinawa (Japão). Quem leu o livro “Mil
Cairão ao Teu Lado” conhece a história do soldado alemão pacifista, na tropa
de elite de Hitler, que se negou a lutar. Se regredirmos um pouco mais poderemos
nos lembrar de Sargento York (1941), na qual o personagem título (na vida real
também) negou-se a matar na Primeira Guerra Mundial por suas convicções religiosas (porém carregou uma arma).
Mas Doss foi para a guerra e não cedeu ao instinto de sobrevivência que sempre
fala mais alto. Ele não pegou em uma arma. Ele perdoou os que lhe humilharam e
ainda os ajudou quando precisaram. Um cristão em atos. Mostra-nos o que é fé.
Há quem faça comparações a obra prima de Kubrick “Nascido Para Matar” (no treinamento) e "O Resgate
do Soldado Ryan" (nas cenas de realismo dos combates). Gibson optou por não
fazer o filme em computador, usou os efeitos especiais e contou com uma ótima
equipe de maquiagem, além de muitos dublês para reproduzir tudo. Com um realismo de
encher os olhos, Gibson que é um cristão praticante, mostrou que sabe unir
religião com violência, basta lembrarmos de "A Paixão de Cristo" ou criar um
clima épico como em "Coração Valente". Outro mérito da produção foi não endeusar
Doss, torná-lo um dos "heróis da Marvel" ou um indígete. Ele é retratado como na vida real: um homem de extrema humildade que amava
ao próximo, numa guerra que amar ao próximo não existia. Não há próximos em
guerras, apenas nós e os inimigos. Essa hipocrisia de colocar os valores em uma
caixa e trancá-los até o final da guerra é bem delineado ao longo do filme. Doss
não esqueceu dos preceitos, não fez concessões por “estar em guerra”. Não sabia
se voltaria, não sabia se seria morto rapidamente ou largado ferido por não
ter uma arma. Sua arma foi a Bíblia e sua força foi fazer a diferença, usando a
não violência, num meio onde a violência determina o vencedor. Mais antagônico
impossível. Suas façanhas lhe deram uma medalha de honra, a mais alta honraria, das mãos do presidente
Harry Truman. O único objector a ter tal medalha.
Até o Último Homem é um filme de guerra centrado no
religioso (só isso causaria curiosidade), mas temos outros elementos como drama,
romance, comédia. Mel Gibson optou por sequencias de guerras que transitaram
entre planos abertos (dando a dimensão do campo de batalha) e planos fechados
(cenas em closes). Essa alternância foi muito bem vinda, nos colocando
dentro da história, como se víssemos uma explosão de frente e o numerário do
inimigo ao longe. Pequenos detalhes que fazem a diferença. O filme é fidedigno
aos eventos? Não totalmente. Há situações que não entraram na história, personagens que
não existiram como Smitty (Luke Bracey de "Caçadores de Emoção: Além do Limite") que o agride nos treinos (muitas vezes
um personagem é criado para personificar vários). Podemos citar como “inspirações”:
a questão de como Doss escapa da corte marcial; a ida de seu pai ao front na Primeira Guerra e as
cenas de combates que foram criadas mais próximas aos relatos dos que ainda
estão vivos.
O elenco está ótimo. Andrew Garfield foi uma aposta e
tanto. Aqueles que o conheceram pelos dois filmes do Homem Aranha se
surpreenderão com sua atuação segura. Se Garfield não tivesse acertado com o
personagem o filme não teria funcionado.
Vince Vaughn (“Separados pelo Casamento” e “Penetras Bons de Bico”) é outro que surpreende.
Um ator com uma veia cômica mais apurada e que se saiu muito bom na pele do
durão e engraçado sargento que se enfurece com Doss por não entender suas convicções. Sam Worthington (de "Avatar" e "A Cabana")
dá o tom sóbrio ao capitão que não gosta nada das motivações de Doss, mas o
compreende de certa forma. Hugo Weaving
(o vilão de "Matrix" e o Caveira no filme do "Capitão América") faz um pai duro,
assombrado pelo que viu e que teme perder seus filhos como perdera os amigos.
Para completar temos a ótima atriz Teresa Palmer que faz Dorothy, a futura
esposa de Doss. O restante do elenco esteve bem afinado com o proposto.
Separando a obra
do artista, podemos dizer que Mel Gibson conseguiu trazer sua carreira de volta aos
trilhos (depois de declarações polêmicas e até episódios de violência doméstica
com sua ex-esposa), num filme que tem várias reflexões que permanecerão após o
final da projeção. A história do homem que foi para a guerra com o quarto e sexto
mandamentos como preceitos e não se dobrou às violentas e quase inacreditáveis adversidades é
uma daquelas histórias que vale conhecer. Um dos melhores filmes de guerra dos últimos
anos, com um diretor que mostra muita entrega e um punhado de ótimos artistas na
condução de seus personagens.
Trailer legendado:
Curiosidades:
Doss faleceu aos 87 anos em 2006.
Teresa Palmer já estava com 30 anos ao fazer o papel.
Milo Gibson, filho do ator /diretor, estreou nesta produção
Milo Gibson, filho do ator /diretor, estreou nesta produção
Garfield perdeu o Oscar de Melhor Ator para Casey Affleck por "Manchester À Beira‑Mar".
Indicado a seis Oscar. Ganhou 2: Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição
Indicado a seis Oscar. Ganhou 2: Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição
Perdeu o Oscar de Melhor Filme para "Moonlight".
Randall Wallace (Fomos Heróis) foi cogitado para dirigir o filme.
Luke Bracey e Teresa Palmer trabalharam também em "Caçadores de Emoção: Além do Limite" (2015)
A passagem bíblica narrada por Desmond no início do filme foi retirado do livro de Isaías, capítulo 40.
Randall Wallace (Fomos Heróis) foi cogitado para dirigir o filme.
Luke Bracey e Teresa Palmer trabalharam também em "Caçadores de Emoção: Além do Limite" (2015)
A passagem bíblica narrada por Desmond no início do filme foi retirado do livro de Isaías, capítulo 40.
A história de Doss foi contada: na revista True Comics em 1946. Em 2004, No documentário "The Conscientious Objector" (2004) e pela editora Dark Horse com a publicação "Medal of Honor".
Reportagem da Revista Veja sobre o que é verdadeiro e o que foi criado para o filme:
Desmond Doss (1919–2006)
Filmografia Parcial:
Andrew
Garfield
O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (2009); A Rede Social (2010); O Espetacular Homem-Aranha (2012); O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014); 99 Casas (2014); Até o Último Homem (2016); Silêncio (2016); Breathe (2017); Under the Silver Lake (2017)
Teresa Palmer
Wolf
Creek - Viagem ao Inferno (2005); O Grito 2 (2006); Um Verão Para Toda
Vida (2007); Aprisionados (2008); O Aprendiz de Feiticeiro (2010); Meu
Namorado é um Zumbi (2013); Por Amor e Honra (2013); Mate-Me Mais uma
Vez (2014); Caçadores de Emoção: Além do Limite (2015); Quando as Luzes se Apagam (2016); Até o Último Homem (2016); 2:22 (2017)
Vince Vaughn
O
Mundo Perdido: Jurassic Park (1997); Psicose (1998); A Cela (2000);
Negócio de Risco (2000); Inimigo em Casa (2001); Starsky & Hutch -
Justiça em Dobro (2004); Be Cool: O Outro Nome do Jogo (2005); Sr.
& Sra. Smith (2005); Penetras Bons de Bico (2005); Separados pelo
Casamento (2006); Na Natureza Selvagem (2007); Encontro de Casais
(2009); Vizinhos Imediatos de 3º Grau (2012); De Repente Pai (2013);
Até o Último Homem (2016); The Forgiven (2017); Fighting with My Family
(2018)
Sam Worthington
A
Guerra de Hart (2002); Jogo Sujo (2002); O Grande Ataque (2005); Morte Súbita (2007); O Exterminador do Futuro: A Salvação (2009); Avatar
(2009); Fúria de Titãs (2010); À Beira do Abismo (2012); Fúria de
Titãs 2 (2012); Cake: Uma Razão para Viver (2014); Até o Último Homem
(2016); A Cabana (2017); Fratura (2019); Avatar 2 (2020); Avatar 3 (2021); Avatar 4 (2024).
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