NEM TITÃS,
NEM VOLTA À ATLÂNTIDA
O
Professor Aitken e seu filho Charles montam uma expedição arqueológica no
Oceano Atlântico, na área do Triângulo das Bermudas. Charles e seu amigo Greg
Collinson (Doug McClure), que cria uma versão aprimorada de um sino de
mergulho, descem às profundezas do oceano e encontram uma estátua de ouro
maciço. A dupla leva de volta ao navio e inicia um novo mergulho. O objeto gera
a cobiça dos tripulantes que atacam Aitken e partem o cabo que liga o sino ao
navio. Porém algo acontece: um imenso polvo gigante cerca o navio, ataca e
captura parte da tripulação e o capitão, descendo às profundezas. No meio
do caminho pega também o sino e o leva por dentro de uma caverna que
desembocará em um local totalmente desconhecido. Charles e Greg saem do sino e
encontram os sobreviventes do ataque da criatura gigante. Em seguida surge
Atmir (Michael Gothard vestido como os “Thals” do seriado Dr Who) um homem que
eles informa estarem na mítica cidade perdida de Atlântida e que os levará a
seus governantes. Ao chegarem ao local descobrem que serão escravizados, menos
Charles, que parece ter um destino já traçado pelos atlantes.
Aventura
fantástica britânica de 1978. Quarta e última colaboração do diretor Kevin
Connor com o ator Doug McClure. Os Titãs Voltam à Luta na Atlântida, título
brasileiro para "Warlords of Atlantis" é um filme bastante curioso
com ideias criativas e efeitos bizarros já para a época.
O título brasileiro já é algo diferenciado. Não se sabe exatamente quem são “Os
Titãs que Voltam à Atlântica”, visto que "Titã" remete à mitologia
grega e eles não voltam, na verdade são levados pelo polvo gigante ao local.
Talvez se tivessem adaptado o título inglês faria mais sentido. Como exemplo:
os franceses e belgas colocaram “ As 7 Cidades da Atlântida” (Les 7 Cités D'atlantis); os espanhóis “Os Conquistadores da Atlântida” (Conquistadores De Atlantis, Los) e os argentinos “Atlântida, a Cidade Submersa” (Atlántida La Ciudad Sumergida). Mas, sem dúvida, o título criatividade vai para o nosso
país. Não há como negar que, com esse nome, o filme dificilmente será esquecido
e causa impacto.
Quanto
à história, o roteiro foi criativo. A cargo de Brian Hayles (1931–1978) que
escreveu roteiros para o seriado inglês Dr Who (que até hoje existe), o filme
traz uma história bastante curiosa: Os atlantes teriam vindo do planeta Marte e
tiveram o seu curso desviado para a terra (o meteoro no início do filme seria a
cidade atlante) e caído na época da pré-história no Oceano Atlântico. Evoluíram
ao longo do tempo e desapareceram nas profundezas do mar. Agora precisam do Dr
Charles para influenciar a humanidade a criar uma tecnologia que os levem de
volta às estrelas. O curioso artefato que Charles coloca na cabeça, em forma de
elmo, lhe mostra o que parece ser visões do futuro (esta é uma parte um pouco
confusa do enredo) como a ascensão do Terceiro Reich, o que nos leva a crer que
aquela civilização seria simpática ao regime nazista. O interessante é que
citam várias vezes serem superiores intelectualmente e tecnologicamente aos humanos
, mas não conseguem achar um instrumento que os leve à liberdade. Quanto as
criaturas pré-históricas, estas ficaram a cargo de Roger Dicken que participou
de "Alien" (não creditado), "2001- Uma Odisseia no Espaço" e "Fome de Viver".
Obviamente este não foi melhor trabalho de seu portfólio, porém o polvo ficou
muito interessante e é o ponto alto do filme, onde provavelmente se consumiu
grande parte do orçamento. As outras criaturas que ficaram próximas à cidade ou
que atacaram os atlantes, visivelmente mostra que utilizaram a técnica de
colocar os atores diante de um Chroma Key, dividindo os personagens dos
monstros. Poderiam ter feito algo próximo ao Stop Motion de Ray Harryhaussen e
os seus “Simbad”. Em alguns momentos funcionou, em outros ficou artificial.
Valeu pela intenção.
No
quesito furos daria uma resenha à parte. Comecemos pelo monstro marinho que
entra na cabine do sino da dupla. A ideia do personagem Greg é simplesmente
incrível: ele eletrocuta o animal que estava em contato com a água (e eles também)
num domo metálico, ou seja, tudo no sino funciona como condutor de eletricidade
e tudo ocorre sem problemas. Outro ponto interessante é quando o polvo
“sequestra” os tripulantes do navio, estes ficam submersos sobre alta pressão,
sem oxigênio, apertados por poderosos tentáculos e conseguem manter a
respiração tempo suficiente para chegaram à praia da cidade. Fora a cidade
“meteoro” vindo do espaço que colide nas águas sem causar nem um mini tsunami
(ok Tsunamis não estavam na moda dos filmes da época). Quanto aos outros furos,
deixo para aqueles que se interessarem em ver o filme. Claro que filmes B,
beirando o Trash, não recebiam recursos para grandes efeitos, então utilizar a
criatividade, com o pouco material que dispunham, era uma tarefa desafiadora.
A
equipe técnica era até boa: o já citado Roger Dicken nos efeitos, o produtor
John Dark de Cassino Royale (1967), Brian Hayles de "Aventura na Arábia"
(1979) e Alan Hume (1924-2010), diretor de fotografia de filmes como "As Profecias do
Dr. Terror"; "Aventura na Arábia"; "007-Somente Para Seus
Olhos"; "Star Wars, Episódio VI - O Retorno do Jedi"; "Supergirl"; "007-Na
Mira dos Assassinos"; "Força Sinistra" e Elliot Scott (1915–1993),
designer de produção de filmes como "Aventura na Arábia"; "Assassinato num Dia de
Sol"; "Indiana Jones e o Templo da Perdição"; "Labirinto - A
Magia do Tempo"; "Uma Cilada Para Roger Rabbit" e "Indiana Jones e a Última
Cruzada".
Quanto ao elenco, o nome principal era o de Doug McClure de vários filmes do
Gênero. Podemos citar ainda John Ratzenberger no papel do capitão do
navio, com participações em vários filmes e utilizando sua voz em várias
animações recentes; Cyd Charisse (1921–2008), (uma das líderes da cidade),
atriz com intensa participação em produções entre as décadas de 40 e 60, como:
"Cantando na Chuva" e Lea Brodie, como Delphine, que não consegue tempo
suficiente no enredo para criar um par romântico com Greg e que no final talvez
seja a grande heroína, ao lutar ao lado do grupo. A atriz tem poucos trabalhos
e, de relevância, apenas a participação no filme "Resgate Suicida" de 1979 ao
lado de Roger Moore. Lea aparentemente largou a profissão em 1982.
Os
Titãs Voltam à Luta na Atlântida desapareceu das Tvs, tanto aberta quanto paga,
podendo ser visto apenas através da disponibilização de internautas. O filme é
pura diversão descompromissada que reúne: marcianos; mitologia; monstros
pré-históricos entre criativos e toscos; escravos humanos geneticamente
modificados para anfíbios e que só sobrevivem na atmosfera local; guardas sem
rostos e capacetes prateados (que não explicam sua origem); uma cidade
alienígena até muito bem feita, que lembrou um pouco algumas locações do
seriado "Viagem Fantástica" ("The Fantastic Journey"); peixes carnívoros voadores
(teria sido uma inspiração do filme "Piranha" de 1978?) que atacam nossos bravos
heróis (bom, nem todos são heróis!) e o Sentinela, o polvo gigante que protege
a estátua e captura humanos para os atlantes. No fim é um filme nostálgico com
efeitos especiais ultrapassados, mas que funcionaram, pois muitos possuem boas
lembranças da época em que passava na Tv Globo e Rede Record. Merece ser
redescoberto.
Curiosidades:
Primeiro filme do diretor Kevin Connor que não foi baseado no livro de Edgar Rice Burroughs.
Elliot Scott já teve três indicações ao Oscar como melhor direção de arte.
Doug
McClure morreu em 1995, aos 59, de câncer de pulmão.
Michael
Gothard suicidou-se em 1992, aos 53 anos.
Lea Brodie recebeu um crédito de "apresentação". Ela era anteriormente conhecida como Lea Dregorn, nome pelo qual ela já havia também recebido um crédito de "introdução" pelo filme de 1975 "The Lifetaker".
As filmagens começaram em 5 de setembro de 1977. As filmagens em locações em Malta começaram em 1º de outubro. Uma grande quantidade de imagens foi filmada na ilha de Gozo. As filmagens terminaram em 13 de janeiro de 1978.
O filme era originalmente conhecido como Atlantis. No entanto, foi decidido mudar o título para evitar confusão com Atlantis, the Lost Continent (1961). Portanto, o título passou a ser 7 cidades da Atlântida. Então, a série de TV The Man from Atlantis (O Homem do Fundo do Mar) fracassou e os executivos não queriam associar o filme a esse programa, então ele se tornou Warlords of the Deep. No entanto, Columbia, que financiou parcialmente, achou que isso era muito perto de The Deep (O Fundo do Mar), então o título foi alterado novamente para Warlords of Atlantis.
Trailer:
Cartazes:
Filmografia Breve:
Doug McClure (1935–1995):
Beau
Geste (1966); O Triângulo do Diabo (1975); Criaturas que o Tempo Esqueceu
(1977); Os Titãs Voltam à Luta na Atlântida (1978); Um Rally Muito Louco
(1984); Nenhum Passo em Falso ou a Hora da Brutalidade (1986); Maverick (1994).
John Ratzenberger (1947):
O
Último Brilho do Crepúsculo (1977); Superman: O Filme (1978); Aventura na Arábia
(1979); Outland - Comando Titânio (1981); Na Época do Ragtime (1981); Firefox - Raposa de Fogo
(1982); Gandhi (1982); A Casa do Espanto II (1987); O Exterminador do Passado 1987; Toy Story (voz) 1995; Toy Story 2 (voz) 1999; Procurando Nemo (voz) (2003); Os
Incríveis (voz) (2004); Up: Altas Aventuras (2009); Toy Story 3 (voz) (2010).
Michael Gothard (1939–1992):
Grite, Grite Outra Vez! (1970); Os Demônios (1971); Os Três Mosqueteiros (1973); Os Titãs Voltam à Luta na Atlântida (1978); 007 - Somente Para Seus Olhos (1981); Força Sinistra (1985); Cristóvão Colombo: A Aventura do Descobrimento (1992).
Gostei muito da sua resenha. A título de curiosidade, a bela Lea Brodie largou mesmo a profissão e se dedica, há muitos anos, a área holística relacionada com curas espirituais na região sul de Londres.
ResponderExcluirOlá Antônio. Muito legal a sua informação. As vezes obter informações sobre determinado ator / atriz, depois que se retiram da profissão, é bem difícil. Muito obrigado por comentar. Um grande abraço.
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