(o texto contém spoilers)
Paul
Conroy apenas consegue lembrar que, como
caminhoneiro no Iraque, teve seu comboio atacado por forças inimigas. Agora
encontra-se embaixo da terra, possivelmente em alguma parte do deserto,
dentro de um caixão de madeira, coberto por areia. Aos poucos alguns objetos
são encontrados: isqueiro, celular e canivete. Outros objetos serão percebidos
aos poucos. Paul percebe que o celular tem pouca bateria e o isqueiro também
parece estar quase no fim. Tenta fazer ligações internacionais para a esposa,
parentes e FBI. Até mesmo a empresa que o contratou é contatada. No início, seu
estado emergencial não é levado muito a sério. Até que, após outras tentativas de
contato, um homem do governo responsável por resgates entra na linha. Logo
surgirão os sequestradores, pedindo inicialmente 5 milhões de dólares por sua
liberdade ou será “esquecido” por seus captores. Claustrofóbico
é a melhor definição para este filme, dirigido pelo cineasta espanhol Rodrigo
Cortes (de Apartamento 143) que foi muito bem recebido no Sundance Festival e
que logo gerou interesse na produtora Lionsgate, que se apressou em pegar seus
direitos para exibição.
Enterrado
vivo tem muitas características interessantes a serem destacadas: O ator Ryan
Reynolds ("Lanterna Verde" e "Deadpool") faz uma atuação solo intensa. Só há ele no filme.
Ele, o caixão, alguns objetos que não foram colocados por acaso, e as pessoas
que consegue contatar. Reynolds tem uma interpretação sólida, que permite que desde o primeiro
minuto de projeção, o espectador sinta-se na pele no caminhoneiro: um homem que
foi a trabalho participar da reconstrução do Iraque. Foi capturado e feito refém
de uma forma atroz. Os sequestradores trabalham com o seu psicológico, dando em
doses homeopáticas ordens que deve cumprir para ficar vivo. O espectador espera
um ato terrorista, mas parece algo bem pior: descaso com a vida humana em troca
de dinheiro. Paul tem que ser convincente em seu pedido de ajuda. Os bandidos
querem que ele demonstre, através de um vídeo captado no celular, o seu
sofrimento. O YouTube é o veículo escolhido para mostrar seu desespero. Um
homem lutando para não ser morto de uma forma terrível, enquanto outras pessoas
lucram com o seu martírio.
Mas
não pensem que o filme fica apenas na relação sequestrado versus sequestrador. A
angústia de Paul só aumenta quando, estando em outro continente, não consegue
falar com sua esposa ou com seus amigos. Todos estão com o telefone
indisponível: ou se divertindo ou trabalhando. Uma faceta perene do nosso
mundo: enquanto uns se divertem, outros sofrem. O
roteiro de Chris Sparling ("O Misterioso Caso de Judith Winstead") acerta em
cheio ao colocar Paul como uma vítima de várias circunstâncias. A Guerra do
Iraque provocou sua situação. Paul viu-se obrigado a sair de seu país para ganhar melhor,
deixando uma família para trás. Foi para uma área de risco. Sabia que podia lhe
acontecer algo, afinal o país tem áreas de zonas de guerra, mas não podia
imaginar que talvez mais cruel que seus captores fossem seus aliados.
A
política age indiretamente durante todo o filme. Paul conversa com um homem do
governo que não quer que ele ajude os sequestradores, afinal é mais importante que
se assegure que nada saia na imprensa do que realizar uma busca. Só que o
desespero de um homem em um caixão não pode ser norteado pela lógica e o
caminhoneiro expõe sua condição. Pronto ! Agora ele é objeto de segurança
nacional. Lhe é dito que o governo não negocia com sequestradores, então é 8 ou
80. Ou Paul será salvo ou morrerá. Pedem que se acalme, mas o tempo é seu outro
inimigo. A empresa em que trabalha entra na mira dos fatos. Ter sua imagem
atrelada para sempre a Paul é algo que os executivos devem evitar a todo custo.
Enquanto Paul pensa que a empresa está fazendo tudo por seus funcionários e, em
particular por ele, percebe ser vítima de um ardil jurídico que os desvencilham de sua imagem. Aproveitam-se do desespero de Paul para lhe dizerem que está
sozinho e que nem direito ao seguro será dado à sua família.
Talvez
um pontos mais intensos do filme esteja no momento em que Paul liga para sua
mãe, uma senhora com Alzheimer (ou alguma doença senil) que não consegue sequer
reconhecê-lo. Paul cada vez tem menos esperança e tenta se despedir da mãe. É o
momento final, intenso onde uma das pessoas que mais ama talvez nem se lembre
daquele momento. Sua mãe encara o momento como uma ligação qualquer. Paul
encara como o possível e derradeiro diálogo final com quem lhe trouxe ao mundo.
Todos
esses fatores, por detrás da ação, tornam "Enterrado Vivo" um filme distinto de seus pares, quer seja pela atuação intensa de Reynolds, numa produção de baixo
orçamento, quer seja por ter sido feita em tempo real. Ou seja: o protagonista
tem 90 minutos para se salvar, onde o tempo de projeção coincide com o real,
uma inspiração ao filme “Festim Diabólico” do mestre do suspense Alfred
Hitchcok, acrescido aqui de um final surpresa que causou um alvoroço. E, é neste
ponto, que o filme faz o seu gol. Uma produção independente hoje concede mais
liberdade a quem dirige um filme do que os produzidos pelo estúdios. Não há
interferências tão grandes e o diretor tem a liberdade de realizar sua obra
como fora inicialmente concebida. E foi o que aconteceu aqui. Um final
inesperado e corajoso.
Enterrado
Vivo merece ser visto por aqueles que gostam de filmes com ideias originais e
que fogem do conceito de politicamente correto, que impera nas produções atuais, para satisfazer uma grande parcela dos espectadores e, assim, garantir um bom
retorno. Rodrigo Cortes e Ryan Reynolds foram corajosos em embarcar em um
projeto e acreditar nele.
Trailer:
Curiosidades (Contém spoilers. Se não assistiu, não leia):
Ryan Reynolds afirmou que sofreu de claustrofobia no final das filmagens (muito parecido com o personagem que ele está interpretando). Isso se deveu principalmente ao fato de que o caixão em que ele estava foi sendo gradualmente preenchido com mais e mais areia conforme as filmagens continuavam. Ele descreve o último dia de filmagem como "diferente de tudo que experimentei na minha vida e nunca mais quero experimentar isso de novo".
Filmado em dezessete dias em um estúdio de Barcelona.
Quando Paul Conroy (Ryan Reynolds) abre o bilhete que seu sequestrador quer que ele leia no vídeo, a primeira linha diz "A data é 23 de outubro". Este é o aniversário de Ryan Reynolds.
O número de telefone do Chicago F.B.I. escritório de campo, mencionado no filme, é o número do escritório na vida real.
Pamela Lutti (Ivana Miño) é a única personagem além de Paul Conroy que aparece na tela, durante uma videochamada.
Samantha Mathis, que interpreta a esposa de Paul Conroy, estrelou anteriormente um filme onde ela é enterrada viva, chamado 83 Hours 'Til Dawn (1990).
Sete caixões foram usados no filme.
Os filmes de Alfred Hitchcock Festim Diabólico (1948) e Um Barco e Nove Destinos (1944) foram uma inspiração de Rodrigo Cortés na realização de Enterrado Vivo (2010).
Ryan Reynolds acidentalmente queimou o braço por usar o isqueiro.
Ryan Reynolds mais tarde zombou dos eventos deste filme em Deadpool (2016) e Deadpool 2 (2018) aclamados pela crítica.
Os itens triviais abaixo podem revelar pontos importantes da trama. Ryan Reynolds foi, apenas por um momento, realmente enterrado nas filmagens dos momentos culminantes do filme. A equipe de produção tinha uma equipe de paramédicos esperando de prontidão.
O agente do governo que está tentando salvar Paul Conroy (Ryan Reynolds) é questionado sobre quantas pessoas sobreviveram desta situação. O agente afirma que houve outros dois que voltaram para casa com vida, sendo um homem chamado Mark White. Mas quando o agente pensa que ele e sua equipe estão prestes a salvar Conroy, ele afirma que eles realmente abriram o caixão contendo um morto Mark White. Isso torna a história do agente uma mentira e sugere que ninguém foi realmente resgatado com sucesso.
O filme nunca sai do caixão. Paul ocasionalmente recebe imagens e vídeos de seus captores de locais desconhecidos. Ele também alucina, vendo a tampa do caixão se abrindo em um ponto, embora nada seja mostrado além de uma luz brilhante. Também não há flashbacks ou cortes mostrando nada além do que está acontecendo dentro do caixão.
Cartazes:
Filmografia Parcial:
Ryan Reynolds
Blade:
Trinity (2004); Horror Em Amityville (2005); Número 9 (2007); A Teoria do Caos
(2008); X-Men Origens: Wolverine (2009); A Proposta (2009); Lanterna Verde
(2011); Protegendo o Inimigo (2012); A Dama Dourada (2015); Deadpool
(2016), Vida (2017); Dupla Explosiva (2017); Deadpool 2 (2018)
Bom dia, Luis. Realmente uma situação terrível e indesejada. Quem assistiu esse filme deve ter se colocado na pele do protagonista e sentido o que é a verdadeira claustrofobia. Talvez haja um pequeno spoiler aqui, mas o final trás até uma ponta de esperança para o desditoso intérprete o que depois se transforma em ruína. Forte abraço.
ResponderExcluirBoa Tarde Janerson.
ResponderExcluirApesar de ser um filme pouco conhecido e muitos confundirem o título com Sepultado Vivo (1990), a produção tem seus méritos por conseguir dar um clima realmente claustrofóbico ao filme. Muito obrigado por mais este comentário e um grande abraço.