A TRANSFORMAÇÃO DE UM ARISTOCRATA EM GUERREIRO
John
Morgan (Richard Harris) é um aristocrata inglês em terras americanas em 1825.
Sem objetivos e com uma sensação de tédio, John busca em aventuras algo que lhe
mostre o sentido da vida. Caçando aves em pleno oeste americano, ele e
seus empregados não percebem a proximidade de um grupo de índios da tribo
Sioux. Apenas John sobrevive ao ataque onde é capturado e levado para a aldeia
indígena. Lá passa a viver como um animal, pois os índios o tratam como um
burro de carga. John não possui as mínimas condições de dignidade e começa a
criar um ódio pelos seus captores. Sem falar a língua local, encontra outro
homem capturado, Batiste, que se encontra há cinco anos cativo e lhe mostra as
conseqüências dos que tentam fugir. O tempo passa e John consegue o respeito da
tribo ao salvar algumas crianças de um ataque de índios rivais. Batiste vê uma
oportunidade de fuga, mas John começa a entender o modo de vida Sioux e passa a
respeitá-los, querendo, inclusive, desposar uma das mulheres.
Um
Homem Chamado Cavalo é baseado no conto “A Man Called Horse”, do livro “Indian
Country” de Dorothy M. Johnson, publicado em 1968 e que apresenta uma visão
diferente dos nativos americanos. O diretor Elliot Silverstein, egresso da
televisão, destacou-se com o filme Dívida de Sangue (1965) que ajudou ao ator
Lee Marvin a sair de papéis secundários para o grupo de elite Hollywoodiano e
filmou, também para o cinema, O Carro – A Máquina do Diabo filme hoje raro, mas
conhecido do público que assistia os filmes noturnos na Globo. Elliot fez de
“Um Homem Chamado Cavalo” um filme interessante que dividiu a crítica, que o
qualificou como inovador e de bom gosto em contraposição a outros críticos que
o acharam tedioso e antropologicamente fantasioso.
O filme que trata da vida dos Sioux (no livro a tribo era dos Crow) e, acertadamente, optou por não colocar os nativos falando inglês. Com isso John e o espectador vão, aos poucos, compreendendo as situações e gestos. John é capturado, tratado como subespécie. Mostra seu valor, toma uma linda nativa em seus braços, passa por ritual torturante (e, diga-se de passagem, muito bem feito, num realismo impressionante), consegue o respeito entre os “selvagens” e até os lidera em batalha. Por ser de 1970, o filme envelheceu um pouco ao longo dos anos, mas seu conceito permanece intacto. Ainda que não seja uma obra prima do cinema, tem justificadamente, seus admiradores e muitos se recordam de Richard Harris por este filme.
Para aqueles que leram o livro “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio”
o filme pode parecer um tanto falso, visto que a maioria das tribos não era
constituída de “selvagens” que atacavam indiscriminadamente a todos. Sua
linguagem era diferente, seus costumes eram diferentes, mas sua cultura era de
sabedoria. Como o livro diz (com outras palavras) devemos esquecer os filmes de
índios atacando caravanas indefesas e a cavalaria chegando no último minuto
para salvá-los. Os índios eram, em sua maioria, pacíficos e receberam bem o
homem branco até perceberem que roubavam, mentiam , matavam animais por
diversão, destruíram as florestas e poluíam os rios. No fim de tudo, por causa
de ouro, lhes tomou as terras à força ou através de tratados da qual nunca
honraram. Os Sioux eram das tribos que mais lutaram contra os brancos.
Aqui
temos um francês capturado, Batiste (Jean Gascon 1921–1988) que lhe informa que
os Siouxs não tinham lidado com a presença do homem branco, mas os espanhóis
foram os primeiros que este povo conheceu. Seus inimigos eram os Crow (os
protagonistas originais do livro), mas a adaptação para os Sioux, mais
conhecidos, e a curiosidade de seus ritos de passagem para guerreiros deve ter
influenciado os roteiristas.
Quanto ao elenco, podemos dizer Richard Harris está muito bem e é a força
motriz do filme sendo auxiliado pelo ator Jean Gascon, que fez um ótimo
Batiste, passando-se por maluco para não ter que trabalhar e caçar.
Batiste é o elo de ligação entre John e os Sioux, visto que seus anos como
prisioneiro o fizeram conhecedor de ritos, linguagem e costumes que auxiliam o
aristocrata nos momentos mais decisivos. A linda atriz Corinna Tsopei
(1944), que encarnou a paixão de John, foi Miss Grécia e Miss Mundo em 1964.
Corinna também esteve no filme “A Praia dos Desejos” (1968) ao lado de Michael Sarrazin
e Jacqueline Bisset. Sem dúvida, a beleza da atriz chamou muito a atenção no
filme, ainda que suas características físicas tenham destoado muito da
aparência dos demais. Ainda a destacar a atriz Judith Anderson, que fez a
senhora idosa, com extensa biografia, onde se destacam os filmes “Rebeca, A
Mulher Inesquecível” (1940), “Os Dez mandamentos” (1956) e “Jornada nas
Estrelas III - À Procura de Spock” (1984).
Um
Homem Chamado Cavalo é um misto de drama e aventura no Velho Oeste, mas sem
confrontos entre mocinhos e bandidos e esse fator pode ser uma boa opção para
aqueles que procuram um faroeste diferente dos habituais. Ainda que não seja
totalmente fiel aos costumes Sioux, percebe-se nos créditos que houve a
participação de membros da tribo, que devem ter dado ao filme um pouco de
contribuição quanto aos seus costumes. Um filme para ser apreciado. Houve
mais duas continuações, inferiores, com o ator principal: “A Vingança de Um
Homem Chamado Cavalo”(1976) e “O Triunfo de um Homem Chamado Cavalo” (1983).
Curiosidades:
Richard
Harris morreu de câncer. Foi internado durante as filmagens de "Harry
Porter e O Prisioneiro de Azkaban", onde fazia o papel do professor
Dumbledore.
A
escritora Dorothy M. Johnson teve outros 2 trabalhos adaptados para o cinema: A
Arvore dos Enforcados (1959) e O Homem Que Matou o Facínora (1962)
Para a dolorosa cena da cerimônia de iniciação Vow to the Sun, Richard Harris usou uma prótese de peito criada pelo maquiador John Chambers.
A história é baseada na experiência de "Cabeza de Vaca", um soldado espanhol capturado por indígenas americanos em 1528.
Muitos atores, incluindo Robert Redford, recusaram o papel principal antes de Richard Harris aceitar.
Baseado em segmento de 1958 da série de televisão Caravana (1957), com o mesmo título. É a mesma história deste filme, com algumas mudanças, até mesmo chefe com duas irmãs e uma escrava da mãe de Yellow Rope.
O diretor Elliot Silverstein disse a Richard Harris no início da produção que planejavam filmar Harris nu para uma cena do filme, com visão frontal e traseira total. Para perder algum peso, Harris desistiu de beber durante as filmagens, apenas para ter a cena filmada cortada da versão final do filme.
Manuel
Padilla Jr. (1956-2008), o Jai, do seriado da década de 70 Tarzan, com o ator Ron Ely,
aparece em alguns momentos como um dos garotos da tribo.
Padilha na Cena da Luta de John |
Padilha no Ritual |
Padilha no seriado Tarzan |
Corinna Tsopei nos seriados "Daniel Boone" e "Perdidos no Espaço"
Judith Anderson em "Rebecca a Mulher Inesquecível" e "Jornada nas Estrelas III"
Cartaz:
Breve Filmografia:
Richard Harris (1930–2002)
Os Canhões de Navarone (1961); O Grande Motim (1962); A Bíblia (1966); Um
Homem Chamado Cavalo (1970); Robin e Marian (1976); O Retorno do Homem Chamado
Cavalo (1976); A Travessia de Cassandra (1976); Orca - A Baleia Assassina (1977);
Selvagens Cães de Guerra (1978); O Novo Princípio (1979); O
Triunfo de Um Homem Chamado Cavalo (1983); Terra da Discórdia (1990); Um Dia de Liberdade (1984); Jogos
Patrióticos (1992); Os Imperdoáveis (1992); Gladiador (2000); Harry Potter e a
Pedra Filosofal (2001); O Conde de Monte Cristo (2002); Harry Potter e a Câmara
Secreta (2002);
Jean Gascon (1920–1988)
Henry V (1966); Um Homem Chamado Cavalo (1970); Cordélia (1980); The Lucky Star (1980); À Corps Perdu (1988)
Judith Anderson (1897–1992)
Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940); Mulher Sinistra (1941); Em Cada Coração um Pecado (1942); Noivas de Tio Sam (1943); Laura (1944); O Espectro da Rosa (1946); Almas em Fúria (1950); Salomé (1953); Macbeth (1954); Os Dez Mandamentos (1956); Gata em Teto de Zinco Quente (1958); Macbeth (1960); Cinderelo sem Sapato (1960); Um Homem Chamado Cavalo (1970); Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock (1984); O Primeiro Pecado Deste Lado do Céu (1986);
Manuel Padilla Jr. (1955–2008)
A Moeda da Sorte (1963); Brincando de Guerra (1963); 4 Heróis do Texas (1963); Robin Hood de Chicago (1964); Taffy and the Jungle Hunter (1965); O Pistoleiro de Esporas Negras (1965); Tarzan e o Vale do Ouro (1966); Tarzan e o Grande Rio (1967); Tarzan e o Silêncio Mortal (1966); Tarzan, O Rebelde da Selva (1967) Tarzan (seriado 1966 a 1968); A Noviça Voadora (seriado 1969); Um Homem Chamado Cavalo (1970); A Grande Esperança Branca (1970); The Boy and the Turtle (1971); Loucuras de Verão (1973); Cotton Candy (1978); E a Festa Acabou (1979); Scarface (1983)
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