DOC SAVAGE: O HOMEM DE BRONZE / DOC SAVAGE: THE MAN OF BRONZE (1975) - ESTADOS UNIDOS

ROTEIRO E DIREÇÃO DE EQUÍVOCOS

Na década de 30, Doc Savage deixa seu refúgio no Ártico e volta para Nova York onde encontra seus 5 amigos, sofre um atentado por parte de um homem de uma tribo desconhecida e descobre que seu pai está morto. O documento fora enviado por este para Doc, sendo misteriosamente destruído em seu escritório antes que pudesse saber o seu conteúdo, o que o leva a buscar uma  lendária tribo na América do Sul chamada  "Kestamal", em um pequeno país chamado "Hidalgo". Mas um rico e influente homem de negócios tentará impedir a todo custo que Savage e seus amigos acessem o misterioso local e descubram seus segredos.

Difícil entender como um filme dirigido por Michael Anderson (1920–2018) de filmes como “A Volta ao Mundo em 80 Dias” (1956); “As Sandálias do Pescador” (1968); Fuga no Século 23 (1976);  “Orca - A Baleia Assassina” (1977) , tendo  “George Pal” (1908–1980) de filmes “A Máquina do Tempo” (1960) e  “As 7 Faces do Dr.Lao” (1964) como roteirista e produtor pudesse entregar um filme tão equivocado.  Me lembro desse filme quando estreou na Rede Globo em 1983 e, nos anos 90, a Extinta Rede Manchete comprou os direitos e passou a fazer algumas exibições (no cinema chegou em janeiro de 1978). Nunca assisti o filme por inteiro, apenas partes. Então revisitar esse filme de um personagem tão conhecido (lá fora) e com uma nova versão, vindo agora com Dwayne “The Rock” Johnson, nada mais natural do que tentarmos destrinchar um pouquinho desse filme que se sustenta pela gama de bons atores em um filme que parece que os envolvidos não leram as estórias dos quadrinhos ou pulps (aqueles antigos livros de bolso). Mais parece que receberam um croqui (era assim que chamavam) explicando quem era o personagem.

Personificado pelo ator Ron Ely (o melhor Tarzan da Tv), aos 37 anos, visivelmente, no auge da forma física, talvez tivessem encontrado o ator certo para o papel, mas a desastrosa direção derivado de um roteiro incrivelmente ruim sepultou qualquer chance do próximo filme acontecer (no final do filme chegou a ser anunciada uma nova produção que, provavelmente, se transformaria em uma franquia).

Janice Heiden e Robyn Hilton

 

As razões? Me desculpem os saudosos, mas há muitas: o filme começa até interessante com um homem de uma tribo (acreditem, é o ator William Katt do seriado “O Super Herói Americano") atacando a torre onde vive Savage. Daí pra frente começam as cenas e situações incrivelmente pitorescas (nem vou falar da narração de apresentação do personagem). A quantidade de situações "deus ex-machina" (“utilizada para indicar uma solução inesperada, improvável e mirabolante para terminar uma obra ficcional” –Wikipedia) são impressionantes. Um avião surge para derrubar doc e seus amigos, mas ele “imaginou isso” e resolve o problema facilmente. Vai numa festa e “advinha” que terá que pular na água. Então leva um pequenino tanque de ar ... ou seja, pra cada situação inesperada ele tem a solução. Pintou veneno? Ele tem um laboratório portátil e cria um soro. Precisa chegar a um lugar desconhecido? Tem alguém que morou perto (!!!!??) e que conhece alguém que já esteve no local. 

 

O filme optou por colocar uma espécie de fanfarra, em exaltação ao personagem, que estraga o filme de forma cruel. Os efeitos especiais também não ajudam. Quem não se lembra das serpentes em forma de névoa que atacam as pessoas com veneno? Chega a ser constrangedora a falta de sintonia dos (toscos) efeitos com a interação dos personagens. Em crianças deve ter até ter assustado, mas vendo atualmente, é impossível não achar engraçado. O espectador verá em determinado momento que o nosso herói, cientista, gênio, médico, explorador, super forte também é expert em artes marciais. E toda vez que temos ação entra uma marchinha de exaltação. Nosso herói enfrenta um vilão expert em várias técnicas de lutas e vão surgindo os nomes das artes marciais para nortear quem assiste. Essa cena é muito engraçada (no sentido de constrangedora). Tudo bem, é até compreensível: o público dos quadrinhos era visto de uma maneira meio obtusa pelos setores cinematográficos que achavam que tudo deveria ser infantilizado. E ainda temos o efeito Batman. O seriado fazia muito sucesso com aquelas lutas repletas de onomatopeias (os famosos “CRASH!”, “BOOM!”, “BANG!”) e alguém deve ter pensado: filmes de heróis devem ser assim, meio infantis para um público infantil que vai adorar. Só que esse “tom ingênuo” destruiu o filme nas bilheterias. O fãs esperavam ver seu herói em live action na tela e ... Bom viram uma versão nada interessante. Deve ser por isso que um dos “vilões” dorme em um berço.

 

O elenco é algo a ser citado: Ron Ely, como disse, poderia ter emplacado esse personagem, mas não lhe deram a chance de ter um bom papel. Bom ator (Aventura Submarina, Tarzan) com certeza ele sempre foi e faria sucesso em um filme sério.  Pamela Hensley ficaria muito famosa com a série “Buck Rogers no século XXV”. Teve um papel bem diferente aqui, de moça recatada e apaixonada, em contraponto a personagem sedutora e manipuladora que interpretaria na série. Paul Wexler, como vilão, não funcionou, ficando caricato demais. Não consegui entender porque Robert Tessier (“Lutador de Rua” 1975) não pode ser um vilão (capanga) para enfrentar Savage. Talvez pelo motivo de apesar das produções serem do mesmo ano, o famoso filme de Charles Bronson ("Lutador de Rua") que ele participaria só estrearia 3 meses depois nos EUA e Tessler ainda não era “famoso o suficiente”. Temos uma rápida aparição de Michael Berryman (“Quadrilha de Sádicos” e “Benção Mortal”). Também das atrizes Robyn Hilton (Karen) e Janice Heiden (Adriana) que, coincidentemente, encerraram a carreira em 1985. Do quinteto podemos citar William Lucking (Renny) rosto conhecido de vários seriados e Paul Gleason (O professor do colégio do filme “Clube dos Cinco”). O restante dá o seu recado.

De uma forma ou outra os elementos das estórias estão lá: o edifício, o refúgio (ou fortaleza da solidão) no Ártico, o juramento de honra, como Savage descobre ouro, os anos 30, seus cinco amigos de aventuras e a famosa “operação cerebral” para recuperar criminosos. Interessante imaginar como ficaria Schwarzenegger no personagem, pois os estúdios o queriam para interpretar Savage lá pelo final dos anos 90. 

Doc Savage é ruim? É, mas é divertido. É tosco, mas é engraçado. Ingênuo demais, mas simpático. O mais interessante é que ficou com um ar de telefilme (ou filme piloto), não parecendo uma obra cinematográfica. Se esse filme fosse feito 5 anos depois (anos 80), certamente teria um conceito mais adulto. Talvez, no fim das contas,  a época de produção tenha realmente atrapalhado o filme. Vale pelos atores que se esforçaram para entregarem um bom filme, mas não vale pela direção e roteiro desastrosos. Indicados aos saudosos do filme, em uma época em que a infância era mais ingênua e sem muita violência.

Trailer:

Curiosidades:

 

William Katt em O Super Herói Americano

Pamela Hensley em Buck Rogers

Quadrinhos:

Poster:

"The Arch Enemy of Evil" seria  a sequência anunciada.

Pamela Hensley se aposentou do cinema e Tv em 1985. Em 2004 publicou um livro de receitas chamado "The Jewish-Sicilian Cookbook".

Paul Gleason faleceu de Mesotelioma (câncer).

Robert Tessier faleceu de câncer.

Filmografia Parcial:

Ron Ely (1938-2024)
 

 

No Sul do Pacífico (1958); O Terror do Oeste (1958); Tudo Azul com o Barba Azul (1959); The Aquanauts (1960); Aventura submarina (seriado 1961); Satã, O Urso Cinzento (1966); Ânsia de Viver (1966); Chamas da Paixão (1966); Tarzan (seriado 1966 -1968); Tarzan e o Silêncio Mortal (1966); Tarzan, O Rebelde da Selva (1967); Aleluia e Sartana (1972); O Uivo dos Lobos (1972); Doc Savage: O Homem de Bronze (1975); Traficantes de Escravos (1977); Sea Hunt (seriado -1987); Entre a Religião e o Amor (2014) 

Paul Gleason (1939–2006)

Doc Savage: O Homem de Bronze (1975); Força Vigilante (1976); O Grande Santini - O Dom da Fúria (1979); Trilha de Corpos (1980); Inferno no Bronx (1981); Arthur, o Milionário Sedutor (1981); A Perseguição (1981); A Força do Carinho (1983); Trocando as Bolas (1983); Clube dos Cinco (1985); Caravana da Coragem 2: A Batalha de Endor  (1985); Para Sempre Lulu (1987); Ela Vai Ter um Bebê (1988); Duro de Matar (1988); O Anjo Assassino (1990); Maniac Cop 3 - O Distintivo do Silêncio (1993); Tudo Por Dinheiro (1997); Não é Mais um Besteirol Americano (2001); O Dono da Festa (2002); Abominável (2006) e várias participações em séries

William Katt: 

Carrie, a Estranha (1976); O Super-Herói Americano (1981 -1983); A Casa do Espanto (1986); A Casa do Espanto IV  (1992); Cyborg 3: A Criação (1994); O Pestinha 3 (1995); Rastro de Pavor (1996); Amor em Dobro (1999); Cobras (2002); O Homem da Terra (2007); Espelhos do Medo 2 (2010);

Michael Berryman
 

 

Doc Savage: O Homem de Bronze (1975); Um Estranho no Ninho (1975); Quadrilha de Sádicos (1977); Bênção Mortal (1981); Convite Para o Inferno  (1984); Mulher Nota Mil (1985); A Máquina do Outro Mundo (1985); Jornada nas Estrelas IV - A Volta para Casa (1986); Os Bárbaros (1987); Jornada nas Estrelas V - A Última Fronteira (1989); Príncipe Guerreiro 2: O Portal do Tempo (1991); Double Dragon (1994); Rejeitados Pelo Diabo (2005); Terror Abaixo de Zero (2011); As Senhoras de Salem (2012).

Pamela Hensley

Rollerball - Os Gladiadores do Futuro (1975); Doc Savage: O Homem de Bronze (1975); Buck Rogers no Século XXV (telefilme, 1979); Buck Rogers (seriado 1979-1980); A Bomba Que Desnuda (1980); Matt Houston (seriado 1982-1985) e participações em séries

William Lucking (1941-2021)

Os Dois Indomáveis (1971); Ensina-me a Viver (1971); A Fúria dos 7 Homens (1972); Doc Savage: O Homem de Bronze (1975); O Retorno do Homem Chamado Cavalo (1976); Perigo em Paraíso (1977); Mulher Nota 10 (1979); Capitão América II  (1979); Kung Fu: O Filme  (1986); Flagrante Delito (1989); Babe Ruth - A Lenda do Beisebol  (1991); O Rio Selvagem (1994); A Última Chance  (1996); Efeito Dominó (1996); O Beijo da Traição (1998); O Estranho (1999); Dragão Vermelho (2002); Bem-vindo à Selva (2003); Desafiando os Limites (2005); Contrabando (2012) e a participação em várias séries

 Robert Tessier (1934–1990)
 
 

Doc Savage: O Homem de Bronze (1975); Lutador de Rua (1975); O Fundo do Mar (1977); Starcrash (1978); Quem Não Corre, Voa (1981); A Espada e os Bárbaros (1982); Um Sequestro Muito Louco (1989); Esquadrão do Futuro (1989).