"AS PESSOAS SEMPRE ACREDITAM NO PIOR"
John Garth (Sterling
Hayden), com dois cúmplices, é acusado de invadir a casa da família Horvath e
matar sua esposa Valerie Horvath (Anita Ekberg) e os
pais desta. Levado aos tribunais passa a contar sua versão dos fatos e o que o
motivara a tal ato. Como testemunha dos últimos dias de convivência do casal é
chamado a depor como testemunha o Reverendo local que inicia o seu relato, mas
essa estória, com vários aspectos contraditórios, está longe de ser esclarecida
rapidamente.
(A PARTIR DESTE PONTO
A HISTÓRIA CONTÉM INEVITÁVEIS SPOILERS)
A primeira versão é a
do recém chegado Reverendo Blake (Anthony Steel) que conhece o simpático casal
após um culto e acaba entrando na vida da dupla, pois a esposa Valerie Hovart
Garth (Anita Ekberg) lhe pede ajuda para fugir de casa. Sua narração não deixa
muito claro o papel de John Garth (Sterling Hayden) no contexto. Só sabemos que
algo a incomodava profundamente e que o pastor tentou ajudá-la. Ele acredita
que John seja culpado.
Em
seguida o próprio John Garth é chamado a testemunhar e sua versão da
estória é completamente diferente: homem apaixonado, casara com uma mulher
interesseira que ao descobrir que ele perdera parte de sua fortuna, em pagamento
de dívidas do falecido pai, passa a rejeitá-lo se atirando nos braços do irmão
e sucumbindo às investidas do reverendo que parece encantado com sua bela
esposa e a forma como enfeitiça os homens. John alega “crime de honra” e recebe
apoio da população que o vê como um herói da guerra de secessão e a ela como
uma mulher sem honra.
Para a
surpresa de todos, Valerie não morrera e está em condições de depor. E uma nova
versão surge: ela se encantara pelo irmão de John, Herb Garth (Peter Walker),
mas fora obrigada pelos pais a se casar com um homem influente, ciumento,
psicótico e violento que só a deixaria sair de sua vida morta. Sua obsessão
torna-se crescente e ela passa a ser alvo de maus tratos. Ajudada pelo
reverendo, refugiara-se na casa dos pais.
Valerie não
é um filme conhecido. Pode ser considerado um filme menor na filmografia dos
atores, mas sua narrativa é bem interessante, pois agrega aspectos que vão
surgindo ao longo versões narradas pelos envolvidos, deixando o espectador com
dúvida de quem está mentido.
Há fortes
críticas sociais durante a projeção e esses aspectos nos são
apresentados claramente ou até de forma mais sutil: o pensamento reinante
(ainda hoje) que julga as pessoas do próprio meio como pessoas íntegras: John, nascido e criado na cidade, é
um herói de guerra, Valerie uma recente imigrante e Blake um recém chegado. E
os americanos sempre olham com com certa suspeita os que vem de fora; esposas
vistas como uma mera propriedade (como o dote que é oferecido pela família para
casar a filha). Em alguns países isso ainda ocorre; o direito de matar como "crime de
honra", que no Brasil absolvia vários maridos até o final a década de 70.
Algo que ainda ocorre em alguns países em pleno século XXI. Pessoas com
costumes diferentes são prejulgadas:
Valerie é estrangeira e é vista como tal; sua frase para o reverendo após
o culto: “invocou a fé e o coração, em vez de invocar o medo” é um modo de
mostrar como a religião pode ser entendida por cada cultura. E se você não se
encaixa no rótulo que a sociedade lhe impõe, as pessoas passam a rejeitá-lo; a
palavra do patriarca prevalece a da esposa e todos fecham os olhos a versões
que não sejam a “oficial” ; valerie é mostrada por Garth como uma "femele
fatale"( tão comum nos filmes noir dessa época) numa forma de desvalorzação.
Temos até o tema tortura na guerra sendo
trazido à tona.
Se o
espectador assistiu Rashomon, de Akira Kurosawa, já identificou aspectos dessa
obra, até mesmo porque o filme, assim como o clássico japonês, é
narrado em flashbacks e apresenta pontos de vistas conflitantes. Só que a baixa
duração (82 min) influenciou diretamente no resultado. Se houvesse uma
extensão de 15 minutos, com um suspense acerca de quem relatara os fatos
fidedignamente, evitaria um final meio abrupto, meio anti-clímax.
Valerie,
mesmo não sendo uma produção de reconhecida qualidade como “Rastros de Ódios”;
“Consciências Mortas”, “Matar ou Morrer”, “Os Brutos Também
Amam”, “Sem Lei e Sem Alma”, “Johnny Guitar”, Estigma da Crueldade” e outros
tantos traz um bom elenco com Anita Ekberg (que chegaria ao estrelado com "La Doce
Vida" de Fellini) e Sterling Hayden em um papel nada simples, uma bela
fotografia e uma direção dinâmica de Gerd Oswald, aliada a uma ótima fotografia em preto e branco. Um faroeste que não
se parece como tal e que merece ser redescoberto
Curiosidades:
Anita Eckberg foi a Miss Suécia em 1950. Seu nome de batismo era Kerstin Anita Marianne Ekberg. Faleceu de doença não revelada.
Anthony Steel (1918–2001) faleceu de câncer de pulmão
Sterling Hayden (1916–1986) faleceu de câncer de próstata
O diretor Gerd Oswald (1919–1989) dirigiu episódios de vários seriados clássicos como: "Viagem ao Fundo do Mar", "O Fugitivo", "Bonanza", "Jornada nas Estrelas", "Daniel Boone", "Ben, o Urso Amigo", "Além da Imaginação" (1985).
O diretor Gerd Oswald (1919–1989) dirigiu episódios de vários seriados clássicos como: "Viagem ao Fundo do Mar", "O Fugitivo", "Bonanza", "Jornada nas Estrelas", "Daniel Boone", "Ben, o Urso Amigo", "Além da Imaginação" (1985).
Filmografia Parcial:
Flechas
Incendiárias (1952); A Garganta do Diabo (1952); O Falcão Dourado (1952); Vivendo no Inferno
(1952); Príncipe Valente (1954); Johnny Guitar (1954); Meu Ofício é
Matar (1954); Gigante dos Mares (1955); O Grande Golpe (1956); Dr.
Fantástico (1964); O Poderoso Chefão (1972); Um Perigoso Adeus (1973);
Terror Mortal (1975); Rei dos Ciganos (1978); Como Eliminar Seu Chefe
(1980).
Artistas e Modelos (1955); Guerra e Paz (1956); Ou Vai ou Racha (1956); Valerie (1957); A Doce Vida (1960); Os Mongois (1961); Os Crimes do Alfabeto (1965); Como Aprendi a Amar as Mulheres (1966); Sete Vezes Mulher (1967); Cavalgada da Vingança (1972); A Freira Assassina (1979); Entrevista (1987); Bámbola (1996)
Minha Espada, Minha Lei (1953); Tormenta Sobre o Nilo (1955); Valerie (1957); A Batalha de Anzio (1968); Massacre em Roma (1973); A História de 'O' (1975); Hardcore (1977); Crime Perfeito (1978); A Maldição do Espelho (1980)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre