segunda-feira, 26 de setembro de 2022

HUNDRA - A MULHER GUERREIRA / HUNDRA (1983) - ESPANHA / ESTADOS UNIDOS / ITÁLIA

VERSÃO FEMININA DE CONAN

Um grupo de mulheres guerreiras vive em uma aldeia nômade de forma autossuficiente, exceto pelas visitas ocasionais às aldeias vizinhas para acasalar. A tradição da comunidade é doar os filhos do sexo masculino, permanecendo apenas com as meninas que se tornarão "Amazonas". Certo dia, a aldeia é atacada por um grupo de selvagens guerreiros e salteadores que promove um verdadeiro massacre. E ainda que a luta seja feroz, Hundra, que estava fora caçando, chega apenas no final para tentar equilibrar a luta, mas a guerra já estava perdida. Como última remanescente do grupo, procura uma sábia anciã Chrysula (Tamara), que lhe instrui a buscar um consorte que lhe dê uma filha e assim impeça que a linhagem da tribo desapareça. Hundra vai em busca desse homem e de sua vingança.

Não há como negar que a produção Hundra foi modelada em Conan, com um início semelhante ao arco da história do bárbaro, mostrando o massacre da aldeia (acompanhado por uma partitura orquestrada de Ennio Morricone) e a busca da protagonista com o seu cão Fera (na verdade um cão covarde!) para se vingar do grupo responsável, em plena Idade do Ferro.  Era uma época de filmes bárbaros, todos oriundos do sucesso de Schwarzenegger e do diretor John Milus: "Ator, O Guerreiro Invencível" (que virou franquia),  "Ironmaster", "A Espada e os Bárbaros", a Franquia "Deathstalker",  "Sorceress", "Guerreiro deAço – A Lenda", "Os Bárbaros"... e outra dezena de filmes que nunca estrearam por aqui, nem em VHS. Só que Hundra apresentaria algo a mais: uma atriz que funcionou no papel, uma veia cômica na estória e um feminismo explícito que domina grande parte do filme, deixando de ser apenas um conto de vingança. Muitos lembram que Hundra veio antes de Red Sonja (Guerreiros de Fogo), mas não se enganem: Hundra sofre de vários defeitos e o principal é a falta de dinheiro (a maior parte dos figurinos e alguns cenários na produção foram comprados  de Conan), que inclusive foi obrigada a dar um final diferente do planejado conforme revelaram os envolvidos. Talvez com um bom orçamento e umas mudanças aqui e ali (como, por exemplo, o Vilão) essa produção seria melhor lembrada, mas lá fora gerou um grande número de admiradores na época. Hoje o filme praticamente não é mais lembrado.

Hundra começa bem, até surpreende nas cenas de combate na "aldeia amazona", mas quando começa a peregrinação de Hundra as coisas começam a dar errado e a estória não se sustenta, apesar da atriz Laurene Landon carregar o filme nas costas com suas acrobacias e destreza em combate. E se o filme não afunda completamente deve-se ao fato da atriz ter feito praticamente 99% das cenas, não aceitando dublês, o que lhe custou diversos traumas durante a produção: segundo a atriz as espadas eram reais e, em uma cena, quase perdeu olho, lhe gerando uma cicatriz.  A atriz aprendeu a montar em uma escola de equitação na Espanha, três meses antes de iniciar as filmagens, ainda assim, durante as filmagens, foi jogada por um dos cavalos no chão fraturando as  costas e o cóccix tendo que atuar, em alguns momentos,  a base de remédios. Ainda assim, vemos que, na maioria das cenas, a atriz luta com um sorriso nos lábios, pois se divertia em cena. Só lhe foi negado que fizesse a cena da queda para trás do telhado, considerada de alto risco.


Se Conan é magia e efeitos especiais, Hundra mostra a sociedade como era naquela época: dominação masculina e opressão feminina. A chegada de Hundra muda o panorama local onde mulheres eram levadas aos palácios para a satisfação de seus mestres. A jovem guerreira enfrenta a guarda real, encontra o seu grande amor e ainda incita uma libertação feminina.  Percebe-se que muitas das cenas  foram escritas como uma metáfora para a relação entre homens e mulheres ao longo dos séculos, algo muito incomum nesse gênero. O roteiro de John Goff (que também atuou em vários filmes como, por exemplo, “Eles Vivem”) & José Truchado lembra muito uma estória em quadrinhos, com espadas, mas sem feitiçaria (algo até obrigatório no gênero). E nessa substituição do testosterona pelo estrogênio há muita ação, bons combates, cenas divertidas pelas mãos do diretor Matt Cimber (que fora casado com Jayne Mansfield), que teve um filme lançado nos cinemas de nosso país: “A Guerreira de Indiana Jones” (1984), também com Laurere.  Cimber fez um filme escapista, é verdade, mas que prende do início ao fim se você não for muito exigente e desejar apenas um passatempo rápido.

Quanto ao elenco, Laurene Landon, aos 25 anos, tinha feito “Eu Sou a Lei”, com Armand Assante e “Apertem os Cintos o Piloto Sumiu 2”. Após Hundra, faria filmes como "América 3000", "Maniac Cop" e "A Ambulância". A atriz esteve ótima: ágil, engraçada e impressionou em algumas cenas que normalmente são feitas por dublês. Uma pena que tenha recusado o papel em "Red Sonja" (Guerreiros de Fogo) quando procurada pelo produtor Dino de Laurentis. O ator espanhol Ramiro Oliveros (que também estaria em “A Guerreira de Indiana Jones”) fez Pateray, um médico local pela qual Hundra se apaixona. O casal funcionou em cena. O ator azerbaijanês Cihangir Gaffari (assinando John Ghaffari), fez o rei Nepatkin (“não me toques!”) que pareceu ter problemas com qualquer pessoa que nele encostasse. O ator esteve em "O Grande Dragão Branco". A atriz espanhola María Casal (que teve participação não creditada no filme "Munique" de 2005) interpretou Tracima que vive na corte, esconde um filho e nutre sentimentos por Pateray. A atriz que fez a anciã Chrysula, usou o nome de Tamara e só teve esse filme em sua filmografia. 

Hundra é um filme curioso, com uma proposta interessante, mas uma execução que ficou aquém do esperado. Como quase todos os filmes desse gênero, atualmente pode ser visto como um filme “Trash”, mas em comparações com os congêneres de Conan é um dos mais simpáticos. A falta de recursos mostra-se evidente e quem for assistir não deve esperar grandes figurinos ou locações. Indicado aqueles que gostam do gênero ou buscam filmes quase que desconhecidos  por aqui.


Trailer:


Curiosidades:

Todo o diálogo para este filme foi em encaixado na pós-produção.

Houve um dublê para a cena de nudez, que Laurene Landon originalmente não queria fazer, mas ela era bem diferente: mais baixa e mais forte. "Eles a colocaram na água porque eu não ia mostrar meus seios. Ela tinha talvez um metro e meio. Acho que Matt Cimber fez isso de propósito para me obrigar a fazer aquela cena de nudez. "Essa não sou eu. Eu mesma vou fazer", disse Landon.

O filme pode ser encontrado na internet em espanhol


Cartazes:



Laurene Landon Atualmente:












Filmografia Parcial:

Laurene Landon

Garotas Duras na Queda (1981); O Jovem Lobisomem (1981);  Eu Sou a Lei (1982); Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu 2 (1982); Hundra - A Mulher Guerreira (1983); A Guerreira de Indiana Jones (1984); A Coisa (1985); America 3000 (1986); Resposta Armada (1986); Maniac Cop: O Exterminador (1988); A Madrasta (1989); Maniac Cop 2: O Vingador (1990); A Ambulância (1990); Drive (2011); Samurai Cop 2: Deadly Vengeance (2015); A Husband for Christmas  (2016); Death Game (2017); Amityville Cop (2021); Together (2021); Clown Motel 2 (2022)


Fontes:

Starburst Magazine

The Dark Side Digital 

IMDB

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