UM CAMPEÃO DENTRO E FORA DAS PISTAS
1969. John Baker (Timothy Bottoms), corredor de milha, se preparando para disputar as olimpíadas de 1972 e atuando como professor de educação física na escola primária Aspen Elementary School, sente um súbito mal estar e fortes dores que o levam ao solo. Em consulta médica, o médico observa uma radiografia e lhe questiona se não sentia dores. Baker informa sentir dores há 3 anos, mas que o duro treinamento diário o capacitou a ignorá-las. Mas o que o atleta descobre é que ele possui um tumor que só poderá ser analisado após uma cirurgia exploratória e que pode estar se alastrando. Há urgência na cirurgia e Baker prefere não informar aos amigos, passando a pesquisar seu problema: carcinoma de células embrionárias (embryonal carcinoma), tumor geralmente maligno e com poucas chances de cura na época.
A retirada do tumor parece
uma chance de cura, principalmente quando Baker recebe a notícia de que sua doença
pode ter sofrido uma remissão espontânea, mas, como seu médico percebe, a retirada
não impediu o avanço da doença e a notícia é a pior possível: Baker pode ter
meses de vida. Recusando a deixar a dor vencê-lo facilmente ele se junta ao seu
melhor amigo, John Haaland (Ed Begley Jr.), iniciando um projeto de treinar
jovens meninas, mesmo que muitas nunca consigam se transformar em atletas.
Enquanto o projeto colhe frutos, a doença de John evolui consideravelmente.
Temporada Brilhante foi um telefilme distribuído pela rede CBS, em 1979, patrocinado pela General Motors em nome da empresa Cancer Research Foundation, baseado na história real de John Baker, uma estrela do atletismo que morreu de câncer em 1970 aos 26 anos e que deixou um legado durante seu pouco tempo de vida. O filme aborda sua luta contra a doença, o seu encontro com Mary Anne (Constance Forslund) a pretensa namorada, o convívio com a família em Albuquerque, Novo México, e sua luta para dar alguma contribuição na vida daquelas crianças em período de descobertas. Há personagens bem interessantes: Ron Bellamy (Steve Shaw), o menino com problemas familiares; a pequena menina com problemas de locomoção e sua irmã, com grandes chances de se tornar uma atleta de ponta. O filme, provavelmente por uma questão de metragem, ignora as conquistas de Baker durante o ensino médio e faculdade, focando mais a partir do momento da descoberta de sua doença. O filme foge do típico melodrama, comum a esse gênero, mas isso não impede que o espectador acompanhe, em alguns momentos, a dolorosa evolução da doença de Baker (que, graças a evolução a ciência, não é mais incurável), aliviada por constantes injeções de morfina. Talvez a cena mais lembrada seja a que Baker está em uma banheira, onde sua mãe despeja litros de água quente sem conseguir aplacar as dores atrozes que Baker sente.
O elenco é muito bom. Timothy Bottoms, como John Baker, fez um excelente trabalho transmitindo ao espectador toda dor, garra e esperança de seu personagem. O filme funciona muito por conta de sua atuação. Ed Begley Jr., como melhor amigo de Baker, tem uma vasta filmografia entre filmes, telefilmes e seriados. Constance Forslund fez uma doce Mary Anne na medida certa, sua participação foi limitada, mas, quando apareceu em cena, se destacou. Tamar Howard, como a pequena menina, teve poucos trabalhos na área, terminando sua filmografia em 1983. Michael Sharrett (como Chuck) trabalhou até 1993 e esteve no filme A Maldição de Samantha (1986). Steve Shaw, como o rebelde Ron, participou de algumas séries e faleceu (em 1990), aos 25 anos, em decorrência de um acidente de trânsito. A destacar, o veterano ator Rip Torn (1931–2019), como o pai de Baker e, que, no filme, toca um clarinete para alegrar o filho, além da atriz Allyn Ann McLerie (1926–2018) que faz o papel da mãe do atleta.
Temporada brilhante estreou por aqui em 14 de fevereiro de 1981, no programa "Primeira Exibição". Dirigido por Stuart Margolin (que também tem extensos trabalhos na área de atuação - como no antigo seriado “Arquivo Confidencial”), a partir do livro de William Buchanan e roteirizado por William Harrison (1933–2013) de “Rollerball: Os Gladiadores do Futuro (1975)”. Um filme que se tornou conhecido por suas constantes reprises na antiga Sessão da Tarde, chegando a ser lançado em VHS nos Estados Unidos, mas que desapareceu de nossas programações. Um filme que muitos ainda devem manter na memória.
Curiosidades:
John Baker recebeu bolsas de estudo em 10 faculdades diferentes. Ele escolheu ir para a Universidade do Novo México.
John Baker treinou uma equipe de atletismo para meninas (da primeira série ao ensino médio) chamada Duke City Dashers. A equipe competiu em eventos endossados pela AAU.
Os alunos de John Baker o adoravam tanto que pediram que a escola recebesse o nome dele após sua morte: "Escola Primária John Baker"
John Baker chegou a fazer uma segunda cirurgia abdominal. Seu diagnóstico foi de seis meses de vida. Conseguiu sobreviver por 187 meses.
John Baker teve câncer descoberto de testículo.
Houve outra produção sobre o atleta, em 1976, chamada "John Baker's Last Race"
John Baker criou a equipe de corrida chamada "Duke City Dashers"
Os alunos da escola pediram ao conselho escolar para mudar o nome de Aspen Elementary para John Baker Elementary
O Livro:
Rip Torn em MIB- Homens de Preto
Ed Begley Jr.no seriado Better Call Saul
Cartaz:
Filmografia Parcial:
Timothy Bottoms
Johnny Vai à
Guerra (1971); A Última Sessão de Cinema (1971); Alvorada Sangrenta (1975); A História de Davi (1976); Terror na Montanha
Russa (1977); Uma Janela para o Céu 2 (1978); Furacão (1979); Uma
Temporada Brilhante (1979); Tin Man: As Vozes do Silêncio (1983); Perigo na
Montanha (1984); Pânico em Kilimanjaro (1986); Invasores de Marte (1986);
Estranha Obsessão (1988); Regresso do Rio Kwai (1989); Texasville (1990); O Elo
Perdido (seriado 1991-1992); O Próximo Alvo (1995); Ameaça Nuclear (1996); O
Mensageiro da Morte (1996); O Homem da Máscara de Ferro (1998); Elefante
(2003); Lone Rider (2008); Parasomnia (2008); The Land That Time Forgot
(2009); Tar (2017).
Rip Torn (1931 -2019)
Os Bravos Morrem de Pé (1959); O Rei dos Reis
(1961); Trópico De Câncer (1970); O Homem Que Caiu na
Terra (1976); Coma (1978); Sophia Loren, A Vida de
uma Estrela (1980); O Príncipe Guerreiro (1982); Apertem os Cintos, o Piloto
Sumiu! - 2ª Parte (1982); Por Trás de um Assassinato (1984); Cidade Ardente
(1984); O Limite da Traição (1987); Nadine - Um Amor a Prova de Balas (1987);
Um Visto Para o Céu (1991); RoboCop 3 (1993); Golpe Arriscado (1995); Por Água
Abaixo (1996); MIB: Homens de Preto (1997); O Informante (1999); MIIB - Homens
de Preto II (2002); Olhos da Morte (2003); Maria Antonieta (2006); Lágrimas de
Felicidade (2009)
Ed Begley Jr.
Invencíveis e
Invisíveis (1972); O Pássaro Ferido (1972); Um Anjo da Guarda Muito Especial
(1973); O Guarda-Costas (1976); Nas Ondas do Rádio (1977); Galactica: Astronave
de Combate (1978); Galactica: Astronave de Combate (seriado 1978-1979); Elvis
não Morreu (1979); Hardcore: No Submundo do Sexo (1979); Aeroporto 79: O
Concorde (1979); Temporada Brilhante (1979); Uma Professora Muito Especial
(1981); A Marca da Pantera (1982); Médicos Loucos e Apaixonados (1982);
Get Crazy: Na Zorra do Rock (1983); Ruas de Fogo (1984); As Amazonas na Lua
(1987); A Princesa e o Plebeu (1987); O Turista Acidental (1988); Ela é o
Diabo (1989); Aprendendo a Sonhar (1991); Até as Vaqueiras Ficam Tristes
(1993); Os Puxa-Sacos (1994); Pagemaster, o Mestre da Fantasia (1994); Herói
por Engano (1996); O Retorno da Família Addams (1998); Sétimo Céu
(seriado 1999 -2003); Parentes Perfeitos (2006); Segurando as Pontas (2008); A
Grande Luta de Muhammad Ali (2013); Caça-Fantasmas (2016); CHiPs: O Filme
(2017); Portlandia (seriado 2012-2018); Better Call Saul (seriado 2016-2020);
Jovem Sheldon (seriado 2019-2022)
Fontes:
John Baker Elementary School
Jornal O Globo
Wikipedia
IMBD
The New York Times
Luís, td bem? Minha surpresa com seu post passado foi fantástica ( sem trocadilhos, ok? ). E não esperava tão cedo algo tão surpreendente como isto agora: Temporada Brilhante estava escrita a fogo nas minhas lembranças de infância! Rapaz, que coincidência! Quando assisti esse filme na tv ( fui descobrir o nome só agora ) fiquei vivamente impressionado com algumas passagens, o banho dado pela mãe do protagonista e a sua resposta ao médico, onde ele dizia que achava a dor que sentia quando treinava NORMAL. Aquela resposta remetia o quanto ingênuo e resiliente era aquela pessoa, mesmo eu — uma criança na época — via isso. Seus esforços para um último arranque, quando ele passa a dedicar-se á formação das crianças mostrava a nobreza do personagem e seu belo exemplo de doação ao mundo que dele se despedia. Uau, que emocionante foi ver aquilo. Alguns anos depois me tornei eu um corredor e inevitavelmente me lembrava de passagens do filme quando me exercitava, nem consigo dizer como aquela estória entrou na minha vida. Hoje, com os olhos de adulto, compreendo também como os valores da sociedade americana contribuíram para tanto as pessoas homenagearem figuras com atitudes elevadas como John Baker, como seu desejo final de se doar para o mundo. Que grandeza! Aqui se fala de virtudes imorredoras: da força da vontade humana e da bondade dentro de cada coração, meu Deus.
ResponderExcluirNossa memórias são definidas pelos nossos sentimentos, tenho certeza disso. Mas não acho que a essência deste filme seja muito diferente após mais de 25 anos. Por isso gostaria muito saber como poderia revê-lo. Onde vc o achou, Luís?
ResponderExcluirOutra coisa: Timothy Bottoms nunca saiu da minha cabeça por conta deste papel e, olhando sua filmografia, não me vem nada tão marcante — pelo menos pra mim — quanto este seu John Baker, curioso. Já Ed Bagley fez mais coisas que me recordo. Olha, belo título o seu: um campeão dentro e fora das pistas. Muito bom, muito bom. Um abraço!
ResponderExcluirBoa tarde Mario, tudo bem?
ResponderExcluirTemporada Brilhante foi um daqueles filmes que queria publicar há tempos, mas sempre ia postergando e nem sei porque. Não me lembrava 100 % do filme, mas a maioria estava lá na memória: a descoberta da doença, a interação com os alunos, o duro sofrimento com a doença e a equipe montada. Mas, para fazer a análise, precisava rever o filme. E o encontrei no You Tube, sem legendas, com o título original. É um filme muito bom, acima da média para telefilmes onde tudo funciona e nos traz à tona várias sensações. Tinha dúvidas se alguém lembraria do filme, apesar de ter havido reprises na Sessão da Tarde nos anos posteriores. Timothy Bottoms é irmão do falecido Sam Bottoms, que esteve em um filme que deve pintar por aqui: "Hanna - A Esposa Comprada" (com Gene Hackman). Sam também poderá ser lembrado por fazer o protagonista do antigo telefilme "José no Egito" (da série Grandes Heróis da Bíblia). Telefilmes estão fora do interesse dos blogs porque a maioria visa produções imediatistas. Procuro ser eclético. Que bom que análise o surpreendeu. E ela veio em um momento bem especial para mim: quando o blog alcançou 900.000 visualizações desde a sua criação. Um número que nunca esperei alcançar (e que percebi que o contador não passará de 999.999. Será que congelará? Será que vai zerar?. Vou buscar outro e ver o que acontece). Muito obrigado por mais este comentário. Um grande abraço.
Boa noite!
ResponderExcluirNunca ouvi falar desse filme, mas pela história parece bom, mas no you tube tá em inglês; ainda muitos filmes pra eu descobrir, parabéns pela análise. Gostaria que falasse sobre o filme "contos do além"! de 1972, tava passeando no youtube a procura de filmes antigos, e dei de cara com esse filme que é dividido em contos cada um mais assustador que o outro. Reparei que estes contos é como se fossem uma espécie de fábulas do horror, sempre ao final de cada história a gente reflete sobre os atos humanos.
Abraço.
Olá Fabiana.
ResponderExcluirEsse filme impactou muitas pessoas que o assistiram nos anos 80. Fez sucesso na Sessão da Tarde e depois ficou com exibições ocasionais durante a madrugada. Ao longo dos anos não foi mais exibido. Realmente, o filme está em inglês e as legendas não estão disponíveis no YouTube (isso acontece muito com sons mono, ao contrário de stereo). Há uma alternativa:o Chrome tem uma extensão que pode ser ativada em configurações, que passa a exibir em inglês as transcrições desses áudios (quem sabe em breve em português). Ajuda a quem domina um pouco o idioma.
Quanto a Contos do Além é um pedido bem legal. Coincidentemente, há umas duas semanas, passei rapidamente os olhos nesse filme, que vi há muitos anos, e fiquei pensando se alguém se interessaria em uma análise. Vou revê-lo e em breve postarei. Muito obrigado por mais este comentário e pela indicação do filme. Um grande abraço.
Olha, filme comovente... Assisti na primeira exibição e muitas outras vezes na sessão da tarde. Sempre me lembro dele com carinho, e anos mais tarde perdi o pai com câncer na pulmão. Abraços
ResponderExcluirBom dia (você esqueceu de citar seu nome). É uma produção marcante que tocou o coração de muitas pessoas. Pena que desapareceu das programações, mas ainda bem que temos locais como o YouTube onde pessoas disponibilizam essas raridades. Sinto muito pela sua perda, é uma doença terrível. Obrigado por visitar o blog e comentar. Seja bem-vindo. Um grande abraço.
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