“NOS ÚLTIMOS 500 ANOS,
PROFESSOR, DAQUELES QUE CRUZARAM MEU CAMINHO, MORRERAM TODOS, ALGUNS DE FORMA BEM
DESAGRADÁVEL” - DRÁCULA
1913. Uma poderosa tempestade
se instala no curso da escuna romena Demeter. A tripulação apavorada tenta
livrar-se de um caixão sem sucesso. O naufrágio ocorre perto da costa de
Whitby, Yorkshire, sudoeste da Inglaterra, tendo apenas um sobrevivente: o
Conde Drácula, sendo encontrado pela jovem Mina Van Helsin (Jan Francis) em uma
caverna.
O Conde, oriundo da Transilvânia, se instala na Abadia de Carfax, uma mansão recém-adquirida, majestosa, mas em ruínas, sendo convidado para um jantar em Billerbeck Hall. Apresentando-se como um elegante aristocrata de boas maneiras, imponente e de vasta cultura, magnetiza a atenção dos que ali estão presentes: a jovem que lhe ajudara, Mina, o Doutor Jack Seward (Donald Pleasence) que dirige um asilo com uma pequena equipe e Lucy Seward (Kate Nelligan) e seu noivo Trevor Eve (Jonathan Harker). Durante a noite, Drácula ataca Mina que vem a falecer no dia seguinte. Seu pai Abraham Van Helsing (Laurence Olivier) chega da Holanda para o sepultamento da filha apenas para descobrir que esta pode ter sido transformada em uma morta-viva e que Lucy corre extremo perigo. O trio precisará enfrentar o Mestre dos Vampiros para tentar salvar Lucy de transformar-se definitivamente em uma vampira.
Primeira adaptação produzida pelos Estúdios Universal, 48 anos após a versão de 1931, com Bela Lugossi. Este Drácula, recebeu a direção de John Badham (em seu terceiro longa-metragem, mas já com duas indicações ao Emmy) que vinha do sucesso “Os Embalos de Sábado à Noite” (1977). E Badham não atualizou Drácula, apenas fez algumas mudanças, sabiamente, evitando dá-lhe um estilo contemporâneo. Talvez a mais perceptível mudança seja que os nomes das protagonistas femininas, Mina e Lucy, foram invertidos, pois no livro de Bran Stoker (e em outras versões) Mina era a noiva de Jonathan e Lucy a jovem que se transformava em vampira. Outra mudança foi dar maior visibilidade em cena aos personagens de Jack e Trevor. Mas a adaptação deste filme não se concentra apenas no livro de Stoker.
Lá no início de tudo, Hamilton Deane, amigo de Bran Stoker, escreveu e montou com John L. Balderston, no Little Theather, em Londres, uma peça a partir do livro “Drácula” (1897) de Stoker. Deane a encenou 391 vezes (ele próprio interpretando Van Helsing a salvar Lucy) fazendo, posteriormente, sucesso na Broadway em outubro de 1927 através de Bela Lugossi que levou a peça para o cinema em 1931 numa criação por muitos considerada inigualável. Um personagem que já faz parte da mitologia americana (ainda que este seja inglês). Já Langella, vinha angariando elogios da crítica e público, no Martin Beck Theatre, Nova York, em 1977 (50 anos depois), sendo convidado a seguir os passos de Lugossi ao também levar sua caracterização para os cinemas. Badham assistira à encenação de "Drácula" com Langella e depois ainda voltaria pelo menos mais quatro vezes para ver a reação do público (principalmente o feminino) e o produtor Walter Mirisch (“West Side Story” – “Se Meu Apartamento Falasse” – “No Calor daNoite”) estava convencido de que uma nova versão de Drácula seria uma proposta viável. Então elaborou-se o roteiro a partir das ideias de Deane e John L. Balderston (1889-1954) convocando-se o roteirista W.D. Richter (“Invasores deCorpos” - 1978; “Brubaker”- 1981 e “Os Aventureiros do Bairro Proibido” - 1986). Langella faria sua última apresentação no palco na pele do personagem em 15 de outubro de 1978, partindo para as filmagens.
ATENÇÃO - SPOLIERS NESTE PARÁGRAFO: Badham incorporou situações interessantes a estória: no início vemos um navio naufragado (um trabalho de arte que criou logo de cara um ótimo cartão de visitas ao filme); nos é mostrado que o capitão do navio morrera (amarrado ao leme) ao ter o pescoço dilacerado pelo lobo que surgiu a bordo – uma lembrança que rosários não detiveram Drácula; a entrada no quarto de Mina do Senhor dos Vampiros, de ponta-cabeça, impressiona – uma cena muito criativa; Drácula aqui é capaz de agarrar a cruz que Harker está segurando e fazê-la incendiar – crucifixos não o detém (pelo menos não nas mãos de qualquer um); Mina não mais possui sua imagem refletida, conforme Helsing demonstra por um espelho, mas o diretor criou uma saída, na forma de uma “licença poética”, em prol do momento narrativo tenso de outra cena, que nos permite (e a Helsing) ver Mina refletida em uma poça d’agua; ao personagem Van Helsing é retirada a figura do caçador de vampiros (como no livro) e inserida uma bem-vinda figura de um pai enlutado além de um momento interessante fornecido pelo roteiro: Van Helsing termina por morrer empalado por sua própria estaca: um dos cruéis modos de como o verdadeiro Vlad Tepes (o imperador que deu origem ao personagem) matava seus adversários e desafetos. Outro momento em que roteiro e direção mostram suas qualidades é na sutileza da cena em que Lucy visita Drácula pela primeira vez, a cena nos é revelada de um ponto alto através de uma teia de aranha com um aracnídeo avançando pela teia enquanto Lucy adentra à sala (um singular enfoque de Lucy caindo na teia montada por Drácula). E temos uma dicotomia interessante: ele deseja levá-la para o túmulo para que ela possa viver além do túmulo. Há a citação de “Nosferatu” (os diálogos bem construídos são um ponto forte desta produção) e, curiosamente, a nova versão homônima, do diretor Werner Herzog, estreava no início de 1979 – ainda que a comédia “Amor a Primeira Mordida” tenha sido considerado o grande empecilho para o sucesso do filme de Badham. Claro que a cena final não poderia ficar de fora: com o enigmático e malicioso sorriso de Lucy podemos conjecturar que aquele amor não se findou ainda que o protagonista tenha sido açoitado pela poderosa luz diurna que condena estes seres da noite.
Há ainda que se falar da parte técnica deste filme, que teve papel fundamental para a obra. O aclamado compositor John Williams fez um grande trabalho nessa produção, conseguindo capturar a atmosfera necessária, no entanto pouco é lembrado por este filme. Assim que o primeiro corte foi concluído, Williams que fora contratado quase um ano antes para escrever a partitura, a concluiu, sendo executada pela Orquestra Sinfônica de Londres. O quesito edição ficou com John Bloom, Oscar por “Gandhi” (1982) e com indicações também ao prêmio por “A Mulher do Tenente Francês” (1981) e “Chorus Line” (1985). Gilbert Taylor (1914 - 2013) foi o responsável pela bela fotografia, imprimindo uma atmosfera gótica ao filme. Taylor também contribuiu em filmes como “Dr. Fantástico” (1964), “A Profecia” (1976) e “Star Wars” (1977). Maurice Binder (1925-1991) ficou com a parte dos efeitos visuais. Binder ficou conhecido pelas icônicas aberturas dos filmes de 007 e trabalhou em dezenas de produção em várias áreas como “O Nimitz Volta ao Inferno” (1980), “Barbarella” (1968), “Sementes de Tamarindo” (1974), “O Céu que nos Protege” (1990). Peter Murton (1924-2009) responsável pelo designer de produção (de filmes como “Superman II e III”, “Sheena”, “Stargate”, “007 Contra Goldfinger” ...) e a figurinista Julie Harris (1921-2015) de filmes como “A Cidadela dos Robinson” (1960), “Casino Royale” (1967), “Com 007 Viva e Deixe Morrer” (1973) ... ficaram encarregados de acentuar uma sensação romântica através das cores branco, cinza e preto. Albert Whitlock foi o responsável pelas pinturas foscas que se integraram aos cenários trazendo a impressão do castelo de Drácula realmente existir exteriormente. Uma forma de fazer um cenário irreal parecer convincente.
Quanto ao elenco, Frank Langella impôs duas condições para interpretar seu personagem: sem cenas com presas pingando sangue e sem promoção comercial como Drácula. Langella criou um Drácula imponente e sedutor que combinava com sua aparência de Conde e conseguiu criar uma intensidade erótica sem nenhuma explicitação sexual fugindo das atuações burlescas de alguns de seus antecessores. Laurence Olivier, o nome mais proeminente da produção e considerado um dos maiores atores de todos os tempos foi uma surpresa, pois foi o seu único filme de Terror / Horror. Olivier recebeu $ 750.000 e o motivo de sua presença seria apenas o dinheiro. O ator ficou gravemente doente e havia dúvidas se concluiria o filme. Seu sotaque me soou estranho no personagem. Donald Pleasence (muitos se lembrarão pela antiga franquia Halloween) tinha a reputação de ser um “ladrão de cenas” que sempre utilizava adereços do set nas cenas para captar a atenção espectador. O ator disse que lhe fora oferecido inicialmente o papel de Van Helsing, mas recusou considerando-o parecido com o de seu personagem em Halloween: A Noite do Terror (1978). Não por acaso, em alguns momentos, o ator surge comendo algo e assim desviando a atenção para si. Jan Francis (Mina) organizou a sequência de dança com Drácula e Lucy e teve um ótimo momento com Laurence Olivier. Francis era dançarina profissional antes de se tornar atriz. Tony Haygarth (o comedor de insetos Renfield) não está a bordo do navio quando Drácula desembarca na forma de um lobo, como no livro, mas apresentou momentos engraçados. Kate Nelligan interpreta uma Lucy que se sente atraída por Drácula, ao mesmo tempo que a sensação de liberdade feminina invade seu ser, numa Inglaterra que ainda caminhava quanto a igualdade entre homens e mulheres. Trevor Eve interpreta o advogado e noivo de Lucy que se vê perdido no meio da guerra de Drácula e Van Helsing e impotente quanto a recuperar o amor de Lucy.
Mesmo que uma versão definitiva do personagem ainda não tenha sido feita e alguns possam apoiar que este não é o Drácula de Stoker, o que é correto, pois tanto se inspira na peça como no romance original, e mesmo que este exemplar se desvie da linha tradicional do filme de terror, é uma obra-prima visual, não chegando a ser uma reinterpretação, mas uma versão inspirada, liderada por um ator que merecia estar na galeria de melhores interpretações do personagem e uma elogiada área técnica que está muito presente e que foi fundamental mesmo que muitos não a notem. Houve inúmeras adaptações do Drácula de Bram Stoker e nesta Badham e o produtor Richter mexeram com as convenções da tradição vampírica confundindo assim nossas expectativas, ao driblar o final clássico e óbvio e ao nos deixar em dúvida da verdadeira vitória do bem sobre o mal. Filmado em Panavision.
Trailer:
Curiosidades:
Kate Nelligan foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por "O Príncipe das Marés" (1992)
O diretor John Badham pretendia filmar em preto e branco, mas foi forçado pelo estúdio a fazê-lo em Technicolor. Quando o filme foi relançado em laserdisc em 1991, a mando de Badham, a cor exuberante foi drenada do filme. Todos os lançamentos subsequentes de vídeos caseiros apresentam a impressão dessaturada.
Frank Langella sofre de uma doença ocular chamada nistagmo, que faz com que os olhos se movam involuntariamente. Os produtores estavam cientes de que isso poderia diminuir a ameaça que ele era capaz de retratar no papel, mas o escalaram mesmo assim, pois confiavam em sua presença geral na tela para fazer o papel funcionar. Em muitas cenas, seus olhos se movem de forma irregular, enquanto em outras cenas, ele pode ser observado mantendo-os parados, seja por força de vontade ou focando em objetos à distância.
De acordo com o livro "Luzes! Câmera! Grite!" (1983) de Stephen Mooser, o castelo do Conde Drácula não era um local real, mas um fosco de vidro pintado pelo guru dos efeitos visuais Albert Whitlock.
O diretor Ken Russell também estava planejando uma versão na mesma época. Em um estágio, ele considerou Laurence Olivier como o Conde. Seu elenco posterior foi Peter O'Toole ou Mick Fleetwood (da banda Fleetwood Mac) no personagem título com Peter Ustinov como Van Helsing. Ele também queria Oliver Reed como Renfield, com Sarah Miles e Mia Farrow como Lucy e Mina, respectivamente. Michael York e James Coburn também estavam na lista de desejos de Russell
Este foi um dos cinco filmes do Drácula lançados em 1979, juntamente com Nosferatu: O Vampiro da Noite (1979), Amor à Primeira Mordida (1979), Nocturna (1979) e Graf Dracula in Oberbayern (1979). Ânsia (1979) e Os Vampiros de Salem (1979), ambos filmes de vampiros, foram lançados no mesmo ano. Assim como Vlad Tepes (1979), um filme romeno sobre o conde da Transilvânia da vida real que inspirou o personagem
Coincidentemente o ator George Hamilton acabou interpretando em forma de comédia dois personagens de Langella: Zorro em "As Duas Faces de Zorro" (1981) e Drácula em "Amor a Primeira Mordida" (1979)
A participação de um ator de tanto prestígio como Laurence Olivier em um filme de monstros repercutiu na indústria e levou vários outros atores conceituados a fazer o mesmo. Talvez o melhor exemplo seja "Histórias de Fantasmas" (1981), que teve no elenco nomes como Fred Astaire, Douglas Fairbanks Jr., Melvyn Douglas e John Houseman.
Junto com Richard Roxburgh e Christopher Lee, Frank Langella é um dos poucos atores a interpretar o Conde Drácula e Sherlock Holmes no cinema e na televisão.
Quando Van Helsing está se preparando para tornar a caixa de terra do Drácula inutilizável para o vampiro, ele é mostrado quebrando uma única hóstia sagrada em quatro partes. Quando ele os coloca, ele realmente insere cinco partes, não quatro.
Um problema comum com muitos filmes de vampiros é repetido aqui: as marcas de mordidas no pescoço das mulheres são colocadas de tal forma que os dentes do vampiro deveriam estar um atrás do outro, não um ao lado do outro. A colocação das mordidas faria com que Drácula realizasse um ato contorcionista sério para enfiar os dentes nas vítimas voluntárias.
Jonathan e Lucy dançam "La Cumparsita". A peça foi composta em 1916, quase 3 anos após a ambientação do filme.
Quando Renfield surpreende Jonathan no carro e implora para ajudá-lo, há um morcego - aparentemente Drácula- observando-os. O animal é um morcego frugívoro amazônico, não um morcego vampiro. No entanto, nenhum deles pode ser encontrado em qualquer lugar da Europa.
Cartazes:
Filmografias Parciais:
Frank Langella
A Marca do Zorro (1974); Drácula (1979); Mestres do Universo (1987), 1492: A Conquista do Paraíso (1992); Dave, Presidente por um Dia (1993); Brainscan: Jogo Mortal (1994); Má Companhia (1995); A Ilha da Garganta Cortada (1995); Eddie, Ninguém Segura esta Mulher (1996); O Último Portal (1999); Doce Novembro (2001); Reflexos da Amizade (2004); Parceiros no Crime (2005); Boa Noite e Boa Sorte (2005); Superman: O Retorno (2006); Frost / Nixon (2008); Entre Segredos e Mentiras (2010); Desconhecido (2011); Frank e o Robô (2012); A Grande Luta de Muhammad Ali (2013); A Grande Escolha (2014); Encontro Marcado (2014); Grace de Mônaco (2104); O Mistério de Stella (2015); Capitão Fantástico (2016); The Americans (seriado 2015 a 2017); Kidding (seriado 2018 a 2020); The Trial of the Chicago 7 (2020)
Laurence Olivier (1907 – 1989)
O Divórcio de Lady X (1938); O Morro dos Ventos Uivantes (1939); Rebecca, A Mulher Inesquecível (1940); Orgulho e Preconceito (1940); Invasão de Bárbaros (1941); Henrique (1944); Hamlet (1948); Ricardo III (1955); Spartacus (1960); Othello (1965); As Sandálias do Pescador (1968); As Aventuras de David Copperfield (1970); Os Amantes de Lady Caroline (1972); Maratona da Morte (1976); Jesus de Nazaré (1977); Meninos do Brasil (1978); Drácula (1979); Fúria de Titãs (1981); Rei Lear (1983); Os últimos Dias de Pompéia (1984 mini-série); Caçado pelos Cães de Guerra (1986).
Donald Pleasence (1919–1995)
Náufragos da Vida (1954); Entre a Terra e o Céu (1957); Paixão Proibida (1959); A Morte Vem do Kilimanjaro (1959); Circo dos Horrores (1960); David e o Rei Saul (1960); Fugindo do Inferno (1963); A Maior História de Todos os Tempos (1965); Armadilha do Destino (1966); Viagem Fantástica (1966); A Noite dos Generais (1967); Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967); ...E o Bravo Ficou Só (1967); Quando é Preciso Ser Homem (1970); A Lenda da Flauta Mágica (1972); Henrique VIII e Suas Seis Esposas (1972); O Grande Seqüestro (1972); Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1973); Vozes do Além (1974); O Conde de Monte Cristo (1975); A Montanha Enfeitiçada (1975); O Último Magnata (1976); A Águia Pousou (1976); Jesus de Nazaré (mini-série 1977); Alguém Lá em Cima Gosta de Mim (1977); Halloween: A Noite do Terror (1978); Drácula (1979); Fuga de Nova York (1981); Halloween 2 - O Pesadelo Continua! (1981); Noite de Pânico (1982); O Senhor das Águias (1984); Os Irmãos Corsos (1985); A Rainha Guerreira (1987); Príncipe das Sombras (1987); Django - A Volta do Vingador (1987); Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (1988); O Caso dos Dez Negrinhos (1989); Halloween 5: A Vingaça de Michael Myers (1989); Enterrado Vivo (1990); Neblina e Sombras (1991); Guinevere - A Rainha de Excalibur (1994); Halloween 6: A Última Vingança (1995)
Kate Nelligan
O Conde de Monte Cristo (1975); A Inglesa Romântica (1975); Drácula (1979); A Outra Face da Razão (1980); O Buraco da Agulha (1981); As Vítimas (1982); Sequestro sem Pista (1983); O Preço da Justiça (1987); O Segredo do Quarto Branco (1990); Frankie & Johnny (1991); Neblina e Sombras (1991); O Príncipe das Marés (1991); Desafiando os Limites (1993); Distração Fatal (1993); Verdades e Mentiras (1994); Lobo (1994); Prece de uma Mãe (1995); O Museu de Margaret (1995); Colcha de Retalhos (1995); Íntimo & Pessoal (1996); U.S. Marshals: Os Federais (1998); O Desafio da Lei (1999); Regras da Vida (1999); Uma Dobra no Tempo (2003); Premonições (2007)
Jan Francis
A Journey to London (1975); Drácula (1979); Enquanto Existir Esperança (1984); Bloodlines (2005); Reunited (2010); Monochrome (2016) e participaação em vários seriados ingleses
Trevor Eve
Children (1976); Drácula (1979); Os Irmãos Corsos (1985); Rumo ao Sol (1988); Escândalo: A História que Seduziu o Mundo (1989); Inocente Ameaça (1992); Aspen - Dinheiro, Sedução e Perigo (1993); Don't Get Me Started (1994); Simplesmente Para Amar (1996); Possessão (2002); Tróia (2004); Ela é Demais para Mim (2010); Waking the Dead (seriado 2000 a 2011); Death of a Farmer (2014); O Natal do Meu Melhor Amigo (2019) e participação em vários seriados ingleses
Tony Haygarth (1945-2017)
O Mais Atrevido dos Transplantes (1971); O Mistério de Agatha (1979); Drácula (1979); S.O.S. Titanic (1979); Ivanhoé (1982); Hospital dos Malucos (1982); Meu Reino Por um Leitão (1984); A Prometida (1985); Uma Corrida Contra o Tempo (1986); Um Mês no Campo (1987); O Processo (1993); Infiltrator: Em Busca da Verdade (1995); Trazido pelo Mar (1997); Don Quixote (2000); Gracie! (2009) e participação em vários seriados ingleses
Alguns filmes do diretor John Badham:
Embalos de Sábado à Noite (1977); Drácula (1979); De Quem é a Vida Afinal? (1981); Trovão Azul (1983); Jogos de Guerra (1983); Competição de Destinos (1985); Um Robô em Curto Circuito (1986); Tocaia (1987); Alta Tensão (1990); Aprendiz de Feiticeiro (1991); A assassina (1993); Uma Nova Tocaia (1993); Zona Mortal (1994); Tempo Esgotado (1995); Incógnito (1997)
Luís, td bem?
ResponderExcluirÉ o tempo de fato que dá a palavra final sobre uma obra artística, seja ela de qual tipo for. Livros, peças, músicas, pinturas, está cheio de exemplos ao longo da nossa História, que foram do pouco ou quase nenhum valor ao status de cultuados e referências da cultura universal.
E acho que é este o caso — dentro de um escopo restrito, no caso aqui a adaptação da obra de Bram Stoker — de Drácula (1979), de John Badham.
Acho que esta versão, ao lado daquela de Coppola, são as melhores que já vi. E olha que existem ao mesmo tempo paralelos e diferenças que as tornam tanto originais e complementares entre si. Mas vamos por partes.
Quanto á estória, as pequenas mudanças — o nome das damas, o novo papel de Van Hensing, a caçada em pleno mar — foram positivamente originais, deram frescor á trama. Boa idéia dos roteiristas e do diretor.
Há também aspectos interessantes, como quando logo no começo do filme vê-se que Lucy já questiona seu papel de mulher naquela sociedade onde a submissão era implícita. Coincidentemente, entre 1907 e 1912 o movimento sufragista ganharia seu maior vulto na Inglaterra e a voz feminina dava seus primeiros gritos para se fazer sentir. Grande sacada mostrar isso, pois corroborou a imagem de independência da personagem e de como era movida por suas paixões.
Ainda falando do início do filme, após o terror da pequena recriação dos últimos momentos do Demeter ( o filme vem aí ), a cena em que ocorre o primeiro encontro de Lucy com Drácula para mim não ficou bem esclarecida: ela reconheceu o quê naquela caverna da praia, um homem ou uma fera? Confesso que opiniões serão bem vindas.
E a partir da morte de Mina, aí sim entra em cena a grande presença de Lawrence Olivier, sem o qual os grandes embates verbais com o personagem de Frank Langella não seriam os mesmos. Aquele diálogo da primeira confrontação aberta de ambos é excelente: Drácula ameaçador, Van Helsing apenas contando com sua integridade moral e espiritual. Que cena!
Ainda sobre a morte de Mina: tornar Van Helsing pai dela traz ao personagem uma tamanha dor, sofrimento tão esmagador, que ao encontrá-la transformada em monstro nas catacumbas é palpável o choque que o paralisou. Me gelou o sangue ao mesmo tempo que me oprimiu o coração ver aquele cadáver sedento do sangue do próprio pai pedir a ele que a “abraçasse”. E ele incapaz de qualquer atitude. Jesus do Céu!
Diria que os outros grandes momentos do filme se dão entre Lucy e Drácula.
Lucy não foi seduzida, ela se entregou e o fez consciente que ao fazê-lo rompia totalmente com tudo, convenções, casamento, futuro, família, até sua identidade dali para frente. Os momentos de sua visita á mansão de Drácula são soberbos, desde a imagem da teia de aranha ( como será que fizeram aquilo, havia aranha amestrada? ) até as propostas veladas que ambos se fizeram naquela noite. Cenário incrível, interpretações intensas.
Na cena do quarto de Lucy, quando Drácula, tateando como um animal até quebrar a vidraça e descendo das paredes daquele modo tão anti-natural ( eu acho que Coppola copiou isso, viu? ) entra e o pacto entre eles se faz , ali estão uma das mais intensas cenas de consumação do desejo que me lembro do Cinema. As imagens vermelhas de explosões solares que emolduram os amantes abraçados deram não só a paleta da paixão, como também a intensidade do fogo que os unia. Mas como praticamente não há diálogos durante quase toda a cena, sem a música poderosa de John Willians jamais aquela imagem poderia causar tamanho impacto dramático. Palmas pra todos que a fizeram. Ah, e o mesmo pode-se dizer sobre a trilha sonora do filme de Coppola.
Quanto aos atores, Lawrence Olivier eu já conhecia bem, suas interpretações são sempre originais, é difícil reconhecer repetições delas em outros papéis. Nada que pude ver dele foi menos do que bom. Ele é um daqueles tantos atores que se fala muito pouco hoje em dia, aqui na mídia e imprensa brasileira pelo menos. Não há volume de cultura suficiente para reverberar sua enorme contribuição á sétima arte, essa que é a verdade.
Olá Mario.
ExcluirDesculpe a demora em responder. Vou dividir os comentários como você fez. Infelizmente somos refém da plataforma que disponibiliza um número exato de linhas a serem escritas.
Concordo que o tempo, muitas vezes, dá o devido esclarecimento e merecimento. Novas percepções e visões vão surgindo e, no caso do cinema, novas revisões de uma obra dão a relevância que esta merece. A questão da caverna: homem ou lobo? Gerou-me dúvidas também. A impressão que me passou foi que a montagem (na mesa de corte) final encurtou essa cena. A questão trazida a público que Olivier só aceitou pelo dinheiro não invalida o fato de que era altamente profissional no que fazia. O que é perceptível aqui. O ator pediu para o seu personagem morrer e assim não precisar voltar em uma continuação, se acontecesse, até por isso, a estória sofreu certas mudanças. Gostei muito do paralelo que você fez de Lucy com a sua descrição do momento da época. É exatamente isso. Drácula de Copolla foi um marco, até pensei em fazer a análise em seguida, mas é pesquisa grande (está na lista) e não posso escrever muitos parágrafos (outro dia me disseram que minhas análises parecem aquelas revistas de cinema com duas páginas de assunto - se soubessem que as americanas e europeias chegam a ter cinco ou mais...). Quem sabe um dia as pessoas retornem ao hábito da leitura e minhas análises sofram um revisionismo positivo (rsss). Os elementos pictóricos como as imagens de explosões muitas vezes passam imperceptíveis numa visão rápida. Aí entra a mão do diretor e da equipe técnica. Também concordo que o volume de cultura, nas artes principalmente, vem em um decréscimo. O supérfluo hoje entretém muito mais, o imediatismo é celebrado, os filmes mais recentes dão mais “views” e causam calorosas discussões. Mas o cinema é isso, para alguns um mero passatempo para outros algo mais profundo. Acredito quer ver bons filmes nos ajuda tanto como ler um bom livro. Claro que há momentos que queremos apenas relaxar e divertir e também há obras que cumprem essa função.
Deixo uma dica de um ótimo thriller dele, com Dustin Hoffman e Roy Scheider: Maratona da Morte ( The Marathon Man ).
ResponderExcluirMas se alguém tiver medo de dentista, bem… então passe longe.
Quanto a Kate Nelligan, ela fez uma Lucy voluptuosa e ardente, profunda naquilo que mantinha em seu coração. Assisti O Buraco da Agulha por causa dela.
Frank Langella fez o primeiro Drácula sedutor que conheci ( o segundo foi Gerard Butler, em Drácula 2000; o de Gary Oldman considero apaixonado e não sedutor ). O filme teve isto de inovador também, um vampiro que jamais mostra as presas, um vampiro arguto e dissimulado. A experiência de palco de Frank Langella foi fundamental para esse resultado.
Acho o personagem de Donald Pleasence um boboca, nada acrescentando ao filme, qualquer um poderia ter feito aquelas suas cenas sem que nada talvez fosse diferente.
E infelizmente não foi aqui que vimos um Jonathan Harker com substância ( olha aí outro paralelo com o filme de Coppola, Keanu Reeves foi um banana ). Tudo bem, é ele quem mata o vampirão, mas não convence como herói e está muito raso como noivo insípido e machista.
Mas justiça seja feita, para avaliarmos bem os personagens e a concepção que o diretor e a produção almejavam para eles o correto seria ler o livro de Bram Stoker. Eu o tenho, mas nunca li. Mea culpa, mea maxima culpa.
Drácula ( 1979 ) de John Badham é um filme que as platéias deveriam rever e aprender a apreciar as nuances. Nele há miséria humana, há as forças da vida contra as forças da morte, há o eterno contemplando o efêmero, há o vazio definhando frente á luz, há o desejo conspurcando os valores do coração,há pequenos homens desafiando grandes sombras.
Um grande abraço, Luís.
Maratona da Morte, vi algumas vezes na tevê aberta. Muito bom. Olivier como dentista... Você disse tudo. O Buraco da Agulha, vi há anos, pouco me lembro. Hora pensar em revê-lo. Conforme divulgado no site do IMBD, em entrevista à Empire Magazine em fevereiro de 1994, Donald Pleasence disse que o filme era horrível e que ria o tempo todo, talvez por isso a impressão de que seu papel não encaixou. Fica a impressão, por essa informação, de que não levou a sério o projeto. Uma pena. Já o personagem de Jonathan Harker pareceu deslocado na estória, sem dimensão. Você sintetizou muito bem: "rever e a apreciar as nuances". Muito obrigado por mais este comentário e até as próximas análises
ExcluirLuís
ResponderExcluirOs seu último parágrafo está muito bom. Quero dizer que vc fez ali uma síntese preciosa das qualidades desta obra, o releio e esta minha impressão só se reforça. Mais uma vez, parabéns.
Me impressiona os tantos paralelos que este Drácula e o de Coppola têm, á despeito de dividirem o mesmo enredo. Então, se em uma oportunidade futura vc fizer esta análise, esteja certo que voltaremos a falar deste filme de Badham e companhia.
O tema do vampiro tem adquirido um tom filosófico ao longo das últimas décadas, então acho que a versão definitiva sobre esta estória jamais será contada, apenas as ( boas ) subsequentes se complementarão.
Jamais achei os textos do blog extensos em demasia e faço votos que — enquanto vc tiver disposição e amor por isso — eles continuem como são: para mim, os melhores que encontro para ler.
Tudo de bom, Luís.