terça-feira, 19 de março de 2019

A PROFECIA / THE OMEN (1976) - REINO UNIDO / ESTADOS UNIDOS



HEXACOSIOIHEXECONTAHEXAFOBIA

Robert Thorn (Gregory Peck),  diplomata dos EUA, na Grã-Bretanha,  e sua esposa Katherine Thorn (Lee Remick) acabam perdendo o filho no nascimento. Robert aceita a sugestão do padre Spilleto (Martin Benson) que adote uma criança recém-nascida, na qual a mãe falecera no parto. Sem comunicar a esposa sua decisão e sem saber a origem do órfão o casal passa a cuidar do pequeno Damien como filho legítimo. 5 anos depois, agora como Embaixador em Londres, suas vidas começam a se modificar: fatos aterradores e estranhos  surgem misteriosamente e uma nova babá chega ao local para cuidar do pequeno garoto. Enquanto isso, o Padre Brennan contata Robert e o adverte que há algo de errado com "seu filho" e que ele e a esposa correm um grande risco.


Podemos nos dar a liberdade de dizer que "A Profecia" começa onde o "Bebê de Rosimere" (outro grande sucesso no gênero) termina. "A Profecia" veio no embalo de outro filme que gerou polêmicas: "O Exorcista", feito um ano antes. Um filme cujo tema (demônio) e maldições, antes e depois das filmagens, se cruzam macabramente. E quando um filme faz sucesso vem sempre a exacerbação do tema.  David Seltzer afirmou que só escreveu o roteiro porque precisava do dinheiro e se ressentia das pessoas terem acreditado em toda "aquela tolice" que escrevera, mas muitos escritores já haviam se negado a elaborar a estória por causa do tema controverso. O livro de David Seltzer foi escrito simultaneamente com o roteiro (com fortes de diferenças) e foi lançado duas semanas antes do filme . 
Valério de Andrade escreveu, no Jornal O Globo, em  20 fev de 1977, como era "difícil obter uma atmosfera de credibilidade dramática, tendo como base uma história que o bom senso tende a recusar a priori ... difícil mesmo é...  transformar o ridículo em insólito ... minar o sistema nervoso do espectador sem empregar os recursos (e cenários habituais) dos filmes de terror". Creio ser uma boa descrição do que é conceber uma obra que visa lograr êxito junto a público e críticos.


Coube a Richard Donner (Superman I e II, Máquina Mortífera de I a IV, Os Goonies e Ladyhawke - O Feitiço de Áquila) passar para a telona o conceito da vinda do anti-cristo e o fez de forma eficiente como de habitual, apesar de ser mais conhecido pelos filmes acima citados. Donner foi uma das vítimas dos estranhos acontecimento que cercaram a produção: o hotel no qual estava hospedado foi bombardeado pelo IRA; além de  também ter sido atingido por um carro. Mas sua grande façanha foi pegar um orçamento de 2.800.000 milhões e converter em uma arrecadação de 60 milhões. Na época o filme chocou por suas cenas de violências.  A sociedade mudou ao longo dos anos e o nível de violência no cinema ultrapassou todos os patamares imaginados. Hoje podemos dizer que não é mais um filme de terror e sim de suspense. A violência subjetiva de "O Bebê de Rosimere" era um presságio do que filmes do gênero se tornariam: violência progressiva. Já não bastava ficar no imaginário, agora tinha que horrorizar. E o demônio confinado aos textos sagrados assumiu diversas formas como um produto altamente comercial, onde as pessoas passaram a confundir o que existe nos Textos Bíblicos e o que é originário de mentes criativas. A vinda do anticristo, anunciada em várias passagens da escritura (daí o título latino "The Omen" - "Presságio" sinal(is) capaz(es) de indicar um acontecimento futuro), sempre mexeu com o imaginário e Hollywood tinha achado um filme para inseri-lo neste contexto.


Quanto às maldições, esse é um tópico que atrai muita gente: o filho do ator Gregory Peck cometeu suicídio meses antes (mas não há, aparentemente, relação), além disso o avião em que Peck viajava, já durante as filmagens, foi atingido por um raio, assim como o de David Seltzer que pegara outro voo. Depois, Peck cancelou outro voo para Israel, o jato que ele teria fretado caiu ... matando todos a bordo (uma informação que nunca se confirmou); John Richardson,  supervisor de efeitos especiais em A Profecia (The Omen), estava em locação na Holanda durante a produção de "Uma Ponte Longe Demais" (1977). Liz Moore, sua namorada, estava com ele em sua BMW. O carro em que se encontravam colidiu contra um caminhão. O acidente aconteceu logo após a meia-noite de domingo, 13 de junho de 1976. A colisão frontal decapitou Liz  (houve uma cena de decapitação no filme!), deixando Richardson vivo, mas aturdido. Quando ele se levantou após a colisão, notou uma placa de sinalização apontando para a cidade mais próxima: Ommen (olha o nome!), que ficava a vinte quilômetros. O acidente aconteceu no quilômetro 66,6. Rottweilers contratados para o filme atacaram seus treinadores.



A Profecia, visto à luz da época em que foi concebido, é uma produção requintada com bons atores, roteiro e direção. Foi o único Oscar de Jerry Goldsmith, autor de centenas de composições ao longo da carreira (que não foi à cerimônia, depois de perder por vários anos). Sua composição é tida como um dos melhores momentos de sua carreira junto com "Poltergeist - O Fenômeno". As cenas da época, por seu cunho violento, chocaram, mas hoje são consideradas "light".  Um filme incluído em várias listas como uma das grandes produções do gênero.  Teve mais duas continuações e uma terceira apresentada em forma de telefilme. Em 2006 foi realizado um remake de pouco sucesso.

Trailer:



Curiosidades:

O maior problema em fotografar com o cão ameaçador da sra. Baylock era que o animal não era nada parecido com a criatura que ele deveria estar retratando. Ele queria lamber e brincar com os atores em vez de ameaçá-los.

O terror de Lee Remick quando os babuínos atacaram o carro era real. 

Damien iria originalmente ser chamado de Domlin até que a esposa do escritor David Seltzer sugerisse uma mudança de nome.

"Quando os judeus voltarem a Sion e o cometa pelo céu correr e o império romano se levantar todos irão morrer... Ele se eleva dos mares eternos, criando exércitos dos dois lados virando irmão contra irmão até que não existam mais" (Frase do Padre Spiletto)
O cometa é falado no filme; o ressurgimento do Império Romano seria atualmente a União Europeia (na época o "Mercado Comum Europeu"); a política seria o mar aberto que divide o homem em dois lados sem acordos até o fim dos tempos (Damien é o filho de um político) e os judeus voltarem a Sion, seriam os judeus voltando a sua terra. (A citação do Padre Brennan sobre o "mar eterno" não tem referência na Bíblia, e foi escrita para o filme). Muitas pessoas acharam que essa profecia era real, o que causou muita confusão.

Gregory Peck inesperadamente concordou em fazer o filme. Ao fazê-lo, efetivamente validou a produção, e outros membros do elenco e da equipe logo entraram a bordo.

De acordo com pelo menos uma biografia de Gregory Peck, ele assumiu esse papel com um enorme corte de salário (apenas US $ 250 mil), mas também garantiu 10% do total de bilheteria do filme. Quando chegou a arrecadar mais de US $ 60 milhões apenas nos EUA, tornou-se o desempenho mais bem pago da carreira de Peck.

Na Bíblia: Apocalipse 13:18
"Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis."

Uma das razões pelas quais Gregory Peck aceitou o papel de um pai torturado, em conflito com a culpa, foi porque ele não estava por perto quando seu filho Jonathan cometeu suicídio em 1975.

Terry Walsh, o dublê de David Warner, ficou gravemente ferido durante as filmagens da cena de ataque a cães no cemitério, apesar de estar devidamente preparado para o golpe. Ele teve que ser hospitalizado.

Richard Donner decidiu que os cabelos naturalmente loiros de Harvey Stephens deveriam ser tingidos de preto para dar a ele uma aparência mais sinistra em seu papel como Damien. Ele também recebeu lentes de contato para escurecer os olhos. 

O filme seria originalmente chamado de "The Birthmark", mas boa parte do filme foi filmado em locações de maternidades italianas (para o início do filme, quando Kathy dá à luz em Roma). A equipe colocaria cartazes dizendo "Filmando a Marca de Nascimento", e as pacientes lá reclamariam que não queriam nenhuma menção a marcas de nascença em sua maternidade, por medo de trazer azar. A equipe então começou a mudar as placas para "Filmar o Presságio ("Filming the Omen") apenas como uma medida temporária. Mas então o novo nome pareceu grudar - e eles seguiram com esse.  

No primeiro dia de filmagem, supostamente um dos extras se envolveu em uma colisão frontal, e o carro do produtor Harvey Bernhard foi atingido por outro motorista vindo do lado errado de uma rua lateral, que arrancou a porta da frente. 

Inicialmente, David Seltzer recusou a oferta de Harvey Bernhard para escrever o roteiro. Então ele percebeu que ele nunca realmente leu a Bíblia, mudando de ideia. 

Charlton Heston, Roy Scheider, Dick Van Dyke e William Holden recusaram o papel principal. Gregory Peck, aceitou o papel. William Holden estrelou a sequência Damien: A Profecia II (1978) 

Damien vem da palavra grega Dama, que significa superar, dominar ou domar. 

A Entertainment Weekly classificou o filme como o 14º filme mais assustador de todos os tempos. 

Um dos filmes incluídos em "Os cinquenta piores filmes de todos os tempos (e como eles conseguiram isso)", de Harry Medved e Randy Lowell. 

Harvey Stephens  (Damien) esteve na versão de 2006  como um repórter.

Gregory Peck faleceu aos 87 anos de Pneumonia.

Lee Remick faleceu aos 55 anos em decorrência de um câncer no fígado. 



Filmografia Parcial:

Gregory Peck (1916–2003)
 

 










As Chaves do Reino (1944); Duelo ao Sol (1946); A Luz é Para Todos (1947); Almas Em Chamas (1949); Falcão dos Mares (1951); David e Betsabá (1951); As Neves do Kilimanjaro (1952); Moby Dick (1956); Estigma da Crueldade (1958); Da Terra Nascem os Homens (1958); Os Bravos Morrem de Pé (1959); Os Canhões de Navarone (1961); O Círculo do Medo (1962); O Sol É Para Todos (1962); O Ouro de Mackenna (1969); A Profecia (1976);  Meninos do Brasil (1978); O Escarlate e o Negro (1983); Gringo Velho (1989); Cabo do Medo (1991).  

Lee Remick (1935–1991)
 

 










O Mercador de Almas (1958); Anatomia de um Crime (1959); Rio Violento (1960); Vício Maldito (1962); Uma Lição Para não Esquecer (1971);  O Dia Fatal (1975); A Profecia (1976); O Telefone (1977); O Toque da Medusa (1978); A Competição (1980);  De Puro Sangue (1986); Passaporte Para o Inferno (1989)  

David Warner
 













As Aventuras de Tom Jones (1963); O Homem de Kiev (1968); A Casa das Bonecas (1973); Vozes do Além (1974); A Profecia (1976); A Cruz de Ferro (1977); Os Trinta e Nove Degraus (1978); Aeroporto 79: O Concorde (1979); Um Século em 43 Minutos (1979); S.O.S. Titanic (1979); A Mulher do Tenente Francês (1981); Tron: Uma Odisseia Eletrônica (1982); A Companhia dos Lobos (1984); João e Maria (1987); Meu Doce Vampiro (1987); O Elétrico Mr. North (1988); ornada nas Estrelas V: A Última Fronteira (1989); Sangue de Herói (1989); As Tartarugas Ninja II: O Segredo do Ooze (1991); Feitiço Mortal (1991); Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida (1991); Trilogia do Terror (1993); Necronomicon - O Livro Proibido dos Mortos (1993); O Santuário do Medo 2 (1994); O Príncipe Guerreiro 3: O Olho do Mal (1996); Tudo por Dinheiro (1997); Titanic (1997); Pânico 2 (1997); Wing Commander: A Batalha Final (1999); De Volta ao Jardim Secreto (2000); O Planeta dos Macacos (2001); O Violinista que Veio do Mar (2004); O Retorno de Mary Poppins (2018)

2 comentários:

  1. Boa noite, Luis. Esse filme de terror realmente esteve na esteira de grandes sucessos do gênero dos anos 70. Nada era subjetivo e era preciso chocar o espectador. Primeira, e talvez única vez, em que vi Peck emprestando seu charme e elegância a um filme de terror interpretando um pai desolado pela morte de seu filho e tentando compensar essa perda ao adotar Damien, o filho de satã. Considero-o um ótimo filme. Assustador e escandalizável à época. Hoje os tempos são outros e para alguns o que sobressai são as terríveis coincidências que cercam essa obra. Forte abraço.

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  2. Bom Bia Janerson.
    À época do filme, a profecia chamou bastante a atenção. Como você pontuou bem os tempos são outros e muita gente prefere algo que contenha muitos efeitos ou carnificina. O terror psicológico agoniza com um ou outro roteiro que inova. A Profecia ainda pode ser considerado um grande filme e sua relevância permanecerá. Realmente hoje o filme é mais conhecido pelo que aconteceu nos bastidores (assim como o Poltergeist original e o Exorcista) do que a produção propriamente dita. Obrigado por mais este comentário e um grande abraço.

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