quinta-feira, 4 de maio de 2023

O ÚLTIMO DIA / HEIMATLAND / WONDERLAND (2015) - SUIÇA / ALEMANHA

UMA SUIÇA QUE NÃO CONHECEMOS

Uma misteriosa tempestade se aproxima no céu suíço e sua origem é um mistério. Os noticiários informam que os especialistas acreditam que as consequências serão devastadoras no país inteiro. O Estado de Emergência é decretado e os habitantes notificados a permanecerem em suas casas. Logo o caos se instala, com saques e tentativas de deixar o país enquanto é possível. Dentro desse contexto, acompanharemos a vida de alguns personagens e como eles lidarão frente a eminente catástrofe.


O Último Dia é uma produção suíço-alemã de 2015 cujo título original, "Heimatland", significa “Pátria” e que foi distribuído internacionalmente como "Wonderland", que se revela um título até adequado pela proposta do filme. Apesar da interessante premissa descrita no parágrafo anterior, é bem verdade que o que mais chama atenção é o número de diretores a frente dessa produção: dez no total, que se dispuseram a contar uma estória que, para muitos, ficou muito fragmentada e pouco interessante, mas para os nativos suíços e países fronteiriços mostrou-se um filme com uma perspectiva interessante.

A proposta desses dez diretores (Lisa Blatter / Gregor Frei / Benny Jaberg /Carmen Jaquier / Jonas Meier / Tobias Nölle / Lionel Rupp / Mike Scheiwiller / Jan Gassmann / Michael Krummenacher) foi retratar um painel social (de sua Heimatland – Pátria) naquele momento. O país visto por outras nações como “Wonderland” (“País das Maravilhas”) pode não corroborar o famoso ditado “a grama do vizinho é sempre mais verde” nos revelando que, como toda sociedade, em nosso mundo globalizado dos tempos atuais, há problemas em seu cerne e será através da visão de seus pares que poderemos perceber como essa sociedade se comporta: uns celebrarão, outros fugirão, outros tantos serão tomados de arrependimentos ...

Temos um casal em crise; um taxista e um rico e arrogante passageiro; um gerente de supermercado que expõe o seu verdadeiro eu diante da escassez de produtos dentro de seu estabelecimento; uma policial que carrega culpa por um ato em seu passado; a idosa que mora sozinha, os executivos de uma seguradora preocupados com os montantes a serem ressarcidos numa eventual tragédia; os torcedores indo para o jogo; um agitador fascista que rapidamente arregimenta seguidores com sua falácia sem conteúdo; dois jovens que resolvem se armar e proteger a parte do bairro em que vivem, cidadãos sendo rejeitados nas fronteiras do país pela União Europeia; uma festa hedonista sem preocupações com o que se seguirá... Visto dessa forma, parece um filme bem interessante, mas esse projeto coletivo de uma reflexão sincera sobre a sociedade que os cerca, tenta expor várias estórias fracionadas que não se entrelaçam e que terminam abruptamente ou de forma inconclusiva. A ideia dos realizadores do projeto, Jan Gassmann e Michael Krummenacher, foi fazer uma “mea culpa”, mostrando que o famoso país visto como tranquilo e neutro possui seus problemas: as atitudes contra os imigrantes (a policial); o discurso de ódio que cresce no país (o nacionalismo usado como arma), a disparidade social (o taxista e o empresário), aqueles que não se importam com as coisas ao seu redor (os festeiros), o impedimento da emigração em massa pela União Europeia (o país não faz parte do bloco e não demostra interesse em pertencer até os dias atuais). A falta, porém, de uma estória central ou um entrelaçamento tornam o filme mais complicado de ser assistido, não sendo necessariamente ruim se você gosta de críticas sociais e não se incomoda com o ritmo lento que certas produções europeias carregam. 

O Último Dia é um filme mais indicado aqueles que gostam de buscar produções que dificilmente chegarão em nosso circuito comercial. Fala sobre um país que, na visão pessoal de seus realizadores, perdeu completamente a sua identidade e expõe as consequências de seu isolamento político e social (a tempestade nunca nos é mostrada). Parece mais voltado aos europeus do que aos demais públicos, mas o tema é universal. Se a ideia era trazer aos suíços uma reflexão sobre a sociedade em que vivem pode ter alcançado algum êxito, mas uma narrativa mais coesa lograria maior sucesso.


Trailer:



Curiosidades:

O filme encontra-se no catálogo da Amazon Prime (datado de 2017)  e costuma ser exibido no Eurochannel

Lançado internacionalmente em 2016, nos Estados Unidos em 2017 e na Polônia e Tawain em 2021


Premiações:

* Max Ophüls Festival 2016

Prêmio:  Best Socially Relevant Film (Melhor Filme Socialmente Relevante)

* Zurich Film Awards 2015

Prêmio: Melhor Filme

Indicações:

Locarno International Film Festival 2015 

Melhor Filme, Golden Leopard e Junior Jury Awards


Os Diretores:




Cartaz:






4 comentários:

  1. Luís, td bem?
    Mais uma vez passo aqui não para comentar esta sua resenha, mas apenas para dividir com vc algumas novidades e deixar duas pequenas sugestões para talvez algum trabalho futuro.
    Antes devo dizer que — por conta de um projeto que ainda me consumirá certamente pelos próximos 4 meses — devo ter pouco tempo para assistir qualquer coisa, sendo que aí se inclui filmes como esses 2 últimos que vc postou, que confesso me parecem um pouco áridos para o meu momento de vida.
    Gosto do que me provoca um travo amargo na boca. É a vida, afinal. Mas por agora, vamos dizer que estou me abstendo.
    Mas vamos lá:
    Adquiri as séries The Wire e Succession. A 1a porque parece ser um daqueles clássicos incensados por quem já viu, top 10 mesmo e gosto de dramas intensos. E a 2a porque metade dos meios de mídia que eu dou valor falam que babam por essa série. Ué, vamos conferir, né?
    Mas dessas 2 não vi nada ainda, tô esperando uma folguinha no próximo fds.
    Adquiri também Amazing Stories, a primeira versão. Rapaz, acho que acertei pois minha filhota mais nova tá adorando assistir comigo. Confesso que na época em que foi transmitida pela Globo vi só alguns episódios, não sei porquê não vi mais, por isso torço para que traga belas emoções pra todos nós em casa. Olha, me emocionei com o episódio 01, viu?
    Assisti a série O Gerente Noturno. Conhece?
    Recomendo 100%. Para definir em uma palavra: tenso. Há poréns, como a atuação de Tom Hiddleston ( pouco facetada, como o papel pede ) e uma conclusão muito ligeira e superficial ( dizer isso não estraga o show, esteja certo ). No mais, as imagens são lindíssimas e há duas grandes interpretações, a de Hugh Laurie e Olivia Colman, Atores ( assim, com maiúscula mesmo ).
    E faz tempo que queria lhe sugerir duas temáticas para seu blog. Antes, te peço que desculpe se com isso o faria fugir do escopo original do seu trabalho, que é a crítica cinematográfica e televisiva. É que não vejo se abordar quase nada desses dois temas em quase lugar nenhum.
    Primeiro, as trilhas sonoras e seus compositores.
    Segundo, os capistas e artistas gráficos dos pôsteres de cinema.
    Ambos exemplos que citei têm um universo riquíssimo de referências e conteúdo de excelente qualidade. Sobre os pôsteres , apenas para citar, temos aqui o nosso maravilhose Benício, um desenhista com uma obra múltipla e vasta ao mesmo tempo reconhecida e desconhecida pelo brasileiro. E quanto as OST, bem, desde as compilações pop ( Curtindo a Vida Adoidado e The Lost Boys são excelentes ) até aquelas completamente autorais ( me lembro agora de O Curioso Caso de Benjamim Button e Drácula, de Coppola ) há assunto que não acaba mais.
    Olha, imagino que para vc, bem como para 95% de todos nós, tempo não sobra. Então, sem cobrança, fica a esperança de um dia vermos uma sementinha dessas vingar. Quem sabe?
    Luís, tudo de bom. Um abraço!

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  2. Olá Mario. Tudo bem ?
    Obrigado pelas indicações das séries, vou buscá-las. Amazing Stories ("Histórias Maravilhosas") me lembro quando saíram vários volumes em VHS com vários episódios. Uma ótima série, sem dúvida. Não a vi toda, mas se uma plataforma se dispusesse a colocá-la, veria na íntegra.
    As trilhas sonoras são sem dúvida algo bem interessante. Acompanhava as publicações em revistas de cinema como a SET. Hoje só nas estrangeiras que permite ler algumas on-line. É uma boa ideia, até porque tenho uma lista bem grande de músicas na aba "Música de filmes". Falar sobre elas pode ser algo bem interessante, até porque trilhas sonoras tem tudo a ver com cinema. A Total Score, por exemplo, é uma revista bem direcionada neste aspecto. Vou pensar em como colocar na prática essa ideia.
    Quanto aos cartazes, conheço a obra do falecido José Luiz Benício e acompanho no face Drew Struzan, que sempre posta suas artes como "Os Goonies", "Indiana Jones" ... Quando publico no Face alguns cartazes, sempre há boa receptividade, falar sobre eles é uma proposta interessante até porque há diversos que ninguém sabe quem foi o responsável. Pode ser uma pesquisa bem interessante.
    Esses dois filmes europeus são bem fora do circuito e eu os trouxe como uma curiosidade do que é feito fora do circuito de Hollywood: filmes mais autorais, sem grandes estrelas e sem as cobranças dos estúdios. Filmes bem diferentes do que estamos acostumados (onde me incluo também). Estou me desafiando a analisar "A Baleia" e "Meu Pai", dois grandes roteiros e duas excelentes interpretações. Filmes altamente reflexivos e com sutilezas que precisam ser observadas, nada fáceis de se passar para o papel, cuja experiência de vida que vamos ganhando com o avançar da idade nos permite uma percepção ainda maior do que esses dois filmes trazem. Dois filmes que tem que se assistir sem se distrair com nada, por isso o cinema ainda tem sua função: nada de barulho da rua, nada de celular, ninguém te chamando ... imersão total.
    Bom, é isso. Devo trazer os filmes citados, dois filmes brasileiros e uns filmes mais clássicos. Obrigado pelas ideias (vou pensar em como colocá-las em prática - mas será um pouco mais para frente), pois são realmente interessantes e pelas sugestões de séries. Um grande abraço e obrigado por sempre comentar.

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  3. Luís
    O cinema europeu típico parece que sempre foi e sempre será reflexivo, mesmo na comédia ou no romance. Nossa! Tem tantos exemplos, mas agora me vem forte á memória Cinema Paradiso. Sim, há de tudo, mas essa é uma das suas característica que lhe dá identidade.
    Muito boa sua observação da importância da imersão devida que só a sala de cinema dá. Nunca é demais ressaltar isso.
    Que bom que vc citou Struzan, um dos maiores dos últimos 40 anos. E para nós, Benício está certamente no mesmo patamar.
    Sabe, é justamente para que o trabalho desses artistas tenha o devido reconhecimento e divulgação que é fundamental apresentá-lo aos internautas. A cultura média está muito baixa, é na verdade um triste fenômeno mundial, por isso sinto que todos que enxergam o valor da expressão artística devem levantar bem alto essa chama. E nesse todos me incluo: num belo dia ( provavelmente ao me aposentar ) vou parar de dar sugestões, botar a mão na massa e colaborar para a educação na sociedade. Essa é uma questão de consciência, que no meu íntimo procuro me obrigar.
    Boa sorte com A Baleia ( não vi ) e Meu Pai ( vi, muito bom ).
    Vou ver o site da Total Score, boa dica. Rapaz, toda vez que vc fala da SET lembro que doei minha coleção, dela e da Cinemin. Completinhas…
    Luís, obrigado pelo bom trabalho de sempre. Abraço!

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  4. Mário,
    Cinema Paradiso, Mediterrâneo , Delicatessem, O Carteiro e o Poeta .... Grandes filmes europeus que não me esqueci e devo uma análise. Apenas uma correção: é a revista "Film Score" ( acabei colocando "total"). Pode ser encontrada no "Internet Archive", aliás um site que recomendo, uma verdadeira biblioteca on line com milhares de livros em várias línguas sobre diversos assuntos (gratuito) assim como revistas de cinema em inglês, francês e espanhol e outros gêneros como informática, história, eletrônica .....
    A SET nunca completei (uma pena).Cinemim ainda tenho, SciFi News também não completei. No site "Guia Ebal" estão, aos poucos disponibilizando a Cinemin junto com várias HQS (para quem leu) que a editora publicou.
    Um grande abraço e até breve.

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