quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A CHEGADA / THE ARRIVAL (2016) - ESTADOS UNIDOS

 


A HUMANIDADE ESTÁ PRONTA ?
(o texto contém spoilers)

A câmera foca nos alunos numa sala de aula e sua professora, colocando o noticiário em segundo plano. A impressão que fica é que iremos ver algo no estilo do antigo seriado “V- A Batalha Final”: naves flutuando em diversas partes do mundo e a humanidade aguardando por respostas. A naves aqui são enorme casulos que os cientistas tentam contatar vestidos de roupa laranja (alguém se lembrou dos monólitos de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” e as roupas laranjas dos astronautas?)



Para muitos seres humanos a ideia de um ser além-terra é algo impensável e um ser diferente desse aspecto então nem se fala. Há um porquê: o ser humano é o único ser pensante que conseguiu desenvolver uma comunicação efetiva a utilizar o seu cérebro para realizações e desenvolvimentos. Ver um "animal" (aqui chamado de “heptapod”) comunicando-se, parecendo ser mais inteligente, causa espanto. Nós somos uma raça que tememos o que não conhecemos, que acreditamos que tudo de fora é ameaça.



“A Chegada” expõe múltiplas mensagens, tão pequenas que às vezes é difícil uma assimilação completa em sua primeira exibição. Esse é um ponto alto desta produção. O diretor Denis Villeneuve conseguiu transpor um roteiro dificílimo (adaptado do conto “Story of your life”, de Ted Chiang, publicado em 1998) em um filme para as grandes massas. É ao mesmo tempo simples de se compreender e complexo de ser avaliado. Com isso quero dizer que pode ser visto como um filme muito legal de ficção científica, com um final diferente, ou uma obra complexa que, de acordo com o conhecimento da pessoa, vários aspectos podem ser notados. A trama parece simples, mas inclui dezenas de camadas. Há uma cena que sintetiza bem isso. Quando Amy pergunta o que aconteceu com seu antecessor a resposta que surge é “Nem todos conseguem processar essa experiência”. Uma indireta, na verdade, para o espectador. Vou citar apenas algumas dessas camadas: a simbologia da comunicação, a questão religiosa, física quântica, medo do ser humano frente ao desconhecido, paranoia coletiva, sentido da vida, o medo da dominação, lapso temporal ...



Doze naves chegam a Terra e se postam em locais diferentes do planeta. As perguntas são: O que / quem são? O que querem? Por que as escolhas desses locais? Claro que o ponto de partida é os Estados Unidos (e claro que será deles a solução do problema). O exército convoca e recruta sua especialista, Louise (Amy Adams), assim como outras nações fazem o mesmo. Há uma pergunta: Por que não escolheram um único país? Para qualquer bom entendedor do mundo em que vivemos a resposta é simples: não temos um único líder. Terão que dialogar com todos que se considerem líderes (e nessa hora todos se considerarão) e isso levará anos. Cada nação faz o que quer e age da maneira que lhe convém. Não temos um único líder e possivelmente nos destruiremos antes que isso ocorra. E o roteiro joga na nossa cara essa obviedade. A outra sacada desse filme é mostrar que a nossa percepção e crenças das coisas podem não ser exatamente como queremos ou gostaríamos e temos que possuir maturidade para confrontar e aceitar o inesperado e o novo (a revelação dos aliens sobre seu tempo na terra é uma dica a ser muito bem guardada no quebra cabeças do espectador). O ser humano tem problemas com mudanças. Tem problemas com outros seres humanos e tem problemas em como manter sua casa em ordem (nosso planeta). Tem medo de ser o povo Asteca, frente à chegada dos  descobridores do novo mundo, sendo dizimados por uma cultura superior em tecnologia. E o cinema, desde o filme "Vampiro de Almas", tem feito analogias. Na década de 50 era o medo avanço do comunismo na pele de um filme de ficção científica, agora, novamente o medo do que vem de fora: imigrantes e refugiados.



Nesse contexto nossa heroína tenta bravamente decifrar os símbolos desenhados pelos polvos gigantes... (por algum motivo suas aparições e sons me lembraram do final do filme “O Nevoeiro” com Thomas Jane). Ela é auxiliada por um físico, Ian Donnelly (Jeremy Renner,  o Arqueiro de “Os Vingadores”). Se não codificarem a tempo, as nações atacarão os seres de aparências assustadoras (se fossem parecidos com humanos sorridentes, tudo estaria bem), que utilizam, para se comunicarem,  desenhos em anéis de tinta lançadas de suas membranas. Como não entendemos o que desejam, melhor atacá-los. A lógica humana é sempre muito óbvia. E dá-lhe profecias religiosas e o surgimento da ideia do apocalipse. Nada disso, apenas uma raça querendo se comunicar, não em inglês, português, mandarim ou russo. Eles querem falar uma única língua. Mas não somos assim. Por que não respeitam nossa incapacidade de criarmos uma língua universal? Brincadeiras a parte, esse rico roteiro vai dissecando as particularidades da humanidade. O cerne do filme não está nos exércitos enfrentando as naves malvadas (como em Independence Day). É algo mais elevado. Temos intelecto para decifrarmos uma linguagem extraterrestre? Será que evoluiremos sem uma unificação, ou nos destruiremos defendendo nossos feudos? O roteiro não escapa de algumas armadilhas e elege a China como o inimigo que colocará tudo a perder (Hollywood adora essas coisas de colocar um vilão na história).  



O filme é muito inventivo, sem dúvida. Os símbolos me lembraram (muito vagamente) aqueles círculos que aparecem em campos de plantações e que ninguém sabe sua origem. A linguagem dos símbolos como comunicação me lembrou “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (só que eram notas musicais), mas o roteiro centra no ser humano e mais precisamente da doutora Louise (nossa heroína que falará pela humanidade). Sua vida, suas perdas e seu futuro. Aí o roteiro poderá confundir alguns entrando numa área de fluxo temporal que leva a várias perguntas. O escritor Arthur C Clark cunhou uma frase que se encaixa bem nesse filme “Existem duas possibilidades... Ou estamos sozinhos no universo ou não estamos. Ambas são igualmente aterrorizantes".


A fotografia é deslumbrante. Os efeitos são perfeitamente adequados ao filme e o elenco muito bem escalado. O filme, impressiona, emociona e leva a reflexão. Villeneuve revelou ter em Spielberg sua fonte de inspiração, sua admiração. Em seu primeiro filme do gênero, mostrou que pode ir além dos filmes de suspense como “ Os Suspeitos”. O elenco está ótimo: Forest Whitaker dispensa comentários e seu Coronel Weber está muito bem caracterizado. Amy Adams está cotada para concorrer ao Oscar, pois realmente parece uma linguista e Jeremy Renner mostra que vem fazendo ótimos papéis. 



Ficção científica cerebral, entretenimento de alto nível e um dos melhores filmes do ano, com várias referências cinematográficas. Filme para ser visto no cinema. Talvez a questão seja: estamos prontos para um contato extraterrestre? Estamos prontos para uma possível revelação de nossa origem (caso não seja a que conhecemos?)? Está na hora da humanidade receber um salto tecnológico? Não há respostas neste filme para estas perguntas, mas muitos as formularão a partir do momento que o filme se encerrar.

Curiosidades:
Denis Villeneuve será o diretor da continuação do clássico "Blade Runner": "Blade Runner 2049" previsto para 2017

Forest Whitaker ganhou o Oscar de Melhor Ator pelo filme "O Último Rei da Escócia" (2006)

Amy Adams foi indicada 4 vezes ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelos filmes : "Retratos de Família" (2005); "Dúvida" (2008); "O Vencedor" (2010); "O Mestre" (2012) e como Melhor Atriz em "Trapaça" (2013).

Jeremy Renner foi indicado a dois Oscars: Melhor Ator por "Guerra ao Terror" (2008) e Melhor Ator Coadjuvante por "Atração Perigosa" (2010). 

Amy Adams e Jeremy Renner estiveram juntos no filme Trapaça (2013).

O diretor Denis Villeneuve e o roteirista Eric Heisserer criaram uma linguagem alienígena totalmente funcional, visual. Heisserer, Villeneuve e suas equipes conseguiram criar uma "bíblia de logogramas", que incluía mais de cem diferentes logogramas completamente operativos, dos quais setenta e um são realmente apresentados no filme.


A linguagem alienígena circular escura foi criada pela artista de Montreal Martine Bertrand. É também o filho do artista que criou os desenhos de Hannah.


Denis Villeneuve teve grande dificuldade em imaginar um interior que permitisse aos humanos navegar facilmente por um design tão íngreme e vertical. A decisão posterior de virar a gravidade de lado ofereceu uma solução óbvia e conveniente.

O nome original do filme era "Story of Your Life", o mesmo da novela original. O público de teste não gostou desse título, então foi alterado para "Arrival".


A palavra húngara a que Halpern se refere é "szalámitaktika". (Em inglês, isso se traduz em "táticas de salame".) A palavra significa dividir a oposição, a fim de enfrentar apenas inimigos menores e mais fracos.

Louise diz ao Coronel Weber que a palavra 'canguru' vem de um mal-entendido histórico, e na verdade significa "eu não sei", apenas para dizer a Ian que a história é falsa, mas ilustra seu ponto. Este é um mito real; não apenas uma história inventada. Envolve o tenente James Cook e Sir Joseph Banks, que chegaram à Austrália no século 18, onde fizeram contato com os Guugo Yimithirr, uma tribo aborígene costeira. Eles ficaram intrigados com a visão de um canguru e perguntaram a um membro da tribo o que era. De acordo com o mito, o homem da tribo respondeu com a palavra "gangurru", que significa "não entendo" em sua língua. Banks confundiu-o com o termo local para o animal, soletrando-o como "kanguru" em seu diário. O mito foi desmascarado na década de 1970 pelo linguista John B. Haviland. Na realidade, a palavra gangurru refere-se especificamente ao canguru cinza na língua Guugo Yimithirr. Quando Cook e Banks viajaram 1.400 milhas para o interior, encontraram a tribo Baagandji, que não estava familiarizada com a outra tribo e com a palavra gangurru, e pensaram que significava "animal desconhecido". Os Baagandji então começaram a usar a palavra para descrever os cavalos de Cook e Banks.

A nave do heptápode deve seu design a um asteroide chamado 15 Eunomia. Durante a pesquisa, o diretor Denis Villeneuve se sentiu atraído pela "forma insana como um ovo estranho" de Eunomia e pensou que esse tipo de seixo ou forma oval traria uma sensação perfeita de ameaça e mistério à espaçonave.

Na foto do quadro branco onde Louise escreve a grande pergunta, imediatamente acima da pergunta está a fórmula padrão para a entropia - a flecha do tempo.


Trailer:




Filmografia Parcial:
Denis Villeneuve (diretor):
Incêndios (2010); Os Suspeitos (2013); O Homem Duplicado (2013); Sicario: Terra de Ninguém (2015); A Chegada (2016); Blade Runner 2049 (2017)

Amy Adams









Lindas de Morrer (1999); Segundas Intenções 2 (2000); Prenda-me Se For Capaz (2002); Retratos de Família (2005); O Ex-Namorado da Minha Mulher (2006); Uma Noite no Museu 2 (2009); O Vencedor (2010); Na Estrada (2012); O Mestre (2012); O Homem de Aço (2013); Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016); A Chegada (2016); Animais Noturnos (2016); Liga da Justiça (2017).

Jeremy Renner










S.W.A.T.: Comando Especial (2003); Terra Fria (2005); A Fraude (2005); Extermínio 2 (2007); O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007); Guerra ao Terror (2008); The Avengers: Os Vingadores (2012); O Legado Bourne (2012); João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013); Trapaça (2013); O Mensageiro (2014); Vingadores: Era de Ultron (2015); Missão: Impossível - Nação Secreta (2015); Capitão América: Guerra Civil (2016); A Chegada (2016); Vingadores: Guerra do Infinito (2018); Homem-Formiga e a Vespa (2018); Missão Impossível 6 (2018).


Forest Whitaker









Picardias Estudantis (1982); Em Busca da Vitória (1985); A Cor do Dinheiro (1986); Platoon (1986); Tocaia (1987); Bom Dia, Vietnã (1987); O Grande Dragão Branco (1988); Um Rosto Sem Passado (1989); Perigosamente Harlem (1991); Hospital de Heróis (1992); Traídos pelo Desejo (1992); Os Invasores de Corpos - A Invasão Continua (1993); Contagem Regressiva (1994); Prêt-à-Porter (1994); A Experiência (1995); Fenômeno (1996); Ghost Dog (1999); A Reconquista (2000); Na Mira do Inimigo (2000); O Quarto do Pânico (2002); Por Um Fio (2002); A Fraude (2005); O Último Rei da Escócia (2006); O Grande Debate (2007); Ponto de Vista (2008); Os Reis da Rua (2008); O Efeito da Fúria (2008); Repo Men: O Resgate de Órgãos (2010); Detenção (2010); Assassinos de Aluguel (2012); O Último Desafio (2013); Zulu (2013); Busca Implacável 3 (2014); Nocaute (2015); A Chegada (2016); Rogue One (2016); Pantera Negra (2018).

2 comentários:

  1. Muito bom post, o filme é maravilhoso. Jeremy Renner é um homem muito carismático e Professional, se entrega a cada um dos seus projetos. Em Arrival filme fez uma atuação maravilhosa. O filme tem uma grande historia e acho que o papel que ele interpreta caiu como uma luva, sem dúvida vou ver este filme novamente.

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    1. Boa noite Karla Ortega. Que bom que você gostou da postagem. Sim, o ator Jeremy Renner vem construindo uma ótima carreira cinematográfica com grandes atuações, A história do filme é realmente excelente e percebemos um cuidado em fazer um filme com muita qualidade. O diretor Denis Villeneuve vem dirigindo muito bem filmes que passam algo mais do que apenas diversão. Muito obrigado por comentar e volte sempre. Abs de Cinéfilos Para Sempre

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