ANALOGIAS E METÁFORAS
(o texto contém spoilers em uma determinada parte)
“O caos é
uma ordem ainda não decifrada” com essa frase inicia-se um dos filmes mais
interessantes e metafóricos dos últimos anos: "O Homem Duplicado". A sinopse
parece ser simplória, mas o espectador verá que sua interpretação não é tão
simples assim.
Adam Bell (Jake
Gyllenhaal) é um professor de história que dá aulas em uma universidade. Leva uma vida monótona
ao lado de sua namorada Mary (Mélanie Laurent). Conversando com um colega de
trabalho pede a indicação de um bom filme. Assistindo ao filme, Adam percebe
algo inusitado: um dos atores parece ser idêntico a ele. Sua curiosidade o leva
a descobrir Anthony Claire (cujo nome artístico é “Daniel Saint Claire”), um
homem casado com a esposa grávida, Helen (Sarah Gadon). Adam resolve localizar seu duplo e tentar
entender se há algum motivo para tal semelhança.
Este é o
tipo de filme que se vc estiver com celular na mão, olhando Facebook, zap ou
distraído, esqueça. É o tipo de produção que se não há uma atenção completa a ideia
se perde-se e o filme soará sem sentido ou absurdo.
O diretor Denis
Villeneuve (Os Suspeitos; A Chegada e Blade Runner 2049) adaptou a obra do
escritor português José de Saramago (que teve adaptado para o cinema também “Ensaio
Sobre a Cegueira) de uma forma muito particular, num roteiro rodeado de metáforas
que remete a várias questões: ilusão, realidade, loucura, passado, futuro? Bom,
na verdade nada disso ou pelo menos alguma coisa disso como veremos abaixo.
(SE VOCÊ NÃO ASSISTIU O FILME PULE ESTA PARTE)
Não há como
falar de O Homem Duplicado sem explicá-lo, pois é o tipo de filme que depois
que termina abre um leque de dúvidas e hipóteses. Vou tentar esclarecer
algumas.
Anthony vive
com sua mulher grávida e sabemos que ele é (ou já foi) infiel a ela (as
desconfianças da esposa são a confirmação desse fato). Ele frequenta um clube de strippers
onde vê uma mulher pisoteando uma aranha. Sua visão das aranhas é uma mudança
da realidade. Ele não vê as mulheres nuas no clube de Strippers, ele vê aquilo
que deseja: uma mulher esmagando uma aranha que simboliza sua escravidão, sua
vida presa às mulheres que o controlam: sua esposa e sua mãe (lembram da frase “toda
ditadura possui uma obsessão”?). As aranhas são as mulheres que estiveram (ou
estão) na vida de Jake. Ele abriu mão de seu sonho como ator (de segunda, em
pequenas participações em filmes) para
ter um trabalho fixo como professor: e isso aconteceu há 6 meses, tempo que sua
esposa iniciou a gravidez.
A essa
altura vocês devem ter sacado que Adam e
Anthony são a mesma pessoa (e que agora eu comecei o parágrafo falando de Anthony, não de Adam). Sua esposa não
sabia que ele começara a trabalhar como professor e ele, em seu personagem, não a reconhece
nessa nova personalidade (quem viu "Fragmentado" entenderá melhor
essa questão de personalidades)
O acidente de
carro é o fim de realidade que Anthony impõe à sua mente, um modo de dar fim a
um relacionamento "infiel" (já que Mary só existe em sua mente). O Para-brisas
quebrado representa uma teia, teia que o envolverá novamente, ou seja: aos
braços de sua esposa (a perda da liberdade). Ao encontrar a
chave do clube de strippers, ele comunica à esposa a necessidade de fazer algo,
mas ao chegar em seu quarto ele vê uma aranha gigante onde estaria sua esposa. É
uma analogia a impossibilidade de Anthony de manter-se fiel à esposa. É a
repetição do ciclo como ele falara no início quando dava aulas ("é um
padrão que se repete por toda história"). A história aqui é a história da
vida dele e o padrão como dito é a sua infidelidade que retornará (como ele falara na aula em "repetições cíclicas").
Simbolismos
não faltam:
Aparece a imagem duas torres gêmeas; quando "o professor" encontra a esposa do ator estão sentados em bancos idênticos, lado a lado; quando o
professor fala ao telefone com a esposa do ator, no fundo, há 2 portas idênticas,
uma ao lado da outra; esposa e "namorada" são loiras e são parecidas; ele mata o
alter ego e a namorada deste (para voltar a ser fiel à esposa e ter a vida que ela sempre sonhou); a
teia de aranha no carro capotado significa a volta à esposa e ao controle e ditadura que julga sofrer desta; a aranha
gigante surge na cidade logo após sua conversa com a mãe (sua mãe é a mais dominadora em sua concepção); quando Adam vai ao encontro de Anthony no hotel há uma placa escrita 'FREE SATEL ITE'. A ausência de um L ( SATELLITE) é uma dica de que há apenas uma pessoa no encontro; o ritmo
lento é proposital porque a vida de Anthony é assim: se tornou monótona e cansativa; a fotografia do filme em amarelo nos revela um clima de angústia, claustrofobia, inércia
(FIM DAS EXPLICAÇÕES)
O elenco está ótimo. Jake Gyllenhaal que trabalhara com o diretor em "Os Suspeitos" tem em seu currículo filmes bem diferentes do habitual, vejamos como exemplo o já citado "Donnie Darko", sua dupla caracterização ficou ótima. Realmente parecem ser dois atores em cena com características distintas. Sarah Gadon, Mélanie Laurent e Isabella Rossellini também estão bem. São praticamente 4 atores em cena e que seguram o filme.
O Homem Duplicado não é para todas as plateias. Se você gosta de filmes movimentados, com reviravoltas e muita ação esqueça, esse não é o seu filme. Agora se você gosta de produções que centrem mais em cinema em sua essência esse pode ser uma boa escolha. Por ser independente não sofre tantas pressões da indústria para entregar um produto mastigado ao consumidor e isso é algo a ser citado, mas também paga o preço de ser visto por um público muito restrito. Diversão para quem não se preocupa com o andamento do filme, mas sim seu conteúdo.
Trailer:
Curiosidades:
Javier Bardem (Onde os Fracos não Têm Vez) e Christian Bale (Trilogia Batman) foram sondados para o papel
A aranha gigante que caminha pela cidade é uma referência a escultura de Louise Bourgeois chamada "Maman"
O elenco está ótimo. Jake Gyllenhaal que trabalhara com o diretor em "Os Suspeitos" tem em seu currículo filmes bem diferentes do habitual, vejamos como exemplo o já citado "Donnie Darko", sua dupla caracterização ficou ótima. Realmente parecem ser dois atores em cena com características distintas. Sarah Gadon, Mélanie Laurent e Isabella Rossellini também estão bem. São praticamente 4 atores em cena e que seguram o filme.
Trailer:
Curiosidades:
Javier Bardem (Onde os Fracos não Têm Vez) e Christian Bale (Trilogia Batman) foram sondados para o papel
A aranha gigante que caminha pela cidade é uma referência a escultura de Louise Bourgeois chamada "Maman"
O elenco assinou um acordo de confidencialidade que não permite falar e/ou explicar à imprensa o significado das aranhas no filme.
A citação que antecede a abertura do filme - 'caos é ordem ainda não decifrada' - é retirada do romance fonte 'O Duplo' de José Saramago.
De acordo com o diretor, Denis Villeneuve, Javier Bardem foi oferecido o papel principal, mas o ator sentiu que não seguiu o personagem. Christian Bale também recebeu o papel e ele queria fazê-lo, mas não pôde devido a conflitos de agenda com outros projetos.
A música tocada dentro da locadora se chama "The Cheater". A letra está contando a história de um cara que não consegue se controlar com sua tentação de dormir por aí.
Para as cenas em que Adam e Anthony estão na mesma sala, Denis Villeneuve usou uma bola de tênis em um bastão como ponto de referência para que Jake Gyllenhaal soubesse onde procurar.
A primeira de duas colaborações consecutivas entre Jake Gyllenhaal e Denis Villeneuve, sendo a outra Os Suspeitos (2013). No entanto, Os Suspeitos (2013) foi lançado antes deste filme.
O título do filme "Onde há uma vontade, há um caminho" no filme foi um bordão do professor de inglês do ensino médio de Denis Villeneuve, como um lembrete para trabalhar mais na vida.
Os nomes dos dois personagens interpretados por Jake Gyllenhaal formam uma pista para a interpretação do filme e um comentário irônico sobre sua dificuldade: Claire (Clear) como A. (Adam) Bell.
Embora nenhuma explicação tenha sido dada para a presença de aranhas, foi analisado por muitas pessoas que elas representam a fraqueza de Adam/Anthony para as mulheres, tornando-o menos dominante.
Quando Anthony e Mary batem a caminho do hotel, a janela do carro destruído mostra uma rachadura que se assemelha a uma teia de aranha. Isso é consistente com o simbolismo das aranhas ao longo do filme.
Na cena em que Adam vai ao encontro de Anthony em um hotel, há uma placa que diz 'FREE SATEL ITE' com deliberadamente faltando um 'L' para mostrar que é a mesma pessoa.
Filmografia Parcial:
Jake Gyllenhaal
Filmografia Parcial:
Jake Gyllenhaal
Donnie Darko
(2001); O Dia Depois de Amanhã (2004); O Segredo de Brokeback Mountain
(2005); Zodíaco (2007); Entre Irmãos (2009); Príncipe da Pérsia: As
Areias do Tempo (2010); Contra o Tempo (2011); Marcados para Morrer
(2012); O Homem Duplicado (2013); O Abutre (2014); Nocaute (2015) Animais Noturnos
(2016); Vida (2017).
Isabella Rossellini
O Sol da Meia Noite (1985); Veludo Azul (1986); Marcas de uma Paixão (1987); Um Toque de Infidelidade (1989); Coração Selvagem(1990); Coração Selvagem (1992); Sem Medo de Viver (1993); Wyatt Earp (1994); Minha Amada Imortal (1994); O Crime do Século (1996); O Rei do Pedaço (2004); O Ditador (2005); A Solidão dos Números Primos (2010); O Homem Duplicado (2013); Joy: O Nome do Sucesso (2015); Vita and Virginia (2018)
Sarah Gadon
Siblings (2004); Charlie, Um Grande Garoto (2007) Um Casal Quase Perfeito 3 (2008); A Casa dos Sonhos (2011); O Homem Duplicado (2013); O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014); Drácula: A História Nunca Contada (2014); A Jovem Rainha (2015); A Nona Vida de Louis Drax (2016); Indignação (2016)
Siblings (2004); Charlie, Um Grande Garoto (2007) Um Casal Quase Perfeito 3 (2008); A Casa dos Sonhos (2011); O Homem Duplicado (2013); O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014); Drácula: A História Nunca Contada (2014); A Jovem Rainha (2015); A Nona Vida de Louis Drax (2016); Indignação (2016)
Dias de Glória (2006); Não Se Preocupe, Estou Bem (2006); Paris (2008); Bastardos Inglórios (2009); Trem Noturno para Lisboa (2013); Truque de Mestre (2013); O Homem Duplicado (2013); Marcas do Passado (2014); Le retour du héros (2018)
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