UM PUNGENTE RETRATO DA VELHICE NOS TEMPOS DA
DEPRESSÃO ECONÔMICA ITALIANA
Umberto Domenico Ferrari (Carlo Battisti 1882 -1977) é um aposentado público, viúvo, um homem comum em meio a depressão italiana, do pós-guerra, na década de 50. Com o achatamento das aposentadorias, Umberto tem dificuldades de manter seu aluguel em dia onde vive. A dona da hospedaria, Antonia Belloni (Lina Gennari 1911-1977), aluga seu quarto durante o dia para encontro de casais, assim como para prostitutas. A senhoria deseja que Umberto desocupe o lugar o mais rápido possível. Tendo apenas como amigos Maria, a empregada (Maria Pia Casilio 1935-2012) e seu fiel cão Flike, o idoso vive de encontrar nas ruas outros idosos, mas ninguém está interessado em ajudá-lo. Quando o assunto é dinheiro, tentam evitá-lo ao máximo.
O maior temor de Umberto é ir para um asilo. A única pessoa que parece demonstrar algum interesse em sua tragédia é a jovem Maria, porém ela mesma vive sua tragédia pessoal: envolveu-se com dois soldados, engravidou e nenhum dos dois quer assumir a paternidade. Nem a jovem sabe dizer de quem é a criança. Maria sabe que, quando for descoberta sua gravidez, Antonia a demitirá. Maria não tem tempo para se importar com Umberto que não se importa, na verdade, com Maria. Cada um tem sua própria tragédia e desespero para cuidar. Para economizar dinheiro com comida e assim tentar juntar mais dinheiro para pagar o aluguel, Umberto solicita sua remoção para um hospital público e consegue, mesmo tendo apenas uma simples amidalite. Uma cama e comida neste contexto fazem a diferença entre a vida e a morte. Ao sair descobre que seu cão, Flike, fora colocado na rua por Antonia. Umberto consegue recuperar o cãozinho em um canil público, antes que fosse executado. Quanto retorna a hospedaria percebe que seu quarto foi parcialmente demolido. Sem ter para onde ir, sem comida ou dinheiro Umberto pensa em dar cabo da própria vida.
Comovente
filme do período neo-realista italiano dirigido por Vittorio De Sica, o diretor
do memorável “Ladrões de Bicicleta” em sua terceira parceria com o
roteirista Cesare Zavattin, que nos brinda com uma obra sobre o a velhice, a
sociedade e o abandono. O diretor o classificou como “ a tragédia das pessoas
excluídas de um mundo que ajudaram a construir”. O filme se inicia de modo
lento e a impressão que passa é que será mais um daqueles filmes chatos, mas
rapidamente envolve o espectador, de uma maneira bem própria do diretor, e
ficamos com aquela sensação de "vale a pena assistir mais um
pouquinho", quando enfim percebemos que queremos ir até o fim..
Indicado ao
Oscar de Melhor Roteiro e História, De Sica conseguiu extrair de Carlo Battisti
(1882-1977), uma performance memorável na pele de Umberto. Em seu primeiro e
único papel no cinema, o ex-professor universitário que nunca atuara, teve uma
atuação soberba. Battisti conseguiu passar toda sua angústia, abandono e
passividade frente aos acontecimentos. A personagem de Umberto sabe que não tem
vez na depressão pós-guerra, uma época de incertezas frente ao que se
seguiria. O idoso percebe o quão frias são as pessoas: quando tenta fazer amizade
com um desconhecido, este mente onde mora. Quando encontra um amigo, este alega
estar atrasado para não ter de ouvir um pedido de ajuda. Umberto tenta
mendigar, mas seu orgulho não permite. Antonia (a senhoria da hospedaria) é uma
mulher que não suporta Umberto, só pensa em seu casamento e quer arrecadar
dinheiro a qualquer custo, não tendo vaga para pessoas que não lhe pagam.
Anda de forma soberba e tem a seu lado o poderio econômico, onde trata a todos
do jeito que lhe convém. Sua empregada, Maria, é a jovem de bom coração,
semianalfabeta que não sabe como será o seu futuro e não faz nada para mudar.
Flike, o cãozinho, é o ponto emotivo do filme, motivo do afeto de Umberto e
atualmente o único ser que fica a seu lado, onde provará a máxima de que
"o cão é o melhor amigo do homem". Nos 10 minutos finais, a atuação
do cão interagindo à tragédia de Umberto é perfeita. Seu momento sublime fica
por conta do final (da parte do trem aos créditos), na qual mostra o desespero
de Umberto de ter perdido a amizade do único amigo na face da terra e seu final
poético.
O
filme é em preto e branco, mas dificilmente não passará uma atmosfera de
atualidade. De Sica (1901-1974), em entrevistas, informou que a história
fora tirada das impressões de sua juventude, acerca de seu pai, que passou
dificuldades financeiras. Um filme com alma e sentimento. Atemporal. Uma obra
de arte do cinema. Um filme que fica na memória mesmo depois de muito tempo
após ser assistido. Pena que atualmente tenha se perdido, assim com seu protagonista,
no tempo.
Trailer:
Curiosidades:
O diretor Vitório de Sica dedicou o filme ao seu pai
Indicado
ao Oscar de Melhor Roteiro e História
Prêmio
de Melhor Filme em Língua Estrangeira no New York Films Critics de 1955
O
diretor sueco Ingmar Bergman cita o filme como um de seus favoritos
(Wikipedia)
Umberto
D é o último filme da trilogia da Dupla De Sica (diretor) e Cesare Zavattini
(roteirista) que se iniciou com “Ladrões de Bicicleta” (1948) e “Milagre em
Milão” (1951). O filme não teve uma boa bilheteria na época, mas foi, ao longo
dos anos, sendo celebrado por críticos no mundo inteiro até alcançar a posição
atual de cult
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