sábado, 22 de agosto de 2015

INFECTADO / AFFLICTED (2013) - CANADÁ





UMA CÂMERA NA MÃO E UM RESULTADO MUITO INTERESSANTE

Dois amigos resolvem partir em uma viagem de um ano ao redor do mundo documentando e postando na Internet. A viagem planejada pela dupla é especial para Derek Lee (Derek), que possui uma anomalia no cérebro que pode lhe causar um aneurisma e até mesmo levá-lo à morte. Derek, a contragosto da família, resolve embarcar na viagem com Clif Prowse (Clif) no medo de estar incapacitado em um futuro bem próximo e ter perdido a chance de aproveitar a vida. Tudo começa a mudar quando a dupla reencontra alguns amigos da banda de rock "Unalaska" em Paris e estes decidem que Derek deve conquistar uma mulher. Surge Audrey (Baya Rehaz), uma mulher que sai com Derek. Resolvendo fazer uma pegadinha com o rapaz o grupo vai atrás, mas quando entram no quarto vêem Derek ferido e inconsciente. Audrey desaparecera e restou apenas alguns de seus pertences. Com medo de ir para o hospital e perceberem o seu problema cerebral, Derek minimiza os acontecimentos e segue viagem com Clif para a Itália. Porém, a cada dia, Derek piora: começa a sentir-se muito mal, tendo mal estar ao alimentar-se, e seu aspecto físico nitidamente piora. O mais estranho é que, no meio desse processo, Derek começa a perceber que sua força e velocidade aumentaram muito e suas crises na mesma escala. De acordo com que o tempo passa, Derek parece cada vez mais perigoso, criando situações de risco que colocam a polícia no encalço da dupla.


Infectado (Afflicted, um termo para designar pessoas atacadas por uma desordem ou doença mental) é uma produção canadense de 2013 nos estilo  "Found footage" (filmes que se passam por um documentário, com uma filmadora para dar a sensação de realidade) podem dar certo ou muito errado. Exemplo: REC, Atividade Paranormal, Cloverfield e a mais famosa, nesse estilo, A Bruxa de Blair. O filme teve o seu custo em US 318.000,00, ou seja, é uma produção de baixo orçamento, mas, muitas vezes, não parece. O diretor tem um domínio de posicionamento de câmera que contorna situações que poderiam estragar o filme. Inicia meio despretensioso e, devido ao roteiro esperto, prende a atenção, trazendo um novo fôlego ao gênero que parecia estar quase moribundo. O que se deve deixar bem claro que o filme não é sobre uma doença que vai infectando populações inteiras. O título brasileiro sugere esse entendimento, mas aos poucos as situações começam a brotar e fica mais claro o tipo de filme que está passando

 
A ideia de filmar em três países, Itália, Espanha e França, mostra que a dupla pensou bem em como utilizar os seus recursos “in loco”, ao mesmo tempo em que propicia ao espectador imagens “naturais” dos países, sem digitalização. O espectador vai aos poucos sendo pego pela dupla de protagonistas que tentam resolver seus problemas das formas mais inusitadas e, em alguns momentos, até divertidas. O interessante é que a falta de grandes efeitos digitalizados contribuiu para aquele cinema meio autoral, onde a história e o diretor são tudo. Muito do que se vê é formado na mente de quem assiste e este é um grande aspecto, pois o espectador é obrigado a “entrar no clima” do filme e torcer pelos protagonistas ou pelo menos acompanhar suas angústias até o final bem bolado.


Na verdade, "Infectado" poderia ser facilmente classificado como a produção do meio, ou seja , ele abre brechas que permitem contar os fatos anteriores a este filme, como a origem de Aubrey, e os posteriores em uma continuação, revelando o destino dos personagens. O que normalmente ocorre em filmes com mais recursos é que passam a ter suas finanças controladas, com tempo estabelecido e ideias (leia-se criatividade) podadas, isso quando o diretor termina sendo pressionado a seguir as determinações do estúdio “do que realmente a plateia deseja”. Por isso, creio que uma continuação com total liberdade e um orçamento um pouco maior podem ser bem-vindos. A dupla de diretores / roteiristas e atores centrais devem ter deixados muitos de boca aberta ao produzirem um filme com tão baixo recurso e repleto de grande criatividade, onde gastam-se milhões em produções insossas ou que naufragam totalmente. E, de repente, uma dupla de adultos, que mais parecem saídos da adolescência, utilizam a máxima “uma câmera na mão e uma boa ideia” e mostram que, para se fazer um filme de horror, não são necessários baldes de dinheiro. Talento, criatividade e perseverança podem fazer uma baita diferença. 


Infectado ganhou prêmios no Fantastic Fest (Texas), nos Festivais de Stiges (Espanha) e Toronto (Canadá) que são festivais de renome. Por onde passou deixou sua marca. O filme em si não é nenhuma obra prima e muitos reclamarão exatamente de sua falta de recursos e efeitos de primeira linha. Alguns dirão que uma refilmagem com um orçamento decente permitiria uma obra que valesse a pena. Bobagem . Infectado não deve ser refilmado, para que possa lembrar a alguns diretores que existe muita gente boa com possibilidades, ainda que ocasionalmente, capazes de criarem um produto de qualidade. E o público tem que entender a dinâmica de ser fazer um filme em que se cata dinheiro na família e preenche os papéis secundários com amigos. Um filme para aqueles que gostam de assistir produções de terror sem a necessidade de terem sido feitos com algum grande ator como chamariz ou diretor de renome ou, até mesmo,  patrocinado por um grande estúdio. Uma boa pedida para quem estuda cinema e quer uma boa referência sobre bons filmes de baixo orçamento.

Trailer em inglês :

 

              
Curiosidades:

Em uma entrevista, os diretores informaram que a parede não era tão mole quanto imaginavam e que a mão de Derek ficou quase um ano lesionada.


O filme é de 2013, mas foi lançado comercialmente em 2014

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