quinta-feira, 28 de junho de 2018

LADRÕES DE BICICLETA / LADRI DI BICICLETTE / BICYCLE THIEVES (1948) - ITALIA



PUNGENTE RETRATO DOS DESAFORTUNADOS DA ITÁLIA PÓS-GUERRA

Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani) é um desempregado entre milhares em uma Itália pós-guerra.  Durante sua procura diária por uma ocupação surge uma vaga de colador de cartazes de cinema. Para tal cargo há uma exigência: o empregado deve possuir uma bicicleta.  Antonio consegue a vaga e para  reaver a bicicleta que penhorara para ajudar no sustento da casa recebe a ajuda da esposa, que vende os lençóis de casa. A vida parece começar a caminhar nos trilhos até que, durante seu trabalho, não consegue evitar que sua bicicleta seja furtada. Antonio e seu pequeno filho, Bruno (Enzo Staiola), iniciam uma peregrinação pelas ruas de Roma na tentativa de encontrar sua bicicleta.



Sempre nas listas de melhores filmes de todos os tempos, Ladrões de Bicicleta (título traduzido corretamente  para o português e erroneamente para o inglês na época) tornou-se um clássico para uma geração de cineastas. Vittorio De Sica (do excelente Umberto D) mostrou um dos mais pungentes painéis sociais de uma Itália arruinada economicamente pela guerra (1945) e a influência no cotidiano dessas pessoas. Orson Wells (Cidadão Kane) alardeou que teria sido o melhor filme que vira na vida; Etore Escola dizia que o filme foi a razão de se tornar cineasta; Woody Allen o coloca entre os 10 Melhores de Todos os Tempos;  Martin Scorsese criou uma lista de “39 filmes estrangeiros essenciais para um jovem cineasta”, onde coloca o filme em 11º.




Expoente máximo do que se classificou como neo-realismo, um movimento cinematográfico que expunha as mazelas sociais de uma forma realista, simples e com comprometimento da realidade, Ladrões de Bicicleta parte de um evento aparentemente trivial para elevar o tema à tragédia grega. Antonio vai resgatar sua bicicleta numa loja de penhores e há uma centena delas (bicicletas eram caras e penhoras eram uma saída). Tem a bicicleta roubada, vai a delegacia e a polícia apenas faz o registro. Pede ajuda a um amigo que o leva numa feira de venda bicicletas e de peças para que tente identifica-la pelo número de registro. Há milhares delas. Sem bicicleta, sem emprego.



E é na peregrinação de Antonio e do pequeno Bruno que vemos o desespero, a ansiedade e a desesperança.  Antônio tem que reaver a bicicleta a todo custo. Tem uma família, conseguira um emprego para sustenta-la, vendera o que tinha de valor em casa para usá-la e uma pessoa a furtara. Enquanto seu desespero segue uma espiral crescente, suas chances seguem inversamente proporcionais. Enzo leva o pequeno Bruno a um restaurante, De Sica mostra o contraste entre a burguesia e o povo.  Uma simples bicicleta para muitos, para Antônio significa a subsistência de sua família, uma chance de atravessar dignamente uma economia arrasada com milhares de pessoas desesperadas por um emprego.



A escolha de um elenco predominante amador fez toda a diferença. Apesar de ser uma característica básica do neo-realismo De Sica conseguiu extrair pungência da dupla central (pode ser vista também como uma grande história de pai e filho) e o espectador  não tem como ficar indiferente a inevitável tragédia que vai cercando Antônio e ao olhar de desespero do pequeno Bruno perto do final. Uma obra tocante de rara sensibilidade e que mesmo em preto e branco, dos anos 40, ainda tem uma tremenda força narrativa, pois leva a reflexão sobre o que é justiça, sobre como vemos uma situação por um ponto de vista sem conhecer completamente o seu contexto.


Trailer:




Curiosidades:

Em italiano, o título é Ladri di Biciclette / Ladrões de Bicicleta. Quando exibido nos EUA recebeu o título de “The Bicycle Thief” / O Ladrão de Bicicleta. Só que no singular seria “Ladro di bicicletta.”. Erro de tradução ou o distribuidor viu o filme e percebeu tratar-se de apenas um ladrão a furtar a bicicleta ? No Reino Unido recebeu a tradução correta: “Bicycle Thieves”. Atualmente é conhecido nos EUA como “Bicycle Thieves”

Lamberto Maggiorani era operário em uma fábrica antes do filme.

Vagamente baseado no livro de Luigi Bartolini (1946)

Enquanto buscava financiamento para o filme De Sica recebeu uma proposta do produtor David O. Selznick, de "E o Vento Levou" e "Rebecca, A Mulher Inesquecível": ter Cary Grant no papel principal. De Sica declinou da oferta por achar Grant fora do biotipo que desejava para o papel

O famoso diretor de cinema Sergio Leone trabalhou como assistente de Vittorio De Sica durante as filmagens deste filme. Ele também tem uma pequena aparição como um dos padres que estão ao lado de Bruno e Antonio durante a tempestade.

Vittorio De Sica escalou Enzo Staiola, de 8 anos, quando percebeu o garoto assistindo a produção do filme em uma rua enquanto ajudava seu pai a vender flores.

Vittorio De Sica (1901–1974)  ganhou 4 Oscars:  Vítimas da Tormenta - Oscar honorário (1948); Ladrões de Bicicleta - Oscar honorário (1950);  Ontem, Hoje e Amanhã (1965); O Jardim onde Vivemos (1972)

No início não havia no Oscar categorias separadas para filmes estrangeiros. Entre 1948 e 1956, a Academia concedeu Prêmios Honorários. A partir de 1957 foi criada uma categoria para produções estrangeiras que dura até hoje 

Enzo Staiola 

















Prêmios:
Globo de Ouro 1950
BAFTA Awards 1950
Bodil Awards 1951
Cinema Writers Circle Awards, Spain 1951
Italian National Syndicate of Film Journalists 1949
Kinema Junpo Awards 1951
Locarno International Film Festival 1949
National Board of Review, USA 1949
New York Film Critics Circle Awards 1949
Online Film & Television Association 2008
 
Filmografia Parcial: 
Lamberto Maggiorani (1909–1983)
 













Ladrões de Bicicletas (1948); Mulheres Sem Nome (1950); A Rebelde (1951); Ana (1951); Humberto D. (1952); Totó Fora da Lei (1956); O Juízo Universal (1961); Mamma Roma (1962); Mar Louco (1963); Ostia (1970)


Enzo Staiola (1939 - )
 

 










Ladrões de Bicicletas (1948); Vulcão de Paixões (1949); Vulcano (1950); O Drama da Linha Branca (1950); Façam Seu Jogo Senhores (1951); Outros Tempos (1952); O Regresso de Don Camilo (1953); A Condessa Descalça (1954); La ragazza dal pigiama giallo (1977)

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