MAD MAX : ESTRADA DA FÚRIA / MAD MAX ; FURY ROAD (2015) - AUSTRÁLIA / ESTADOS UNIDOS

MAD MAX DO SÉCULO XXI

(contém spoilers)

Max Rockatansky (Tom Hardy) é um homem solitário em um mundo despedaçado pela guerra nuclear. Vagando por imensos desertos, longe da companhia humana, o “Guerreiro das Estradas” é capturado por um grupo de soldados guerreiros sob as ordens de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), um homem que comanda uma localidade com mão de ferro e captura pessoas e seus bens em prol de seu exército e de si próprio. Max tem seu carro apreendido, um possante V-8, passando a servir de banco de sangue humano para soldados feridos, em especial Nux (Nicholas Hoult), um jovem com pouca expectativa de vida e com a expectativa de morrer em ação. Quando um uma mulher chamada Furiosa (Charlize Theron) rouba um caminhão com uma valiosa carga para Immortan Joe, uma caçada se inicia e Max acaba sendo levado junto.

 

Há duas maneiras de se olhar Mad Max - Estrada da Fúria: como um filme de ação de um personagem apocalíptico ou um filme a ser comparado aos 3 outros filmes das décadas passadas. E isso nem sempre é uma tarefa muito fácil.

 No primeiro  filme, “Mad Max” (1979),  nos é apresentado um (anti) herói que tenta impor a ordem como policial das estradas em um mundo caótico. Sua família é assassinada e tudo vai por terra. No segundo, "Mad Max 2 - A Caçada Continua", vemos Max como um solitário ajudando pessoas contra um grupo de saqueadores, liderado por um homem com uma máscara. A gasolina é o ouro dessa época e uma comunidade conseguiu encontrar o precioso bem. No terceiro exemplar, "Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão", vemos  Max tomar o lugar de um certo capitão Walker e se transformar em uma espécie de messias a conduzir o povo que lá está, enfrentando a toda poderosa dona de  uma cidade, interpretada pela cantora Tina Turner.  George Miller que também foi diretor dos filmes anteriores resolveu fazer uma mescla dos seus três filmes, em particular o segundo e terceiro, e condensá-los em uma única obra sabiamente voltada para um novo público. Aliás Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) é o mesmo ator que interpretou o vilão (líder dos motoqueiros) no primeiro Mad Max.

Miller resolveu pegar a questão da gasolina (do 2º filme), do senhor da cidade (uma condensação a vilã - Tina Turner - do terceiro  com o vilão The Humungus do segundo) e que fica bem explícito em Immortan Joe e seus dois momentos: rei da cidade e vilão sobre quatro rodas. Falando em rodas, o diretor deve ter gostado muito das cenas de ação de “A Cúpula do Trovão" pois praticamente o refilmou junto com os guerreiros do segundo. Faltou um Wez "cão de guerra" do ator Vernon Welles do segundo filme e seu visual moicano, substituído por um guerreiro musculoso: Rictus Erectus (Nathan Jones), uma junção de Wez (o moicano louco) e Blaster (o lutador da arena da "Cúpula do Trovão" do terceiro).

 

Para não ficar na cópia propriamente dita, o diretor colocou  jovens guerreiros preparados para guerra e com pouca vida, devido ainda aos devastadores efeitos da guerra nuclear. Quem assistiu ao terceiro se lembrará de um jovem calado com os olhos pintados. É uma adaptação desse personagem, com um novo visual e uma história criada em torno de Nux e seus (nem tanto) amigos guerreiros. Jovens prontos para a guerra que não discutem (é um mundo novo e esses jovens já nasceram num mundo assim, eles não tem parâmetros) e estão prontos para morrerem em combate em prol de seu líder e quase um "deus" (em seu ritual final colocam um spray em torno da boca como uma despedida da vida). O poder de Immortan Joe advém de algo mais importante do que gasolina dos filmes anteriores: água, elemento fundamental para toda a vida que  Joe “generosamente” cede, ocasionalmente, ao seu bel prazer,  ao seu povo de maltrapilhos sedentos. Pois é primordialmente reservada à ele, sua casta e seus soldados. Quem controla a água, controla a vida. Ponto para o diretor que percebeu que há 30 anos atrás o futuro seria outro.

Concorrendo a 10 Oscars e com grandes chances nas áreas técnicas, Mad Max é um filme com orçamento gigantesco e efeitos de primeira, com um show de ação ininterrupta e destruição ao Cubo. Tom Hardy é um excelente ator que, às vezes, arrebenta num papel (como em Bronson) e em outras ocasiões passa meio batido (como o vilão Bane de "Batman o Cavaleiro das Trevas Ressurge"). Mas aqui começam alguns problemas. Fica a impressão de que o subtítulo “Estrada da Fúria” refere-se mais a Charlize Theron que a Hardy, pois ela parece mais a condutora da ação com o seu personagem furiosa, essa sim uma fúria na estrada (perdoem o trocadilho). Max, o Louco,  em alguns momentos parece meio que um coadjuvante de luxo. Isso pode ser observado  no cartaz do filme onde Max se encontra em uma posição de coadjuvante tendo Furiosa em primeiro plano

Mel Gibson fazia um “Guerreiro da Estrada”, ex-policial que sobrevivia num mundo sem regras, mas ainda assim tinha aquele ar de herói (ainda que relutante). Nesse novo reboot (como o diretor gosta de definir), Max meio que cai de pára-quedas na ação, mas não faz feio. São filmes de estética distintas, para personagens diferentes, dentro de um mesmo cenário: um mundo pós- apocalíptico. Apenas que, nas versões anteriores, Max (de Gibson) era o cavaleiro em sua armadura (com o seu carro interceptador V8 do primeiro filme, o que pode sugerir que esta nova produção poderia ser vista como uma continuação de Mad Max de 1979). Ele praticamente resolvia tudo sozinho. Aqui Furiosa praticamente dá conta do recado sozinha, mais um pouco poderiam ter colocado ela como protagonista, uma Mad Max pronta a salvar o dia.  Isso sim seria inovador e uma quebra e tanto de paradigma no cinema hollywoodiano. .

Alguns podem entender que Miller acrescentou uma busca pela terra prometida e uma “Moisés” à libertar seu povo oprimido, Furiosa não tem um cajado nem um mar para abrir. Seu mar é o deserto e o faraó vem em um carro blindado com seus soldados velozes e ansiosos por morrer pelo seu líder maior em nome de uma causa  (uma analogia bem sutil, inserida dentro do contexto atual de nossos tempos). A questão que fica é: ela é "o libertador" ajudada por um “anjo” (Max) em sua missão ou ela encontra um libertador e o segue em direção a terra prometida?. 

Teron está perfeita na pele da guerreira durona. Podemos dizer que depois de Sigourney Weaver e seus Aliens, ela talvez seja a melhor representante do heroísmo feminino atual. Mulher coragem, de fibra e disposta a tudo. A concepção criada para a personagem, de cabelos raspados e face embrutecida, caíu como uma luva e certamente não traria o impacto desejado se a atriz não tivesse se despido de sua beleza. Já o tinha feito em "Monster: Desejo Assassino" (2003), mas agora foi muito mais radical. Então fica a pergunta: Tom Hardy tem o carisma necessário para continuar com seu personagem?

Entrando  no assunto concepção visual, não há como negar que a fotografia é impactante. As cores são perfeitas, auxiliadas por câmeras de última geração que dão uma vivacidade incrível. As locações também devem ser destacadas. Trocar o deserto australiano, pelo deserto da Namíbia foi uma ótima escolha e caiu perfeitamente na história. Quanto a montagem, não há como negar que, na maioria das cenas, o espectadores se sentem como que em uma Montanha russa, com vários loopings até o final em que conseguem recuperar o fôlego

Se o diretor, como dizem, já tem pronto os roteiros dos filmes seguintes (o ator Tom Hardy teria dito em uma entrevista, para Esquire magazine, que assinara um contrato para mais 3 filmes), podemos entender que este foi um cartão de visitas. Sendo assim , é possível que as duas próximas produções sejam bem mais distantes dos antigos filmes. 
Se a ideia era apresentar um novo herói para um novo milênio, sem desagradar quem assistiu a trilogia anterior, podemos dizer que foi um acerto, visto que o filme tem mais admiradores do que detratores. No site do IMDB aparece o novo filme para 2017: Mad Max: The Wasteland, sem título ainda no Brasil

Trailer 1:

Trailer 2:

 Trailer 3 (com uma apresentação dos filmes anteriores):

 Cenas de Bastidores:

Curiosidades:  

O filme concorreu a 10 Oscars: Melhor Filme; Melhor Diretor; Melhor Fotografia; Melhor Design de Produção; Melhor Mixagem de Som; Melhor Maquiagem e Penteado; Melhor Figurino; Melhores Efeitos Visuais; Melhor Edição de Som; Melhor Produção de Arte.

O filme ganhou 6 Oscars: Melhor Montagem; Melhor Design de Produção;Melhor Figurino;Melhor Edição de Som; Melhor Mixagem de Som; Melhor Maquiagem e Penteado (atualizado em junho 2016).

Na antiga série o segundo filme se passa 5 anos depois do primeiro e no terceiro são 15 anos depois do segundo

Mad Max 1979

 

O jovem calado de Mad Max 3 e sua nova versão.

Nova versão

Mad Mad 3

  

Wez e Bluster resultando em  Rictus Erectus.

Wez

Blaster

Rictus Erectus

 

Uma nova visão para a cena de Mad Max 2: Antes, homens presos ao Carro. Agora é Max.

Tina Turner (Mad Max 3) e o vilão  The Humungus condensados em Immortan Joe.

           

Tom Hardy
Falcão Negro em Perigo (2001); Jornada Nas Estrelas: Nêmesis (2002); Maria Antonieta (2006); Bronson (2008); Jogo Entre Ladrões (2009); O Morro dos Ventos Uivantes (Mini-série) (2009); O Espião Que Sabia Demais (2011); Mad Max: Estrada da Fúria (2015); O Regresso (2015); Dunkirk (2017).

Charlize Theron
The Wonders - O Sonho Não Acabou (1996); Advogado do Diabo (1997); Regras da Vida (1999); Homens de Honra (2000);  Doce Novembro (2001); O Escorpião de Jade (2001); Caminho sem Volta (2002); Encurralada (2002); Uma Saída de Mestre (2003); Monster: Desejo Assassino (2003); A Vida e Morte de Peter Sellers (2004); Três Vidas e um Destino (2004);  Terra Fria (2005); Æon Flux (2005); Hancock (2008); Vidas Que Se Cruzam (2008); A Estrada (2009); Prometheus (2012); Branca de Neve e o Caçador (2012); Mad Max: Estrada da Fúria (2015); O Caçador e a Rainha do Gelo (2016); Atômica (2017);  Velozes & Furiosos 8 (2017); Gringo: Vivo ou Morto (2018);  Casal Improvável (2019); O Escândalo (2019); The Old Guard (2020);  Velozes & Furiosos 9 (2021)

Nicholas Hoult
Um Grande Garoto (2002); O Sol de Cada Manhã (2005); Fúria de Titãs (2010); Fúria de Titãs (2011); Jack, o Caçador de Gigantes (2013); X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014); Mad Max: Estrada da Fúria (2015); X-Men: Apocalipse  (2016).

Josh Helman
Jack Reacher: O Último Tiro (2012); X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014); Mad Max: Estrada da Fúria (2015);X-Men: Apocalipse  (2016).

Nathan Jones
Primeiro Impacto (1996); Tróia (2004); O Protetor (2005); Os Condenados (2007); Conan, o Bárbaro (2011); Mad Max: Estrada da Fúria (2015).