terça-feira, 12 de abril de 2016

KRULL (1983) - REINO UNIDO / ESTADOS UNIDOS

  

AVENTURA E FANTASIA NO PLANETA KRULL
(o texto contém spoilers)

Em um planeta, sem tempo ou lugar definido, chamado Krull, uma força extraterrestre, liderados por um ser chamado "A Besta", invade o planeta para escravizar seus habitantes levando dois reinos inimigos a unirem suas forças, através do casamento de seus filhos, à enfrentarem a nova ameaça. Antes que possam consumar o casamento, a princesa Lyssa (Lysette Anthony) é raptada. Durante a batalha apenas o príncipe Colwyn (Ken Marshall) sobrevive, ainda que parcialmente ferido. Salvo por Ynyr (Freddie Jones), ele parte para enfrentar a criatura que vive em uma fortaleza aparentemente intransponível e que muda de local a cada amanhecer.


Fantasia de capa e espada (leia-se armaduras e espadas) que parece uma salada de vários gêneros. Podemos dizer que há uma grande inspiração em Guerra nas Estrelas: Colwyn com seu mentor Ynyr tem que resgatar Lyssa da Criatura do mal na Estrela da Morte, quero dizer, Fortaleza Negra. Em sua caminhada ele junta um grupo de fugitivos e ladrões que vivem escondidos (lembraram-se de Robin Hood?). Seus inimigos são criaturas em armaduras futuristas que alguém pode se lembrar bem de longe dos Cylons (da antiga série Galática) ou a Guarda Imperial de Darth Vader, só que no lugar da cabeça, dentro da armadura, há uma criatura bem parecida com polvo (Influência de Alien o 8º passageiro?). 


Mas e as partes criativas? Elas existem. Ergo (David Battley) possui o dom de se transformar em animais, ainda que seja muito medroso. Ergo e o menino, que lhe acompanha, foram comparado aos Robôs C3PO (trapalhão) e R2D2 (pequeno e calado). O Ciclope guerreiro  possui o dom de ver o futuro (mas apenas seu futuro e, mais especificamente, o momento de sua morte).O Cyclope seria Chewbacca?. Uma mulher que vive em uma redoma, protegida por uma aranha de cristal e um cego chamado Profeta das Esmeraldas que vive recluso em uma caverna. Colwyn e seu recém-criado grupo de foragidos, liderados por Torquil (Alun Armstrong) e seu segundo em comando, Kegan (Liam Neeson antes da fama) lutam com espadas (a vestimenta e armas remete a época medieval) e ajudarão Colwyn a resgatar sua amada em troca da liberdade de todos do planeta. O bom e esperto ladrão Torquil seria uma caracterização de Han Solo?


Essa mistura de Guerras nas Estrelas, Excalibur (príncipe, princesa, reis e a lenda do Glávie ou Excalibur !?), Capitão Blood (o visual Errol Flyn), Robin Hood, Alien e Galáctica (ufa !) gerou um filme , apesar de datado, muito interessante para a época, onde efeitos digitais começavam a povoar as produções, com direito a raio laser, espadas elétricas (alguém lembrará dos efeitos de Tron?) e as transformações de Ergo (que lembram aquele personagem do desenho "Os Cavaleiros das Arábias" no programa "Os Banana Splits", que se transformava em vários animais). O ciclope Rell, interpretado pelo ator Bernard Bresslaw, ficou excelente, principalmente no quesito maquiagem. Talvez o melhor momento esteja por conta da atriz Francesca Annis (do filme "Duna") que, num primeiro momento, aparece como uma solitária anciã, para durante alguns segundos, mostrar-se jovem e bela, justificando uma antiga paixão de um dos personagens. Essa passagem com as teias, a aranha gigante e o relógio de areia (a famosa ampulheta) garantem o filme.


O diretor Peter Yates (1929–2011) de “Bullitt”, “O Fundo do Mar” e “A Revanche Final” se aventurou em um filme bem diferente de suas características e o resultado final ficou bem aquém do que possivelmente se esperava para essa produção, visto que o filme narra que uma criança nasceria da dupla central e governaria o universo. Possivelmente devem ter pensado em uma continuação se essa produção gerasse grandes retornos, mas foi recebida pelos críticos com elogios comedidos, ainda que o público juvenil da época tenha se afeiçoado a produção.


A história é centrada em uma poderosa arma chamada Glávie, capaz de destruir a criatura, sua fortaleza (uma nave espacial em forma de montanha) e seus soldados. Aí temos um problema: a história apresenta tantos personagens interessantes que quando o herói utiliza sua poderosa arma, perto do fim, o resultado é insatisfatório, até porque a criatura maligna não é apresentada inteira, apenas fragmentos de seu corpo e com certas distorções na imagem para gerar um efeito inusitado, mas ficou mais para bizarro. 


Outro problema foi que esqueceram de dar drama à história. O espectador não se envolve na perda do príncipe, não sente o desespero da princesa porque a história centra nas aventuras do personagens para chegarem à fortaleza. Talvez, por isso, o excesso de referências tenham desviado o espectador do conteúdo da história. O herói pouco sente a morte do pai e nem se incomoda em como estaria a princesa. Mas assim foi feita a história: para encher os olhos e não para gerar sentimentos ou algum tipo de reflexão. A ideia era entreter com efeitos especiais, então temos bolas de fogo, cavalos voadores que soltam fogos pela patas, areias movediças, espadas elétricas e belos cenários. Outro fator a ser citado é que o filme informa que os habitantes estão sendo escravizados ou mortos, mas não há habitantes (a não ser os que aparecem especificamente para o propósito do filme). Não aparecem fazendas ou cidades. Os extras praticamente foram utilizados no exército inimigo. Fora que nenhum dos personagens místicos tem sua origem citada ou o porquê de estarem naquela condição (vide a viúva da teia)


Filmado nos estúdios Pinewood (Inglaterra) e partes na Itália e Espanha (Ilhas Canárias) entre outros, krull é um bom exemplar da criatividade que imperou nos anos 80. É visível a qualidade gráfica se formos compará-la, por exemplo, a “Simbad e o Olho do Tigre” (ainda que este último tenha uma história mais envolvente). Foi praticamente o final da técnica do stop motion de Ray Harryhausen (ainda usada neste filme para a cena da Aranha) e o nascimento de os efeitos digitais de filmes como Krull, lembrando que um ano antes Ridley Scott fez um filme analógico (usando muita criatividade, câmera e maquetes) para produzir o impactante Blade Runner. Passados 33 anos, quem acompanhou a evolução dos efeitos desde Krull, partindo da nossa análise, passando por filmes como “O Vingador do Futuro”, “Robocop”, “Matrix” e “Avatar”, apenas citando produções conhecidas, terá uma noção exata de como o cinema evoluiu nessas três décadas. Hoje já estamos com o cinema em 3D. Imaginar que tudo começou em 1895 com Louis e Auguste Lumiére que descobriram como transformar em realismo, fotografias feitas em movimento contínuo. Posteriormente, George Méliès com o seu “Voyage à travelers l’ impossible” e “Voyage dans la Lune” deu uma nova linguagem ao cinema que evoluiu para o que conhecemos atualmente. Naquela época seduzia os espectadores e hoje, ainda continua proporcionando momentos de imaginação  e reflexão.



Curiosidades:

O diretor Yates revelou ter buscado em "O Retorno de Jedi" a inspiração para o filme.

Devido aos fracos resultados de bilheteria, uma sequência de "Krull 2" nunca foi produzida.

O escritor Stanford Sherman também foi o responsável por escrever Punhos de Aço - Um Lutador de Rua (1980) e Piratas das Galáxias (1984).

James Horner compôs anteriormente a trilha sonora de Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan (1982). Ken Marshall mais tarde interpretou Michael Eddington em Jornada nas Estrelas: Deep Space Nine (1993).

O único roteirista do filme, Stanford Sherman, mais tarde co-escreveu com o diretor Stewart Raffill Piratas das Galáxias (1984), que foi dirigido por Raffill e estreou no ano seguinte. Sherman também foi roteirista solo da comédia de ficção científica 3D O Homem que Não Existiu (1983), que estreou no mesmo ano que Krull (1983).

Este filme contém várias semelhanças óbvias com O Senhor dos Anéis, como o Olho do Mal do Lord das Trevas, a espada mágica como Sting, os guardas sinistros que lembram os Cavaleiros Negros, a aranha gigante e teia como Laracna, etc.

O ciclope diz que as éguas do fogo podem viajar mil léguas em um dia. Uma liga foi definida como a distância que um homem fortemente armado poderia viajar em uma hora, geralmente de 3 a 4 milhas (4 a 7 quilômetros). Isso significa que as éguas do fogo podem viajar cerca de 3.500 milhas (5.000 km) por dia, a uma velocidade média de cerca de 145 milhas por hora (250 km / h). 

Foram usados cavalos da Cavalaria do Palácio de Buckinghan.

Desde cerca de 1980, há rumores de que este filme foi originalmente planejado para se relacionar com o RPG Dungeons & Dragons (D&D) e era para ser conhecido como "Dragons of Krull", para o qual um roteiro estava sendo escrito. De acordo com E. Gary Gygax, "até onde eu sei, os produtores de Krull (1983) nunca procuraram a TSR [a editora de D&D] para obter uma licença para permitir que seu filme usasse a PI do jogo D&D e não desenhou inspiração do IP do jogo. "

Como um artifício promocional para o filme, o estúdio criou um concurso de redação para as pessoas se casarem com fantasias do filme. Uma dúzia de vencedores sortudos se casou em uma cerimônia de apenas um dia em 1983. O truque foi abandonado depois, uma vez que não obteve cobertura adicional da imprensa para o filme.

Este filme foi um fracasso comercial, criticado pela crítica e até ganhou o prêmio "Stinkers Bad Movie" de Pior Filme em 1983. Apesar disso, desde então ganhou um culto de seguidores.

Bernard Bresslaw também interpretou o gigante Gort em "O Falcão Justiceiro" (1980).

Ken Marshall foi escalado para o papel central no filme, tendo interpretado o papel-título na então recente série de televisão Marco Polo (1982).

Frank Price, então presidente da Columbia Pictures, determinou que uma atriz americana desconhecida ajudaria a vender ingressos nos Estados Unidos melhor do que uma atriz inglesa desconhecida. Price se encontrou com Lysette Anthony e disse a ela que todos os seus diálogos seriam dublados pela atriz Lindsay Crouse (Prefontaine: Um Sonho sem Limites).

Uma mão que poderia se transformar fisicamente em uma "Garra de Mudança" foi desenvolvida para o filme, mas devido a restrições de tempo não pôde ser revelada a tempo e não foi usada no filme. A peça foi concluída posteriormente para o filme Força Sinistra (1985), de Tobe Hooper.

Freddie Jones e Francesca Annis apareceram juntos novamente em Duna (1984).

O Glave aparece na sequência final da batalha do flme Jogador Nº 1 (2018) usada por Sho.

A maquiagem envelhecida da Viúva da Teia tinha 23 elementos para aplicar no rosto, na cabeça e no corpo da atriz.

No roteiro original, Colwyn salva Ynyr da aranha na caverna da Viúva da Teia matando-a com a Glaive, mas ela foi cortada do filme.

A dublagem dos gritos de morte dos Slayers foi tirada dos gritos maias em No Coração da Terra (1976).

A produção utilizou dez palcos de som no Pinewood Studios, incluindo o maior de todos, o gigantesco palco 007, que foi usado para os exteriores da sequência do pântano.

O filme se destacou por apresentar as primeiras aparições de Liam Neeson e Robbie Coltrane nas telas.

Este filme foi um dos mais caros de sua época.

Foi feito um segundo script, mas como não agradou retornaram ao primeiro e o reescreveram.

A morte de Keegan de Liam Neeson é semelhante à de seu personagem Qui-Gon Jinn em Star Wars, Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999).

O filme, inicialmente, se chamaria "The Dragons of Krull" 

Stever Archer, que trabalhou com Ray Harryhausen em Fúria de Titãs (1981), aplicou a técnica do mestre na concepção stop montion da Aranha de Cristal. Archer também trabalhou no filme "A História Sem Fim"  de 1984.

Derek Meddings foi o responsável pelos efeitos visuais. Derek trabalhou em vários filmes da franquia 007; Supeman I, II e III ; Batman (1989) entre outros.

A palavra Glaive vem do latim Glavius que significa "pequena espada".

Apesar de, no poster promocional, a princesa aparecer com um vestido bem sensual e com a perna de fora, no filme, a imagem é exatamente oposta: a princesa está com um vestido bem comportado.

Lysette Anthony participou dos clips musicais de Bryan Adams ("Heaven", "Somebody", "Summer of '69" e "Run to You") e do grupo Depeche Mode ("I Feel You").

No inicio de 2022 Lysette Anthony informou que luta contra o Mal de Parkinson há seis anos

Lysette Anthony no clip Heaven:

 



 Cartaz do Filme:

 
























Trailer: 






Filmografia Parcial:
Ken Marshall










A Pele (1981); Krull (1983); Deu a Louca nas Federais (1988); Retratos de Guerra (1989); Jornada nas Estrelas: Deep Space Nine (seriado 1994 a 1997) e participação em várias séries

Lysette Anthony










Krull (1983); Sherlock & Eu (1988); Switch: Trocaram meu Sexo 1991);  Maridos e Esposas (1992); Entre a Luz e as Trevas (1993); Olha quem está Falando Agora! (1993); Golpe Final (1994); Drácula - Morto Mas Feliz (1995); Trilogy of Terror II (1996);; Robinson Crusoé (1997); O Enigma de Talos (1998); Strippers vs Werewolves (2012); We Still Steal the Old Way (2016); When the Devil Rides Out (2017); Conjuring: The Book of the Dead (2020); Hollyoaks (seriado 2008 a 2021) e participações  em seriados

Liam Neeson










Excalibur (1981); Krull (1983); Merlin e a Espada (1985); A Missão (1986); Prece Para Um Condenado (1987); Sob Suspeita (1987); Dirty Harry na Lista Negra (1988); O Preço da Paixão (1988); Marcados Pelo Ódio  (1989); Darkman - Vingança Sem Rosto (1990); Uma Luz na Escuridão (1992); A Lista de Schindler (1993); Rob Roy: A Saga de uma Paixão (1995); Michael Collins: O Preço da Liberdade (1996); Os Miseráveis (1998); Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma (1999); K-19: The Widowmaker (2002); Gangues de Nova York (2002); Cruzada (2005); Batman Begins (2005); Busca Implacável (2008); O Preço da Traição (2009); Além da Vida (2009); Fúria de Titãs (2010); Esquadrão Classe A (2010); Desconhecido (2011); A Perseguição (2011); Busca Implacável 2 (2012); Battleship: A Batalha dos Mares (2012); Sem Escalas (2014); Busca Implacável 3 (2014); Silêncio (2016); Mark Felt: O Homem que Derrubou a Casa Branca (2017); O Passageiro (2018); A Balada de Buster Scruggs (2018); As Viúvas (2018); Vingança a Sangue-Frio (2019); MIB: Homens de Preto - Internacional (2019); Nosso Amor (2019); Legado Explosivo (2020); Na Mira do Perigo (2021); The Ice Road (2021)


Freddie Jones (1927–2019)












À Sombra das Pirâmides (1972); O Homem Elefante (1980);  Firefox - Raposa de Fogo (1982); Krull (1983); E la Nave Va (1983); Chamas da Vingança (1984); Duna (1984); O Enigma da Pirâmide (1985); As Aventuras de Erik, o Viking (1989); Tempo de Inocência (1999); O Conde de Monte Cristo (2002); O Violinista que Veio do Mar (2004); Emmerdale Farm (seriado 2005 a 2018)

Alun Armstrong









Carter - O Vingador (1971); Os Duelistas (1977); A Mulher do Tenente Francês (1981); O Destruidor (1992); Jogos Patrióticos (1992); Beleza Negra (1994); Coração Valente (1995); O Santo (1997); A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999); Prova de Vida (2000); O Retorno da Múmia (2001); Van Helsing: O Caçador de Monstros (2004); Caiu do Céu (2004); Oliver Twist (2005); Eragon (2006); New Tricks (seriado 2003 a 2013);  Golden Years (2016); Out of Innocence (2016); Frontier (2016 a 2018); Cordelia (2019); Breeders (seriado 2020) 

Fontes:
Jornais O Globo e Jornal do Brasil da época
Revista Cinemin nº 8
IMDB
Starlog Magazine
Wikipedia

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