A analogia é muito bem feita: D-Fens é mandado embora e não vê sentido em sua vida, Prendergast está sendo gentilmente dispensado com o subterfúgio da aposentadoria, tem uma esposa com problemas e que teve sua filha falecida aos 2 anos por problemas médicos. A diferença é que um entra em colapso e o outro se mantém integro; um se rebela contra o sistema e o outro entende as regras do jogo.
O filme levantou muitas polêmicas e pode ser visto por vários ângulos: a visão de um homem frente a um país que não consegue manter seus cidadãos economicamente ativos (e há menções como a do homem (Vondie Curtis-Hall) que está com o cartaz no banco e a própria condição de "D-Fens", ou seja, o fim do sonho americano). Quase todas as pessoas que cruzam seu caminho (apenas tirando a parte final) são economicamente desfavorecidas. Condição essa percebida quando "D-Fens" entra no ônibus onde a maioria é mal educada, quando passa em frente ao parque ou o casal que se utiliza da piscina enquanto os donos estão fora. Mostra a intolerância (ao casal homossexual na loja do facista), o Estado roubando o contribuinte, ao inventar uma obra que não existe, para poder justificar a saída de dinheiro e, com isso, poder pedir mais verba no próximo orçamento anual (alguém pensou no Brasil?). E o atendimento no fast food, ao "D-Fens" pedir o hambúrguer da foto?
Tudo isso pode ser visto como um filme de ação, mas é uma crítica à América Contemporânea. Se quisermos polemizar, passa uma impressão ruim de que os afrodescendentes, latinos, orientais, pobres e imigrantes seriam o grande peso do sistema americano. Isso pode ser pensado na já citada cena do ônibus e do parque (repare bem quem são os retratados), no oriental (Michael Paul Chan) que trabalha na loja e no cidadão que lhe vende o brinquedo (basta dar uma boa olhada). A gangue é de mexicanos e, em poucos momentos, vemos americanos ricos num campo de Golf que também sofrem a fúria de "D-Fens". Para contrabalancear, temos uma policial latina (Rachel Ticotin) como parceira de Prendergast.
Irônico, preconceituoso, racista, intolerante, politicamente incorreto. Michael Douglas encarnou um personagem inesquecível e Robert Durval novamente nos brinda com uma performance fantástica (por sinal o ator dificilmente pega um papel que não torne ótimo). Dá para se refletir muito nesse filme e suas cenas se encaixam em vários segmentos: atendimento, vendas, marketing, relacionamentos, preconceito, psicose... Joel Shumacher, que ficou estigmatizado pelos apelidados “Batmans Carnavalescos”, conseguiu fazer um filme de primeira, juntado pedaços distintos e montando um quebra-cabeças com um final seco, porém justo. O diretor tem em seu currículo bons filmes como “Os Garotos Perdidos”; “O Cliente” e “Tempo de Matar”.
Nos Estados Unidos o filme se tornou muito polêmico, devido ao momento em que drama foi lançado: em 1991, Rodney King (1965-2012) foi brutalmente espancado pela polícia por ter sido acusado de dirigir em alta velocidade. O incidente foi filmado. Policiais brancos espancando um afro-americano tomou Los Angeles de revolta. Em 1992 os policiais foram absolvidos em uma nova onda de protestos. Em 1993 surge “Um Dia de Fúria” colocando como protagonista um americano que, em seu modo de ver, seria um estranho em seu próprio país. O jornal Los Angeles Times virou palco de uma acalorada discussão de seus leitores que varreu suas páginas e que se dividiu em dois lados: um grupo a favor e outro contra o personagem. Uma tremenda ambiguidade. Até a revista Times dedicou espaço em sua edição para novas discussões. No Brasil, muitos viram apenas como um filme sobre um homem divorciado que um dia surta.
O filme, na verdade, resolve descortinar os problemas sociais com que a América convive (até hoje), inclusive mostrando como muitos americanos pensam dos outros. Enquanto a maioria gosta de filmar obras polêmicas, abordando outras sociedades, Schumacker tentou mostrar que os problemas podem estar dentro do próprio solo americano e olhar para o próprio umbigo, admitindo seus defeitos, pode ser algo mais difícil para o ser humano, em qualquer sociedade que esteja, admitir. Para não ser acusado de preconceito às minorias, o filme ataca também o americano comum, como o gerente da cadeia de fast food e o milionário que não aceita ser interrompido.
No Brasil, um jornal de grande circulação colocou, na época, uma matéria de página, onde tentou descortinar o tema através da ótica do carioca. O resultado (para nossa realidade) foi outro, mas não muito incoerente: políticos, corruptos, transporte público entre outros. Daria um ótimo filme, mas será que o brasileiro está pronto para amadurecer o debate de seus valores? Filme para se pensar, discutir e vermos que nem sempre a grama do vizinho é mais verde.
Trailer:
Cartaz:
Filmografia Parcial:
Michael Douglas:
Fontes:
Revista Cinemim: Julho de 1993
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