Final
do século 19. Daniel Dravot (Sean Connery) e Peachy Carnehan (Michael Caine) são dois
ex-soldados do exército colonial inglês na Índia. Vivendo de chantagens e
falsificações, encontram Rudyard Kipling (Christopher Plummer) correspondente
de um famoso jornal inglês e pertencente a maçonaria. Após concluírem que as autoridades do país os
consideram "personas não grata" decidem empreender uma fantástica
viagem a um longínquo país chamado Kafiristão, em uma parte desconhecida do
Afeganistão, um território não visitado por outros povos desde a passagem de
Alexandre, o Grande. A intenção da dupla passa a ser conquistar e estabelecerem-se
como reis. Elaboram entre si um contrato de normas de conduta e pegam como testemunha
Kipling, partindo em seguida para uma aventura que mudará completamente suas
vidas.
Se
Dravot e Peachey tivessem realmente lido sobre Alexandre, O Grande saberiam que
mesmo tendo chegado ao Afeganistão e passado três anos, nunca conseguira
dominar completamente aquele povo que resistira ferozmente de todas as formas.
Sua chegada provocou mudanças sociais e culturais, mas a derrota na "Batalha
de Polytimetos" (328 a.C.) o fez retornar à Índia, mas nossos intrépidos
aventureiros dotados da filosofia colonialista / imperialista vislumbraram uma
maneira de se tornarem maiores do que foram até aquele momento.
O diretor John Huston nos apresenta, em um primeiro momento, um filme de aventuras clássico: nossos "heróis" encontram Kipling; procuram a cidade de Kafiristão (chamada de terra dos infiéis por não se converterem ao islã); e passam por grandes obstáculos até a chegada na "cidade misteriosa". Esses ingleses não são o arquétipo dos heróis clássicos europeus: cultos, inteligentes e com um ar de superioridade, a alcançar uma sociedade de "barbarismo" trazendo "luz às trevas". Esses "heróis" triunfavam e justificavam o movimento colonizador, que sua mensagem pretendia transmitir, trazendo consigo a instrução aos "desprovidos de conhecimento", justiça (na concepção do colonizador) e um cunho beneficente, ou seja, o real benefício em que se justificaria todas as medidas citadas. Só que o diretor Jonh Huston nos entrega personagens desprovidos de glamour ou propósitos utópicos. O que move a dupla a descobrir a cidade é nada mais do que poder, desejo de riqueza e pilhagem. E quando Dravot vê a sucessão de eventos o ajudarem a encontrar a cidade entende como designação divina, mas para Peachey tudo não passa apenas de muita sorte. Talvez a síntese do filme esteja na frase gritada pelos sacerdotes "ele é apenas um homem!", para aquele passou a se considerar mais do que um homem.
O diretor John Huston nos apresenta, em um primeiro momento, um filme de aventuras clássico: nossos "heróis" encontram Kipling; procuram a cidade de Kafiristão (chamada de terra dos infiéis por não se converterem ao islã); e passam por grandes obstáculos até a chegada na "cidade misteriosa". Esses ingleses não são o arquétipo dos heróis clássicos europeus: cultos, inteligentes e com um ar de superioridade, a alcançar uma sociedade de "barbarismo" trazendo "luz às trevas". Esses "heróis" triunfavam e justificavam o movimento colonizador, que sua mensagem pretendia transmitir, trazendo consigo a instrução aos "desprovidos de conhecimento", justiça (na concepção do colonizador) e um cunho beneficente, ou seja, o real benefício em que se justificaria todas as medidas citadas. Só que o diretor Jonh Huston nos entrega personagens desprovidos de glamour ou propósitos utópicos. O que move a dupla a descobrir a cidade é nada mais do que poder, desejo de riqueza e pilhagem. E quando Dravot vê a sucessão de eventos o ajudarem a encontrar a cidade entende como designação divina, mas para Peachey tudo não passa apenas de muita sorte. Talvez a síntese do filme esteja na frase gritada pelos sacerdotes "ele é apenas um homem!", para aquele passou a se considerar mais do que um homem.
O
público mais atento perceberá que, desde o início, há um ar de derrota, um ar
de que alguma coisa deu errado através das palavras de um homem que chega no
estabelecimento de Kipling e diz conhecê-lo (ainda que este não o reconheça) e
daquele ponto se inicia nossa narrativa. Daniel Dravot quer ser o rei e quando
os incautos cidadãos são levados a uma interpretação errônea pelos sacerdotes locais, ele
percebe que só manterá sua coroa se corroborar a crença de que é filho de deus,
mas um deus hindu, o principal, venerado por aquele povo. E isso, como dito
pelo seu amigo Peachey (Caine), pode dar muito errado. Não se pode manter uma
mentira por muito tempo e pessoas não gostam de ser enganadas, ver suas ilusões
destruídas ou terem seus bens saqueados. E aqui o filme já sai do contexto aventuras
e entra em um cunho mais filosófico, irônico, acerca de como um homem se comporta
ao lhe darem poder. A leitura não é sobre o fracasso de dois homens, há uma
sutileza nos revelando como pano de fundo a experiência, o fracasso e o
malefício do colonialismo ao tentarem dominar uma cultura que sempre guerreou
ferozmente em seus domínios.
Há
várias facetas do colonialismo mostrados de forma bem sutil e revestido de
bastante ironia: o indiano que entra no trem sendo arremessado para fora, onde
pouco se importam com ele (eram tratados como cidadãos de terceira classe); o
homem que usa os pés, amarrado a uma corda, para refrescar o local onde um
oficial trabalha; os habitantes sendo mostrados como estranhos e bárbaros; a
chegada da dupla no local com tecnologia (armas) contra o uso de flechas (tal
qual a chegada dos conquistadores espanhóis no reino Asteca). Mas esse rico
roteiro, baseado no livro de Rudyard Kipling, também nos revela uma dualidade
do ser humano: emocional (Dravot) que se
encanta em ser "deus", assim como a reencarnação de Alexandre, e o racional (Peachey), uma espécie de
consciência a lhe advertir dos perigos de manter uma ilusão e uma sucessão de mentiras.
Na verdade, poderíamos conjecturar que estaríamos falando de um ser humano divido em duas personalidades,
mas que a história divide em dois personagens para o espectador ter um melhor
entendimento da mensagem. Um tom solilóquio não funcionaria no filme.
John Huston tinha em mente fazer o filme desde a década de 50 com Clark Gable e Humphrey Bogart, mas Bogart faleceu. Anos mais tarde, ao rodar "Os Desajustados", que tinha Gable no elenco, o ator aceitou fazer o filme, enquanto Huston procuraria outro ator para substituir Bogart, mas agora era Gable que faleceria em 1960. Tendo o projeto ressuscitado pelo produtor John Foreman, com quem colaborou em "Roy Bean, o Justiceiro" e "O Homem de Macintosh", foram para o Marrocos rodar a história que se passaria no Kafiristão. Houve outros atores cogitados até que Connery e Caine fossem escalados e mostraram-se perfeitamente integrados ao que o roteiro propunha. Connery, inclusive, elegeu o filme como o que mais gostou de ter feito. A direção de Huston (Chinatown, Relíquia Macabra, o Tesouro de Sierra Madre ...) acertadamente revestiu a história de camadas de sarcasmo, críticas sociais e uma reflexão sobre o falível ser humano.
O Homem Que Queria Ser Rei é uma obra tida como uma das melhores do diretor John Huston. É divertida e reflexiva, com um elenco afiado, belas paisagens e uma fotografia bem elaborada a cargo de Oswald Morris. Muitos críticos veem a produção como um dos grandes momentos do cinema devido a simplicidade com que a história é narrada: tudo é muito simples, mas a condução da história vai envolvendo o espectador que, mesmo sabendo que os personagens são pessoas sem ideais nobres, passam a torcer por sua louca empreitada. E o final revela muito do que é amizade e cumplicidade. Um filme acima da média que está quase relegado ao esquecimento.
Trailer:
Curiosidades:
Indicado a 4 Oscar: Melhor Roteiro Adaptado (perdeu para "Um Estranho no Ninho"); Melhor Montagem (perdeu para "Tubarão"); Melhor Figurino (perdeu para "Barry Lyndon"); Melhor Direção de Arte (perdeu para "Barry Lyndon")
O ator Karroom Ben Bouih (sumo sacerdote Kafu Selim) era o vigia noturno de um pomar de oliveiras perto do local das filmagens. Ele foi contratado depois que o roteirista e diretor John Huston o conheceram acidentalmente e disseram para ir ao set no dia seguinte. Depois de adormecer algumas vezes durante as filmagens, descobriu-se que ele ainda mantinha o emprego de vigia noturno. Huston teve que lhe explicar que não precisava mais daquele emprego. A companhia de filmes pagaria o suficiente para que ele pudesse dormir à noite. Karroom tinha cento e três anos quando fez sua única aparição no cinema. Quando viu algumas das imagens, ele declarou que agora viveria para sempre.
O ator Karroom Ben Bouih (sumo sacerdote Kafu Selim) era o vigia noturno de um pomar de oliveiras perto do local das filmagens. Ele foi contratado depois que o roteirista e diretor John Huston o conheceram acidentalmente e disseram para ir ao set no dia seguinte. Depois de adormecer algumas vezes durante as filmagens, descobriu-se que ele ainda mantinha o emprego de vigia noturno. Huston teve que lhe explicar que não precisava mais daquele emprego. A companhia de filmes pagaria o suficiente para que ele pudesse dormir à noite. Karroom tinha cento e três anos quando fez sua única aparição no cinema. Quando viu algumas das imagens, ele declarou que agora viveria para sempre.
John Huston tentou lançar a versão cinematográfica de "O Homem que Seria Rei" muitas vezes antes de completá-la. Foi originalmente concebido como veículo para Clark Gable e Humphrey Bogart nos anos cinquenta, e mais tarde como veículo para Burt Lancaster e Kirk Douglas, depois Richard Burton e Peter O'Toole. Quando foi considerado um veículo para Robert Redford e Paul Newman, Newman sugeriu Sean Connery e Michael Caine.
Sean Connery e Michael Caine posteriormente processaram a Allied Artists pelo que consideravam uma porcentagem imprópria de participação nos lucros. Eles teriam recebido duzentos e cinquenta mil dólares cada.
John Huston (que tanto dirigiu como atuou em diversos filmes) não conseguira uma atriz para o papel de Roxanne antes do início das filmagens. Durante as filmagens, em um pequeno jantar para alguns atores e equipe, Huston foi perguntado se ele já havia preenchido o papel. Quando ele respondeu que não, todas as cabeças se voltaram para Shakira Caine, a esposa de Michael Caine. Huston a convidou no local.
Christopher Plummer (Rudyard Kipling) teria sido demitido no início pelos produtores, mas pela insistência de Sean Connery conseguiu que Plummer ficasse. Connery até ameaçou abandonar a produção se Plummer não fosse contratado. Os produtores acabaram cedendo.
O Kafiristão faz parte do Afeganistão moderno (província de Nuristão) e do Paquistão (cidade de Chitral).
As pinturas na parede, quando Peachey (Michael Caine) diz a Daniel (Sean Connery) que ele está saindo, são copiadas do afresco "Primavera", desenterrado na ilha grega de Santorini, remontando a 1500 a.C.
O filme se passa entre 1882 e 1885.
As pinturas na parede, quando Peachey (Michael Caine) diz a Daniel (Sean Connery) que ele está saindo, são copiadas do afresco "Primavera", desenterrado na ilha grega de Santorini, remontando a 1500 a.C.
O filme se passa entre 1882 e 1885.
Em sua autobiografia, Christopher Plummer menciona que ele substituiu Richard Burton.
Peter O'Toole foi convidado a interpretar Rudyard Kipling.
Incluído na lista dos quatrocentos filmes do American Film Institute, de 1998, nomeados para os 100 melhores filmes americanos.
Christopher Plummer interpretou o autor Rudyard Kipling, cuja participação nos maçons é um ponto central da história. Em "Assassinato Por Decreto" (1979), Plummer interpretou Sherlock Holmes, que descobre uma conspiração pelos maçons.
Filmografia Parcial:
Sean Connery
A Maior Aventura de Tarzan (1959); O Satânico Dr. No (1962); Moscou Contra 007 (1963); Marnie, Confissões de uma Ladra (1964); 007 Contra Goldfinger (1964); 007 Contra a Chantagem Atômica (1965); Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967); Shalako (1968); A Tenda Vermelha (1969); Até os Deuses Erram (1972); O Homem Que Queria Ser Rei (1975); Robin e Marian (1976); Outland - Comando Titânio (1981); O Homem com a Lente Mortal (1982); 007 - Nunca Mais Outra Vez (1983); Highlander - O Guerreiro Imortal (1986); O Nome da Rosa (1986); Os Intocáveis (1987); Mais Forte Que o Ódio (1988); Indiana Jones e a Última Cruzada (1989); Caçada ao Outubro Vermelho (1990); Highlander II: A Ressurreição (1991); O Curandeiro da Selva (1992); Sol Nascente (1993); Lancelot, o Primeiro Cavaleiro (1995); Coração de Dragão (1996); A Rocha (1996); A Armadilha (1999); A Liga Extraordinária (2003).
Michael Caine
Um Golpe à Italiana (1969); Carter - O Vingador (1971); Conspiração Violenta (1975); O Homem Que Queria Ser Rei (1975); A Águia Pousou (1976); O Enxame (1978); Os Selvagens Cães de Guerra (1978); Ashanti
(1979); Dramático Reencontro no Poseidon (1979); Vestida Para Matar
(1980); Fuga Para a Vitória (1981); Armadilha Mortal (1982); O Documento
Holcroft (1985); Hannah e Suas Irmãs (1986); Mona Lisa (1986); Tubarão
4: A Vingança (1987); Ensina-me a Querer (1987); Os Safados (1988); Em
Terreno Selvagem (1994); Regras da Vida (1999); Miss Simpatia (2000);
Austin Powers em o Homem do Membro de Ouro (2002); Batman Begins (2005);
A Feiticeira (2005); Filhos da Esperança (2006); Batman: O Cavaleiro
das Trevas (2008); Harry Brown (2009); A Origem (2010); Batman: O
Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012); Interestelar (2014); Juventude (2015); Truque de
Mestre 2 (2016); Despedida em Grande Estilo (2017); Dunkirk (2017).
Christopher
Plummer
Quando o Espetáculo Termina (1958); A Queda do Império Romano (1964); A Noviça Rebelde (1965); A Noite dos Generais (1967); Édipo Rei: A Tragédia de um Rei (1968); Waterloo (1970); After the Fall (1974); A Volta da Pantera Cor-de-Rosa (1975); O Homem que Queria ser Rei (1975); Jesus de Nazaré (1977); Starcrash (1978); Assassinato Por Decreto (1979); Em Algum Lugar do Passado (1980); Testemunha Fatal (1981); Morte nos Sonhos (1984); Dragnet: Desafiando o Perigo (1987); Drácula em Veneza (1988); Lavagem Cerebral: Uma Experiência da CIA (1989); Programada para Morrer (1990); Olhos de Fogo (1991); Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida (1991); Malcolm X (1992); Contra Ataque (seriado 1990-1993); Eclipse Total (1995); Os 12 Macacos (1995); O Informante (1999); Possuído Pelo Demônio (2000); Drácula 2000 (2000); Uma Mente Brilhante (2001); Garganta do Diabo (2003); A Lenda do Tesouro Perdido (2004); Alexandre (2004); Procura-se um Amor que Goste de Cachorros (2005); Syriana - A Indústria do Petróleo (2005); O Plano Perfeito (2006); A Casa do Lago (2006); Um Amor para Toda a Vida (2007); O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (2009); Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011); A Grande Luta de Muhammad Ali (2013); O Impostor (2014); O Homem Que Inventou o Natal (2017); Todo o Dinheiro do Mundo (2017); Limites (2018); The Last Full Measure (2019); Knives Out (2019).
John Huston (1906–1987) - Diretor
Relíquia Macabra (1941); Nascida para o Mal (1942); O Tesouro da Sierra Madre (1948); Paixões em Fúria (1948); O Segredo das Joias (1950); Uma Aventura na África (1951); Moulin Rouge (1952); Moby Dick (1956); O Bárbaro e a Geisha (1958); O Passado Não Perdoa (1960); Freud - Além da Alma (1962); Cidade das Ilusões (1972); Roy Bean - O Homem da Lei! (1972); O Emissário de MacKintosh (1973); O Homem que Queria ser Rei (1975); Fuga Para a Vitória (1981); Annie (1982); À Sombra do Vulcão (1984); A Honra do Poderoso Prizzi (1985); Os Vivos e os Mortos (1987)
Fonte:
IMDB
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