terça-feira, 1 de outubro de 2019

A HISTÓRIA DE ELSA / BORN FREE (1966) - REINO UNIDO



O DIREITO DE VIVER LIVRE

Norte do Quênia. George Adamson (Bill Travers), guarda de uma reserva, é solicitado a matar um leão que vem atacando os moradores de um povoado.  Tendo cumprido sua missão é surpreendido pelo ataque de uma leoa terminando também por abatê-la, descobrindo, porém, que na verdade estava protegendo seus 3 filhotes. Sentindo-se responsável pela vida das pequenas criaturas as leva para casa onde serão cuidados. Sua esposa, Joy (Virginia McKenna), logo se apaixona por um dos felinos, uma pequenina leoa, que passa a chamar de Elsa. A pequena leoa passa a acompanhar Joy no seu dia a dia e um denso laço afetivo é criado.  Quando chega a puberdade suas travessuras começam a gerar problemas mais sérios, como por exemplo desviar uma manada de elefantes em direção a uma aldeia. É solicitado a George e Joy que a entreguem a um zoológico, visto que uma vez retirada da natureza a sua reintrodução é fora de cogitação. O casal entregara os outros dois felinos, mas Elsa, que fora criada livremente, toca no coração de Joy que não a deseja ver o resto de sua vida entre grades. O casal então resolve tomar uma decisão complexa: tentar reintroduzir a leoa à natureza selvagem, mas conseguirá uma felina domesticada aprender a caçar, viver em bando e se defender de situações hostis?

A História de Elsa foi um filme de enorme sucesso. A leveza e sensibilidade com que a história, baseada no best-seller de Joy Adamson, foi conduzida muito contribuiu para que o espectador fosse envolvido e se identificasse com as expectativas do casal. Habilmente o diretor James Hill nos transmite a sensação de também estarmos criando Elza, a pequena leoa que captura o coração de Joy com uma fofura ímpar. O dilema do casal começa a crescer quando descobrem que a licença de trabalho de George irá expirar em breve e que Elsa fora criada em um mundo de humanos, mas ainda é vista por alguns habitantes como um animal selvagem de instintos primários, mesmo que nunca tenha apresentado as características de seu pai: o leão que passou a atacar pessoas. Elsa se acostumou a pessoas. Muitas vezes se percebe uma natureza quase canina ao vermos o animal esperando ansiosamente por sua dona. Ela não se reconhece em seus pares (ainda que seus instintos a confundam). A opção é o Zoo. Afastá-la de seus "pais" e confiná-la é o início de uma morte lenta. Mas é a regra dos homens. Elsa não possui consciência para entender o que acontece ao seu redor. Cabe a Joy e George resolverem a questão e tentarem criar meios para que sua "filha" sobreviva em seu verdadeiro mundo.


Há ótimos momentos no filme: o início com os três filhotes brincando e aprontando muito; quando somos levados a reflexão do que é liberdade, na frase de George: "a liberdade é tão importante?" e a resposta dada por Joy; ou quando iniciam a tentativa de adaptação de Elsa ao seu estranho mundo novo e como ela se comporta, até o final revelador e comovente de seu destino, após o casal voltar ao Quênia (que fora colônia britânica entre 1920 e 1963) e procurá-la na região. Fala também sobre apego versus desapego. Sobre consertar as coisas, afinal um evento não natural tirou Elsa da natureza, nada como devolvê-la ao curso de seu destino.


Adaptado por Lester Cole (1904–1985), sob o pseudônimo de Gerald L.C. Copley, um dos perseguidos pelo Macarthismo, uma verdadeira caça às bruxas que atingiu vários artistas nos anos 50, teve nesse filme seu último roteiro para o cinema. James Hill (1919–1994) e Tom McGowan (não creditado) dividiram a direção com muita sensibilidade, alternando um leve humor com momentos mais sentimentais sem apelar em nenhum momento para cenas de gosto duvidoso.  Cabe destacar também a linda fotografia de Kenneth Talbot (1920–1993) de series como "Tarzan" (Com Ron Ely) dentre tantas outras. John Barry (1933-2011), compositor de várias trilhas sonoras, ganhou o primeiro Oscar de sua carreira (na verdade dois) nesta produção e ganharia mais três estatuetas durante sua carreira. Suas composições se adequaram perfeitamente as fases que o filme atravessa sendo justa a premiação. Bill Travers e Virginia McKenna eram casados na vida real o que deu um ar de veracidade ao filme embora o casal, na vida real, Joy e George, não vivessem harmoniosamente. O afeto mútuo e cumplicidade do casal, na tela, tornou o filme tão interessante quanto o relato autobiográfico escrito por Joy Adamson.


O filme, baseado em fatos reais, é uma daquelas produções simples e comoventes que permanecem em nossas retinas. Interessante que passadas décadas de sua produção, ainda permaneça um grande filme, indicado para toda família, onde os mais sensíveis poderão sentir uma lágrima escorrendo na face. É uma celebração à vida, à liberdade, à natureza e à perseverança humana aqui dotada de um singelo encantamento.

Trailer:




Curiosidades:
Houve mais dois livros lançados: Living Free (1961) e Forever Free (1963).

Os leões "Boy", "Girl" e "Ugas" foram libertados após a conclusão das filmagens. Sob protesto do estúdio de cinema que queria vendê-lo para oológicos, a fim de recuperar o dinheiro das filmagens.

O túmulo de Elsa está localizado no Parque Nacional Meru, no Quênia.

A música tema não foi ouvida no lançamento original britânico do filme, embora mais tarde tenha ganhado o Oscar de Melhor Canção.

Após as filmagens de Born Free, George Adamson fundou uma reserva de leões, a Kora Reserve, no Quênia. Ele o fundou especificamente para ajudar a reabilitar os leões usados ​​ no filme. Um documentário, "The Lions Are Free" (1967), foi feito sobre ele e a reserva, e conta o que aconteceu com os leões Garoto, Garota, Ugas, Mara, Henrietta e Little Elsa e outros leões que apareceram no primeiro filme.

Quando John Barry ganhou o Oscar de "Melhor música, trilha sonora original" e "Melhor música, música original" neste filme, não foi apenas sua primeira vitória no Oscar, mas também a primeira vez que um inglês venceu ambas as categorias em particular. Barry ouviu pela primeira vez suas vitórias do amigo Michael Crawford, que assistiu à cerimônia na televisão em Nova York, e ligou para ele no Reino Unido dando a notícia.

Apesar da música tema se tornar um clássico, o apresentador Carl Foreman não gostou e a removeu do lançamento original britânico. Depois que alcançou as paradas americanas em uma versão cover do pianista Roger Williams, Foreman viu chances no Oscar e reintegrou a música. Matt Monro continuou a cantá-la pelo resto de sua carreira.

De acordo com o filme, Joy nomeou a leoa menor de Elsa porque a lembrava de uma menininha que conhecia na escola; no entanto, na vida real, Elsa foi nomeada pela mãe do segundo marido de Joy.

Os Adamsons da vida real, George e Joy, não eram o casal feliz como retratado na tela. Com uma atitude bastante obstinada e às vezes intimidadora, Joy se tornou tão irritante que foi banida do set de filmagens.
Ao contrário do filme, Joy Adamson tinha uma reputação de temperamental e tratamento severo com seus funcionários. Os Adamson se separaram quatro anos após o lançamento do filme. Joy havia se mudado para um local a cerca de 160 quilômetros ao sul, para que pudesse se concentrar em guepardos e leopardos enquanto George permanecia em sua casa, continuando seu trabalho com leões. Nos anos posteriores, ambos foram assassinados, em incidentes separados, com quase dez anos de diferença. (Fonte IMDB)

Virginia McKenna disse em uma entrevista que, durante as filmagens, um leão chamado Boy uma vez a derrubou ao chão, quebrando-lhe o tornozelo, enquanto outro chamado Girl lhe mordeu o ombro.

Virginia McKenna e Bill Travers, junto com o filho Will Travers, fundaram em 1984 o "Born Free Foundation"


A Sequência: Vivendo Livremente (1972) - com Nigel Davenport e Susan Hampshire




O Seriado (1974): Com Diana Muldaur e Gary Collins



A História de Elza - Parte 2 (1996)



Joy Adamson


 
George  Adamson





Filmografia Parcial:
Virginia McKenna

 










Simba (1955); A Morte de um Herói (1955); Conflito de Duas Almas (1958); O Navio Condenado (1959); A História de Elsa (1966); A Lontra Travessa (1969); An Elephant Called Slowly (1970); Waterloo (1970); Swallows and Amazons (1974); Peter Pan (1976); O Desaparecimento (1977); Exterminação 2000 (1977); Elo de Sangue (1982); Sedução Perigosa (1991); De Caso com o Acaso (1998); Golden Years (2016); Widow's Walk  (2020)


Bill Travers (1922 - 1994)

 











Nunca te Amei (1951); Robin Hood, o Justiceiro (1952); A Volta do Criminoso (1953); Punhos Traiçoeiros (1953); Romeu e Julieta (1954); A Cruz do Meu Destino (1955); A Encruzilhada dos Destinos (1956); O Sétimo Pecado (1957); Conflito de Duas Almas (1958); Mórbida Curiosidade ou Tortura do Medo (1960); Couraça Verde (1961); A História de Elsa (1966); A Lontra Travessa (1969); An Elephant Called Slowly (1970); Belstone - A História de uma Raposa (1973);

Geoffrey Keen (1916 - 2005)

 









A Ilha do Tesouro (1950); As 3 Máscaras do Destino (1953); O Grande Rebelde (1953); Trinta Homens e uma Mulher (1955); Tormenta Sobre o Nilo (1955); O Homem que Nunca Existiu (1956); Cidade Amedrontada (1957); Horrores do Museu Negro (1959); O Estranho Caso do Conde (1959); Afundem o Bismarck (1960); Labirinto de Paixões (1962); Estranha Obsessão (1963); O Cavaleiro da Máscara Negra (1963); Doutor Jivago (1965); A História de Elsa (1966); O Sangue de Drácula (1970); Cromwell, O Homem de Ferro (1970);  Sacco e Vanzetti (1971); Vivendo Livremente (1972); 007: O Espião que me Amava (1977); Exterminação 2000 (1977); 007 Contra o Foguete da Morte (1979); 007 - Somente Para Seus Olhos (1981); 007 Contra Octopussy (1983); 007 - Na Mira dos Assassinos (1985); 007 - Na Mira dos Assassinos (1985)


Fontes:

NY Times
The Guardian
Telegraph
IMDB
Guia de Filmes Nova Cultural

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