quarta-feira, 8 de maio de 2019

GREEN BOOK - O GUIA / GREEN BOOK (2018) - ESTADOS UNIDOS



VENCEDOR, MAS CERCADO DE POLÊMICAS

No início da década de 60 o descendente de italianos, Tony Lip (Viggo Mortensen), trabalha como Leão de Chácara em um clube que fechará suas portas para reformas. À procura de emprego,  recebe a irrecusável oferta para trabalhar como motorista para um pianista negro em uma turnê  ao Sul dos Estados Unidos, um dos Estados mais racista e segregadores da América.


Dirigido por Peter Farrelly ("Debi & Lóide 1 e 2"; "Quem Vai Ficar com Mary?"; "O Amor é Cego" ...) "Green Book - O Guia" arrebatou 3 Oscars de suas 5 Indicações, entre elas, a de melhor filme, mas não sem controvérsias.  O filme foi acusado de suavizar o tema racismo e criar um certo romantismo sobre o real segregacionismo americano. Outra controvérsia deu-se na entrega do prêmio, onde a maioria da equipe responsável pelo tema era composta de pessoas de cor branca para contar sobre um tema complicado: o racismo. E até Spike Lee (que nunca havia sido antes indicado a direção, apesar de excelentes filmes - e que em 2016 recebeu um Oscar "Honorário") entrou na celeuma ao ficar de costas no momento em que os produtores discursavam, alegando estar "do lado certo da história" (Spike Lee concorreu na mesma categoria com "Infiltrado na Klan", já analisado por aqui). Até o ator  Mahershala Ali, semanas antes havia feito um pedido de desculpas à família de Don Shirley, a partir do momento em que chegou à imprensa a informação de que não houve consultas à família de Don durante as filmagens (estes chegaram a  dizer que era "uma sinfonia de mentiras"). A questão básica não é sobre brancos escrevendo ou fazendo narrativas sobre filmes que abordam racismo, mas sempre brancos escrevendo sobre o tema, o que gera obviamente um ponto de vista bem diferente daqueles que sofrem diretamente na pele essa discriminação (ao contrário do concorrente "Pantera Negra", esse sim com uma produção majoritariamente negra). A  Academia ao apresentar o clip de Green Book, através do líder do movimento civil John Lewis, que revelou ter vivido a época retrata no filme, amenizou um pouco a situação.


Após as observações acima, aqueles que leem essas linhas devem pensar que essa análise critica negativamente o filme, mas na verdade são informações relevantes a quem for assistir ao filme e também para gerar um pouco de reflexão. Na verdade Green Book é um filme excelente:  um road movie de primeira, com uma excepcional trilha sonora, ótima fotografia e interpretações de alto nível da dupla central. O criticado roteiro de Nick Vallelonga (Eu Sou a Fúria), Brian Hayes Currie e Peter Farrelly aborda (fielmente aos fatos ou não) de forma dramática, com tons cômicos, a viagem do talentoso pianista e culto Dr. Donald Shirley às fronteiras da segregação, do preconceito e do racismo numa das épocas mais emblemáticas para o país.


O filme se situa em 1962. O pacifista Martin Luther King seria assassinado em 1968 e o ativista Malcolm X em 1965  também seria assassinado. Logo, bem no centro dos conflitos raciais. É nesse painel que vemos o bronco falastrão (e branco) Tony Lip partir como motorista do Norte (Estado "menos racial" e "mais tolerante") para o Sul (altamente racista). Nessa viagem Don tentará mostrar a Lip que seus conceitos de vida são fundamentados numa total falta de visão, enquanto Lip mostrará que esse improvável convívio também poderá trazer reflexões a Don. A parte das cartas, por exemplo, é um momento lírico do filme e mostra o quanto o estudo pode fazer diferença no modo de se expressar.  Mas há também momentos cômicos que justificam o motivo de Lip estar com Don. É a abordagem de trazer "a suavidade" para um tema sério, nisso o filme agradará uma parcela do público, que prefere temas mais leves e desagradará aqueles que preferem  a abordagem de um jeito mais real, verdadeiro.  Apenas lembrando que, atualmente, a função de um filme hollywoodiano é gerar vultuosas somas e depois trazer reflexões. Filmes com abordagens mais complexas, normalmente, surgem em produções fora de Hollywood, independentes ou europeias. A academia é conhecida por fazer premiações políticas e, na era Trump, a mensagem diversidade  é o tom do momento nesta 91ª premiação (por isso muitos acreditavam que "Roma", primeira produção de língua não inglesa, com o assunto imigrantes, poderia levar a estatueta). Abertos a diversidade, mas nem tanto assim, afinal a produção de "Roma" é da Neflix, uma plataforma que vem incomodando muito.


Green Book teve bons concorrentes esse ano: "Infiltrado na Klan", "Nasce uma Estrela" , "Pantera Negra", "Roma","Bohemian Rhapsody' e "Se a Rua Beale Falasse". Se a premiação foi justa, depende da percepção de cada pessoa que tem o seu filme preferido, mas Green Book teve a indicação merecida, pois apresenta ingredientes que cativam o público como: amizade, auto conhecimento, aprendizado, diferença de classe, humor, aceitar o diferente, mudança de visão da realidade e, principalmente, como a história foi desenvolvida tornando possível essa grande produção se destacar. Cabe citar a inspirada direção de Peter Farrelly e as grandes interpretações de Mahershala Ali e Viggo Mortensen, dois grandes atores em cena e de ótimos filmes. Um dos melhores filmes de 2018 sem dúvidas.

Trailer:



Curiosidades:

O filme também cinco indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator (Mortensen), Melhor Ator Coadjuvante (Ali), Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem de Filmes.

A cena da pizza é tirada da vida real: Nick Vallelonga disse que Tony Lip costumava pedir uma torta inteira de pizza, dobrá-la e comê-la. Ao ouvir a história, Mortensen insistiu que tentassem encaixá-la no filme. Peter Farrelly protestou, dizendo que havia cenas alimentares engraçadas suficientes, mas concordou em tentar. Quando a equipe começou a rir, ele concordou em deixar a cena.


Após o lançamento do filme, a família Don se opôs à veracidade do filme, alegando que Tony e Doc não eram amigos; que "havia uma relação empregador-empregado". Em janeiro de 2019, gravações em áudio de uma entrevista com Don Shirley surgiram, na qual ele declarou: "Eu confiei nele implicitamente ... Você vê ... [Tony] não era só meu motorista, nós nunca tivemos uma relação empregador / empregado. Não há tempo para essa besteira. Minha vida está nas mãos desse homem! ... Então você tem que ser amigável um com o outro. " 

Mahershala Ali respondeu com um pedido de desculpas ao sobrinho de Don, Edwin Shirley III, dizendo que "eu fiz o melhor que pude com o material que eu tinha" e que ele não estava ciente de que havia "parentes próximos com quem eu poderia ter consultado para adicionar algumas nuances para o personagem ". 

O artista de jazz Quincy Jones disse para uma multidão após uma exibição: "Eu tive o prazer de me familiarizar com Don Shirley enquanto eu trabalhava como arranjador em Nova York nos anos 50, e ele era sem dúvida um dos maiores pianistas da América, um músico experiente como Leonard Bernstein ou Van Cliburn ... Então é maravilhoso que sua história esteja sendo finalmente contada e celebrada. ”Mahershala, você fez um trabalho absolutamente fantástico interpretando-o, e eu acho que as performances de vocês e de Viggo cairão como uma das grandes amizades capturadas no filme"  

Em 14 de janeiro de 2019, o membro do Hall da Fama da NBA, Kareem Abdul-Jabbar, publicou um artigo no The Hollywood Reporter defendendo Green Book apesar de suas alegadas imprecisões históricas. Abdul-Jabbar argumentou que "embora tais discrepâncias (sobre a historicidade de alguns dos eventos representados) possam irritar os membros da família, eles realmente não importam porque os detalhes da trama são sobre chegar a uma verdade maior do que os fatos mundanos" 

Nick Vallelonga (filho de Tony Lip) disse que passou muitas das filmagens em lágrimas porque as representações dos atores como seus pais eram vívidas. 

O verdadeiro Tony Lip é mais conhecido por interpretar "Carmine Lupertazzi" em "Os Sopranos" e teve papéis em vários filmes de Martin Scorsese. 

Kris Bowers, o compositor do filme, era o pianista de Mahershala Ali.

O filme é dedicado a "Larry the Crow", um pássaro que pairava em torno do local de filmagem. Viggo Mortensen cuidou do animal depois de ser atropelado por um carro.

O título e o assunto são uma referência ao "Livro Verde dos Motoristas Negros", também conhecido como "O Livro Verde dos Viajantes Negros". Publicado de 1936 a 1966, escrito por Victor Hugo Green. O guia ajudou viajantes afro-americanos a encontrar alojamentos, restaurantes e outros negócios que os serviriam. Por fim, cobriu a maior parte da América do Norte, além das Bermudas e do Caribe.

Nas cenas da família Vallelonga, os verdadeiros familiares de Tony e Dolores interpretam a maioria dos parentes. 

Viggo Mortensen realmente comeu os cachorros-quentes na cena do Gorman. A equipe de produção forneceu-lhe um balde para cuspir as partes mastigadas entre as tomadas, mas ele achou isso ainda menos atraente do que apenas engolir os cachorros-quentes. Ele acabou comendo 15.

Este é o primeiro drama de Peter Farrelly depois de anos de filmagem de comédias. Mahershala Ali se referiu a ele como "um cineasta pela primeira vez com 25 anos de experiência"

Pouca informação circula sobre Don Shirley, os únicos documentos disponíveis são os folhetos de seus álbuns que ele mesmo escreveu. Embora alguns detalhes de sua jornada sejam contraditórios, ele teria se juntado ao Conservatório Rimsky-Korsakov de São Petersburgo aos 9 anos de idade e feito seu primeiro concerto com a Orquestra Boston Pops aos 18 anos antes de obter vários doutorados e diplomas.

Na cena em que Don entra pela primeira vez no carro, há um cartaz anunciando a música folclórica de 10 de novembro de 1962, Hootenanny. Com o título de Pete Seeger, esta foi a primeira aparição de Bob Dylan no Carnegie Hall.  

Um dos únicos 5 filmes a ganhar o Oscar de Melhor Filme sem ser indicado para Melhor Diretor. Os outros filmes são Argo (2012), Conduzindo Miss Daisy (1989), Grande Hotel (1932) e Asas (1927).    

A música que Tony canta quando chega em casa é "Tu Scendi Dalle Stelle", uma canção de Natal italiana tradicional. 

Quando Conduzindo Miss Daisy (1989) ganhou o Oscar de Melhor Filme, o filme explorou a relação entre um motorista negro e seu empregador branco. Neste vencedor de "Melhor Filme", ​​os papéis são invertidos.

A peça de piano com a qual Don emociona a multidão no bar é Etude Op. De Frédéric Chopin. 25 No. 11 "Vento de Inverno". É considerado uma das peças mais difíceis de tocar, ganhando uma nota 9 (mais alta) na escala de Níveis de Dificuldade de Henle.   

A amizade entre Don Shirley e Tony Lip durou mais de 50 anos. Após a viagem inicial de dois meses, a dupla terminou em uma turnê de cerca de um ano. O músico pediu a Tony Lip que se tornasse seu motorista e guarda-costas durante sua turnê européia, mas ele recusou porque não queria mais se separar de sua família. Ambos os homens morreram em 2013, com 3 meses de diferença. Para Nick Vallelonga, Don Shirley era amigo da família. 




Trilha Sonora:
Lucille - Little Richard
Won't Be Long - Aretha Franklin
Slow Twisting - Chubby Checker

Santa Claus Is Comin' To Town - Franki Valli & The Four Seasons
Have Yourself A Merry Little Christmas -  Frank Sinatra
One Mint Julep - The Clovers
The Christmas Song - Nat King Cole
Tired of Hanging Around  - Bobby Page & The Riff Raffs
I Love My Baby    - Bobby Page & The Riff Raffs
Let's Roll     - Kris Bowers
Blue Skies   - Kris Bowers
Water Boy   - Kris Bowers
Happy Talk  - Kris Bowers
The Lonesome Road  - Kris Bowers
Backwoods Blues  - Kris Bowers
Over My Broken Heart     - Kris Bowers
Etude op. 25, no. 11 in A Minor (Winter Wind)  - Chopin -   Kris Bowers
Arabesque No. 1 - Debussy
Valse Ballet     - Erik Satie
Tu scendi dalle stelle     Traditional
After You've Gone  -   Escrita por Steve Gray
Troubled Romance  -   Escrita por Jean-Philippe Audin
That Old Black Magic  -   Escrita por Harold Arlen e Johnny Mercer
O Christmas Tree  -  Arranjo de Lennie Moore
What Child Is This?   -  Arranjo de Lennie Moore
Yes Your Honor     -  Roosevelt Nettles
Drifting Heart     -  Roosevelt Nettles
 Letter From My Baby  - Timmy Shaw
Throw It Out of Your Mind - Timmy Shaw
Goodbye, My Lover, Goodbye -  Robert Mosley
Pretty Lil Thing -  Sonny Boy Williamson
So Long Lover's Island - The Blue Jays
Let Me Feel It -  Elgie Brown
Dearest One - Jack's Four
You Took Advantage of Me -  The Blackwells
What'cha Gonna Do - Bill Massey with Lea Lendon & The Rite Timers
Mmm Love - Bob Kelly
Ba Da     - Roy "Boogie Boy" Perkins
Go To The Mardi Gras  - Professor Longhair
Why Oh Why -  Little Alice
I'll Never Let You Go   -  Sue Winford
That Look - Jerry Kalaf
O Come All Ye Faithful Jazz Trio  - Stevphen J. Rice
Your Replacement Is Here - Edd Henry
Rushin' - Bonnie Price
Rich Woman - Li'l Millett And His Creoles



Premiações em Diversas Categorias:
Oscar 2019 - Melhor filme, roteiro original e Ator (Mahershala Ali)
Globo de Ouro - Melhor filme, Melhor Roteiro, Melhor Ator
BAFTA Awards 2019
Screen Actors Guild Awards 2019
AACTA International Awards 2019
AARP Movies for Grownups Awards 2019
AFI Awards, USA 2019
Austin Film Festival 2018
Black Film Critics Circle Awards 2018
Boston Film Festival 2018
Broadcast Film Critics Association Awards 2019
Capri, Hollywood 2018
Dallas-Fort Worth Film Critics Association Awards 2018
Denver Film Critics Society 2019
Detroit Film Critics Society, US 2018
Gold Derby Awards 2019
Heartland Film 2018
Houston Film Critics Society Awards 2019
Iowa Film Critics Awards 2019
Latino Entertainment Journalists Association Awards 2019
Los Angeles Online Film Critics Society Awards 2018
Mill Valley Film Festival 2018
National Board of Review, USA 2018
Nevada Film Critics Society 2018
New Orleans Film Festival 2018
New York Film Critics, Online 2018
North Texas Film Critics Association, US 2018
Palm Springs International Film Festival 2019
PGA (sindicato dos Produtores) Awards 2019
Philadelphia Film Festival 2018
Phoenix Film Critics Society Awards 2018
Santa Barbara International Film Festival 2019
Southeastern Film Critics Association Awards 2018
St. Louis International Film Festival 2018
Toronto International Film Festival 2018
Twin Cities Film Fest, US 2018
Virginia Film Festival 2018
     



Filmografia Parcial:

Viggo Mortensen:
 












A Testemunha (1985); Duro de Prender (1987); Jovens Demais Para Morrer (1990); Anjos Rebeldes (1995); Corrida Contra o Destino (1997); O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001); O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002); O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003); Mar de Fogo (2004); Marcas da Violência (2005); Senhores do Crime (2007); A Estrada (2009); As Duas Faces de Janeiro (2014); Longe dos Homens (2014); Capitão Fantástico (2016); Green Book - O Guia (2018).

Mahershala Ali
 

 










O Curioso Caso de Benjamin Button (2008); Território Restrito (2009); Território Restrito (2010); O Lugar Onde Tudo Termina (2012); Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (2014); Jogos Vorazes: A Esperança - O Final (2015); Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016); Luke Cage (seriado / 2016); Estrelas Além do Tempo (2016); Um Estado de Liberdade (2016); Roxanne Roxanne (2017); Green Book: O Guia (2018), Homem-Aranha: No Aranhaverso (narração -2018), Rosa Salazar in Alita: Anjo de Combate (2019), Mahershala Ali in True Detective (2019), O canto do cisne (2021), Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (narração - 2023), O Mundo Depois de Nós (2023)

Linda Cardellini

 










A Guerra do Hamburguer (1997); Mórbido Silêncio (1998); O Príncipe e o Surfista (1999); Legalmente Loira (2001); No Limite do Silêncio (2001); O Segredo de Brokeback Mountain (2005); Entre a Vida e a Morte (2008); O Mafioso (2011); Bem-Vindos ao Mundo (2014); Pai em Dose Dupla (2015); Fome de Poder (2016); Um Pequeno Favor (2018); Green Book: O Guia (2018); Fúria em Alto Mar (2018); A Maldição da Chorona (2019); Vingadores: Ultimato (2019)
   
Fontes:
The New York Times
Hollywood Reporter
Folha de São Paulo
IMDB
Jornal O Globo

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