UM
CINEASTA QUE TEM MUITO A DIZER
Em
1978, Ron Stallworth (John David Washington) é o primeiro negro a entrar para
os quadros da polícia (branca) de Colorado Springs. Após solicitar trabalhar
como policial infiltrado, recebe a missão de
investigar o teor de um discurso
proferido pelo afro-descendente Kwame Ture (Corey Hawkins). Diante do sucesso
da missão é designado para a área de inteligência. Certo dia vê um anúncio da Ku
Klux Klan e responde ao anúncio passando-se por um branco, simpatizante da
causa da supremacia branca. Só que para manter a investigação ativa, sobre crimes de
ódio, não somente através de telefonemas e cartas, era necessário um
contato "cara-a-cara". A solução veio através de um policial branco, agente da narcóticos, Flip
Zimmerman (Adam Driver) que com uma escuta se passaria por Ron. Quando a dupla
se infiltra mais profundamente no esquema da organização descobre que possuem
um plano potencialmente letal.
Produzido
pela equipe por trás de do sucesso do ano passado Corra! Get Out! (a história foi
trazida para Lee por Jordan Peele, aqui como produtor). "Infiltrado na Klan" teve uma ovação de 6
minutos em Cannes ao término de sua exibição, onde o diretor Spike Lee
direcionou suas lentes para um assunto da qual tem muita experiência: a questão
do racismo na América.
O
filme já começa com uma cena de "E O Vento Levou", um clássico que usou
como pano de fundo a "Guerra de Secessão" que dividiu o país em Norte (abolicionista
e moderno) e Sul (escravocrata e basicamente vivendo de plantações diversas
como algodão). É uma cena que mostra um
conflito com milhares de feridos e mutilados. Mas não para aí. Enquanto "Infiltrado na Klan"
conta a história real por trás da infiltração na organização, nos mostra alguns
pontos de vista desconcertantes, como por exemplo: o filme
“O Nascimento de uma Nação” de 1915, uma obra consagrada, mas atualmente revista
e conceitualizada como racista (enquanto os membros da KKK assistem de um lado,
do outro um velho - o ator Harry Belafonte - que testemunhou o linchamento de seu melhor
amigo no Texas situa a narrativa na época da exibição do filme). Uma analogia sutil,
arrepiante e excelente; os filmes de Tarzan no cinema e a visão de seu
simbologismo estereotipado; o discurso proferido por Kwame Ture (Corey
Hawkins), anteriormente conhecido como Stokely Carmichael, que popularizou a
expressão "Black Power - Poder Negro" no final dos anos 1960. A Blaxploitation (movimento que lançou filmes
com atores negros) ao citar Pam Grier, Richard Roundtree (e o filme Shaft) e outros.
Mas
o diretor Spike Lee (de "Faça a Coisa Certa") pegou partes do livro de Ron
Stallworth (chamado “BlacKkKlansman"), "ficcionou" grande parte em prol
da dramatização, mas mandou o seu recado.
Sua proposital abordagem foca na periculosidade da organização, mas
também como soam despreparados e ridículos. Tudo regado a ironias, um humor mais refinado
e relevância histórica. O que soa tão alarmante é o fato de escutarmos frases de
grupos na década de 70 como " A América Primeiro" ou "A América
para os americanos" e soe tão familiar no atual governo de Trump. Claro
que Lee alfinetou o presidente e claro que há uma linha direta com o absurdo protesto
supremacista de 2017 em Charlottesville, Virgínia, onde Trump disse que o violento e sangrento confronto
entre a KKK e extremistas com outros grupos teve "culpa de ambos os
lados". As pessoas esperavam um
posicionamento e não uma justificativa para os atos. Talvez o senão do filme
seja que em alguns momentos o filme se torne um pouco monótono. Essa oscilação
poderá fazer com que algumas pessoas desistam do filme em alguma parte, mas se
você se afeiçoa ao tema e dispensa a
inserção de uma dinâmica que faça o filme "acelerar" não verá
problemas.
Infiltrado
na Klan é um bom filme com boa fotografia, boa trilha sonora e boa ambientação. Tem
uma abordagem inteligente e essencial nesses tempos em que a reflexão e
conscientização parecem estar dando lugar a atitudes e pensamentos extremistas. O filme mostra que a questão racial está longe
de ser resolvida. E enquanto Lee critica o uso do cinema como forma de alienação,
também mostra que pode ser utilizado como obra de esclarecimento e
conscientização. Não é o melhor filme do
gênero, mas é uma obra de um cineasta que tem muito a dizer.
Trailer:
Curiosidades:
Segundo o editor Barry Alexander Brown, não
houve cenas deletadas para o filme, uma raridade na indústria.
O diretor Spike Lee e seus escritores retrocederam a história sete anos depois de ter ocorrido. Isso permitiu que o filme fizesse referência aos dois filmes de blaxploitation e à campanha de reeleição, supostamente apoiada pela Klan, do presidente Richard Nixon
Ao contrário da crença popular, o verdadeiro Ron Stallworth nunca usou uma voz "branca" no telefone. Ele ironicamente teve que usar sua voz real ou eles teriam pegado ele se escapasse do personagem. Quando seus colegas brancos lhe disseram que não funcionava, ele perguntou o que fazia sua voz diferente da deles, mas eles nunca responderam.
O filme contém partes do filme mudo de D. W. Griffith, "O Nascimento de uma Nação". Enquanto Spike Lee era aluno da "NYU Film School", ficou tão ultrajado ao ver seus professores explicarem "O Nascimento de uma Nação" (1915), sem mencionar sua mensagem racista ou seu papel no renascimento do século XX da Klan, que ele fez uma curta-metragem intitulado "A Resposta" (1980) como uma resposta. O filme ofendeu muitos de seus professores e Lee quase foi expulso. Ele acabou sendo salvo por um voto do corpo docente. Depois dos sucessos na indústria cinematográfica, Lee se tornou professor da NYU Film School, atuando como diretor artístico do Departamento de pós-graduação em cinema.
O diretor Spike Lee e seus escritores retrocederam a história sete anos depois de ter ocorrido. Isso permitiu que o filme fizesse referência aos dois filmes de blaxploitation e à campanha de reeleição, supostamente apoiada pela Klan, do presidente Richard Nixon
Ao contrário da crença popular, o verdadeiro Ron Stallworth nunca usou uma voz "branca" no telefone. Ele ironicamente teve que usar sua voz real ou eles teriam pegado ele se escapasse do personagem. Quando seus colegas brancos lhe disseram que não funcionava, ele perguntou o que fazia sua voz diferente da deles, mas eles nunca responderam.
O filme contém partes do filme mudo de D. W. Griffith, "O Nascimento de uma Nação". Enquanto Spike Lee era aluno da "NYU Film School", ficou tão ultrajado ao ver seus professores explicarem "O Nascimento de uma Nação" (1915), sem mencionar sua mensagem racista ou seu papel no renascimento do século XX da Klan, que ele fez uma curta-metragem intitulado "A Resposta" (1980) como uma resposta. O filme ofendeu muitos de seus professores e Lee quase foi expulso. Ele acabou sendo salvo por um voto do corpo docente. Depois dos sucessos na indústria cinematográfica, Lee se tornou professor da NYU Film School, atuando como diretor artístico do Departamento de pós-graduação em cinema.
Coincidentemente, John David Washington fez
sua estréia no cinema como um estudante de Harlem de seis anos de idade em
Malcolm X (1992), de Spike Lee, que apresentava seu pai, Denzel Washington, e
sua avó, Lennis Washington.
O verdadeiro David Duke ligou para Ron Stallworth para expressar sua preocupação com seu retrato "idiota e rabugento" no filme. Depois de ver o filme, ele não gostou que o filme não acompanhasse os eventos do livro.
Um dos clipes que o diretor Spike Lee usa para abrir o filme é de ... E o Vento Levou (1939). Este filme é frequentemente citado como uma das maiores obras-primas de todos os tempos, mas também é controverso por sua representação de americanos simpáticos assim como escravos afro-americanos como servis e estúpidos, e sua omissão nos tratamentos comuns de escravos, como encadeamento e chicotadas.
O verdadeiro David Duke ligou para Ron Stallworth para expressar sua preocupação com seu retrato "idiota e rabugento" no filme. Depois de ver o filme, ele não gostou que o filme não acompanhasse os eventos do livro.
Um dos clipes que o diretor Spike Lee usa para abrir o filme é de ... E o Vento Levou (1939). Este filme é frequentemente citado como uma das maiores obras-primas de todos os tempos, mas também é controverso por sua representação de americanos simpáticos assim como escravos afro-americanos como servis e estúpidos, e sua omissão nos tratamentos comuns de escravos, como encadeamento e chicotadas.
Topher Grace e Laura Harrier apareceram em
franquias do Homem-Aranha Topher Grace como Eddie Brock / Venom ( em
"Homem Aranha 3" de 2007)e Laura
Harrier como Liz Allan (em "Homem-Aranha - De Volta ao Lar" de 2017).
David Duke não descobriu que Ron Stallworth
era negro até 2006, quando um repórter do Miami Herald o contatou para ouvir o
seu lado da história.
O verdadeiro Ron Stallworth alegou que um de
seus maiores arrependimentos na investigação é que, se tivesse sido revelado,
David Duke teria sido feito de bobo por ter sido enganado por um homem negro, e
poderia não ter continuado sua carreira política.
Trilha Sonora:
Oh Happy Day - The Edwin Hawkins Singers
Too Late to Turn Back Now - The Cornelius Brothers & Sister Rose
Say It Loud - I'm Black and I'm Proud (Parts 1 & 2) - James Brown And Pee Wee Ellis
Freedom Ride - R.J. Phillips Band
We Are Gonna Be Okay - Dan Whitener
Brandy (You're a Fine Girl) - Looking Glass
Ball of Confusion (That's What the World Is Today) - The Temptations
Lion Eyes - Beth / James
Photo Opp's
Lucky Man - Emerson Lake and Palmer
Mary Don't You Weep - Prince
Trilha Sonora:
Oh Happy Day - The Edwin Hawkins Singers
Too Late to Turn Back Now - The Cornelius Brothers & Sister Rose
Say It Loud - I'm Black and I'm Proud (Parts 1 & 2) - James Brown And Pee Wee Ellis
Freedom Ride - R.J. Phillips Band
We Are Gonna Be Okay - Dan Whitener
Brandy (You're a Fine Girl) - Looking Glass
Ball of Confusion (That's What the World Is Today) - The Temptations
Lion Eyes - Beth / James
Photo Opp's
Lucky Man - Emerson Lake and Palmer
Mary Don't You Weep - Prince
Filmografia Parcial:
John
David Washington
Malcolm X (1992); Love Beats Rhymes (2017); Monsters
and Men (2018); Monster (2018); Infiltrado na Klan (2018);Ballers (seriado 2015
a 2018)
Adam Driver
Você não Conhece o Jack (2010); J. Edgar (2011); Gayby (2012); Frances Ha (2012); Será Que? (2013); Enquanto Somos Jovens (2014); Sete Dias Sem Fim (2014); Star Wars: O Despertar da Força (2015); Destino Especial (2016); Paterson (2016); Silêncio (2016); Logan Lucky: Roubo em Família (2017); Star Wars: Os Últimos Jedi (2017); Infiltrado na Klan (2018); O Homem que Matou Dom Quixote (2018); O Relatório (2019); Os Mortos Não Morrem (2019); História de um Casamento (2019); Star Wars: A Ascensão Skywalker (2019); The Last Duel (2020)
RoboCop 3 (1993); Tombstone - A Justiça Está Chegando (1993); Entre o Céu e a Terra (1993); Confissões de um Assassino (1995); A Maldição do Cigano (1996); Confissões de Uma Mente Perigosa (2002); O Silêncio de Melinda (2004); O Amigo Oculto (2005); Atraídos Pelo Crime (2009); Lei e Ordem: Unidade de Vítimas Especiais (seriado).
Laura Harrier
Os Últimos 5 Anos (2014); Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017); Infiltrado na Klan (2018); Balance, Not Symmetry (2019); Warning (2019)
Alec Baldwin
Ela Vai Ter um Bebê (1988); Os Fantasmas se Divertem (1988); De Caso com a Máfia (1988); Uma Secretária de Futuro (1988);A Fera do Rock (1989); Caçada ao Outubro Vermelho (1990); O Anjo Assassino (1990); Uma Loira em Minha Vida (1991); O Sucesso a Qualquer Preço (1992); Malícia (1993); O Sombra (1994); No Limite (1997); Pearl Harbor (2001); Quero Ficar com Polly (2004); O Aviador (2004); Os Infiltrados (2006); O Bom Pastor (2006); Rock of Ages: O Filme (2012); Blue Jasmine (2013); Para Sempre Alice (2014); Torrente 5: Operación Eurovegas (2014); Missão: Impossível - Nação Secreta (2015); Um Homem Entre Gigantes (2015); Regras Não Se Aplicam (2016); Missão: Impossível - Efeito Fallout (2018); Infiltrado na Klan (2018); Nasce uma Estrela (2018); Questão de Honra (2019); Framing John DeLorean (2019)
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