domingo, 5 de maio de 2019

O DOUTRINADOR (2018) - BRASIL



JUSTICEIRO “MADE IN BRAZIL”

Miguel Montesanti (Kiko Pissolato) é um dos agentes da DAE (Divisão Armada Especial), uma unidade de elite da Polícia Federal.  Cabe a ele e outros agentes a prisão do governador  Sandro Correa (Eduardo Moscovis) por desvios de verbas públicas. Claro que o governador não ficará muito tempo preso e Miguel sofre com uma tragédia pessoal que o faz voltar-se contra o sistema corrupto reinante, tornando-se “O Doutrinador”, um justiceiro que resolve liquidar um grupo de homens que a lei não alcança.


Oriundo das histórias em quadrinhos nacionais (até quem enfim!) surge um herói, ou seria anti-herói?, disposto a desbravar um gênero até então completamente desconhecido pelo público:  filme de herói brasileiro. Criado por  Luciano Cunha, O Doutrinador fez ruído o suficiente para sobressair-se as demais publicações congêneres.  O  personagem emergiu após as manifestações de 2013 (aquele do famoso "O Gigante Despertou"!!) e estaria na casa dos 62 anos (“Batman - O Cavaleiro das Trevas”, a  HQ de Frank Miller?) sendo um ex-soldado com vasto treinamento (sem família) que, ao conhecer uma jovem guerrilheira (o período seria a Ditadura Militar), se revoltaria contra o sistema. Só que o que funciona em quadrinhos normalmente  não funciona quando transportada para telona (claro que há exceções como “Watchmen” e “Sin City”), são mídias diferentes: leitores e espectadores. Então em algum lugar (na cidade fictícia “Santa Cruz”) e época desconhecidos começa nosso filme.


Nesse desenvolvimento do roteiro a oito mãos, de um universo próprio, bem estilo ao estilo Hell’s Kitchen (Cozinha do Inferno) do Demolidor , Gotham City de Batman, São Paulo e Brasília, acrescido de cenários por computação gráfica, que dão um visual realista à cidade imaginária, com claras inspirações em Batman, O Justiceiro, Watchmen, V de Vingança, Tropa de Elite entre outros, nosso Doutrinador (bem mais jovem e mais humanizado do que nas HQS) se esgueira a punir aqueles que provocam as mazelas diárias: os políticos e empresários corruptos. E resolve fazer justiça pelas próprias mãos em plena campanha presidencial com a inesperada ajuda de uma ativista hacker chamada Nina (Tainá Medina).



Há uma pequena quantidade de incongruências na obra como: o encontro do Doutrinador com Nina; os vilões que são pouco realistas (as gargalhadas dos vilões são engraçadas de tão fora de contexto); alguns diálogos parecem  “artificiais”; o Led vermelho na máscara do herói (ficou legal, mas não espere explicações).  Mas há boas coisas a serem elogiadas: a direção de arte por Margherita Pennachi (de Superpai e Órfãos do Eldorado) que criou belas tomadas de uma cidade com luzes de neon;  uma trilha sonora adequada à trama (ver lista abaixo);  a ótima fotografia de Rodrigo Carvalho (Pacto de Sangue e O Negócio); boas cenas de ação e uma montagem dinâmica.


Quanto aos atores,  Miguel Montesanti está a vontade no papel de herói e dá crivo ao personagem; Tainá Medina está muito bem no papel da Hacker Nina (seria algo como a “Oráculo” de Batman ou “Micro” do Justiceiro?); Eduardo Moscovis é um ponto a parte no filme. Creio que o apresentado em cena lhe daria a oportunidade de ser um ótimo vilão até o final do filme, mas elegeram como vilão “o sistema” e essa falta de um antagonista ao Doutrinador pode não ter sido a melhor das escolhas já que a troca não aprofundou na questão da corrupção nem levou a reflexão como “Tropa de Elite”. O restante do elenco tem altos e baixos com alguns demasiadamente caricatos e outros eficientes.


Com um orçamento de 14 milhões - oito para o filme e 6 para uma série em oito episódios a serem veiculados pelo Canal Space, O Doutrinador é uma evolução no gênero. Se o público, acostumado a produções “Made in Usa”, for comparar com a miríade de congêneres americanos lançados podemos dizer que é um produto mediano, mas se for considerado como um pontapé inicial no gênero "Heróis Made in Brazil” podemos dizer que é uma produção mais do que bem vinda, basta vermos a gama de bons profissionais  que o filme traz em sua consecução. Que venha a série e que venham novas adaptações de heróis em quadrinhos brasileiros que a grande maioria do público ainda desconhece totalmente.

Trailer:


Curiosidades:

O primeiro diretor cogitado foi o paulista Afonso Poyart ("Dois Coelhos" e "Presságios de um Crime") depois Johnny Araujo ('Depois de Tudo") que chegou a dirigir algumas cenas e finalmente  Gustavo Bonafé ("Legalize Já: Amizade Nunca Morre" e "Chocante") e Fábio Mendonça ("A Noite da Virada").

Foram utilizados 200 figurantes no Teatro Municipal de São Paulo.

Pissolato fez todas as cenas de ação a não ser aquelas em que habilidades especiais se tornavam um requisito essencial como o Pakour ou que extrapolavam a segurança física do ator.

As sequências de luta ficaram a cargo dos coordenadores de dublês Dani Hu (Police Story, O Protetor - com Jackie Chan, Faroeste Caboclo e Contra todos) e Júlio Freire (Jogo de Decapitações, O Mecanismo e Operações Especiais).

Sete episódios da série já foram divulgados: Despertar / Alianças / Tática / Máscara / Colateral / Duelo / Ressurreição.

Jerônimo, O Herói do Sertão veio do rádio (1953) foi para os quadrinhos, para a Tv e chegou aos cinemas em 1972



Alguns Quadrinhos Nacionais:




A Revista "Mundo dos Super Heróis" lançou uma ótima edição nacional sobre o filme: 



Trilha Sonora: 
Black Hole Sun – Soundgarden
I Am The Enemy – Sepultura
Refuse / Resist – Sepultura
Cult of Personality – Livin Colour
We Die Youn - Alice in Chains
Proteção – Plebe Rude
Forever Brown – Black Label Society
Symphony of Destruction - Megadeth
The Right to Go Insane - Megadeth
Still Unbroken – Lynyrd Skynyrd
Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro – o Rappa
Cobra – Far From Alaska
Ostentação à Pobreza – Ricon Sapiência
Erro +55 – Project 46
Na Vala - Project 46
Somos Uno – De La Tierra
Madume – Emicida, Drick Barbosa e outros
Vote With a Bullet – Corrosion of Conformity
Brasil Com “P” – GOG
 


Filmografia Parcial: 
Kiko Pissolato


 








Os Dez Mandamentos: O Filme (2016); O Doutrinador (2018)


Tainá Medina
 
 










A Alegria (2010); A Casa de Cecília (2015); O Doutrinador (2018)


Eduardo Moscovis
 
 










A Casa de Açúcar (1996); O Que é Isso, Companheiro? (1997); Bela Donna (1998); Bendito Fruto (2004); Sem Controle (2007); Os Homens São de Marte... E é pra Lá que Eu Vou! (2014); O Outro Lado do Paraíso (2014); Pequeno Dicionário Amoroso 2 (2015); Berenice Procura (2017); O Doutrinador (2018);


Tuca Andrada


 








Super Xuxa Contra o Baixo Astral (1988); Quem Matou Pixote? (1996); Guerra de Canudos (1997); Doces Poderes (1997); As Três Marias (2002); Lara (2002); Mulheres do Brasil (2006); A Pelada (2013); Jogo de Xadrez (2014); O Doutrinador (2018); Possessões (2018)


Helena Ranaldi 


 









Bodas de Papel (2008); O Doutrinador (2018)

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